Arbidabliu: Infantes Brasileira

Autor(a): Magnus R. S. Alexandrino


Volume 1

Capítulo 36: Coniuro e a Reciprocidade I

Manhã, 14 de junho 1590 – Coniuro

Rupert, Meena, Júlio e Doug desembarcam na cidade, eles se deparam em um pequeno porto com outros barcos, indo e chegando para fins de comércio ou para viajantes. Ao olharem para a cidade, todos a admiram pelas mudanças em anos que não a viam.

Coniuro não tem mais terrenos vazios, agora possui muitas casas de diversos tamanhos, feitas de tijolos e madeira, tamanhos que dividem a população em classes sociais: quanto maior a casa, mais reputação e bens materiais a pessoa possui. As ruas também são feitas de tijolos, e algumas, só de terra.

Na região central, há uma grande quantidade de comerciantes variados, como armeiros, ferreiros, joalheiros, alquimistas entre outros. Em sua extremidade, a cidade dispõe de grandes muros e torres de vigia com uma guarda média e bem distribuída.

Os quatro respiram profundamente, sentindo otimismo com o clima agradável que vem da cidade, enquanto caminham adentro dela. Eles reconhecem alguns lugares que já tinham visto antes e muita novidade entre lugares novos e reformas.

Avistam pessoas pacíficas com suas rotinas comuns, mulheres, crianças, homens e idosos vivendo normalmente, ruas limpas e bem- construídas, realmente, com o tempo, tornou-se uma cidade linda e limpa. Ao chegarem ao centro, eles procuram uma estalagem para passar a noite.

— Bad Hotel?

— O nome na verdade não me agradou.

— Mas foi essa que foi indicada para nós, vamos.

Os quatro entram e acham o lugar simples e bom para passar até mais de um dia, eles se registram e pedem dois quartos, Rupert comenta para Doug, de uma forma que Júlio escute.

— Vamos dormir eu e você, e no outro ficam Meena e Júlio, certo?

Meena ri do comentário, Doug não gosta quando brincam com isso, e Júlio faz cara de poucos amigos, enquanto pega a chave do quarto e leva Doug para cima. Enquanto os dois sobem as escadas, indo para o quarto, Rupert ri e diz.

— Não chamem muito a atenção e não fiquem o dia todo no quarto!

Meena ri e comenta baixo.

— Piada previsível, mas nunca perde a graça.

Pouco tempo depois, os quatro já tinham arrumado seus pertences em seus respectivos quartos e se encontram na praça perto do hotel. Eles observam um pouco a praça, vendo como está atualmente o cotidiano das pessoas da cidade. Andando um pouco, eles se aproximam de uma estátua dourada que se encontra no meio da praça.

— Lembram-se dele? Alfor!

— Lembro, sim, um dos titulados “Imortais”, ou Octoniões também, por serem oito integrantes.

— Júlio sempre sabe dos detalhes, eu só me lembro da coleção dele.

— Armas Zordrak, material vindo dos céus de Arbidabliu. Esses artefatos são muito poderosos e considerados indestrutíveis, entre armas e objetos “comuns”, foram feitos a partir desse material, criando artefatos superiores a qualquer outro já feito. Alfor Sapidum seguiu os passos do pai em colecioná-los, mas nunca conseguiu ter todas.

— Imagino que deve ser difícil.

— Você fala de mim, mas todos nós estudamos a história da guerra e dos combatentes, não se lembra das armas?

— Só lembro que Pedro conseguiu o minério bruto de Zordrak.

— Que “líder invejoso” você é.

— Calado!

— Provavelmente o último fragmento bruto de Zordrak...

— Voltando aos grandes heróis, eu lembro bem sobre os grandes atos e objetivo deles, sempre me deram inspiração...

— Sim, para todos nós...

— Vamos seguir e tomar eles como exemplo para a nossa missão.

Rupert faz gesto, pedindo a mão deles, todos seguem e logo em seguida se abraçam.

— Essa é nossa grande missão, faremos diferença para Arbidabliu e honraremos o “Desejo de Deus”! Mesma luz que guiou os antigos heróis Octoniões.

Meena se anima e comenta:

— Faremos os Octoniões Imortais serem relembrados com a ascensão dos Infantes!

— Sim! Eu me lembro de alguns planos táticos que eles usavam, poderíamos usar alguns como plano secundário da nossa missão.

Antes que a conversa se prolongue, uma multidão corre para uma das direções da cidade e, junto, um grande som de confusão toma esse local.

— O que foi isso?

Os quatros se olham, concordando em verificar o que está havendo, mas Rupert os alerta.

— Lembram-se de que não podemos ir longe da nossa missão, vamos só verificar o que está acontecendo e, se possível, não se envolver.

— Certo.

Com dificuldade, os quatro passam pela multidão, e veem algumas carruagens quebradas e caídas, com comida e itens domésticos espalhados no chão; mesmo parecendo apenas um acidente, algumas pessoas estão gravemente feridas.

Alguns dos observadores percebem que não tem muito de novo e seguem com suas vidas, os Infantes se aproximam e veem que os ferimentos são de luta. Doug segue para ajudá-los, mas Rupert o impede.

— Espere! Não sabemos ao certo o que houve.

— Mas eles precisam de ajuda.

— Os guardas de Coniuro já estão chegando, deixe que eles cuidem disso.

Júlio vê que Doug quer muito ajudar as pessoas e diz:

— No cronograma, o dia de hoje seria para repouso da viagem de barco e preparação para seguir amanhã à tarde; eu e Júlio vamos usar esse dia para ajudar essas pessoas, já que estamos em um dia “livre”.

— Certo, façam o que quiserem, mas não arruínem a missão.

— Não se preocupem. Doug? Então você vem comigo?

— Sim, vamos!

Os dois seguem se aproximando das pessoas e do acidente, enquanto Meena comenta com Rupert:

— Eu concordo em ajudar também, mas, já que os dois estão fazendo isso, eu vou ver uma apresentação no teatro.

— Teatro?

— Sim, já que temos um dia “livre”, porque não vê algo interessante?

— Vocês que sabem. A gente se vê no hotel à noite.

— Até mais.

Rupert aproveita a influência dada por Pronuntio e entra na área militar de Coniuro, pedindo acesso à área de treino deles, para se exercitar. Ele é bem recebido e nota que tem poucos homens à disposição da cidade.

Abordando alguns cargos importantes, ele descobre que a maioria do exército está nas fronteiras da cidade por causa de algumas agressões que o Império de Cristal está fazendo nos últimos tempos, além de grupos menores de ladrões, arruaceiros e assassinos sem líder ou causa maior. Em um momento, com um guarda mais velho, Rupert questiona:

— Me fale mais sobre esse clã da “Pirâmide de Maslow”.

— Um boato surgiu deque os lordes do Império são de um grupo ou culto exclusivo, essas pessoas de alto nível hierárquico com vários seguidores são líderes desse tal clã, que vem crescendo muito com o tempo.

— Crescendo? Então não é só um boato.

— Digo isso por causa dos rumores mesmo, hoje em dia se fala muito mais desse grupo do que antes, acredito que em pouco tempo tudo isso será revelado.

— Entendo... Mas esse clã é fiel ao Império?

— Sim, tudo indica que é só mais um grupo sob as ordens do Império, mas dizem que é o grupo mais “pacífico” com ideais mais valorosas do que a própria cultura nociva do Império de Cristal.

— Interessante...

Meena encontra o teatro que foi inaugurado há poucos meses e entra para ver as apresentações, isso toma todo o seu dia, vendo um conjunto de peças que contam a história completa de Ieretam, mas de uma forma artística e bem-produzida com atuação, música, dança e até poemas formando uma grande sequência de atos.

— Traição, guerra, manipulação e muitas coisas ruins que os seres podem fazer uns com os outros... Dependendo do ponto de vista com que se olha para essa história, dá até medo do que somos capazes.

— Concordo, é uma história que vale a pena ser contada, tanto que foi feito um jogo a partir dela.

Meena consegue fazer amizade com um grupo conservador da cidade, eles são de alto nível social, amantes da arte, da música e de tudo que aquele teatro tem e representa para a cidade; ao verem que ela é de Pronuntio, logo a recebem educadamente e oferecem lugar privilegiado junto deles, já que seus status e frequência possibilitam isso.

— E o que uma nobre dama faz aqui em Coniuro?

— A passeio mesmo, fiquei sabendo da grande melhoria que a cidade veio tendo, então quis ver pessoalmente para reportar depois à rainha de Pronuntio.

— A “Dama da Água” Úrsula? Que interessante, então estamos na presença de alguém bem renomeada!

— Um pouco, não gosto de me gabar, sabe?

— Ótimo, vamos mostrar tudo que você precisa.

Em um dos intervalos da peça teatral, o grupo em que Meena está a convida para comer, ela agradece, mas só os acompanha, não comendo com eles. No estabelecimento, uma mulher de feições robustas e traje curto chama a atenção do grupo, que zomba e insulta.

— Que vulgaridade!

— Onde já se viu?! Ridículo!

— Um instante! Olhem com atenção! É o que eu acho que é?

Com a ajuda de um guarda pessoal do grupo, eles tiram uma peruca e descobrem que é um homem vestido de mulher.

— Que horror!

— Aberração!

O homem cai e demostra preocupação por ser descoberto, mas não está bravo com o grupo, que continua a zombar dele. Mesmo não ofendendo, Meena acha graça, mas tenta ajudar o homem caído, ela o segura de mau jeito, fazendo-o cair novamente de uma forma desajeitada, torcendo seu pulso.

— Maldita!

Todos riem novamente, Meena se sente ofendida e, no lugar de explicar ou ajudá-lo novamente, ela o insulta.

— Homem vestido de mulher, nojento! Pervertido!

Ele ameaça atacá-la, mas ela o chuta, impedindo seu avanço.

— Pense duas vezes!

Um senhor que está no grupo de Meena chama alto.

— Guardas! Um louco tentou nos agredir.

Outro do mesmo grupo acrescenta.

— Fora a agressão aos nossos olhos, só falta ter uma mulher com trajes masculinos.

— Acho que isso seria ainda pior!

Todos riem alto, até mesmo Meena, lembrando vagamente da época em que ela usava roupas normalmente suadas por meninos e que se sentia mais confortável com elas. Em uma distração, o homem vestido de mulher consegue fugir antes de ser pego pelos guardas. Meena pensa em segui-lo, mas uma senhora do grupo a segura e diz:

— Deixe! Pessoas assim não merecem nem nossa atenção para puni-los.

Os guardas de Coniuro se encontraram para verificar o acidente que teve com as carruagens e carroças, com um grupo de viajantes que foram atacados no percurso até a cidade.

Alguns alegam ter sido um grupo de ladrões integrantes da “arte da adaga”, mas o grupo ferido diz que eram homens do Império de Cristal disfarçados, usando roupas comuns desse lado do Grande Continente, para causar desavenças e confusão.

Os guardas dão uma assistência básica para todos e dizem que irão providenciar comida e medicamento, mas que não têm nada de imediato. Júlio e Doug ouvem toda a história, e Júlio se prontifica.

— Olá! Eu sou Júlio Surrex, membro da guarda de Pronuntio; se vocês me permitem, eu quero ajudar essas pessoas.

— Salve, Pronuntio! Infelizmente não podemos atender de prontidão devido a alguns incidentes que estão acontecendo...

— Tudo bem, mas, já que estou aqui a passeio, não vejo o porquê de eu não ajudar.

— Certo, fique à vontade.

— Obrigado.

Júlio se aproxima do grupo que está muito ferido e o ajuda com poderes curativos e com o bom uso de primeiros socorros, com os materiais que o próprio grupo tem e mais alguns itens que ele sempre carrega com ele.

A primeira impressão que Júlio ganha do grupo é de ser formado por homens justos e bons. Todos o admiram e agradecem a cada um que ele ajuda.

— Não precisa agradecer, é o meu dever...

Doug fica apaixonado pelas ações e o jeito bondoso com que Júlio atende cada um. Doug tem a ideia de pegar um pouco dos suprimentos que ganharam e corre em direção do hotel.

— Eu já venho!

Pouco tempo depois, Doug chega com mais suprimentos, itens para primeiros socorros, além de comida e bebida. Doug os serve, demostrando grande gosto em ajudar, ganhando seus corações com Júlio.

Os moradores de Coniuro ficam afastados, estranhando o grupo afetado pelo ataque, suspeitando até que possa ser algum tipo de armadilha de algum reino hostil, mas com o tempo em que Júlio e Doug vão tratando e cuidado deles, os moradores locais acabam mostrando mais simpatia com o grupo; acabam oferecendo água e sabão para se limparem, por causa a sujeira que ficou depois do acidente.

Júlio e Doug passam uma confiança maior, fazendo com que comerciantes se ofereçam para consertar algumas coisas ou mesmo oferecer itens de segunda mão, até que os consigam em definitivo.

— Obrigado, senhores, Pronuntio também é grato pela ação e colaboração de todos aqui, mais alguém precisa de ajuda ou comida?



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