Volume 1
Capítulo 49: Seguindo para território hostil
Manhã, 20 julho 1590 – Vila Zara.
— O clima aqui ainda está triste...
— Meena, muitas coisas foram perdidas, além das vidas, houve muita perda material.
— E você conseguiu ver se atrapalhou a nossa missão?
— Sim, eu fiquei responsável por ajudar Gustav a verificar as perdas dos itens e suprimentos. Os itens mais importantes, que seriam usados para provar que somos caçadores de Grandes Animais, foram destruídos. Teremos que nós mesmos caçar um grande animal, ou recuar a missão por alguns meses.
— Meses? E o que você decidiu?
— Nada ainda, estou esperando me reunir com o grupo todo para decidirmos.
— Certo, e onde estão Júlio e Doug?
— Se despedindo dos refugiados que ficariam aqui em Zara... Devido às baixas, muitos terão que voltar para Copus Lithy, lá será mais seguro até eles fortificarem e restaurarem Zara por completo.
— Entendi...
O clima está agradável, sol bem a mostra com o céu limpo sem nuvens, mostrando que irá esquentar ainda mais. Perto da floresta de Copus Lithy, ainda na praia de Zara, está o grupo de refugiados com Júlio e Doug, todos fizeram uma grande lápide em uma rocha grande e bonita, nela todos cravaram os nomes das pessoas que morreram na batalha de Zara.
Todos ficam em silêncio por alguns segundos em respeito e admiração aos mortos. Uma mulher, a mais velha do grupo, faz um pequeno discurso:
— Nossos amigos ajudaram a salvar não só pessoas, mas a ideia de um lar, família e a esperança de um lugar sem precisar do medo ou de um muro de proteção... A cidade teve mortes antes de chegarmos aqui, pois eles vivem muito em batalhas assim, não os culpem por não quererem estar aqui nesse momento conosco, pois eles sentem muito a perda dos seus, como nós perdemos os nossos... Depois de dias juntando o que sobrou, voltaremos para o centro de Copus Lithy e esperaremos novamente outra oportunidade de seguirmos nossas vidas; eu acredito que o recomeço está próximo, por favor, tenham fé nos planos do nosso criador, pai de tudo e de todos, Deus.
No início da tarde o grupo fica junto para comer e partem para dentro da floresta, Júlio e Doug e alguns guerreiros de Zara os escoltam até uma parte e se despedem. Entre eles um menino comenta e dá algo para Júlio.
— Aqui! Para você.
— O que é isso?
— A insígnia de Prisa, ela iria querer que ela ficasse com vocês.
— Obrigado...
— Tem uma anotação sobre ele, cuidado para não ser roubado.
— Pode deixar. Obrigado de novo.
— Tudo de bom para vocês...
Altas horas da noite, Júlio e Doug se encontram com Meena e Rupert em um canto próximo do muro de Zara.
— Como que foi lá?
— Ajudamos a levar o pessoal... Foi triste, mas a fé deles ainda está boa, assim continuarão tentando arrumar um lugar.
— Bom... Infelizmente esses são os inconvenientes da guerra.
— Sim, não achei que iríamos encontrar com isso.
— Também não, mas estamos nos aproximando cada vez mais perto do futrespurco, acho que estamos subestimando antes de entrar no território dele.
— Vamos pensar e calcular melhor nossas ações e planos futuros.
— Sim, por isso que eu quero que a gente decida junto, nós iremos esperar meses até conseguirmos itens para provar nossa história para o futrespurco, ou iremos nós mesmos caçar um Grande Animal e seguir com o plano? O que vocês acham?
Os quatro pensam bem, e Rupert mostra alguns mapas e pergaminhos que conseguiu com Gustav.
— Perderam muito, mas algumas informações eu consegui tirar do que sobrou, vejam!
Rupert mostra através dos mapas alguns caminhos para as cidades do Império mais próximas de Zara, indicando que Militis é mais próxima que Mascul; há algumas outras informações dos estilos de Grandes Animais pelas redondezas, alguns dados de Militis que mostra que essa cidade também é um bom lugar para se infiltrar.
— Então você acha melhor irmos para Militis?
— É uma alternativa, Gustav que comentou que também dá para seguirmos para Militis devido aos imprevistos, pois já estamos atrasados.
Ao rever mais algumas informações, todos decidem ir para Militis.
— Então caçaremos um Grande Animal, perdemos muitos dados sobre esses disponíveis, mas, para nossa sorte, Júlio e Doug sempre estudaram mais e saberão o que precisamos saber sobre nosso alvo.
Terminando de rever provisões que Zara disponibiliza para eles, Meena dá mais uma ideia.
— Vejo que eles têm suplementos para longas viagens, podemos usar nos cavalos e agilizar a nossa caçada e a nossa chegada até a cidade do futrespurco.
— É uma boa ideia, mas esse excesso não pode matar os cavalos?
— Não se Júlio ajudar, os poderes dele poderão potencializar os suplementos e não fazer com que eles cansem ou sofram com o exagero de alimento.
Doug se preocupa.
— Mas esse percurso pode cansar Júlio.
Júlio entende a preocupação, mas sabe que a missão é importante, ele segura na mão de Doug e diz, com um sorriso que conforta Doug.
— Eu entendo, eu consigo ajudar nisso.
— Ótimo! Resolvido... Rupert?
— Certo, então vamos pegar as coisas e ir o quanto antes.
Os quatro se separam para arrumar tudo o mais rápido possível, eles reúnem alimento, água, cavalos aptos para a jornada, armamento, entre outras coisas comuns para acampar e de sobrevivência longe de civilização. Depois de arrumar tudo, eles, um a um, vão se encontrando. Doug se encontra com Júlio, que está olhando a joia rosa Teresa.
— Júlio? O que houve?
— Não consigo restabelecer o poder na joia.
— Não se preocupe, foi para nos salvar.
— Mas e se precisarmos de novo? Esse poder seria um socorro contra o futrespurco, no território dele, mas nem chegamos à porta dele e já precisamos usar duas vezes.
— Eu entendo... Mas pelo que eu lembro, por ser uma joia familiar, dá para reconstituir o poder dela.
— Sim, mas vai demorar, já iniciei o processo... Infelizmente isso irá me cansar um pouco, ainda mais nesses dias que me concentrarei na nossa viagem.
— Isso poderá afetar o plano de Meena com os cavalos?
— Não, mas, e se eu precisar proteger vocês...? Ou principalmente você... Eu não sei o que fazer...
— Não se preocupe, tomaremos mais cuidado agora e eu também estou aqui para proteger você.
Ambos se abraçam forte e se beijam. Júlio é um pouco ousado e tenta esquentar mais a situação, usando suas mãos em partes mais reservadas do corpo de Doug; antes de iniciar o que ele estava pensando, Meena chega, atrapalhando. Júlio para no mesmo instante.
— Rupert está nos aguardando no “quartel general”, vamos nos despedir de Gustav, ou eu digo que vocês ainda estão resolvendo assuntos “importantes”?
Ela ri, deixando Doug envergonhado, que diz.
— Já acabamos. Vamos!
Em uma casa que foi fortificada depois da batalha e que está sendo usada para assuntos militares, há guerreiros de nível de batalha mais avançado junto a Gustav, que recebem os Infantes.
— Peço desculpa novamente por ocupar vocês.
— De forma alguma, Gustav, nós agradecemos os ensinamentos e o suporte, o mínimo que poderíamos fazer é ter ficado esses dias e ajudar na segurança e reconstituir o que dava.
— Sinto por não poder enviar guerreiros com vocês ou providenciar mais suprimentos para sua missão.
— Já verificamos, temos o suficiente.
— E já sabem onde acharão o Grande Animal?
— Sim...
— Tomem cuidado, pois essa não é uma raça comum... Obrigado e, se qualquer coisa der errado, vocês podem voltar aqui, que daremos toda a ajuda possível.
— Obrigado.
— Boa partida, Infantes! Que encontrem rápido o que precisam para voltarem logo.
— Sim! Obrigado por tudo e especialmente a hospitalidade.
Doug aproveita e pede:
— Mande um abraço para Caryn.
— Com certeza, ela ficará feliz de saber que com vocês tudo está indo bem. A propósito, vocês já reportaram Pronuntio?
— Sim, já os atualizamos da missão.
— Certo, então... Até breve!
Quase saindo do quartel general, eles veem Djal dentro de uma pequena sala. Ele está sentado em uma poltrona velha, lendo um livro, tomando café e fumando; o livro que ele está lendo chama a atenção de Júlio e Doug, e um item que está no braço esquerdo da poltrona chama a atenção de Rupert, que se aproxima e questiona:
— Essa é uma barata dourada?
— Olá! Sim... Mas é uma réplica, não é a verdadeira.
— Incrível como é cheio de detalhes.
— Eu ganhei em uma das minhas aventuras, eu sempre levo comigo para dar sorte... Dizem que, de todos os Grandes Animais, essa é a mais mística, tendo os maiores atributos mágicos que qualquer outro animal dessa categoria pode ter... Veja!
— Obrigado.
— Querem algo? Esse café está frio, mas deve ter um quente na cozinha.
Rupert admira o item, sonhando em como seria encontrar o inseto raro com grandes propriedades mágicas. Meena olha ao redor, mas nada a atrai. Doug olha mais de perto o livro e questiona:
— Nesse livro fala sobre algumas “maldições” mágicas e biológicas?
— Sim, me interessei em saber mais, pois tenho um afilhado que tem... Deixa-me ver aqui o nome certo... “Síndrome do Impostor”, é isso!
— Já ouvimos falar disso, ele consegue viver normalmente?
— Sim, ele se afastou da família... Mas espero que esteja bem, além de ter essa “restrição” ele é daquele grupo, ou raça... Descendentes de Ivo! Acho que isso atrapalhou um pouco ele, devido a muito preconceito que vivemos no Grande Continente.
— E o senhor, tem?
Djal ri e comenta, terminando seu fumo:
— Nem poderia, tenho uma filha Descendente de Adéa... E eu a amo muito.
Meena se cansa da conversa e agiliza o término dela.
— Obrigado por sua atenção, senhor Djal, mas precisamos ir. Vamos, Infantes!
— Vamos, foi um prazer conversar com o senhor novamente.
— O prazer foi meu, e boa sorte para vocês.
— Obrigado.
Ao sair do quartel, Meena comenta decepcionada.
— Esse homem deve ser azarado.
— Por que diz isso?
— Nessa idade ainda tem que cuidar de netos e filhos, e os filhos só trazem desonra, um que larga os filhos, e outra é...
Antes de dizer o final de seu comentário, Júlio e Doug a encaram, sabendo que ela irá se referir à classe deles como algo negativo.
— Diga, Meena, é uma vergonha ser ou ter familiares como nós?
— Não, vocês me entenderam! Na visão dele está tudo bem, mas muitos devem classificá-lo...
— Quem está classificando aqui é você!
— Esquece! Vamos logo.
Os infantes se aprontam, comendo e bebendo o bastante antes de saírem fazendo o mesmo com seus cavalos. Os quatro mudaram totalmente o estilo de roupa, para um estilo de caçador, usando roupas sem emblemas ou características específicas de reinos ou cidades, com muito couro de animal e pano de cores apropriadas para camuflagem e furtividade em florestas e pântanos.
Para melhorar o disfarce, eles usam itens normalmente usados por mercenários, como presas e penugem de animais em pulseiras ou colares. Ao saírem de Zara, eles iniciam a viagem em ritmo baixo e aos poucos vão aumentando a velocidade, os cavalos atingem o máximo a que um cavalo bem treinado consegue chegar.
Com os consumíveis digeridos, eles passam do limite e começam a ter complicações em seu organismo, Júlio usa seus poderes e estabiliza isso, mantendo a saúde e bem-estar dos cavalos, tanto que os cavalos sentem como se estivessem em um passeio comum.
O poder de Júlio, além de ajudar os cavalos, dá uma pequena proteção para os Infantes, assim eles não são afetados pela grande velocidade com vento forte ou, até se tiverem alguma queda ou impacto no percurso, não sofrerão grandes danos.
— Muito bom... Precisamos manter esse ritmo e recuperaremos alguns dias perdidos.
Ao mesmo tempo que Doug fica preocupado com Júlio, ele o admira, vendo que cada vez mais o amigo surpreende com suas habilidades e capacidade, além da segurança emocional e física que ele passa. Meena e Rupert ficam focados e pensativos nos próximos planos que farão, tendo alguns momentos de preocupação e receio.
— Os Instantes estão iniciando mais uma etapa, chegamos até aqui com muito esforço e treino, então estou confiante que nós chegaremos ainda mais longe... O futrespurco que nos aguarde!
— O futrespurco que nos aguarde!
Durante os dias de percurso, Meena pensou melhor no ponto de vista dela referente à Djal e seus comentários desnecessários, vendo que não refletiam o que ela realmente pensa sobre a vida. Ela então se desculpa com Júlio e Doug que aceitam, por verem que essa missão a está afetando muito, mais do que ela gostaria.
— Obrigada por entenderem...
Rupert está com seu humor melhorado e ajuda a adoçar a situação, deixando o clima amigável novamente. Eles são cautelosos, sempre evitando contato visual com viajantes ou grupos suspeitos no caminho. Utilizam passagens poucos usadas, abusam muito da capacidade dos cavalos e dos poderes de Júlio, que tem pouco tempo de repouso.
— Não se preocupem comigo ou com os cavalos, vamos seguir, teremos tempo para descasar depois.
Todos resolvem descansar o mínimo possível para tentar recompensar o tempo já ocupado. Em uma noite eles se aproximam do território possivelmente ocupado por um Grande Animal que, além de poderoso, é cobiçado pelas redondezas. Os Infantes acampam e, no raiar do sol, Rupert levanta com Meena, acordando os outros.
— Já está de manhã, precisamos retomar os pontos.
— Tão cedo?
— Não se preocupe, só queremos as informações, ontem vocês dois obtiveram mais informações sobre esse animal?
— Sim, mas espere eu estar melhor de energia.
— Não temos muito tempo, não se preocupe, eu e Meena vamos dar conta disso.
— Certeza?
— Sim! E Doug fica aqui para proteger seu amado.
Júlio ri, mas comenta:
— Será ruim sem suporte.
— Você já fez muito nessa missão, confesso que até demais, pelo nosso “orgulho ferido”, deixe a gente resolver esse assunto, se não dermos conta de um bicho, não daremos conta do poder do futrespurco.
— Entendi... Mas tenham cuidado...
— Pode deixar! Doug, relatório, por favor!
— Certo, analisando o que sabemos, junto aos dados que verificamos ontem com alguns pergaminhos que vimos e trouxemos de Zara, esse é um Varanus ou também chamado “Crocodilo da terra”...