Arbidabliu: Infantes Brasileira

Autor(a): Magnus R. S. Alexandrino


Volume 1

Capítulo 51: A Forja do Império, Mascul

Manhã, 15 agosto 1590 – Mascul.

O céu está acinzentado, encoberto por grandes nuvens, o vento está moderado, com o ambiente gelado, esse clima permanece alguns dias tomando conta de Mascul. A cidade altamente edificada é uma das maiores cidades do Império, ela é superpovoada, com uma grande desigualdade social, muitos pobres com poucas condições e conhecimento contra poucos seres com estudos em dia e ricos.

Os seres de nível social mais elevado têm aprimoramento mágico e usam muito de seu ouro para exagerar em seus lazeres, comidas e vícios, que são muito malvistos por outras cidades fora do Império de Cristal.

A cidade é ampla com várias e grandes estradas por toda parte, cavernas para extração de minério, um grande forte e ferraria, usado para fazer e fornecer armamento pesado para todo o Império; esse grande forte também é usado para tentar criar armas mágicas e químicas, tendo grande quantidade de fumaça e toxinas gasosas liberadas no ar, na terra e no rio, o que polui a redondeza, afasta as aves em geral e cria chuvas ácidas em algumas vilas que são consideradas inimigas do Império.

A maior parte da cidade é feita por torres usadas como casas em cima de casas, para abrigar a população mais pobre. Os ricos dessa cidade também vivem em torres, mas só suas famílias vivem nelas, sem precisar dividir com estranhos, além de serem mais decoradas, fortificadas e maiores que as normalmente chamadas de “públicas”.

Um grande rio passa por Mascul. Além das cavernas de ferro, o rio é essencial para a vida da cidade, pois a maior parte dos alimentos e suprimentos vem por barcos enviados por outras vilas e cidades do próprio Império. Depois da parte do comércio e transições de escambo e ouro, o rio passa pela área nobre da cidade, onde eles usam o rio para lazer e o final para despejo de lixo, esgoto e itens não apropriados para consumo.

O restante do rio começa a ficar mais poluído, a área mais pobre é obrigada a também usar o rio como um grande lixo corrente, que leva até o oceano, na costa do Grande Continente, em uma área pantanosa onde muitos insetos e criaturas decompositoras evoluíram para grandes tamanhos, para comportar a necessidade protetora da natureza local.

Mascul é bem defendida, há uma grande muralha com torres de guerra, que defende parte da cidade, com poderosos arqueiros e artilharias pesadas priorizando defesa dos nobres. Na área mais pobre, estão as cavernas, que são defendidas por torres e muitos guerreiros do Império, que também são carcereiros dos escravos que trabalham nas minas.

A cidade tem pouco comércio, priorizando a criação de armas pequenas até as grandes catapultas e balistas. Há poucas estalagens para viajantes, e muitos casarões para abrigar os escravos e pobres. O maior destaque de Mascul são as tavernas, que são bem abastecidas com todo tipo de bebida forte.

Mascul também é famosa por ter o “Buraco do Verme”, que é um campo de jogos usados para lutas até a morte, além de ser usado para torturas e treino dos homens. O lugar que fica no meio da desigualdade social é a pequena escola, usada para o ensinamento e até treino dos filhos dos nobres e de alguns pobres que se destacam entre os outros.

— Se formos descobertos, iremos imediatamente embora.

— Certo!

Rupert, Meena, Júlio e Doug entram pela área mais pobre da cidade, por ser menos rigorosa com as revistas e interrogatórios dos viajantes. Com dificuldade eles provam que são caçadores e rapidamente ganham a entrada livre, ao fornecerem Ajna do Varanus por um preço amigável, além de comentar que são fãs do Império, citando nomes conhecidos sobre os quais mentiram que já fizeram acordos comerciais e trabalhos de pilhagens.

— Vocês são bons então! Difícil achar um Ajna dessa qualidade... Vocês podem seguir, aproveitem para comprar armas, a nossa cidade é rica nisso.

Os infantes concordam em usar o máximo de tempo possível antes de descansar para verificar a cidade. Eles compram mais dois cavalos e seguem por Mascul para observar mais. Veem as rotinas, costumes, lugares, entre vários outros detalhes da cidade e de quem mora nela, incluindo nobreza e pobreza. Inicialmente eles evitam áreas de lazer e observam mais os trabalhos e o grande “forte ferraria” em que eles são impedidos de entrar, por se tratar de um lugar mais restrito para cargos do Império. Eles comem em uma taverna, que Meena assim qualifica:

— Esse lugar é horrível! Só tem homens feios, nojentos e irritantes...

— Não demonstre tudo isso.

— O que me deixa mais irritada com tudo, além desse cheiro ruim, é que eu tenho que fingir ser uma isca para bichos, um ser inferior, e pior, um brinquedo sexual...

—Em um Império machista, você queria chegar aqui dizendo que é emponderada e se qualifica como qualquer homem daqui?

— Não! Eu sou melhor!

— Quieta! Não estrague o disfarce.

Os Infantes conseguem disfarçar e saem da taverna. Meena ainda reclama, e Rupert comenta, brincando.

— Sexual, aqui, Só Júlio e Doug mesmo...

Ele ri, e Doug tenta fingir que não ouviu, mas Júlio zomba dele.

— É uma especialidade, só para poucos...

— Para! Não é só Meena que tem que se manter em “segredo”.

— Eu sei...

Júlio medita por uns instantes e alerta:

— Nas torres tem sensores de poderes, não poderei fazer nada sem que eles saibam.

— Imaginamos isso, então teremos que depositar nossa fé no que vemos e ouvimos.

Ao ver o rio poluído, Meena complementa.

— E o que cheiramos...

— É uma pena ver a natureza sendo tratada assim... Vamos seguir!

Doug lamenta mais, dizendo.

— Não só a natureza, mas as pessoas e animais também... Triste.

Andando mais pela cidade, eles veem que a maioria da população é mal-educada, mal-humorada e que muitos resolvem os problemas na briga, lutam igual por igual. Todos são arrogantes e grosseiros, até os pobres tendem a ser assim, pois, se não forem rudes, eles são massacrados e inferiorizados até pelos seus.

Quase à noite, eles encontram a escola de que ouviram falar, as redondezas dessa escola são mais pacíficas, as pessoas não são tão agressivas, mas são reservados e não conversam muito; ao lado da escola tem um grande dormitório, lá eles são bem atendidos por um menino com trajes nobres.

— Boa noite, viajantes! Como posso ajudá-los?

Os Infantes estranham a forma que o menino fala e ficam em alerta.

— Boa noite! Só queremos descansar, você tem um quarto para quatro humanos comuns a serviço do Império e um estábulo?

Os outros três acham ruim, mas Rupert comenta baixo enquanto o menino vê o livro com as informações dos quartos vagos e ocupados.

— Não podemos ter esse luxo de vários quartos, nosso ouro está no fim e precisamos dos cavalos para emergência.

— Certo...

Ao verificar, o menino informa sorridente:

— Temos, sim, um quarto grande e lugar para os cavalos de vocês... Precisam que cuidem dos cavalos também?

— Não precisa, nos mesmo alimentaremos e cuidaremos deles pela manhã.

— Muito bom, então me sigam.

O menino os guia por fora do dormitório, apontando onde eles poderão deixar os cavalos, em seguida ele mostra o quarto e lhes informa.

— Por favor, não façam barulho, brigas terão que ser resolvidas fora do dormitório, e a comida é servida depois do soar do sino pela manhã.

— Certo... Qual o seu nome, garoto?

— Peteae, senhor.

— Obrigado.

— Bom descanso e boa noite.

O menino sai, e os Infantes se olham, estranhando a forma e atitude de Peteae, o fato de o menino ser amigável em uma cidade onde a falta de educação é comum e às vezes necessária. Júlio analisa tudo e comenta.

— Eu consigo usar um pouco de energia nessa região, eu não senti nada de hostil no menino ou no dormitório.

— Mas temos que ter cuidado, pois ele pode ser uma isca, vamos continuar reservados e observando tudo com atenção, não podemos errar em nada aqui, pois não temos aliados.

O quarto dos Infantes é simples, mas tem o essencial e o necessário para dormir bem e para as necessidades básicas. Todos se arrumam e dormem em turnos, ainda com suspeitas de que possam estar sendo vigiados.

No dia seguinte eles acordam, cuidam de seus afazeres matinais, se preparam usando roupas mais comuns entre as pessoas que vivem na cidade e saem do quarto para cuidarem dos cavalos. No caminho eles encontram outro menino com características semelhantes às de Peteae, parecendo até que são parentes. Rupert o vê e questiona.

— Não ouvimos o sino, sabe se ele já tocou?

— Se não ouviu, é que não tocou.

O menino segue o caminho até a escola, e os Infantes se espantam e riem em seguida.

— Esse sim! Esse menino é do Império de Cristal.

— Sim! O outro deve estar perdido aqui.

— Talvez devêssemos resgatar o outro, porque aqui realmente não é o lugar dele.

Os quatro cuidam dos cavalos e ouvem o sino soar, indicando que será servida a comida. Eles encontram outras pessoas do dormitório, que conversam assuntos simples do cotidiano, como clima, novidades na arena de lutas, acidentes nas minas de minérios entre outras coisas.

Rupert aproveita para ver quais os assuntos mais comentados, à procura de alguma informação que possa ajudar o grupo ou para saber de mais detalhes do estado da cidade. Meena arruma a mesa para os quatro comerem, e Júlio e Doug observam Peteae, que está ajudando a servir a comida aos clientes e, ao terminar, ele corre para a escola. Os Infantes bebem, comem rápido, pagam e seguem até a escola para mais pesquisa.

— Como aqui é o único local de ensino, deve ser um bom lugar para adquirir informações.

— Sim, se não conseguirmos nada aqui, vamos arrumar algum jeito de entrar no forte ferraria para ver o lorde da cidade.

Eles entram na escola e a admiram por ser bem limpa, grande e bem equipada, a escola tem várias salas de treinos e estudos, tudo bem-organizado, entre mapas, livros, mesas, os itens para experimentos mágicos chamam a atenção do grupo, que olha a escola junto a outras pessoas comuns. Com essas pessoas, os Infantes se informam melhor sobre a construção e gerenciamento da escola. Percebe-se que algumas dessas pessoas são pais que estão deixando seus filhos lá, os quatro conseguem um momento longe dos outros na biblioteca e comentam entre si.

— Muito boa essa escola.

— Sim, me lembra de até parte de Pronuntio.

— Sim! Mas tem pouca gente estudando.

— O Império foca nos treinos de batalha, é triste ver uma grande multidão carente de aprendizado lá fora e muito espaço e possibilidade de crescimento aqui dentro...

— O Império é desprezível desde os pequenos pontos...

Eles ouvem o barulho de uns meninos brigando e veem o menino que foi mal-humorado com eles. Ouvem o nome dele no meio da briga.

— “Taine”, esse é o nome do bastardo.

— Não fale assim, Meena, vamos manter distância...

— Esperem. Olhem. Ele está com o Peteae.

Uma voz feminina e adulta soa atrás deles.

— O que vocês fazem aqui?

Eles se assustam e veem que é uma professora da escola, ela olha para eles e vê ao fundo Taine e Peteae. E corre até eles, brava.

— Pete! Novamente atrasado! Quantas vezes eu tenho que dizer que você deve chegar na hora...

— Me desculpe mestra.

— Seja como o Tine, ele chega sempre na hora.

Essa mulher fala de uma forma diferente os nomes dos meninos, como se houvesse um gosto maior em um do que no outro. Taine se vangloria, se distancia dos dois de nariz empinado, e diz.

— Mestra, vamos estudar?

— Claro, Taine! Vamos iniciar já!

Essa professora é humana, de estatura baixa, porte físico comum, idade entre trinta e cinco e quarenta anos, cabelos enrolados, compridos, de cor escura e bem amarrados. Seus olhos são escuros, ela tem sardas em suas bochechas, formando um semblante amigável.

Ela está usando calça e a camisa comuns sobre as quais veste uma bonita túnica comprida de cor clara, sem mangas, com pequenos bordado nas pontas e cheio de bolsos por fora e por dentro, indicando estarem cheios de itens.

A veste dela se destaca dos outros mestres vistos até agora na escola, o que indica ser um cargo privilegiado ou até de chefia. Outro detalhe que ela usa são as sandálias com ornamentos de prata, braceletes com ornamentos de bronze e um colar de cristais corrompidos, que é um material importante e em abundância nos cargos de liderança do Império de Cristal.

Ainda em seu colar há uma chave feita de ouro, que Júlio julga ter alguma finalidade magica, por ter pequenos escritos nela. Essa professora arruma as coisas para começar a aula, uma grande bandeja de prata é colocada na parede, enquanto os meninos se sentam, rapidamente os Infantes se lembram de Onilda e sentem saudade dessa época de ensino.

Antes de iniciar a aula, a professora parece se lembrar de algo e pede.

— Esperem um pouco! Eu preciso ver uma coisa.

Ela pega um livro grande e grosso e começa a procurar algo nele, enquanto isso Rupert questiona seu grupo.

— Vamos indo?

Os meninos na aula chamam a atenção de Júlio e Doug, que pede:

— Espere... Olha aquele menino de novo.

Enquanto a professora está um pouco distraída, os meninos começam a conversar e até a brincar, os Infantes observam as crianças, e então notam algo que nunca perceberam.

— Como as crianças do Império agem...

Taine tem muitos amigos, mas por vários momentos ele mente para eles, pede para fazerem coisas a sua vontade e, ao quebrar algo na sala, a professora exclama:

— De novo? O que vocês têm?

— Me desculpa, mestra, não foi por querer.

Ela olha atentamente para Taine e, sorrindo, diz.

— Tine, Tine! Tudo bem, eu sei que não foi por querer, mas tome cuidado.

Ela tira do seu bolso um pergaminho e o joga no vaso quebrado, o pergaminho gruda na maior parte e queima, virando energia, que junta as partes quebradas, consertando o vaso.



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