Arbidabliu: Infantes Brasileira

Autor(a): Magnus R. S. Alexandrino


Volume 1

Capítulo 39: Enfim, Copus Lithy

Noite, 22 de junho 1590 – Coniuro.

O céu começa a fechar, com nuvens escuras e pesadas, indicando uma grande chuva que se iniciará. O vento preocupa os que conhecem bem o clima, e suspeitam de que não seja uma simples chuva, e sim, uma tempestade não prevista ou até provocada. Os Infantes ainda estão com o grupo de viajantes que os ajudaram dias atrás; durante esse tempo, Júlio e Meena conseguiram se recuperar por completo, repuseram alguns itens essenciais, além de comer, beber e descansar.

— Prisa, novamente, muito obrigado por ter nos ajudado.

— Como Júlio bem disse, é o dever de ajudar uns aos outros, mas peço desculpa pela demora, tivemos que passar na vila antes de seguir para Copus Lithy. E vocês queriam ir direto para lá.

— Não se preocupe com isso, o importante é que estamos bem e já estamos chegando.

— Sim, acredito que chegaremos antes de essa chuva bruta que irá cair.

— Já estamos entrando em uma floresta densa, achei que já tínhamos chegado.

— Também, mas o guia nos disse que é normal, Copus Lithy fica bem adentro dela; a propósito, a floresta em si se chama Copus Lithy, só não chegamos à parte povoada ainda.

— Legal, entendi.

Doug termina sua conversa com Prisa e volta a ver Júlio, que está deitado em uma das carruagens, ao vê-lo cabisbaixo, ele o abraça e questiona.

— O que houve? Ainda está se sentindo fraco?

— Não, mas eu perdi a pedra que você deixou comigo...

— Mas ela era para isso, nos salvar, pois o que é mais valioso é nós estarmos vivos.

— E juntos...

Doug beija Júlio enquanto recebe um cafuné meigo do outro, o momento é rápido, para que não atraiam a atenção dos outros. Meena ouve a conversa de ambos e se afasta comentando baixo:

— Romantismo deles chega a parecer fictício...

Prisa se aproxima de Meena e comenta.

— Ouvi que você comentou ontem que viu o teatro sobre Ieretam, o que achou?

— Muito bom, mas desanimador.

— Por quê?

— Ver pessoas traindo, matando por poder, ambições egoístas, passando por cima dos outros, e até tortura tem, é estranho.

Prisa fica pensativa e responde:

— Estranho, achei que em Coniuro eles retratariam a história completa.

— Sim, e retrataram!

— Não me parece! Cadê o amor? Compaixão? Um rei que faria de tudo pelo seu povo e família! A história que eu conheço é linda, infelizmente trágica, mas com grandes lições sobre os seres abaixo da mão divina.

— Sim, teve isso sim, eu acho.

— Pena... Você viu o pior lado da história, se tiver a oportunidade de revê-la, veja, e veja com um olhar mais otimista, você vai gostar mais e talvez aprender com ela.

Meena não gosta do jeito que Prisa fala, como se quisesse ensiná-la, mas concorda, fazendo sinal com a cabeça, e se afasta, comentando baixo.

— Essa viagem está começando a me estressar.

Durante todo esse período com o grupo de viajantes, Rupert se informou melhor sobre eles, a respeito da cidade de onde vieram e alguns boatos e informações pertinentes sobre o Império de Cristal. Antes de chegarem ao seu destino, ele comenta com Meena.

— Infelizmente, eles não sabem muito sobre o núcleo do Império, nenhuma informação nova, mas pude confirmar algumas coisas que não eram tão claras.

— Ótimo. Bom que você conseguiu algo, essa viagem só está me dando desconforto.

— Não se procure mais, olhe! Chegamos...

Todos param em uma fenda grande, de um grande muro feito de tijolos, madeira e raízes, tendo algumas árvores nascendo a partir desse muro. O grupo é parado por alguns guardas do local e são revistados por eles, que identificam cada uma das pessoas.

Os guardas são mais rígidos na análise com pessoas de raças diferentes, como alguns Aurem e Dionamuh-P que estão no grupo. Prisa se coloca responsável por todos, para dar mais confiança para esses de raças diferentes da humana. Rupert mostra que é de Pronuntio e que tem assuntos importantes a tratar no reino e com o rei.

— Certo! Vocês podem passar!

Os guardas liberam a passagem, e eles continuam, enquanto passam pelo muro, a chuva se inicia fraca, mas com grandes trovões cortando os céus e o vento ficando mais forte com o tempo, por estarem em uma floresta densa, o vento não os atinge, mas, pelas copas das árvores, dá para ver o poder do vento ganhando força.

Algumas tendas são vistas fixadas em árvores grandes e alguns pequenos cômodos de madeira instalados nas árvores, servindo como torres de vigia. Quanto mais eles entram, mais guerreiros eles veem. Quando a defesa fica mais firme, eles se deparam com uma elevação de terra e uma muralha com plantas e árvores, também cercando a cidade principal de Copus Lithy.

Em pouco tempo, eles são novamente parados e, depois de uma breve análise, entram na cidade passando pela muralha. Ninguém conhecia a cidade, e mesmo à noite com uma tempestade se iniciando, ela encanta todos.

— Maravilhosa...

Copus Lithy é uma cidade feita com muita madeira, panos e tecidos de cores frias e escuras, estradas de terra por toda parte, tendas com cores que diferenciam cidadãos comuns e militares; a área social da cidade é igual, não havendo grande distinção de poder econômico, todos os cidadãos comuns têm tendas do mesmo tamanho, comportando todas as necessidades da família, levando-se em consideração a quantidade de pessoas nela.

Militares têm a tenda um pouco maior, para armazenamento de armas e comportar mais suprimentos que às vezes são distribuídos para a população quando não há batalhas. Em algumas árvores e pilastras, têm imagens e estátuas de algumas pessoas, sendo ancestrais da cidade, alguns identificados por Júlio e Doug, que se interessam mais pelas histórias do Grande Continente.

A defesa da cidade é aparentemente ótima na muralha, mas não há defesa dentro dela, tendo poucos guerreiros à vista. Mesmo à noite, com o céu escuro impossibilitando as luzes lunares e das estrelas de iluminar a cidade, ela dispõe de pedras brilhantes, algumas tochas, muitos insetos luminosos e uma gema Summa que fica na área plantio.

Essa gema é grande, do tamanho de um metro esférico, como uma grande bola com algumas deformidades e rachaduras, mesmo assim ela é bonita, radiando uma aura azulada, aura que se estende pela área e ajuda magicamente as plantas, frutos e ervas do lugar. Interessantemente, por todos os cantos da cidade cresce a zantedeschia, que dá um tom e cheiro tranquilo e amigável para essa parte da floresta.

A cidade também dispõe de grandes árvores frutíferas e um grande viveiro para aves de várias espécies, demonstrando a especialidade da caça e paixão que o povo local tem com a natureza. Por ter várias tendas e árvores grandes, não dá para se ver a extensão completa da cidade ou até onde fica a nobreza e a realeza dela, podendo ser algo estratégico.

O grupo com os Infantes param em um grande barracão onde se encontram viajantes comuns, lá são questionados do motivo da visita, para um melhor encaminhamento, entre turístico, comércio, moradia, refúgio etc. Rupert se coloca à frente de seu grupo e informa, mostrando um pergaminho alternativo, pois o oficial foi destruído ou levado pelos ladrões.

— Viemos a pedido do rei, viemos em nome de Pronuntio.

— Interessante, fomos avisados da chegada de vocês, mas estão atrasados.

— Infelizmente tivemos muitos problemas na viagem.

— Entendo... Terão que ficar na nossa estalagem e aguardar até amanhã para verem o rei.

— Certo. Obrigado.

Todos arrumam seus pertences e seguem seus caminhos, Meena e Rupert são mais formais e se despedem de todos rapidamente, sem muito contato. Júlio e Doug são mais calorosos e se despedem de cada um falando seus nomes, demonstrando proximidade e afeto. Prisa fica feliz e, depois de um grande abraço, diz:

— Obrigada por ter aparecido na minha vida e dos meus amigos!

— Dizemos o mesmo.

— Se um dia precisarem de algo, venham para Copus Lithy.

— Você ficará aqui definitivamente?

— Não sei, eu penso muito em ir para Libryans.

— Libryans?

— Sim, essa cidade é abençoada.

— Sim, ouvimos e estudamos sobre ela, deve ser fantástico lá, ainda mais para mulheres.

— Exatamente! Por isso quero muito ir, ver se as histórias são reais, nesse continente machista parece até mentira ter um reino tão bom e bem representado assim pela causa feminina.

— Espero que consiga ir, pois é muito longe daqui.

— Sim, mas ouvi falar de um grupo que consegue usar uma das torres de teleporte do Império de Cristal para chegar a uma cidade mais próxima dela, quem sabe o destino me ajuda.

— Interessante, mas vai sim, estaremos torcendo por você!

— Obrigada, digo o mesmo, adeus nobres guerreiros de Pronuntio.

— Adeus, benfeitora!

Os Infantes são conduzidos até uma estalagem do reino, eles caminham muito, mas antes que reclamem da distância, eles chegam. Um casarão de estilo bem diferente das moradias da cidade, feito totalmente de madeira e algumas pedras e tijolos, bonita e aconchegante. Meena agradece.

— Grande, aqui, gostei! Agradeço por ter um lugar assim, não sei se me darei bem dormindo nas tendas em que eles vivem.

— É costume, Meena, não sabemos se ficaremos aqui por muito tempo, tentei pegar algumas informações, mas os guardas são muito calados nesse lugar.

Passando por alguns guerreiros, eles são atendidos no salão principal.

— Boa noite! Infantes de Pronuntio, eu sou Caryn Eljon, governanta de Copus Lithy, chefe de Valentin, essa estalagem, e estou à disposição de vocês.

Caryn Eljon é uma Dionamuh-P, mulher, negra, aparência de cinquenta anos, alta para sua raça, tendo um metro e cinquenta e um de altura, robusta, quadril largo e volumoso, cabelos crespos, volumosos, trançados e amarrados, chegando até a sua cintura.

Ela usa vestes leves de cor clara, uma espécie de vestido com vários cintos de couro com proteções por cima do tecido, parecendo ser uma escaladora, uma sandália grossa de madeira que a deixa um pouco mais alta.

Sua voz é alta, seu jeito é carismático, com um olhar tranquilo, mas demostra braveza em seus gestos, provando ser de um cargo de liderança. Meena se impressiona ao ver uma “anã” de pele escura e questiona.

— Governanta? Achei que aqui era governado por um rei.

Júlio responde como se pedisse a confirmação de Caryn, para que ela o corrija se necessário.

— Ela deve estar se referindo ao controle da parte doméstica da cidade, governanta em mansões ou em pequenos palácios são líderes operacionais.

Caryn ri e comenta:

— Operacionais? Que palavra bonita para falar da criadagem. Não se incomode, não ficarei ofendida em me retratar como serva ou criada, me orgulho de trabalhar aqui por cinco décadas, seis, se contar o período escravo...

Doug a admira e pergunta.

— Sessenta anos? Achei que a senhora tinha uns cinquenta!

— Nossa! Para garoto! Não tenho idade para elogios, não! Tenho, sim, obrigada, mas eu tenho setenta anos, setenta e um, mas eu acho melhor parar de contar, se é que você me entende.

Todos riem, e ela continua.

— Mas vamos ao que interessa! Me confirmem seus nomes, por favor?

— Eu sou Doug Hyacin, lutador e servo de Pronuntio.

— Júlio Surrex! Suporte, também de Pronuntio.

— Oi, Meena Viridi, guerreira e guerreira de Pronuntio.

— Eu sou o líder dos Infantes, Rupert d'Alba. Sou bom em todos os ramos que envolvam batalha.

Caryn admira e mede um a um e comenta.

— Que belos guerreiros temos aqui, espero que não precise usar todos esses ramos que você conhece, mas é bom ter alguém cheio de talentos assim por perto.

— Um prazer conhecê-la.

— Eu também, e vocês parecem bem “conversativos”, os meninos daqui são mais calados, sabe? não estranhem, pois é o comum de todos do reino serem mais reservados, eu acabo sempre falando e falando, e, quando vejo, estou falando sozinha.

— Sem problema...

— Mas eles prestam bem a atenção... bem... Pronuntio é um lugar adorável, não? Eu cheguei perto uma vez, mas nunca fui, enfim, amanhã conversamos mais. Vocês devem estar cansados da viagem e amanhã devem ter um encontro com nosso querido príncipe. Vamos?

— Príncipe?

— O rei! Eu ainda tenho costume de chamá-lo de príncipe, eu o vi crescer, sabe? E acho mais bonito chamá-lo assim.



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