Volume 1
Capítulo 28: Desagravo I
— Gym, quando eles falaram que iriam fazer “aquilo”, seja através de magia mental ou físico, você não os impediu?
— Parar eles? Por quê?
Onilda fica sem resposta e percebe que está exagerando. Jimu Gym vê que Onilda fica quieta, tentando achar alguma resposta mais lógica, e ele diz.
— Eu sei, mestra, por eles serem “Filhos de Ivo” parece que são diferentes de um homem e mulher, mas não, têm pontos que eu acho até mais fáceis.
— Fáceis? É estranho, não! Diferente é uma palavra melhor para refletir meu nervosismo...
Onilda se senta e lembra que os pais de Jimu Gym são como Júlio e Doug.
— Me desculpe, não quero parecer preconceituosa.
— Relaxa, mestra, mentalize que eles chegaram na época de descobrir mundos, mundo da dor, mundo do amor, do sexo...
— Certo... Você sabe se foi a primeira vez deles mesmo?
— Sim, a senhora não leu o relatório? A senhora viu a parte “Minha mente, corpo e alma eram um...”.
— Vamos esquecer o que está escrito! Eu não fico à vontade, sabe? É algo bem particular.
— Entendi... Sem erro, sem erro... Não é um arco-íris normal assim como eu e minhas amigas, eles têm algo forte, sabe, um vínculo poético?
— Sei, na verdade eu sempre adiei essa informação, por não saber como lidar com ela.
Jimu Gym levanta-se e abraça Onilda.
— Mestra, você sabe como fazer, a novidade deixou o medo, é só deixar o medo sumir e ver que tudo que o criador fez é amor. Se tudo fosse só gestar filhos, essa ilha já estaria transbordando de pessoas, e teríamos que multiplicar, nós mesmos, os bichos para alimentar tudo isso.
— Faz sentido, onde ouviu isso?
— É uma lógica eu ouvi de um grande mestre...
— Certo... Eu sei... O que eles fazem no íntimo, não afeta a minha vida... Concluo assim, obrigada, Gym.
— Sempre ao dispor.
— Até com uma idade avançada, os seres ainda aprendem e evoluir.
— Certíssimo! Agora vamos mentalizar sobre o Zé!
Onilda se solta de Jimu, rindo, e se afasta dele.
— Sai, sai daqui, Gym!
— O que foi? A senhora não quer uma amizade arco-íris?
— Não!
— O Zé do centro falou que entra nessa “batalha”!
— Não! Obrigada por tudo, mas esquece desse assunto, vá chamar os meninos!
— Chamo o Zé também?
— Jimu Gym!
A tarde passa com Onilda conversando sobre o ocorrido de manhã com Júlio e Doug. Jimu convence Dayan a não penalizar os meninos, contando uma história e algumas explicações sobre o assunto, que ele aprendeu no clã de Pando.
Ray é chamado com Maxmilliam para uma reunião urgente no Castelo Divine, e Pedro desafia Rupert em um treinamento mais difícil e real, como uma disputa de habilidades em batalhas. Algum tempo depois, Onilda fica sabendo dessa briga agendada e exclama:
— Isso não é um treinamento, é um desafio!
— Quando os vi indo, logo pensei em avisá-la, mestra.
— Obrigada... Isso é outro motivo para justificar a rivalidade deles... Faz muito tempo que eles começaram?
No campo de treinamento “Quatro Chifres” estão Júlio, Doug, Meena, Rupert, Pedro, Donny e Jake. Todos estão armados e com traje de combate, os trajes têm algumas similaridades, como se fossem dois grupos diferentes, dividindo Pedro, Donny e Jake dos outros quatro.
— Cansei de treinos básicos, já fechamos isso, agora é treinamento especializado.
— Pedro, não cansa de perder?
— Rupert e seu grande ego, como se ganhasse sozinho muita coisa.
Doug, Jake e Júlio são os únicos que demonstram preocupação e pacifismo, torcendo para que nada grave aconteça. Júlio comenta:
— Batalhas ferozes estão acontecendo além da ilha e vocês querem mesmo fazer isso?
— Ele é seu amigo, Júlio, fala para ele retirar as coisas que ele falou para mim e os boatos que fez do Donny e do Jake.
— Ele não fez boatos...
— Se não fez, ele ajudou a espalhar!
Pedro e Donny encaram Rupert, que olha com hostilidade e diz:
— Certo. Você vai ter o que tanto quer.
Doug se chateia e comenta:
— Então, por que só vocês dois não resolvem isso? Por que todos se envolverem?
Meena responde brava.
— Porque somos um grupo! Sempre ajudamos uns aos outros, até nos segredos, Doug, ou eu estou mentindo?
Doug não gosta que Meena use situações antigas para se beneficiar. Júlio segura na mão de Doug e diz para ele.
— Esqueça, vamos apenas fazer e acabar com isso... Afinal, eles mesmos querem esse combate, ninguém está sendo forçado.
Rupert ri e diz.
— Doug, pode ficar fora do desafio, assim ficará três contra três... Mas, para ser mais justo com Pedro, é melhor Júlio sair também, assim a luta fica equilibrada.
Pedro segura sua raiva, e Jake pergunta.
— Onde está o Ray?
— Ele foi chamado ao castelo, não participará do nosso “treinamento”.
Jake olha para Pedro e Donny, que fazem sinal com a cabeça, confirmando algo entre eles. Pedro sorri e diz para Rupert.
— Podem ir os quatro, então, assim teremos os “Infantes” reunidos.
— Ray também é membro.
— Será? Ele nem treina mais com vocês... Esquece! Vamos nós três contra vocês quatro, assim, vocês “ganham logo”!
— Como quiser!
Todos se afastam e se preparam, fazendo um pequeno alongamento, verificando suas armas e se posicionando no campo.
O tempo está tranquilo e um pouco gelado; poucos alunos estão parados nos bancos vendo o treinamento e nenhum professor aparente. Júlio e Doug estranham os outros aceitarem uma batalha com desvantagem numérica e ficam desconfiados. Júlio questiona Rupert e Meena.
— Qual o plano?
Rupert demonstra confiança e responde:
— Vamos focar em derrotá-los rápido, acho que eles querem só chamar a atenção e usar a tática de nos cansar até achar uma brecha na nossa defesa.
— Por que a certeza?
— Eu ouvi Donny comentando com umas meninas mais cedo, ele estava se gabando de seus treinos e pude ouvir a parte a respeito de Jake dará suporte para ele enquanto nos ataca.
— Então devo atrapalhá-lo?
— Não, vamos deixar ele se divertir no início, vamos cansá-lo também, e o derrotamos com os outros depois.
No outro lado, Jake revela um instrumento musical, bem bonito e feito por uma madeira especial, com detalhes com prata e bronze, nela há as linhas especiais, que ganhou de Onilda. Ele demonstra admiração pelo seu violino e diz.
— Viela, minha viela... Vamos encantar nossos “ouvintes”.
Pedro demostra excitação pela batalha e se arma com um pequeno machado e uma maça diferente, de cabeça grande, sem espinhos; e Donny, com um arco e flecha pequeno e uma funda.
— Vamos!
Pedro avança no mesmo momento que Jake começa a tocar.
— Harmônico...
Jake usa notas suaves, tocando levemente as cordas com seus dedos. Donny se afasta, pegando distância para seus ataques e Pedro se aproxima rapidamente de Rupert e Menna, e ao mesmo tempo os três se lembram do plano de hoje.
“— Donny vai ao mesmo horário do refeitório do arrogante do Rupert, dando uma informação falsa do nosso plano... Jake treinou muito e vai usar a música com magia para fragilizar e debilitar todos eles...”.
“— Mas e o Júlio e o Ray? Eles são os mais inteligentes deles, vão notar o poder usado pelas linhas.”
“— Júlio tem um romance com o Doug, então Donny vai atacá-lo de imediato, forçando Júlio a focar em defender Doug mais que os outros. Com o Ray será mais difícil, no meu avanço eu vou tentar distraí-lo até que o encanto musical esteja no auge.”
“— Quando atingir o ápice, Júlio e até Ray poderão me derrotar.”
“— Até esse momento, Meena, Rupert e Doug estarão fora de combate, e nós teremos a vantagem numérica contra os outros... Certo?”
Com a ausência de Ray, os três ficam otimistas com o plano. Pedro se aproxima de Rupert e Meena, iniciando seu ataque. Usa, além das armas, alguns golpes físicos como investidas e chutes.
Donny concentra seus ataques em Doug, que aos poucos se aproxima de Pedro para atacá-lo. Júlio inicia uma conjuração de energia coletiva para dar suporte para todos os seus amigos.
Jake toca mais alto seu instrumento, conseguindo encantar aos poucos e sorrateiramente seus oponentes. Júlio sente algo estranho no toque suave que Jake está fazendo com seu violino e sente que há uma magia simples que está ocultando outra mais agressiva.
— Ele se especializou...
Antes de focar em tentar descobrir o que pode ser esse poder novo de Jake, Júlio libera sua energia, melhorando os atributos básicos e de luta de seus amigos. Pedro já enfrenta dificuldade, lutando contra Meena e Rupert, que se defendem bem e unem golpes para derrotá-lo, buscando causar ferimentos graves.
Com a ajuda de Júlio, ambos ficam mais fortes e ferem Pedro, que revela uma armadilha.
— É hora da apresentação dos “Infames”!
Pedro estoura a cabeça da maça, liberando um gás que cobre Meena e Rupert. Eles reclamam alto.
— Seu idiota!
— Você está nos envenenando?
Doug consegue conter todos os ataques de Donny e se aproxima para atacar Pedro, que o surpreende fazendo-o inalar o cheiro do gás também.
Júlio fica preocupado, ele se aproxima e com magia tenta tirar o gás do ar; antes de conseguir, ele é atingido por frascos que Donny está lançando com a funda. Júlio chega a escapar e a se defender, mas percebe que, além do líquido, o cheiro é perigoso, identificando o plano dos três.
— Poções que potencializam encantamentos! Jake... Jake é a prioridade!
Jake sorri e diz baixo, mudando a maneira que toca seu violino.
— Pizzicato...
Com beliscões e puxões nas linhas, Jake usa todo seu poder mágico na canção, que potencializada com o gás e as poções, ganha total destaque no campo de luta. Pedro ri e dá uma sequência de golpes em Rupert e diz, enquanto bate nele.
— Esse é Rupert, o grande líder dos Infames, que hoje cai! Cai! E sempre cairá com sua boa autoestima e arrogância!
Durante o ataque, Rupert tenta se defender, mas a magia de Jake, além de debilitar alguns movimentos, o fere causando mal-estar, dores e até pequenos cortes em lugares sensíveis no corpo. Meena consegue fazer com que Rupert não caia na primeira sequência de golpes, ganhando a atenção de Pedro, que vê os movimentos dela e diz, se esquivando dos golpes:
— Meena! Menina? Ou menino? Seja o que for, só por ser uma “infame” já é uma perdedora e também merece cair igual a sua moral!
Pedro escapa de Meena e derruba Rupert, quebrando a madeira da machadinha na cabeça dele. Donny se aproxima enquanto ataca à distância Meena e Doug. Mena é atingida e Doug avança, surpreendendo Pedro, que é atingido em cheio.
— Esse é Doug, é claro! Mas para um ato desse porte, ele não faz sozinho.
— Para com isso! O que tem nesse gás?
Pedro vê que Doug está mais apto à luta por receber mais suporte de Júlio que os outros, e o engana, ameaçando atacá-lo, mas esquiva-se do contra-ataque com uma acrobacia e ataca a maça quebrada nele; com a distração, Pedro chega até Meena e a derrota com um gancho de esquerda, ela é resistente, mas, com o poder de Jake, a deixa muito fraca e frágil, ela acaba desmaiando rapidamente.
— Menos um...
Pedro está fraco, mas continua firme e forte, a batalha fica mais tensa. Júlio dá suporte mágico para Doug, para que enfrente Pedro e Donny, e, ao mesmo tempo, tem uma disputa de energia e de poder contra Jake.
No momento em que Júlio enfraquece Jake, neutralizando parte da magia usada na música, Doug passa a receber menos status negativo e mais vantagem, conseguindo lutar igualmente contra Pedro e Donny. Em uma luta de socos e chutes fortes, Doug ganha de Pedro que, antes de ser nocauteado, se afasta cambaleando, e chega perto de cair no chão.
— Os outros dois me deixaram fraco... Mesmo para um “Ivo”, ele bate forte.
— Fui subestimado pelo seu preconceito?
Donny começa a cantar enquanto ataca, o som de sua voz está diferente do comum; com a música de Jake, a canção começa a atrapalhar a concentração de Júlio e Doug, e Pedro diz, animado com o rumo da batalha:
— Esse é Doug, o Infame bem protegido por seu marido Júlio!
Doug olha ao redor para ver se muitos alunos ou professores estão vendo a luta, com medo de alguém ouvir as revelações de Pedro, e retruca bravo.
— O que você tem a ver com isso? Seu traidor!
— Traição? Tem certeza de que nós que traímos vocês?
Júlio só escuta e, ainda atento a tudo no campo, percebe que Doug está sendo levado pela conversa, perdendo o foco da luta, e diz alto.
— Não dê atenção a eles! Concentre-se em derrotá-los!
Jake aproveita esse pequeno momento e saca um arco usado para tocar seu instrumento e diz recuperando energia para contra-atacar.
— Corda dupla!
Com o arco, Jake toca mais de uma corda ao mesmo tempo e com magia ele potencializa sua disputa contra Júlio, que começa a sentir que está perdendo.
— Eles treinaram muito.