Arbidabliu: Infantes Brasileira

Autor(a): Magnus R. S. Alexandrino


Volume 1

Capítulo 50: O Grande Varanidae

Júlio também é um estudioso e intercala a informação com Doug. Ambos mostram muito ânimo e motivação pelo conhecimento, parecendo até em alguns momentos que eles namoram enquanto falam sobre o assunto.

— É um lagarto que sofreu a transformação e se tornou um “Grande Animal”, antes ele já era o maior da classe dos lagartos, agora é o mais poderoso deles, mesmo sem tê-lo visto, eu posso dizer que ele terá uns seis ou até sete metros de comprimento e um metro e um pouco mais de altura. Por ter se tornado uma criatura mágica, ele deve pesar quase uma tonelada, seus ossos e músculos são fortes e pesados...

— Isso! Ele é carnívoro, se alimenta até de humanos e de carcaças de animais.

— Tem que tomar cuidado com seu faro que é muito apurado, ele tem quatro patas e em cada uma delas tem cinco garras bem afiadas.

— Tem também sua mandíbula com bactérias letais, em sua saliva e possivelmente em suas garras há uma boa quantidade de veneno que, pela transformação que ele sofreu, é um veneno letal, que em poucos minutos pode matar um animal de grande porte.

— Ele tem uma grande cauda, uma língua que detecta estímulos de sabor e cheiro, conseguindo se locomover bem no escuro.

— E tem escamas fortes, reforçadas com osso com sensor ligado aos seus nervos o que amplia seu tato, ele gosta de lugares abertos como savanas e florestas tropicais... Eles fazem covas para se abrigarem e raramente andam em bandos... E tem um histórico de pessoas que foram mortas por esse...

Rupert fica enjoado de tanta informação e questiona com desânimo.

— Vocês estudaram muito ontem, todos esses dados estavam em Zara?

— Não, eles perderam muita coisa, em Zara a gente só conseguiu esse registro de mortos... Aqui! Um pesquisador, um menino de oito anos, cinco aldeões que estavam nadando e foram descansar no território dele, um habitante de Zara de trinta e um anos, um guia do futrespurco foi visto sendo devorado, e um senhor de Caelum que foi atacado, mas felizmente sobreviveu, tendo só a perna amputada...

— Chega! Vocês falam demais.

— Já acabou...

— Muito animador, tem pelo menos algo que ele seja ruim, uma fraqueza?

— A audição e a visão não são muito boas.

— Pelo menos isso...

Júlio Acrescenta:

— Mas por ser um Grande Animal, pode ser que esses pontos fracos estejam aprimorados também, é difícil saber...

— Basta... Acho que já ouvi muito sobre esse animal e a motivação de enfrentá-lo.

Meena e Rupert se aprontam se equipando ao máximo e seguem em direção à caça do Varanus. No caminho, Rupert comenta.

— É nesses momentos que eu vejo que aqueles dois se merecem, até na parte chata de estudar e ler eles se “excitam”.

— Não consigo imaginar alguém mais perfeito um para o outro, às vezes dá até raiva.

— Ou inveja?

— Jamais! É legal de ver às vezes, mas estar dentro daquela “Fantasia mágica e colorida” não é para mim.

— Eu também não penso em seguir com algo “romântico”, não por agora, e eu também tenho outros prazeres na vida, além de outras prioridades.

— Como caçar!

— Exato! Vamos testar nossas habilidades com essa lagartixa!

— Sim! E provar nosso poder!

— Hoje vamos mostrar que os quatro são essenciais para essa missão!

— Viu! Eles se divertem estudando e se lambendo como cachorrinhos domésticos...

— E nós, caçando como lobos selvagens!

Os dois riem e continuam sua busca pelo Varanus. Enquanto eles procuram seu alvo, Júlio e Doug ficam seguros em um ponto entre rochas escondidos e guardando os cavalos e seus pertences. Doug fica muito preocupado, e Júlio diz, deitado em seu colo.

— Não precisa ficar assim, eles são bons do combate, vão conseguir.

— Não sei... Fico com receio, esse réptil parece poderoso.

— E é! Mas somos os Infantes, tenha fé.

Tomando muita cautela, Rupert e Meena encontram o rastro que queriam, chegando até seu objetivo e, para a sorte dos dois, o Varanus está sozinho e alimentado. além de mostrar um pouco de cansaço.

Ao vê-lo Rupert e Meena percebem que ele está sentindo a presença de estranhos em seu território; com sinais de mão, Rupert informa a Meena que o inimigo já sabe que eles estão ali e que eles precisam agir. Meena toma a frente, sabendo do plano de Rupert e diz, ao tomar mais coragem para a batalha:

— Espero que você mostre para que veio, Rupert d'Alba, líder dos Infantes!

Varanus é robusto e enorme, como previsto por Júlio e Doug, a cor de sua pele e escamas é acinzentada e amarronzada. Diferente de um lagarto comum, esse tem alguns espinhos pelo corpo e presas grandes em sua boca. Meena e Rupert sentem que estão com sorte, pois Varanus está com sinais de lutas recentes e antigas.

— Ele está feriado!

Cicatrizes e grandes arranhões indicam já ter sido atacado por mercenários que não tiveram sorte e por outros animais por disputa de território. Meena corre em direção ao Varanus, chamando a atenção dele enquanto Rupert contorna o lugar para atacar de um ângulo mais vantajoso; além das garras, Meena também é atacada pelas presas.

O bom uso de acrobacia e saltos dá a ela boa esquiva para evitar os cortes e o veneno. Com os seus punhos equipados com manoplas de osso de animal, ela bate em Varanus. A todo o momento Meena demonstra que é um inimigo forte, fazendo gestos chamativos como bater no peito, urrar e até balbuciar sons altos e cuspindo.

Varanus é ágil e mais inteligente do que parece e não é afetado pela intimidação de Meena, sabendo até que existe outro inimigo por perto. Meena usa árvores e rochas para ajudar em suas esquivas e até para impulsionar seu corpo para dar golpes mais fortes.

Ao notar que Varanus está preparado para a o ataque de Rupert, Meena ataca um frasco que, ao quebrar, libera uma toxina fraca para o lagarto, o que atrapalha seus sentidos e dificulta seus ataques e até defesa.

— Vamos ver do que você é capaz!

Varanus recua e ataca com sua cauda, ele dá sinais de que irá fugir, dando chance para Rupert, que chega batendo com dois machados. Na primeira investida, Rupert é repelido e é jogado longe, pelo azar ele se machuca, mas volta à luta. Ao ver que o nível de luta de Varanus está alto, Meena usa outro frasco:

— Agora ele deve cair!

Varanus enlouquece, batendo em tudo no caminho de uma forma frenética. Meena se esforça ao máximo para conseguir fugir, e Rupert, além de se defender, tenta subir nas costas dele. Meena perde uma de suas manoplas e a pequena bolsa com frascos, ficando sem alguns deles na queda.

— Maldito azar!

Rupert chega até as costas de Varanus e ataca a nuca e pescoço, tentando achar um ponto fraco para abatê-lo. Nos primeiros golpes, Rupert percebe que precisará de mais dano. Ele usa um frasco com um tipo de ácido que dissolve um pouco as escamas e amolece a região, deixando-a mais frágil contra seus próximos golpes.

O rabo de Varanus alcança Rupert, mas Meena o ajuda, ao bater na criatura e ser atacada no lugar do amigo.

— Vai rápido!

Ao primeiro corte profundo, Varanus começa a rolar no chão. Rupert e Meena se machucam, mas voltam ao combate em alerta e preparados para os próximos golpes. Varanus rasga o chão, árvores e destrói algumas pequenas rochas. Com o tempo ele começa a fraquejar e recuar para fugir.

Meena e Rupert aproveitam e avançam juntos; com a união de golpes, os dois ferem novamente Varanus, que regurgita uma massa gosmenta de chifres, cabelos e dentes dos últimos seres que ele comeu. O muco cheira muito mal e contém toxina. Meena é acertada e se desespera, achando que aquilo poderá matá-la, então corre até os frascos e, além de tomar um para precaução, ela se banha com outro, tirando o excesso da secreção de seu corpo.

— Que nojo! Horrível... Réptil maldito!

Rupert fica focado, a adrenalina ajuda a ignorar um pouco o cansaço e a dor de seus ferimentos. Ao ver Varanus fadigar, ele ganha mais motivação de continuar com o plano, ele usa outro frasco, jogando o líquido em seu machado, ele corre e ataca o machado limpo. Varanus se defende e contra-ataca com suas presas.

— Vamos, grandão!

Rupert se esquiva e ataca com o machado banhado em líquido, acertando na boca de Varanus, que sente a dor e pressente ter algo bem agressivo para ele. Rupert avança e continua seus ataques até acertar no olho de Varanus, o que faz com que a substância entre em sua corrente sanguínea.

O grande lagarto cai e se contorce de dor, morrendo aos poucos. Nesse momento Rupert abaixa a guarda e é acertado pelo rabo de Varanus, que o joga contra uma rocha. Ao bater nela, o líder dos Infantes desmaia, e Meena corre para defendê-lo dos próximos ataques.

Varanus ataca até sua morte, ele destrói a rocha, machuca Meena mais uma vez e cai sem vida.

— Acho que acabou... Rupert? Acorde!

Meena consegue acordar Rupert, e ambos riem ao ver que conseguiram matar Varanus; eles deitam no chão, satisfeitos pelo resultado e com dor em todo corpo.

— Finalmente! Conseguimos... Perigo real contra um animal irracional é tenso!

— Muito... Melhor pegarmos logo o que precisamos e ir até Júlio e Doug.

— Certo...

Depois de pouco tempo de descanso, ambos vão até o corpo de Varanus e com facões cortam partes importantes, que mercenários e caçadores de recompensas pegam e usam, além de uma quantia grande de sangue. Deixam tudo separado e avaliam tudo que eles podem levar. Meena olha o tanto de coisa e questiona.

— São muitas coisas! O que levaremos?

— Não imaginei que ele teria tantas coisas boas para comercializar.

— Sim, mas não podemos levar tudo, não temos cavalos para tudo isso.

— Certo... Vamos levar a Ajna dele, sangue e uma das garras.

 

“— Todo Grande Animal possui um Ajna em seu crânio, mais aproximadamente entre e um pouco acima dos olhos, essa Ajna é um osso, ou melhor, uma pedra orgânica que surge com a transformação do ser dessa categoria. Essa Ajna aprimora o senso mágico e a resistência também; como já vimos, são vários atributos diferentes que esses animais podem ter, essa Ajna ajuda nisso, e pode dar até consciência, deixando o ser pensante igual a outras raças evoluídas como os humanos. Ajna é muito desejada, estudiosos mágicos e dos seres vivos buscam essas pedras para estudos ou para usarem em magias que providenciam grandes poderes e feitiços, a depender do animal do qual for retirada.”

 

— Que desperdício para o resto dele.

— Experientes levam tudo: escamas, couro, presas, garras, carne, língua. Extraem o veneno, entre outras coisas, mas o importante é a Ajna e um pouco de sangue, que é mais fácil levar... Podemos dizer que o restante a gente já vendeu e guardou o melhor para o Império.

— Entendi...

No início da noite, Meena e Rupert retornam e encontram Júlio e Doug, ambos veem que Júlio e Doug estão com peças de roupas trocadas e comentam.

— O que você fizeram na nossa ausência?

— Nada demais...

— Têm certeza?

Ao apontar para os itens trocados, Doug reclama baixo para Júlio.

— Eu falei que esse colete era o meu!

— Tudo bem, o importante é que ainda parecemos mercenários.

Rupert aproveita e comenta brincando.

— Mercenários que se “caçam”, vocês devem ser os primeiros da categoria.

Meena e Rupert riem alto, e Júlio e Doug riem com um pouco de vergonha. Para mudar de assunto, Júlio questiona.

— Vejo que conseguiram. Como foi?

— Além de muitos machucados, sim! Aqui está!

Rupert mostra a Ajna, uma pedra esverdeada e um pouco transparente, que parece um globo ocular. Júlio usa magia, faz a Ajna brilhar e emanar sua própria aura, para analisar o poder e o valor dela.

— Ótimo... Tivemos sorte, essa é valiosa e poderemos usar para entrar no futrespurco.

— Perfeito... Trouxemos também carne para assar.

— Carne de lagarto?

— É de um grande animal, se espera que tenha um “grande gosto” também.

Rupert sorri e começa a preparar a comida enquanto Meena conta com detalhes tudo o que aconteceu na luta contra Varanus, para Júlio e Doug, que ficam animados com o feito dos dois. No final ela brinca questionando os dois.

— Vocês vão me detalhar o que houve aqui também?

Doug faz cara feia, e Júlio diz sorrindo com empolgação.

— Quer saber? Te garanto que teve ataques frenéticos e rolagem também.

Meena se choca, rindo, e Doug bate em Júlio.

— Besta! Não acredite nele... Para!

— Achei que você gostaria de falar sobre suas aventuras com um “grande animal”!

Rupert ouve essa frase e comenta.

— Já vamos comer, vamos mudar esse foco louco de vocês!

Doug concorda e arruma bebida e as coisas para todos comerem.

— Mais um passo dado, próximo é chegar até a cidade.

— Sim, vamos dormir e nos recompor da luta, depois seguiremos... Bom apetite!

— Obrigado pela comida!

No próximo dia, Júlio ouve algo estranho e usa seus poderes para saber melhor o que acontece ao redor deles. Ao descobrir ele acorda os três com tom de preocupação.

— Precisamos ir agora!

— O que houve?

— Varanus perdeu seu posto no topo da cadeia alimentar dessa região, sinto a proximidade de outros animais e de alguns caçadores.

— Certo... Eles verão a carcaça e podem procurar quem está com a Ajna dele... Vamos seguir logo.

— E vocês dois, como estão?

— Eu não estou totalmente recuperado, mas consigo seguir sem problemas e sem lutas grandes... E você, Meena?

— Estou bem, mas não estou pronta para enfrentar outro bicho gigante.

Os Infantes rapidamente desmontam seu acampamento e se preparam para seguir, minutos antes de terem tudo pronto e partir, eles ouvem um barulho e um som suspeito bem próximo deles, Rupert comenta baixo:

— Parece um riso...

— Hiena!

Na categoria de Grande Animal, surge uma hiena quatro vezes maior que uma normal. Além das características comuns, suas costas são recobertas por espinhos e há garras grandes em suas patas; ela salta e ataca os cavalos, ignorando inicialmente os quatro. Doug fica com dó dos cavalos e tenta ajudar, Rupert pega em seu braço e o puxa para seguir.

— Deixe! Não podemos lutar agora!

— Espere!

Júlio também pensa em ajudar, mas Meena o puxa e o coloca em seu cavalo e partem sem olhar para trás. A hiena mata dois dos cavalos e os devora, atrás dela chegam outras hienas comuns para comer, também revelando um grande bando.

Em uma situação mais segura, eles trocam de duplas, Júlio pede para ficar no cavalo com Doug, e Rupert acaba dividindo um com Meena. Eles seguem em direção de Militis e no caminho Júlio conforta Doug, que se sente culpado pela morte dos cavalos, lembrando-se da história de Blanco, o cavalo que tem sentimentos mais apurados do que um ser pensante.

Eles acampam mais uma vez depois de horas procurando um lugar tranquilo, seguro e longe de estradas. Por sorte eles passam mais uma noite tranquila. No outro dia, eles se aprontam para seguir até Militis, e Júlio comenta cabisbaixo.

— Desculpem dizer isso agora, mas... Eu acho que deveríamos seguir para Mascul.

Meena fica inconformada.

— Como assim? Agora?

Rupert pede.

— Acalme-se, Meena...

— Mas já estamos perto da cidade.

— Eu sei, mas precisamos ouvir e decidir juntos... Júlio, diga o porquê de você estar dizendo isso.

— Eu sinto algo ruim... Agora mais próximo da cidade, acho que deveríamos seguir o antigo plano e ir para Mascul.

— Sabe que isso levará mais alguns dias, não sabe?

— Sei, mas por prevenção eu sinto que lá teremos mais “sorte”.

Meena volta a comentar.

— Sorte? Não vamos prolongar muito, vamos votar o que podemos fazer... Doug com certeza concorda com Júlio... Rupert? O que você acha?

Doug concorda com Júlio, e recebe o agradecimento através de um abraço forte. Rupert respira fundo, olha para os três e para a direção de Militis, ele fecha os olhos e se recorda das más escolhas que fizeram desde o início da missão, lembrando também que muitas coisas Júlio e Doug pressentiam e escolhiam em fazer o certo, e diz:

— Vamos seguir o que o Júlio falou, se ele sente que Militis não é o caminho, então lá não será nosso destino.

— Obrigado...

Meena também respira fundo e ao olhar para os três, ela também sente que Júlio e Doug costumam ter decisões mais sensatas e certeiras, e diz confiante.

— Então vamos, Infantes... Temos um longo caminho pela frente.

— Infantes!



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