Arbidabliu: Infantes Brasileira

Autor(a): Magnus R. S. Alexandrino


Volume 1

Capítulo 45: A Praia de Zara I

Noite, 10 de julho 1590 – Vila Zara

Zara é uma extensão do reino de Copus Lithy. A poucos metros da grande floresta, foi iniciada a construção dessa vila, o intuito principal era para acolher refugiados e para o crescimento da pesca para o reino, mas a necessidade de criar um ambiente e local seguro para que famílias diversas vivessem em paz falou mais alto.

Ela tem uma pequena doca com barcos para as pescas, que são a principal fonte de alimento dessa bela vila; nela ainda há muitas casas, pouco comércio, uma pequena escola, algumas tendas improvisando lugares públicos para necessidades básicas e para guardar mantimentos.

Para sua defesa foi construído um grande muro com portões fortificados, que ainda está sendo finalizado. As areias, rochas e a floresta ao lado trazem um ambiente acolhedor e até turístico. A noite está quente, os moradores da vila estão levando suas vidas tranquilamente enquanto uma situação aparentemente tensa acontece em alguns pontos dela.

Júlio e Doug estão discutindo em um lugar vazio da praia.

— Júlio! Eu falei para você não fazer isso!

— Doug! Você tem que me atacar! É o único jeito, por favor, faça!

Ambos estão cansados física e mentalmente, frente e frente, com pose de luta. Júlio parece evitar atacar, esperando que Doug faça algo.

— Não queria que chegasse a isso!

— Eu também não, e sabemos que você evitou no primeiro, antes.

— Sabe que eu nunca trairia a sua confiança...

— Para de falar isso! Você sabe por que estamos aqui! Faça algo!

— Você terá que fazer, se não será o fim de nós dois, então que só você passe...

Um barulho é ouvido e depois de um silêncio. Doug volta sozinho para o centro de Zara, e antes de chegar ele vê ao longe Meena e Rupert, que também estão em uma situação complicada.

— Não serei como o leso do Júlio; você terá que perder, Meena.

— Hoje você não é líder, hoje você está sozinho!

— Eu ganho de você “solo”!

Meena está usando metal em seus punhos, improvisando soqueiras que ela usa para atacar Rupert, que está com um broquel e uma adaga. Com o broquel, Rupert apara boa parte dos golpes dela, mas, por ela usar os dois punhos, ele acaba sacrificando um pouco de sua defesa para atacá-la.

Com a adaga ele fere o braço da menina, deixando-a chocada. Rupert demostra receio e no pequeno segundo de guarda baixa, Meena o ataca e o desarma, deixando só com o broquel que ele usa para atacar também.

— Simulando ferimento grave?

— Sentiu remorso?

Rupert sempre observou como todos do grupo lutam e reagem frente a situações complicadas, tendo vantagem sobre Meena, que nunca reparou em seus companheiros em batalha ou os analisou. Notando a vantagem de Rupert na batalha, Meena exclama:

— Trapaceiro!

— Infelizmente eu tenho que te dizer que, na sobrevivência, vale tudo!

— Verdade! Eu aprendi isso também.

Doug aparece de surpresa atacando os dois, Meena aproveita e o usa para alavancar sua vitória, ela concentra os ataques com Doug, como se fosse ajudá-lo, mas no momento certo ela o joga para longe e nocauteia Rupert.

— Toma essa!

Rupert cambaleia, se esforçando para não cair e consegue contra-atacar, mesmo com sua mente apagando.

— Você tomou alguma coisa, Rupert! Era de se imaginar.

Doug olha toda a situação do chão e escolhe continuar ali, pensando em tudo o que aconteceu.

— Por que tudo isso?

Meena imobiliza Rupert e força seu desmaio.

— Sempre imaginei que eu deveria ser a líder dos Infantes.

Gustav chega e, com tom autoritário, diz.

— Fim do treino!

Júlio chega ao local, e ajuda Doug a se levantar do chão enquanto Gustav informa:

— Gostei, mas não precisavam ir tão longe... Júlio e Doug, vocês estão bem?

— Sim, senhor.

— Por que vocês foram tão longe? Se Doug voltou primeiro, devo entender que ele ganhou? Ou foi um consenso?

— Doug ganhou, senhor!

— Vão descansar e relaxar. Amanhã vocês têm informações para me passar.

— Sim, senhor!

Meena e Rupert se olham feio, por causa das ações que fizeram na competição e se separam sem falar nada; cada um entra em sua respectiva tenda e vão se arrumar para dormir. Doug fica bravo com Júlio, que o segue até a tenda que estão usando para dormir nas areias da praia, longe das casas da cidade e de outras tendas.

— Por que você fez isso?

— Doug... Você sabe que eu não podia machucar você.

— E eu posso?

— Não fala assim.

— E se um dia a gente estiver em lados diferentes?

— A minha vontade de lutar por você ainda é maior que qualquer coisa.

— Besta...

Ao se deitarem, Doug vê que deixou hematomas em Júlio e briga novamente com ele.

— Viu, seria mais fácil a gente ter assumido a derrota.

— Queria ver você vencer...

— À custa disso? Você poderia ter usado sua magia para se defender ou até se recuperar. Olha isso! Agora você está machucado.

— Estou cansado para me curar... Você me ajuda?

Doug pega curativos na mochila e trata Júlio, que o provoca, fingindo estar com mais dor que o normal para receber mais atenção.

— Isso, com carinho... Cuidado, vai devagar... Só quero ver o que você vai fazer para compensar esses machucados que você me deixou.

— Compensar?

Doug aperta o machucado, fazendo Júlio gemer alto de dor; mesmo com dor, ele ri e diz:

— Tem algo bem gostoso que você pode fazer para me deixar “bem!”!

— Sei sim, te nocautear! Assim você dorme rápido e bem.

— Não, não, não! Parei, você ganhou, vamos dormir... Mas quem sabe amanhã...

— Amanhã nada, temos várias informações para reportar para Gustav.

— O importante é que pegamos todas as informações que ele queria.

— Sim, esses dias que passamos aqui em Zara foram ótimos, lugar tranquilo, bonito e próspero, até me lembra das praias de Pronuntio.

— Me lembro das coisas que já fizemos nas praias de Pronuntio.

— Não pode ter outro assunto? Até parece Romanze e Taikuri.

— Estou só brincando, mas, já que falou deles, nós precisamos ver a carta e ver como estão as coisas.

— Verdade, estamos sempre adiando, mas teremos que adiar de novo.

— Sim, porque precisamos deixar lembranças eróticas nesse lugar.

— Besta, sem graça, e ficará sem o “erótico”, só a lembrança.

— Nem lembranças aqui...

Júlio aponta para o corpo de Doug, que aperta sua mão com força.

— Ai! Não seja bruto, não com essa parte do corpo.

— Não tem o que eu fale que você não contra-ataque!

— Já deveria estar acostumado.

— Pior que estou... Mudando de assunto. Você acha que Meena e Rupert vão ficar brigados por muito tempo?

— Não! Os dois são muito competitivos, e hoje só foi o auge disso, mas amanhã eles retomarão a razão, já passamos por tanta coisa ruim, isso será passado também.

— Assim espero... Não quero mais separação, ainda mais nessa época.

— Separação?

— Sim, esqueceu que éramos oito?

— Isso faz um bom tempo já, mas eu entendo o que você quer dizer... Infelizmente não posso falar por eles, mas farei de tudo para nunca te deixar.

— Obrigado.

No dia seguinte, Júlio e Doug se encontram com Meena e Rupert, no mesmo lugar de sempre, para comer. Na praia próxima das águas do mar, sentindo o final da onda chegar aos seus pés, os dois estão agindo normalmente e parecem inspirados.

— Olha quem chegou, a dupla que mesmo em uma simulação de guerra e traições, não se “matam”, nas brigas comuns de vocês também é assim? Tudo na paz?

— Júlio abraça Doug, brincando, e diz:

— Sempre na paz!

— Me solta! Vamos comer... Vocês já trouxeram as coisas?

— Sim, Rupert acordou cedo e logo foi me incomodar.

— Sim, vocês dois sempre traziam comida para nós, hoje queremos retribuir.

Júlio e Doug ficam impressionados e agradecem, até reverenciando os dois.

— Obrigado, “Líder Rupert”.

— Obrigado, “Mestre Meena”.

— Parem de brincadeira, vamos comer porque Gustav também acordou cedo e em pouco tempo estará nos procurando.

— Achei que vocês estavam realmente bravos um com o outro.

— Confesso que fiquei irritada com Rupert, mas, quando me deitei, lembrei tudo que já passamos e que isso foi algo “bobo”, foi só a impulsividade da competição e da noite.

— Ótimo. Bom saber que está tudo bem então.

— Eu como líder tentei manter a pose, então tive que tratar tudo de uma forma mais racional do que emocional.

— Como assim? Mesmo não sendo líder, você já é assim, sempre!

Todos riem, e Rupert comenta.

— Gostei desse treino de espionagem, descobrimos muitas coisas aqui em Zara.

— Sim, e já sabemos mais ou menos como fazer em Mascul.

Doug mostra um pergaminho para eles e diz.

— Depois da reunião com Gustav, vamos mandar uma carta para Pronuntio?

— Achei que iríamos fazer quando chegássemos a Mascul.

— Eu já estou com saudades, e é bom reportar para eles que está tudo indo bem também.

— Verdade, vamos fazer isso.

O tempo está quente, indicando que irá esquentar ainda mais, o vento vindo do mar dá um ar fresco e úmido, deixando o clima agradável. As pessoas da vila seguem com suas vidas comuns e estão quase no fim da construção dela, tendo só algumas casas e tendas para levantar, além do muro, em que falta fazer alguns reparos nos portões.

Os Infantes têm uma manhã tranquila sem treino, discussões e sem clima ruim ou estranho, como se os antigos laços e momentos de amigos de infância retomassem.

— Realmente... Zara traz uma “paz mágica”.

— Dá até medo de tempos assim.

— Verdade, até parece que algo ruim está para acontecer.

No início da tarde, os Infantes se reúnem com Gustav, em uma tenda feita para assuntos de guerra, tenda com mapas, livros, desenhos de estruturas para construir e ideias pra melhorias da vila, e das pessoas que vivem nela. Gustav está mais familiarizado com o grupo e é mais empático e otimista.

— Muito bom, Infantes. Foram um pouco além ontem, mas conseguiram concluir o que eu pedi... Pelo menos uma parte. Agora veremos a outra, as informações, o que vocês têm para mim?

Rupert como líder se coloca à frente e inicia:

— Entramos na cidade depois que você; como parte do treino, informamos sempre que somos refugiados vindos do Império e aos poucos fomos adquirindo informações.

— Certo, falaram que eram de onde?

— De Regem.

— Por que Regem?

— Porque o povo de lá vive melhor e coincide com nosso porte, saúde e modo de falar.

— Muito bom, escolheu uma cidade do Império onde as condições de vida são melhores, mas e o motivo para sair de lá, já que se trata de uma “boa” cidade?

— Em Coniuro fiquei sabendo que o Império de Cristal está com problemas em Regem, algo referente à liderança não ser o que o Império aprove. Aproveitei isso para dizer que, com essa desconfiança e a atenção do Império por lá, faz as coisas ficarem difíceis e suspeitas, principalmente para um de nós, que não somos nascidos na cidade.

— Usou uma informação já obtida a favor da sua história, usando elementos verídicos para melhorar a sua mentira... Gostei.

— Obrigado... Primeira informação que conseguimos é o nome “Zara”, nome veio da família real de Copus Lithy, nome que querem dar para sua futura filha. Juntos nós descobrimos um plano secreto, uma “arma secreta”: da mesma forma que Copus Lithy tem em abundância a flor branca, aqui o rei está iniciando a “flor que floresce”, o nome do plano dele, uma flor poderosa, tanto biológica como magicamente, que ajudará na proteção da vila que ele pretende expandir, para se tornar uma grande cidade com bons tratados de comércio por terra e por mar.

— Foram muito bem... Mas e a traição de Valentin?

— Esse foi um dos boatos falsos.

— Certo, e como descobriu que era falso?

— Confirmávamos entre nós as informações e verificamos que muitos dos cidadãos não sabiam detalhes certos sobre isso, e os que sabiam mais sempre se contradiziam.

— Bom, sobre o muro?

— Zara contratou um veterano de guerra para ajudar a fortificar e adicionar defesa nela, não uma defesa de vila, mas de uma grande cidade fortificada que ela será.

— Sim, já fazer uma defesa que comporte seu futuro tamanho... E?

— Esse veterano se chama Djal Elisus, não atuou em grandes guerras, mas é especialista em várias áreas militares.

— Chegamos a um ponto bom, até agora eu sabia dessas informações, agora vocês devem me dar elementos novos. Esse veterano, por exemplo, eu não o conheço...



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