Volume 1
Capítulo 44: Preparação Extensiva II
Os três são avisados no tempo certo, dando vantagem em cima de um ataque-surpresa. Meena, com seus golpes de mão desarmada, consegue socar todos que se aproximam e se afastar de Gustav, pois suspeita de outra armadilha.
Doug, além de usar golpes comuns, usa objetos do lugar em que está, atacando mais de um oponente ao mesmo tempo e até de uma distância mais segura. Rupert mostra a maestria de um líder de grupo; com uma espada e técnica, ele chama a atenção para si, atacando ferozmente Gustav e os que se aproximam.
Júlio tem mais dificuldade em se defender de um dos Gustavs e do outro. Júlio auxilia os demais, informando sobre os perigos e dando alguns benefícios na luta, por meio do aprimoramento de alguns de seus atributos básicos, como força, vigor ou agilidade. Depois de mais um pouco de luta, Gustav fala com Júlio:
— Se mantenha próximo de sua cópia, assim não perde tanta energia.
Júlio percebe que Gustav está ajudando com a sua técnica de duplicar, além de testar os outros em batalha no último dia de treinamento. Enquanto lutam, Gustav continua a conversa.
— Sei que está preocupado com seus amigos, mas, quando sua vida é dividida, você tem que focar em você mesmo, qualquer sinal de grande perigo você deve voltar a ser um só... Quanto mais cópias fizer, mais perigo você corre, é um risco que deve ser tomado só em situações extremas.
— No meu treino em Pronuntio, me falaram de fazer uma única cópia.
— Quer dizer que quem ensinou você preza pela sua vida e bem-estar, mas pode se fazer mais de duas de si mesmo, o máximo que eu consigo são quatro e já acho bem complicado.
— Já viu alguém criar mais?
— Ouvi um rumor de que o fundador da misteriosa Floresta de Pando consegue muitos, a história que ronda o Império é de cem.
— Cem? Cem cópias?
— Eu acho que é um boato para espalhar medo, nenhum ser mortal tem essa capacidade... Prepare-se!
Em um dos ataques, Gustav usa mais agilidade e força; para ter melhor concentração, ele faz duas de suas cópias sumirem. Júlio apanha no início, mas se mantém firme após identificar a técnica de Gustav, que não para de atacar.
Depois de uma sequência forte, Júlio é obrigado a se concentrar mais, fazendo também a sua cópia sumir. Ao se tornar um novamente, ele sente um mal-estar e desmaia. Gustav estranha essa situação tão repentina e chama reforço para cuidar dele; no calor da batalha, Meena e Rupert continuam indo bem e lutam ferozmente, mostrando vários pontos de resistência e ataques que aprenderam nos últimos dias.
Doug percebeu o mal-estar de Júlio e corre para ajudá-lo, com dois homens que estão carregando-o. Doug tenta sair com Júlio do campo de treino, mas Gustav o alerta.
— Você não pode deixar o treino... Ele está em boas mãos.
Doug concorda com a cabeça e volta ao centro do campo, ajudando Meena. Inicialmente consegue aos poucos unir os dois com Rupert, fazendo uma formação melhor de ataque e defesa.
— Infantes!
Gustav joga novamente a névoa e surpreende todos os derrubando no chão um a um. Rupert resiste bem, mas acaba caindo por não ter ajuda. A névoa se dispersa rapidamente e todos são levados para a casa de herbalismo.
Lá todos são medicados, vendo-se que tiveram pequenos ferimentos e com atenção ao estado de Júlio, que descansa tranquilamente, Caryn está cuidando dele pessoalmente e comenta com Doug.
— Eu preparei com tanto cuidado a comida de vocês hoje cedo, vocês comeram com mais alguém nessa manhã?
— Nós quatro, o bardo do templo e com Khan.
— Acho que sei quem é esse bardo.
— A senhora acha que alguém...
— Não, não... Nem passou pela minha cabeça, mas se ele passou mal, talvez algo na comida não esteja tão bem, então preciso ver se todos que comeram da mesma porção estão bem, entende?
— Acho que sim.
— Sim... Não! Não se preocupem com isso, não se esqueçam de preparar as coisas de vocês, pois à noite vocês partem.
— Certo.
A tarde passa tranquila, Júlio se recuperando aos cuidados de bons curandeiros e de Doug, que não sai de perto dele, até que se recupere por completo.
Meena se encontra com Khan, que conversa sobre algumas chateações que ele tem do mundo, se identificando com algumas coisas que Meena já passou na infância; no final da conversa, Khan comenta um desejo forte de seu coração.
— Queria muito um mundo com todos iguais, sem preconceito, sem inveja, sem grandes diferenças, assim todos serão próximos e terão o que todos têm.
— Nunca pensei assim, acho impossível um lugar sem “dessemelhança”... Lembro que eu já passei por coisas assim, seria bom mesmo um mundo mais “simples”.
— Aquele grupo está se reunindo de novo, não quer aproveitar a festinha antes da viagem?
— Pode ser, estou precisando dar uma relaxada mesmo.
Khan leva Meena para o grupo amistoso e cheio de fumo e bebidas ardentes, eles voltam ao assunto e passam o dia comentando e sonhando com um mundo mudado e pacífico. Com o tempo Meena se abre mais e revela coisas ruins e medos dela da infância, e que alguns ainda a assombram até hoje.
Novamente Khan não consome muito dos prazeres que o grupo oferece, ele fica mais reservado e conversativo, descobrindo mais coisas sobre Meena e do grupo, incluindo de Ray e até Onilda. Rupert se encontra com Cassios, que o espera para um jogo de Ieretam, um jogo de tabuleiro que simula uma batalha tática entre dois reinos, tendo como foco matar a família real do outro.
— Sente-se... Vamos jogar antes que os Infantes partam para a missão.
Conforme o jogo avança, Cassios interroga sutilmente Rupert, entendendo mais sobre sua motivação, ambição, medos e precauções que ele tem na vida e na missão que aceitou fazer em nome de algo maior.
— Sua estratégia de jogo me lembra de alguém que conheci do Império de Cristal.
— Então estou indo bem?
—Comparar você a alguém do Império não o aflige?
— Não, pois eu acho que o único problema do Império são seus comandantes.
— Interessante: colocar outra pessoa, ou pessoas, no lugar do tirano acabará com a tirania?
— Sim, você não acha?
— Acho que isso é um dos pontos, achei que tivesse mais a par da situação e dos esquemas do Império, mas até você chegar a Zara, eu peço que pense em “revolução”. Não basta só assumir o Império, mas sim, mudá-lo; existe uma cultura ruim lá, e ela precisa sumir com quem carrega a coroa.
— Quando eu for do Império, tentarei mudar essa cultura.
Cassios estranha a colocação de Rupert, mas por um momento ele se autojulga exagerado e questiona de uma forma de zombaria.
— Quando você for do Império?
— Sim, entraremos lá como espiões, então...
— Então você será um espião, guerreiros de Pronuntio no campo inimigo, não “do Império”... Tome cuidado para não ceder aos lazeres e às coisas que o mal pode oferecer.
— Sou bem resistente, acredite.
— Tenho fé nisso, pois o Império e bem “sedutor”.
Cassios jogou lentamente para ter o tempo o suficiente de conversa, logo ele foca mais no jogo de tabuleiro e vence a partida, e fica até surpreso por quase ter perdido, sentindo que Rupert fraquejou nas últimas jogadas.
— Foi um ótimo jogo, desejo sorte, e que a mão do criador abençoe seu caminho e o dos seus amigos, ajudando todos nós.
— Que assim seja!
Os Infantes se aprontam para partir e são surpreendidos por Gustav, que seguirá com eles para Zara.
— Acharam que iriam se livrar de mim? Ainda teremos um pequeno treino em Zara.
— Vamos a Zara então!
Em uma carruagem fortificada e outra cheia de suprimentos, eles seguem para a vila que está no fim de sua construção. Meena e Rupert se despedem dos amigos que fizeram, e com Júlio e Doug, se despedem de Caryn, brincando em falar alto como ela.
— Muito obrigada, mãe Caryn!
Ela fica triste pela despedida e, mesmo falando alto, resmunga.
— Não me chamem assim, que eu fico emocionada. Que pena que vocês já vão embora, voltem, por favor! E voltem com boas notícias.
— Com certeza! Voltaremos com notícia de paz.
— Que o criador os ilumine, e que os Electi ouçam o pedido de ajuda de vocês, se precisarem de auxílio.
Depois de algumas lágrimas, um abraço forte e longo entre eles e Caryn é dado, tocando seus corações, o eu os faz lembrarem-se de Pronuntio e o amor que sentem. Soltando um a um, ela fala baixo só para Júlio e Doug.
— Obrigado, por mostrarem, não só a mim, que boas pessoas vêm de qualquer ser do criador e me desculpem se em algum momento eu ofendi vocês dois por ser o que são.
— Está tudo bem, pode ficar tranquila.
— Ótimo, adeus, Adeus! Gustav, cuidado, e volte logo, você sabe que tem muitas tarefas suas atrasadas e não vou tocar nelas.
Gustav ri e comenta com o grupo, se explicando.
— Também sou mortal, não tenho tudo em perfeito estado.
Todos seguem pela floresta, sendo escoltados por algumas aves e guardas até Zara. Depois de saírem da cidade central do reino de Copus Lithy, Caryn se encontra com Khan, que chega atrasado à despedida dos Infantes e o grupo que já ia para Zara.
— Que pena, Khan. Você não conseguiu se despedir do grupo.
— Eu achei que eles ainda estavam aqui, mas me enganei.
— Estranho, conheço pouco sobre essa linhagem de Ivo, mas vocês não conseguem sentir quando os seus estão próximos?
Khan fica sem jeito, e Caryn responde rindo.
— Tudo bem, não vamos nos incomodar com isso.
Ela se aproxima, olhando para o chão, como se houvesse algo perto do pé de Khan, que olha e se abaixa para ver melhor.
— Tem algo aqui?
— Tem aqui!
Caryn chuta a perna de Khan, e, com a dor, ele abaixa mais o tronco, permitindo o próximo avanço dela: um tabefe forte com a mão aberta na cara de Khan, fazendo um som alto.
Além da marca e dor, como reflexo, ele ameaça ataca-la, mas o barulho do sacar de armas ao redor revela que muitos guerreiros e arqueiros estão prontos para matá-lo a qualquer movimento brusco. Khan fica com medo e paralisa.
— O que houve?
Caryn está brava e se enfurecendo a cada palavra.
— Verme, traidor, bicho ruim, como ousa fazer o que fez aqui?
— Não entendo...
Ela volta a bater nele e continua.
— Calado! Você não fala mais... Acha que por eu ser negra, velha e anã, que serei subestimada? Você envenenou Júlio, causou o acidente no dormitório, foi responsável por roubo de pergaminhos importantes do templo, entre outras coisas que são só suspeitas; mas, ao olhar para sua cara, sinto que você é culpado!
Ela ameaça atacá-lo, mas ele se afasta, os guardas os seguram e ela termina com um tom mais calmo.
— Não somos a favor de penas severas, pelo menos você não fez nenhuma atrocidade... Prisioneiros só sugam nosso tempo e comida, igual a você, nesses tempos em que deveria ter sido útil para a população que o acolheu.
— Mas...
— Saia de Copus Lithy! Agora!
Um dos guardas entrega os pertences de Khan, e Caryn termina:
— Tome cuidado com suas futuras escolhas, pois você mancha não só sua vida, mas aqueles que são “iguais” a você.
Khan sai às pressas do lugar, sendo escoltado por guardas. Ele força um caminho próximo do castelo, na esperança de ver Cassios. Ao vê-lo, ele corre em sua direção.
— Meu rei, por favor!
Cassios, ao reconhecê-lo, faz sinal para que os guardas não o ataquem.
— Khan Mendacium...
— Meu rei, por favor, Caryn me expulsou do reino.
Cassios ri e comenta:
— Ela me falou, na verdade ela me conta tudo, e admito não concordar com a atitude dela, não faz o meu feitio.
— Sério?
— Claro, por mim, você já estaria morto, mas não quis ir contra a vontade benevolente dela, afinal de contas, ela lembra a minha própria mãe, então ela manda mais que eu aqui, mas mantenha isso em segredo.
Khan fica sem reação, e Cassios se afasta dele, os guardas então ficam mais bravos e empurram Khan, forçando-o até a saída do reino, ao longe ele resmunga:
— Malditos... Bom que sempre tenho como voltar para casa... Sodorra.