Arbidabliu: Infantes Brasileira

Autor(a): Magnus R. S. Alexandrino


Volume 1

Capítulo 55: Ivan Brow, A Lança do Império

Chay levanta os braços como sinal de vitória, ele olha para os Infantes, que estão se agrupando e, com uma piscada do olho direito, ele agradece a ajuda deles. Os Infantes sorriem e lembram-se da conversa que tiveram em particular com Chay antes do evento.

 

“— Eu desejo não precisar mais parecer um baka quando eu andar nas ruas de Mascul! Não quero ter que redobrar a segurança da minha família ou que minha mulher seja vista como alguém inferior... Eu não quero um lugar assim ou esse mundo para os meus filhos, tenho dois meninos lindos que merecem um mundo melhor, não quero que eles corram atrás de mudar o mundo, sendo que eu aqui posso fazer isso por eles...”.

 

Em um segundo, todos entram em silêncio pelo medo e o susto repentino que toma todo o lugar, parecendo que até o tempo congelou, e o vento parou de soprar. Uma lança negra aparece atravessada no peito de Chay, no meio do campo de batalha.

Todos se espantam, querendo achar de onde veio. Chay está chocado e tenta se manter de pé, mas, sem força para tirar a lança, ele cospe sangue e cai ajoelhado. Meena fica mais chocada e corre para ajudá-lo.

— Chay! Não!               

Chay ainda tem um pouco de sua consciência e aponta para Meena não se aproximar dele, alertando perigo, a lança negra emana uma energia estranha, vira fogo e queima o corpo de Chay na frente de todos.

Muitos ficam em choque assim como Meena. Doug procura para saber de onde veio o ataque, e Rupert e Júlio já sabem onde e quem foi. Eles olham com ódio para o atacante, que sobe no altar da arquibancada onde Chay estava antes e diz.

— Tanto tempo que não vinha para esse lugar e justo hoje eu não iria ver morte?

 

Homem humano, pele branca, estatura alta, porte físico forte, cabelos lisos, pretos e curtos. Ele está usando uma armadura leve que cobre todo o corpo, uma capa preta, uma lança de três pontas e um elmo grande e aparentemente pesado, ele tira o elmo e o deixa com um guerreiro de elite que se aproxima dele.

 

— Quem ele acha que é para mudar uma tradição assim... Alguém aqui concorda com aquele albino?

A multidão demonstra medo por identificar quem é esse homem e fica em silêncio, o homem sorri ao ver sua reputação ganhar mais força e comenta:

— Foi o que eu achei... Pelo menos o albino adquiriu uma “cor” antes de morrer, ele estava precisando.

Meena fica paralisada de tanto ódio que corre pelo seu corpo, mente e alma. Júlio e Doug compartilham dessa mesma sensação, mas todos reconhecem quem é o atacante, das imagens que Soraya usou para alertá-los do perigo; eles mantêm o controle para que não sejam descobertos. Rupert ainda o encara e diz o nome do inimigo como um objetivo pessoal de morte.

— Ivan Brow...

Ivan Brow olha para todos na multidão e continua seu apontamento.

— Então os relatos eram reais, essa cidade está mudando, fraquejando... Quis ver com meus próprios olhos, mas agora tudo voltará como deve ser!       

Ivan olha para dentro do campo de treinamento e diz mais alto e com braveza.

— A regra é simples: só um grupo poderá sair vivo, senão, todos morrem!

Ivan olha para os espectadores e exige uma resposta a favor dele. Rapidamente gritam, fazendo barulho:

— Morte! Morte! Morte!

— Preparados! Se quiserem entrar em Sodorra devem estar suas almas banhadas de sangue... Que o melhor grupo vença!

A multidão volta a gritar enlouquecidamente, alguns dentre eles são contra, mas com medo eles seguem o ritmo do evento. Os Infantes se olham, dão força um para o outro, pensando que terão que matar para saírem vivos e seguirem com o plano. Rupert comenta baixo.

— Sabíamos que chegaria essa hora!

Meena comenta triste:

— Chay entrou no campo para me salvar e morreu...

— Não pense assim, ele já ia fazer isso, lembra? Não foi sua culpa!

Os outros grupos acordam os demais integrantes para ajudar na luta e se preparam para atacar, deixando de lado o acordo que Chay fez. Novas apostas são feitas por alguns dos espectadores e Ivan acaba tendo uma pequena suspeita sobre os Infantes, comentando alto com seus guerreiros de elite, para ver a reação deles.

— Esse albino foi desonerado do cargo... Matem a família dele! Não quero problemas ou revoltas futuras.

Os Infantes tentam ao máximo dissimular suas emoções para não exteriorizar suas revoltas e ira; em uma forma desesperada de não serem descobertos, eles usam o ódio e avançam para atacar.

— Desgraçados! Morram!

Ivan sorri e fica animado, ao ver que o grupo de assassinos já está eliminando seus oponentes desacordados.

— Única classe que sempre faz um ótimo trabalho, assassinos...

Os infantes focam em usar seu ódio e desespero pela morte de Chay, pois sabem que, se pensarem muito, irão desistir por agirem como assassinos, que eles tanto odeiam.

Magias poderosas são usadas agora, os mágicos em campo sabem que é uma questão de vida ou morte então usam toda sua energia para matar seus inimigos. Fogo e relâmpago são conjurados com certo atraso pelo cansaço da luta anterior, mas com muita potência, fazendo até o público se afastar.

Assassinos e os Infantes se esquivam e escapam das magias, mas os outros não, sendo mortos na hora, os magos se unem, como somente um, para atacar Meena, ela corre pelo campo para ser mais difícil acertá-la. Com salto e acrobacia, ela usa insetos e vermes como escudos das magias para sair ilesa; enquanto isso, os assassinos cercam Rupert e Júlio.

Com suas técnicas, Rupert se iguala aos golpes rápidos e mortais de seus inimigos, concentrando-se também em matá-los.

— Assassinos sentirão a dor da morte!

Ivan fica excitado com tudo que está vendo e pede para um mágico de seu grupo:

— Atice os vermes, os deixe brincar com os seus iguais.

O mágico usa magia para deixar os insetos e vermes enlouquecidos, os quais avançam para atacar os grupos no centro. Ivan vê tudo e complementa:

— Isso sim é um espetáculo.

Júlio usa seus poderes para se defender e para prestar total atenção em Doug que, mesmo em fúria, hesita em alguns momentos.

Doug chega até os mágicos e os nocauteia ao custo de algumas queimaduras leves; antes de matar, ele se defende e ataca alguns dos vermes, que avançam cada vez mais, com punhos e chutes ele mata o primeiro verme, sentindo que é diferente contra alguém como ele.

— Matar... É difícil...

Júlio corre e no caminho usa magia em seu bastão para cortar os insetos e vermes que entram em seu caminho, ele é picado, mas com magia ele se livra do veneno.

Chegando perto de Doug, ele o ajuda e oculta o receio de matar os outros. Com magia Júlio usa parte de um inseto mais forte com o seu bastão para matar os alvos de Doug e o defender de outros insetos que se aproximam.

— Doug! Eu sempre dividirei o fardo com você, se mantenha focado.

Ambos lutam unidos e em conjunto, mas, para não chamar a atenção para o afeto deles, Rupert se aproxima para formar o grupo contra os outros e grita bravo.

— Somos o grupo vencedor! Não tem como nos derrotar!

Os assassinos que ainda estão vivos ficam enraivecidos e avançam com uma tática em mente. Sem os magos no campo, Meena fica oculta por um tempo, ataca de surpresa um assassino, matando-o rapidamente. Ao matá-lo ela chama a atenção para desmoralizar o inimigo, que morre por Rupert, em seguida.

— Nós avisamos!

Júlio usa sua magia se esgotando, mas ele melhora a força do golpe dos Infantes para afugentar e matar os insetos e vermes que ainda estão chegando. A multidão grita e vangloria os Infantes como um grupo merecedor do Império de Cristal, eles se unem e reverenciam Ivan, que diz satisfeito.

— Isso é uma batalha digna do Império.

Ivan volta até o altar e, olhando atentamente para os Infantes, ele diz com um ar sádico:

— Seria interessante ver a lealdade ao Império... Se uma pessoa só pudesse sair viva dessa luta, tornaria esse evento épico.

Os Infantes se esforçam em não ouvir as palavras de Ivan, para não reagirem de uma forma suspeita. Ivan vê que não os abalou e termina.

— Gostei das ações em grupo, seria tolice desfazer de três ótimos guerreiros para ficar com apenas um, mesmo que um deles seja uma mulher... Vocês venceram!

Uma festa é iniciada, escravos entram servindo muita comida e bebidas ao público, e algumas mulheres sobem no muro da arquibancada para dançar e sensualizar para a multidão. Os Infantes saem por uma das laterais, e Doug questiona ao grupo.

— E os corpos deles?

— Não sei, Doug...

Saindo do campo, eles ouvem barulho e, ao olharem para dentro, veem que os vermes e insetos irão comer tudo o que sobrou no Buraco de Verme.

Horrorizados e desmoralizados, os Infantes seguem para a ala dos curandeiros da cidade. Ao término dos curativos e já um pouco descansados, Ivan aparece por lá e lhes informa:

— Lutaram bem... Se recuperem e em seguida se apresentem em Sodorra; vocês têm cinco dias. se não aparecerem até o quinto dia, vocês podem voltar de onde vieram.

Ivan sabe que as feridas do grupo só estarão totalmente curadas em duas semanas, mas ele não se importa e quer ver a vontade deles de entrar para a elite de Sodorra.

Os Infantes estão com dor, e fracos, eles concordam com os termos sem estender o assunto, desejando que Ivan saia logo de vista. Com a saída do inimigo, os Infantes se alimentam e se encontram com Soraya na parte dos fundos da escola. Rupert se aproxima preocupado e pede:

— Soraya, por favor, precisamos que ajude Júlio a nos curar em até cinco dias...

Ela está triste e chocada com tudo que houve no dia, e sorri, tentando ver mais esperança e concorda em ajudar.

Os Infantes têm um pouco mais de fé, Soraya usa seu privilégio do cargo e arruma algumas poções e ervas raras para avançar o processo de recuperação do grupo física e até mentalmente.

— Vocês passaram por muito... Eu avisei... Se vocês forem para Sodorra a tendência é piorar, pensem bem antes de seguir.

Rupert não pensa muito e diz:

— Não podemos, estamos fazendo isso por mais seres além de nós...

Meena se recorda de Chay e chora, dizendo.

— Se pudermos fazer um mundo melhor para a próxima geração, então faremos, não quero essa dor para os outros... Chay...

Todos se abraçam e Soraya tenta confortá-los.

— Bom que vocês são sempre unidos, isso é uma vantagem que o povo do Império não tem, usem bem isso... Algo que pode confortar vocês é que a família de Chay está viva.

— Sério? Como?

— Assim que soube que Ivan chegou ao Buraco de Verme, eu tive que agir, foi arriscado, mas eu prometi a ele que ajudaria em tudo que pudesse.

— Eles estão bem? Onde eles estão?

— Estão bem e para a segurança deles nem eu sei para onde eles foram, mas devem seguir para uma cidade inimiga do Império, onde acolhem refugiados assim.

Meena se lembra do grupo e de Prisa, das pessoas em Zara, e chora mais, vendo toda a situação de uma forma mais ampla que não via antes.

— Tanta dor... Tanta perda...

— Eu sinto muito...

— Não sinta, Soraya, agradecemos por existirem pessoas como você dentro do Império, agora vejo a esperança, como você mesma disse, de que a paz está caminhando.

— Sim, e graças a pessoas como vocês, que essa paz chegará mais rápida... Obrigada...

Os dias de recuperação transcorrem, o grupo passa por uma pequena desestabilidade emocional, mas, com a força e moral que eles dão uns aos outros, veem esperança e motivação para seguirem em frente mais do que nunca.

No período de recuperação, Meena passa um tempo admirando as crianças, vê mais graça na vida, amenizando o que passou na última batalha.

— Lindo ver o mundo através dos olhos de uma criança... Luto por um mundo melhor para todos nós e principalmente para vocês...

Rupert medita a conselho de Soraya, vendo tudo que passou e se preparando mentalmente para o que poderá vir à frente.

— Se preciso ter minha alma banhada com sangue para chegar ao centro de todo mal, então eu farei, sacrifico-me em nome de uma causa bem maior que eu.

No último dia, Júlio e Doug ainda aproveitam como namorados em um lugar um pouco escondido dentro da escola, em um horário sem aulas, nesse tempo de lazer eles esquecem os problemas do mundo, vivendo em um pequeno mundo onde só existem os dois.

Carinho, afeto e juras de amor são remédios para os ferimentos adquiridos nos últimos dias. Doug se sente culpado por relaxar em um período complicado e comenta com Júlio, que a todo o momento o apoia e o tranquiliza.

— Não deveríamos ter feito isso...

— Doug, mesmo em situações críticas assim, precisamos achar paz e amor nas coisas para seguirmos em frente, senão, podemos ser atraídos por maus pensamentos e ações... Obrigado por você ser o meu amor, a paz no meio desse furacão.

— Eu entendo... Você me faz seguir em frente, obrigado!

— Eu te amo.

— Também te amo, e sempre ficaremos juntos!

— Sempre!



Comentários