Arbidabliu: Infantes Brasileira

Autor(a): Magnus R. S. Alexandrino


Volume 1

Capítulo 27: Amadurecimento

Noite, 4 de outubro 1581 – Pronuntio, Castelo Divine.

Depois de uma manhã abafada com o calor, a noite fica bem chuvosa, com a temperatura caindo mais e mais a cada hora que passa. Onilda está em uma das sacadas do castelo e comenta, olhando na direção dos dormitórios dos alunos.

— Infelizmente Úrsula está certa, tem coisas em que não podemos intervir ou forçar...

Onilda pega seu diário e lê algumas anotações sobre os últimos meses.

— Depois do evento em Coniuro, os Infantes se separaram em dois grupos, nos primeiros dias eu tentei intervir de toda forma possível, mas o laço da amizade foi quebrado, a confiança foi quebrada, o companheirismo foi quebrado, mantendo-se, pelo menos, uma relação profissional. Outras desavenças aconteceram depois daquele dia, muita mágoa guardada foi libertada, gerando mais desconforto até entre aqueles que os rodeiam... Me sinto culpada, não vi isso acontecendo, entendo que muitas vezes eles “forçaram” a relação de amizade...

Onilda fala com tristeza, olha a noite e a chuva, mas logo sorri.

— São grandes personagens... Espero que, mesmo não sendo amigos próximos, que eles não se tornem inimigos...

Onilda escreve em seu diário a conversa que teve com Úrsula, indicando que não foi uma conversa tão boa. Terminando de escrever, ela é abordada por Jimu Gym que aparece na sacada em que ela está.

— Mestra Onilda! Como estás?

— Bem...

— Não parece, está bem mesmo?

— Estou... Queria agradecer esses últimos meses, você sempre ocupado e ainda assim aceitou Jake, Pedro e Donny para treinar.

— Sem erro, sem preocupação, vim para essa bela ilha para isso, trabalhar o máximo que meu corpo aguentar para ajudar a rapaziada, a nova geração.

— Muito bom, é bom ver pessoas assim como você, dispostas a ajudar outros.

— Agradecido, mas eu sou só o reflexo de pessoas como a senhora, mestra; meus pais adotivos me deram motivação e grande inspiração para ajudar o mundo e as pessoas nele, eles são meus “Electi”.

O jeito de Jimu Gym deixa Onilda mais alegre e leve, tanto que fica curiosa com a sua história, que notou nunca ter ouvido ou perguntado antes.

— Você nunca falou sobre os seus pais, eles são de alguma ilha dos atuais Electi? Por favor, me fale um pouco sobre eles.

— Não, eles são do extenso continente que conhecemos... Pai foi um grande guerreiro...

— Foi? Me desculpe, ele já morreu?

— Não! Ele é “vovozin” já, está velho, não luta mais, mas ensina outros...

— Que legal!

— Sim, e papai foi um “predador”, sempre mirou em ser um mestre arbol, mas mirou errado, bom que sempre gostou do que fez.

— Predador? Um caçador, você quer dizer?

— Isso! Caçador, ele queria que eu fosse também, mentalizei muito, mas lutar corpo a corpo e técnicas defensivas são o meu gosto.

— Por isso você sabia daqueles livros sobre Grandes Animais?

— Sim, é um dos livros que trouxe de casa.

— Um momento! Seu pai foi um guerreiro ou um preda... Caçador?

— Pai foi guerreiro e papai foi caçador.

Onilda ri, achando tudo confuso, mas, por um momento, ela pensa em algo e diz surpresa.

— Não me diga que... você foi adotado por dois homens?

— Sim! Eles são da Floresta de Pando, eu vim de lá, mestra.

— Pelo criador! Não imaginei... Incrível... Me desculpe ficar surpresa, mas é um fato raro de se ver.

— Na verdade, não é tão raro assim...

Onilda fica maravilhada com a informação, pois ela já ouviu falar de alguns casos similares ao de Jimu Gym, mas nunca viu um caso real. Até o fim da chuva, os dois conversam mais sobre a família dele, descobrindo mais detalhes e um pouco mais sobre o clã da Floresta de Pando. A chuva para, mas o frio ainda é forte.

Onilda chega tarde da noite em seu quarto, ainda admirada com a história de Jimu Gym e de seus pais. Rapidamente seu humor muda ao lembrar-se da última carta de Ynascar, que está em sua estante.

— Esse atraso... Se fosse só coisa da minha mente, seria ótimo, pois eu posso estar errada, mas Maxmilliam e até Úrsula dizem que algo ruim aconteceu... Ray... Queria que você não passasse por isso tão cedo e novamente...

Onilda levanta-se no próximo dia com dor de cabeça, ela toma um remédio com um chá e segue com sua rotina, devido a alguns acontecimentos, Onilda está como conselheira dos alunos de Pronuntio; na sua rotina matinal, ela vê seus Infantes com seus afazeres e comenta sobre eles com Opofrelse, sua fiel amiga, que a acompanha e se mostra atenta a tudo que ela fala.

— Rupert continua indo bem no final de sua formação, ele quer ser um arqueiro e ir a batalhas... Meena cedeu ao estilo de roupas e penteados mais usados pelas outras moças e estilo- padrão da turma de “elite”, nunca mais a vi reclamar de importunos, até o seu jeito ficou mais delicado, por um lado é bom, mas acho que ela não está gostando dessa nova versão dela mesma, ela só está se acostumando à forma que os outros querem que ela seja... Eu ainda me preocupo com Júlio e Doug, ainda mais agora, com a idade em que os hormônios estão à flor da pele. Eu já os vi namorando, eles tentam esconder por receio dos novos recrutas e mestres, mas o que ajudou mais nesse receio foi a briga dos Infantes, que deixou todos mais reservados, eu os entendo. Pedro, Donny e Jake estão mais focados nos treinos e ensaios musicais e artísticos, e estão menos sociais com os outros, eles três mantêm mais contato com alguns alunos e com Gym, que os ajuda nos treinos. Bom que Gym ficou responsável por eles, alguém de confiança e que não irá permitir má influência perto deles. Gym me falou que até nos trabalhos comuns e voluntários eles estão mais dedicados, parece ser bom, até o momento só a aproximação deles com os outros acabou... Ray, ele treina mais com Maxmilliam e ainda, depois do ocorrido com o grupo, ele ficou mais distante dos outros três, não fico sabendo muito sobre ele, mas temo como ele ficará se notícias ruins sobre seu pai forem confirmadas.

Depois do almoço, Onilda percebe que Júlio e Doug vão com frequência à torre de contos, magias e poderes da ilha; curiosa, ela se dirige até lá e fala com a guardiã da torre.

— Boa Tarde!

— Boa tarde, Mestra.

— Eu sou Onilda Roser!

— Dayan Enelric, mas eu já a conheço, mestra, e agradeço por vir.

— Como assim?

— Eu pedi para um responsável aparecer, creio que seja a senhora, vamos?

— Certo... O que houve?

Onilda vê que Dayan está brava e a leva para uma das salas da torre. Dentro da sala que parece uma pequena biblioteca, com bastante luz que vem das janelas, estão Júlio e Doug sentados e cabisbaixos. Ao vê-los, Onilda questiona:

— Por que vocês estão aqui?

Antes de responderem, Dayan fala, ao mesmo tempo que um relatório para Onilda.

— Veja! Achei que eles estavam buscando sabedoria e aprimoramento nos conhecimentos mágicos, mas eles enganaram tudo que essa torre representa!

— Não foi assim, Mestra!

— Júlio! Você terá a sua vez! Onilda por favor, leia isso com atenção... Preciso trazer mais um envolvido nisso.

— Mais um?

— O incentivador! Claro! Me aguarde e veja o que está nesse relatório.

Dayan sai da sala, batendo forte a porta ao sair. Onilda olha feio para os meninos, que demostram estar envergonhados. Doug demonstra estar mais nervoso e pede:

— Mestra, por favor, não leia, foi algo impulsivo...

— Espere! Pelo que parece, aconteceu algo grave aqui... Vocês estavam treinando artes proibidas?

— Não... É que... Nós... Eu e Júlio viemos treinar e saber mais sobre “Orbis Absolute”... E aprendemos bastante.

— Só isso? Me parece que tem mais coisa...

Onilda olha o pergaminho e pede:

— Vejo que o início do treino foi difícil, vão me dizendo o que é Orbis Absolute.

Doug fala baixo, repreendendo Júlio por algo que aconteceu, e Júlio responde a Onilda:

— Orbis Absolute é uma luta mental entre usuários de magias ou pessoas de grande capacidade mental. Duas, ou raramente, mais mentes são colocadas dentro de uma mente onde ocorrerá alguma disputa, a mente central forma um lugar, e cada mente ganha uma forma visível que tem ligação com seu corpo, podendo ter seu corpo afetado durante a batalha...

— Certo... Vejo que vocês aumentaram o tempo de treino. Por que insistiram, já que não tinham talento para tal arte?

— Orbis Absolute é uma arte muito arriscada, pois, se abrir esse poder em sua mente, é muito difícil de fechá-la, é quase impossível alguém que nunca abriu esse “caminho” ser alvo desse mesmo poder, por isso é recomendável que só usuários de grandes poderes treinem isso, além de ajudar na saúde mental e a entender outras artes mágicas.

— Bom... Enfim, abriram esse caminho...

Onilda vê, no final do relatório, que os dois iniciaram um combate, mas esqueceram de que estavam sendo supervisionados. Ela inicia a leitura das anotações da batalha dos dois e diz, com um ar de desconfiança.

— Aqui diz que fizeram os testes normalmente, mas, na primeira batalha entre vocês dois... Vocês... O que é isso?

Onilda fica surpresa de uma forma engraçada fazendo Júlio sorrir, ela olha feio para Doug, que fica envergonhado, e que novamente repreende Júlio. sussurrando algo para ele. Onilda então lê em voz alta, e brava:

— Em um lugar “suspeito”, Júlio surpreende Doug deixando-o desarmado e sem ação para o seu ataque, a manobra é habilidosa, deixando Doug indefeso. Júlio então o agarra forte por trás, deixando Doug sem saída, sem fôlego e com muito “calor”. Júlio o joga contra a parede e o ataca pelas costas... Sua grande espada o penetra... “penetra”?

Doug se curva na mesa, cruzando seus braços e escondendo seu rosto. Júlio solta um riso, e Doug bate com uma de suas mãos no peito dele.

— Não tem graça!

— Me desculpe...

Onilda lê mais um pouco para si mesma e termina perplexa. Depois de alguns segundos, ela ainda pergunta, tentando acreditar que entendeu errado.

— Isso é o que eu penso que é?

Dayan entra na sala, brigando com um homem que ela traz consigo, ela bate novamente a porta e Onilda se espanta ao ver quem está com ela.

— Jimu Gym?

— Ele mesmo, mestra... Não sei o que fazer!

Dayan está brava; Jimu Gym, confuso; Doug, envergonhado; Júlio, feliz, mas um pouco nervoso; e Onilda, com seu senso de responsabilidade elevado, pensa em tomar o controle de tudo ao ver uma discussão se iniciando.

— Mestra Dayan. Obrigado por ter me posicionado com tudo isso, mas peço que se acalme e agora deixe comigo. Eu me responsabilizarei com tudo isso agora.

— Certo... Vou cuidar do relatório enquanto isso...

— Não! Não precisa, pode deixar comigo. Eu mesma deixarei tudo registrado, eu assumo a responsabilidade, por favor, pode ir em paz.

— Como achar melhor, mestra, eu vou cuidar de outros assuntos então.

— Obrigada e me desculpe pelo ocorrido.

Dayan sai da sala, batendo forte a porta, e Onilda aponta para Jimu Gym sentar-se ao lado dos meninos na mesa.

— Gym, me explique o que você falou para eles... Olhe!

Onilda entrega o relatório para Jimu Gym, que fala com naturalidade.

— É disso que a Dayan estava falando?

— Sim...

— Me parece simples, eles tiveram a primeira vez deles.

Onilda, Júlio e Doug ficam tímidos com a forma natural com que Jimu Gym diz sobre tudo. Doug se contrai mais na cadeira, ao ouvir Jimu Gym comentar enquanto lê o relatório.

— Mentalize comigo! Que manuseio bonito das palavras “Ele gemeu de dor, mas a dor lhe proporcionou com o tempo algo”...

Onilda o interrompe, tira o relatório das mãos de Jimu e diz.

— Meninos, obrigada, mas é melhor eu conversar com vocês separadamente, por favor, saiam, vou falar com Gym primeiro.

Júlio puxa Doug para saírem da sala, e Onilda olha séria para Jimu Gym, que fica repetindo uma palavra que leu.

— Clímax? Clí-max... Clímax!

— O que está fazendo?

— Essa palavra é fenomenal, mestra. “Clímax”! Eu “cheguei lá” várias vezes, mas nunca pensei em usar essa palavra, esses meninos mentalizam tudo...

— Não foram eles! É uma magia que regista os acontecimentos para uma análise do treino por um mestre, só que eles esqueceram que tudo estava sendo anotado por magia.

— Oh ká! Entendi.

— Você fala com maturidade. Como? Você não vê o que fizeram?

— Sexo?

— Você que deu essa ideia?

— Eu reparei que eles estavam lendo algo “ousado” na biblioteca e quis saber mais sobre a curiosidade deles, para recomendar algo mais fácil de entender.

— Não me conte os detalhes, só me diz por que você falou para eles usarem essa aula para fazer isso?

— Meus pais faziam isso, lembrando agora, acho que era proibido...

— Gym, quando eles falaram que iriam fazer “aquilo”, seja através de magia mental ou físico, você não os impediu?



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