Arbidabliu: Infantes Brasileira

Autor(a): Magnus R. S. Alexandrino


Volume 1

Capítulo 46: A Praia de Zara II

— Chegamos a um ponto bom, até agora eu sabia dessas informações, agora vocês devem me dar elementos novos. Esse veterano, por exemplo, eu não o conheço... Falem-me mais dele... Meena?

— Ele tem um passado honroso, casou-se com uma família simples que cresceu muito com o tempo, trabalhou muito, deu de tudo para sua família, teve filhos e netos.

— Interessante, pelo jeito ele conquistou muito mais do que batalhas campais.

— Sim, mas acho triste o presente dele, o agora, ele já está com uma idade avançada, com a saúde precária e tem que trabalhar muito para cuidar e alimentar seus netos.

— Não vejo tristeza nisso, Meena; infelizmente, quando perdemos um filho ou quando alguma criança da família não tem pais, os mais “aptos” devem fazer isso, sendo seus tutores.

— Você disse bem, Gustav, quando não há pais, mas essas crianças que ele tem que cuidar têm pai e mãe, e simplesmente estão seguindo suas vidas, até pensando em ter mais filhos...

Gustav para um pouco, entendendo o que Meena falou e questiona:

— Ele está cuidado dos netos por que os verdadeiros pais não estão cuidando porque simplesmente não “querem”?

— Sim! Tem uma desculpa boba que bobos aceitam, mas infelizmente é essa a situação.

— É... Isso é triste mesmo... Você falando assim, me lembrou de um clã com hábitos assim no continente...

— Essa mesma!

— Entendi... Bem, cada um com sua cultura e escolhas... Vamos mudar de assunto.

— Melhor, porque isso realmente desanima...

Júlio sorri e comenta:

— Soubemos mais dados de alguém da vila.

— Ótimo! Quem?

— De um veterano de guerra também, a família dele tem um comércio nas montanhas brancas de Irene White; lutou bravamente para defender seu rei e o povo contra o assassino mais temível do Futrespurco.

Gustav ri alto, mas sem graça, diz:

— Me investigaram também?

— Sim, é amigo de longa data de Cassios, por isso que ficou em um cargo importante.

— Não falem assim! Eu dei tudo de mim para estar onde eu estou hoje.

Rupert olha para as partes baixas de Gustav e comenta.

— Eu acho que você deu muito mais do que precisava.

— Então vocês sabem?

— Sim...

— Não vou mentir para vocês, eu tive muita sorte naquele dia, o tão famoso “Águia de Sangue” atacou Copus Lithy, e eu me coloquei a defender o rei com tudo que tinha ao meu alcance. Foi um empate, mas, para ele sair invicto, sem remorso do não cumprimento da missão, ele me feriu e atingiu minhas partes baixas.

Doug fica triste por Gustav e pergunta cabisbaixo.

— É por isso que você não gosta de Descendentes de Ivo?

— Me desculpem, Júlio e Doug, somos falhos e, antes de conhecer vocês, eu não tive boas experiências com pessoas dessa linhagem.

— Tudo bem.

 Meena e Rupert ficam surpresos.

— Não sabia! O tão famoso “Águia de Sangue” é um “Ivo”?

— Sim! Acredito que possa ter outros trabalhando para o Império.

— Mas o Império não é contra?

— Sim, mas, se essa pessoa dá vantagens, o Império o recruta e o infecta com a cultura dele, de ódio e preconceito, fazendo que essas pessoas rejeitem os seus e até a si mesmos.

A tarde passa com os Infantes conversando mais sobre algumas pessoas do Império e o cuidado que eles devem tomar ao chegar à cidade Mascul. Eles comem, bebem, riem, relaxam, informam-se e, no final do dia, Gustav pede:

— Agora à noite um grupo de pessoas vem para Zara, para morar e ajudar na prosperidade do lugar, peço que vocês conduzam essas pessoas.

— Certo.

— Amanhã falaremos da partida de vocês.

No início da noite, eles encontram com as carruagens chegando da floresta e, entre as pessoas, Júlio e Doug veem alguém conhecido, ficando felizes ao reencontro.

— Prisa?

— Rapazes! Como estão? Não achei que veria vocês tão cedo.

Eles se abraçam, e ela complementa.

— Ótimo ver pessoas conhecidas aqui, estava receosa em chegar a essa vila nova.

— Receio? Por quê?

— Ouvi falar que essa vila já foi atacada algumas vezes no início de sua construção e está na mira do Império.

— Sim, mas eles chamaram ajuda para defendê-la, assim o inimigo pensa melhor antes de atacar.

— Não sei, não, eu gostaria de ir para outro lugar, mas por enquanto não tem jeito, e eu não quero abandonar o meu grupo.

— Entendemos sua motivação.

— Obrigada, mas ainda tenho meu sonho... Libryans que me aguarde!

Eles riem e ajudam o grupo, com Meena e Rupert, a se acomodarem na vila. Eles então apresentam o lugar, as pessoas, algumas regras, informações importantes e os ajudam a montar as tendas temporárias onde esse novo grupo passará alguns dias.

Todos se reúnem com os moradores da vila e fazem uma pequena recepção com comes, bebes e algumas músicas e danças, não há muita qualidade, mas é muito atrativa e alegre. A noite está fresca, tranquila e bem iluminada por algumas luas e estrelas no céu.

Algumas pessoas andam pela praia, Gustav se reúne com o veterano Djal, para verificar alguns pontos importantes da defesa e confirmar as informações obtidas pelos Infantes. Com tudo, Meena e Rupert ficam mais próximos de Prisa.

— Interessante a história das pessoas do seu grupo, passaram por muitas coisas, corajosos...

— Obrigada, Rupert, por isso não quero deixá-los ainda, eles precisam se estabilizar em algum lugar.

— Sim, segurança é importante.

Meena termina de beber tudo que estava em seu copo e questiona Prisa, que nota a alteração alcoólica agindo em Meena.

— Mas por que esse desejo tão forte de ir para Libryans?

— Você nunca ouviu falar da rainha de lá, a “Mãe das mulheres”?

— Ouvi, mas muitas coisas as pessoas aumentam e exageram... “A escolhida”! “A abençoada por Deus”! Cada um dá um “título” diferente...

— Sua falta de credibilidade nas pessoas de bom coração é preocupante, Meena.

— Como disse?

Rupert sente que a conversa ficará tensa e tenta melhorá-la.

— Prisa, você deve saber que vimos muitas coisas e ouvimos muitas informações e boatos que podem “atrapalhar” certos planos, vamos aproveitar a conversa com você para nos informar melhor. Diga para nós suas motivações para ir para Libryans, e assim entendemos melhor o quão importante é Libryans e seu povo.

— Uma boa ideia... Um resumo bom é dizer que Libryans é o inverso do “futrespurco”, é um lugar totalmente acolhedor, próspero e poderoso, para tudo e todos. Um grupo de vilas que cresceu e se tornou cidades e, assim, o reino de Libryans

— Ada, Curie, Hipácia, Joan, Libryans, Quiteria e Winfrey.

— Isso! Graças a uma antiga Imortal que vocês devem conhecer como os Octoniões, uma das mulheres do grupo de heróis assumiu as terras que pertenciam a sua família, e lá iniciou um lugar onde as mulheres podem ser o que elas quiserem, sem reclusa ou opressão, um lugar bem liderado por mulheres representando-as e ajudando-as a se livrarem de culturas antigas e hostilidades.

Meena não se importa com os sentimentos de Prisa e diz.

— Um lugar em que mulheres querem mandar, igual o Império quer comandar! A diferença é só o sexo da liderança?

— Meena... Você é boa em batalha, brigar na mão, mas lamento dizer que suas habilidades mentais são primárias.

— Como ousa?

— Não vou cair no seu jogo, eu tenho muito mais o que fazer... Boa noite! Boa noite, Rupert, obrigada por tentar.

Meena se levanta com Prisa, chamando a atenção de quem está por perto. Rupert vê que tudo vai acabar mal e pergunta:

— Meena, quer mesmo causar confusão no nosso último dia?

— Não... Boa Noite...

Prisa sai em direção dos seus, e Meena vai para a direção oposta, mesmo não levando a sua tenda. Rupert a segue e, ao alcançá-la, questiona preocupado.

— O que foi aquilo?

— Não sei!

— Estudamos sobre Libryans, você mesma já admitiu ser um lugar ótimo, por que retrucar assim?

— Não gosto daquela mulher! Pronto!

— Meena, se acalme! Por que você não gosta dela?

Meena continua andando sem falar, e Rupert para na frente dela.

— Meena!

— Certo! Ela me lembra daquelas meninas que zombavam de mim quando criança, o jeito que ela fala... A superioridade...

— Ela não fala assim, você que agiu estranho.

— Eu? E você a apoia?

— Meena, sabe de onde ela veio?

— Sim...

— Sim? Será?

— Eu sei que ela veio do Império, que sofreu lá...

— E você viu Júlio e Doug ajudando-os, lembra-se daquele dia? Todos olhando com dó e sem ao menos ajudar eles, imagine o que eles passaram antes daquilo, e você quer comparar com aquelas “falsas princesas” que estudaram em Pronuntio?

— Me desculpe, eu não pensei direito.

— Meena, nós estamos perto do perigo, perto de entrar no Império, você não pode ficar desequilibrada assim.

— Desequilibrada?

— Sim! Preste atenção, ou você quer voltar para Pronuntio e informar que você está incapacitada de passar por estresse e a pressão da espionar o Império?

— Não! Eu entendi... Você tem razão...

— Bom! Aquela mulher não fez nada de ruim, eu até sinto que ela quer esclarecer a sua mente... Vamos dormir e pense melhor sobre isso, relaxe, estamos entre aliados.

— Farei isso.

Rupert respira fundo por também se sentir tenso e cobrado e vai dormir enquanto Meena faz o mesmo, depois de dar uma volta pela praia. Meena reflete um pouco e percebe que está ansiosa e nervosa com a missão e sente que tudo isso faz pesadelos do passado voltarem, além de seu mau julgamento com as pessoas, que pode resultar em problemas como já houve no passado e em decisões recentes.

— Estou me lembrando do Khan... Aquela conversa com ele não me fez bem... Ou eu também estou imaginando coisas...

Do lado oposto de onde Meena se encontra, estão Júlio e Doug, ambos estão saindo do mar só com as roupas de baixo.

— Noite quente e a água gelada!

— Só você para me fazer entrar na água a essa hora.

— É gostoso.

— Não estou sentindo esse “gostoso”, agora estou com frio.

— É que você está muito distante de mim. Vem aqui!

— Sai! Besta!

— Não me obrigue a usar a força.

— Não se atreva.

Doug dá um soco forte em Júlio, que apara com magia.

— Acha que não conheço seus ataques?

— Quer mesmo tentar?

— Se eu conseguir, eu posso fazer o que eu quiser?

— Não! Se afaste!

Júlio e Doug correm até a tenda que eles fizeram e lá dentro se divertem um pouco. Um dos sons que foi mais alto que o normal deixa Doug com medo de alguém ter ouvido, Júlio sorri e diz em seu ouvido.

— Magia também serve para ocultar coisas que os outros não precisam ver... Ou ouvir.

— Que horrível! Usando seus poderes para isso.

— Com o tempo eu aprendi o poder que Taikuri e Romanze costumam usar.

— Não pratique os feitiços que eles fazem, lembra-se daquele dia?

— Sim, mas depois de tanto tempo, que achei que poderíamos tentar usar o feitiço “proibido” novamente.

— Não!

— Por favor... Desta vez nós já sabemos como funciona.

— Sim! Mas...

Ao mesmo tempo que Doug comenta que não está a fim, a sua mente foca no prazer que ele terá, se aceitar essa ação mais exótica.

— Só usamos isso uma vez... e... Não sei...

Júlio percebe que Doug está cedendo e diz, pegando nas mãos de seu amado.

— Vamos! Será prazeroso, precisamos aproveitar ao máximo nossos momentos.

— Já aproveitamos.

— Sim, eu sei, mas hoje podemos tentar algo mais “elevado”!

— Elevado? Você diz como se fosse você que iria aguentar tudo aquilo... Tudo isso...

Júlio vê que está conseguindo convencer e insiste.

— Vamos... Mas se disser que você não aguenta, eu entendo. Tudo bem se você não for forte o bastante.

— Para com isso! Isso não funciona!

Ambos riem, Doug bate em Júlio e diz com raiva.

— Você ganhou, vamos fazer.

— Ótimo!

Júlio beija Doug, e com as mãos em sua virilha conjura dizendo em um tom baixo e malicioso.

Streptopelia!

No dia seguinte, os Infantes se reúnem depois do lanche da manhã, eles escrevem um relatório para ser enviado para Pronuntio, avisando tudo o que aconteceu até a data e, anexa ao relatório, uma carta, em que desejam melhoras para Ray, com comentários particulares de um grupo de amigos com carisma, bom humor e notícias mais despojadas sobre os lugares de onde passaram e as coisas e os seres que viram até então.

Além também de relembrar alguns eventos juntos e comentários de como Ray agiria em algumas situações que eles passaram.



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