Volume 1
Capítulo 54: Buraco de Verme
Em uma área um pouco distante da cidade, ao lado da parte poluída do rio que passa por Mascul, foi criado uma pequena cratera, antes uma antiga mina abandonada, que foi invadida por criaturas que se desenvolveram pelo lixo mágico do rio, além de ter sido um pequeno cemitério de Grandes Animais por um curto período de tempo.
Os moradores de Mascul, com ajuda do poder do Império, reconquistou esse lugar, transformando-o em um campo de treino e para ações brutais, como tortura, espancamento, execuções, entre outras atrações sanguinolentas e sádicas.
Com o passar do tempo, os eventos desse buraco foram amenizados, tendo mais brigas entre homens e treino dos guerreiros, diminuindo-se com o tempo o número de mortes e ações brutais que havia desde o início, informação que Soraya passou para os Infantes de que Chay aos poucos estaria mudando o rumo de Mascul.
Mesmo sendo diferente da época de sua inauguração, o Buraco de Verme ainda é um marco na cidade e famoso pelo Império de Cristal, pelo fato de haver vermes e insetos do tamanho de homens, trancados, e que se alimentam das carcaças de animais, comida estragada, lixo e dos corpos humanos de homens executados, deixando as criaturas mais sedentas por esse tipo de alimento.
Um pouco antes dos Infantes chegarem ao Buraco de Verme, eles têm uma conversa amigável com Chay, que já sabe da boa intenção deles:
— O senhor sabe mesmo dissimular, antes eu achava que o “Tão poderoso guardião de Mascul” era só mais um bicho criado pelo Império.
Chay ri e comenta:
— Obrigado, mas infelizmente é uma realidade ainda, o Império ainda mantém grande força e ódio contra muitos; com o tempo isso irá diminuir, mas ele se expande para outros lugares e gera mais fome, dor e guerra... Vocês estão prontos para irem para o buraco?
Chay conta a história do lugar, deixando Meena enjoada, e Doug receoso por entrar em um lugar maldito e até adorado pelo Império. Chay os tranquiliza no fim dos relatos.
— Hoje em dia é mais usado para batalhas eventuais, o ruim mesmo é o cheiro desagradável que há lá, peço que deem o máximo de vocês, pois quero usar a luta de hoje para ser a primeira batalha em que não haverá mortes... Um inseto e outro devem morrer, mas digo referente aos homens que lutarão e que às vezes se sacrificam por suas famílias.
— Ficaremos honrados por ajudar a terminar uma prática odiosa do Império.
— Perfeito! Vocês já guardaram os brasões que lhes dei?
— Sim! Deixamos com Soraya na escola.
— Certo! Esses brasões são a entrada de vocês em Sodorra, guarde-os bem... Então sigam para a “arena” e boa sorte.
— Obrigado.
Ao entrarem no Buraco do Verme, os Infantes se deparam com um campo horrível, muitos buracos e covas, cheiro ruim, cheio de moscas e secreções humanas e de insetos por toda parte, parecendo também um pântano molhado e com árvores estranhas e sujas. No centro há um lugar mais seco e aberto, que é o lugar principal, onde ocorrem as lutas. Rupert, como líder, grita para todos que vêm de fora:
— Vamos matar!
Doug comenta baixo.
— Não era para motivar a “Não morte hoje”?
Meena ri, e Júlio responde.
— Ele deve ter se empolgado com a multidão.
Eles reparam que há muitas pessoas, a maioria de classe alta e alguns visitantes de outras cidades do Império. Os Infantes andam até uma parte e aguardam serem chamados, outros grupos entram no campo se motivando pela batalha e gritando para a multidão, que gosta do que está vendo. Por último, Chay aparece em um altar na arquibancada e inicia; a cada pausa da exclamação de Chay, a multidão grita:
— Buraco de verme está pronto!... Hoje eu quero ver sangue!... Hoje vocês ouvirão a dor! Hoje sentiremos prazer!... É a guerra!
A multidão faz barulho, batendo em seus bancos e na parede que a separa eles da área de batalha. Chay domina a multidão com seu estilo dominador e de liderança.
— Grupo da direita! Avançar!
Um grupo de homens bem armados entra na arena e caminha até o centro dela, no caminho alguns insetos e vermes saem de buracos e de covas ocultas, atacando-os de surpresa. Uns contra-atacam, repelindo e afastando alguns insetos e outros só correm, mas todos chegam ao centro e comemoram com urros de luta.
A multidão não reage muito, aguardando mais ação, Chay novamente grita para todos.
— Grupo da esquerda. Ataquem!
Outro grupo de homens equipados para a batalha corre até o centro já em alerta dos ataques dos bichos. Por não haver surpresa, eles ganham a atenção da multidão e carregam consigo um verme até o centro e o atiram no grupo da direita, iniciando a briga.
— Aqui! Vermes!
Em ambos os grupos há guerreiros, lutadores, arqueiros e até estudantes de magia. Mágicos neutralizam arqueiros com seu poder, guerreiros barram lutadores com seus armamentos.
Do embate equilibrado há uma maior atenção nos que lutam corpo a corpo e que usam grandes combinações de golpes de espada, escudo, socos, chutes e até de saltos mortais, que impressionam quem assiste e intimidam alguns inimigos. Sangue e dor foram prometidos, e é isso que todos estão vendo. Quando a luta fica mais animada, Chay grita novamente:
— Grupo do centro! Sintam o prazer da batalha!
Esse grupo parece mais preparado que os outros e se destaca já no enfrentamento contra as criaturas, não sendo tocado por nenhuma delas. Esse grupo não tem suporte ou estudante de magia, tendo total foco em ataques rápidos e mortais, como assassinos profissionais que são.
Ao chegarem ao centro, os Infantes se recordam do que Chay comentou sobre os grupos:
“— Eu comentei com os grupos de hoje para não matarem ninguém, assim ninguém morrerá, mas infelizmente todos atacaram para machucar, e muito, o pior dos grupos é o do centro, ele não faz parte desse acordo que eu, fiz de todos saírem vivos, esses são antigos mercenários e são bem treinados em acusar morte rápida; eles, assim como vocês, querem ir para Sodorra, claro que eles querem seguir os passos do Império à risca, então tomem muito cuidado com eles.”
Os grupos de direita e esquerda se afastam, dando espaço para os assassinos do centro, que em poucos movimentos encurralam os outros dois grupos, deixando-os na defensiva.
Arqueiros não atingem seus alvos, magos são distraídos e atacados freneticamente, o que atrapalha seus poderes e nas conjurações de magias, guerreiros são lentos para as ações ágeis dos assassinos, e lutadores são os únicos a ter certa vantagem defendendo a si mesmos e seus amigos.
Os lutadores auxiliam os outros, para que causem danos ao inimigo, essa visão preocupa os Infantes, que são chamados em seguida por Chay.
— Esse grupo vem para concorrer à vaga de guerreiros do Império de Cristal!
Todos admiram, por ser o grupo com menos integrantes incentivando algumas apostas entre o público. Chay vê que todos estão mais animados e diz:
— Estamos vendo entre eles os futuros guerreiros de elite de Sodorra, os vencedores serão aqueles mais próximos do nosso imperador, nosso deus soberano!
Todos vibram, gritando e querendo luta. Os Infantes entram no clima e agem com grosseria e arrogância, eles invadem o campo, se esquivando das criaturas e atacam os assassinos, igualando a situação.
Os Infantes percebem que são os três grupos pacíficos contra os assassinos, e, por estarem em maior número, eles têm mais moral para avançar e atacar.
Rupert está equipado com um machado e espada pequena, ele foca em atacar para machucar e se defender, em alguns momentos ele tem que atacar os outros grupos mais pacíficos, mas seu maior interesse são os assassinos, que demostram grandes habilidades de luta.
Rupert se adapta fácil ao modo de luta dos assassinos, logo no início do combate, contra-atacando-os. Por se sentir confiante, Rupert se separa dos outros e age livremente entre seus oponentes; em um dos ataques ele perde sua espada, mas continua lutando bem, só com o machado e com sua boa esquiva.
— É para isso que eu treinei!
Meena está mal equipada, e, por ter que mostrar mais de seu corpo, ela teve que se desfazer de sua defesa, por isso ela fica mais na defensiva, usando um escudo pequeno e uma manopla na outra mão para atacar. Por ser mulher, ela acaba sendo alvo de todos no campo, e, com raiva, ela ataca com tudo em qualquer homem que se aproxime.
Contra os assassinos, Meena acaba ficando ferida, os ataques rápidos e armas mortais passam fácil por sua técnica de defesa; em pouco tempo ela vê um padrão nos golpes e avança e chega a derrotar alguns assassinos, nocauteando-os.
— Achei que davam conta de uma mulher frágil.
Doug se equipou mais que o necessário com receio dessa batalha, mesmo assim não atrapalha seu desempenho de luta, com pequenos escudos em seus antebraços e soqueiras nas duas mãos, ele avança, soca e chuta todos os oponentes.
Algumas oportunidades surgem, e ele ajuda o grupo mais pacífico contra os assassinos, sem que percebam essa “aliança”. Doug se mantém calmo e concentrado, mesmo com os assassinos usando habilidades para distraí-lo ou intimidá-lo com provocações ou até ao jogarem pedaço de insetos que contém algum tipo de veneno ou ácido.
Mesmo sendo atacado pelos outros grupos, Doug se mantém firme em atacar só os assassinos, e a todo o momento fica observando seus companheiros, para ver se precisam de ajuda.
— Não posso esquecer pelo que estamos aqui!
Júlio adquiriu uma nova percepção das batalhas desde que saiu de Pronuntio, ele se mantém mais distante no campo, para ter uma visão melhor de tudo, assim tem uma previsão de ações dos oponentes, vendo quando terá mais junção de ataques.
A partir disso, ele sabe onde e quem precisa de mais suporte, canalizando melhor seus poderes para aperfeiçoar os atributos dos aliados. Por estar sendo observado pela plateia, Júlio só usa seus poderes para ajudar os Infantes e, ao ser atacado, se defende com um bastão grande de osso de um Grande Animal.
Júlio se lembra dos conselhos de Soraya e age com agressividade, usando golpes fortes em todos os oponentes, além de demonstrar ira.
— O nível de dificuldade sempre aumentando... Cada vez mais eu sinto que um perigo grande se aproxima.
Depois de vários golpes, defesas, ataques, rotação, correria e até sangue, as vestes de todos estão danificadas, rasgadas ou sujas. Ninguém de fora do campo sabe mais quem é do grupo da esquerda, direita ou centro, mas quem está no campo sabe quem é amigo ou inimigo.
Depois de alguns golpes de sorte, os grupos aliados com os Infantes derrotam a maioria dos assassinos, restando no total os quatro membros dos Infantes, três assassinos e quatro dos outros dois grupos.
Todos estão cansados e com ferimentos à mostra, mas, com a ajuda dos suportes com magia benéfica, ninguém está com ferimento mortal ou com sangramento sério. A magia de um dos mágicos dá errado, causando uma grande explosão que afeta até ele mesmo. Júlio se aproxima para ajudar Doug, que é pego de surpresa pelo impacto, Rupert se salva, e Meena se machuca por também estar distante dos outros.
Um assassino aproveita essa oportunidade e mira seu ataque nela. Meena se defende, ataca e é desarmada.
— Maldito!
O assassino é ferido por Meena. Ao mesmo tempo que ele mostra que irá cortar a garganta dela toda, a lâmina corta superficialmente sua pele e não chega ao seu objetivo, por ser segurado por Chay que surge ao lado deles; o assassino estranha, mas, por Chay ser um nível alto, ele recua. Todos ficam surpresos e em silêncio por Chay invadir o campo no auge de mais mortes; ele comenta baixo com Meena, antes de explicar para a multidão:
— Tudo vai ficar bem...
Meena olha com gratidão, por ver que Chay acabou de salvar a sua vida e que ele irá salvar a vida de muitos mais, com a iniciativa que ele mencionou antes. Chay anda um pouco, olha para os grupos, olha para a multidão e grita para todos:
— Gostaram dessa luta?
Todos estão confusos, mas com a agitação, concordam gritando:
— Sim!
— Então, por que perder nossas atrações, vamos deixar que descansem para a gente ver mais amanhã, vocês querem mais?
— Sim!
— Então, a partir de hoje não mataremos os perdedores, assim eles voltam para a gente ver eles apanharem de novo! E os vencedores continuaram com suas glórias... Todos saem ganhando!
Alguns na multidão comentam baixo sobre essa mudança, mas Chay grita animado, e com aquele jeito contagiante que sempre funciona.
— Queremos mais! Então que voltem amanhã para termos mais!
— Sim. Sim!
Chay levanta os braços como sinal de vitória, ele olha para os Infantes, que estão se agrupando e, com uma piscada do olho direito, ele agradece a ajuda deles...