Volume 1
Capítulo 26: Rivalidade
Pedro, Donny e Jake estão nervosos, mas corajosos em se apresentarem pela primeira vez para um grupo grande de pessoas desconhecidas. Jake vê que se esqueceu de fazer a inscrição formal do concurso e comenta:
— Esqueci! Podemos nos apresentar, mas não estamos competindo; se quisermos ter a chance de ganhar, temos que nos inscrever.
— Você esqueceu?
— Você também esqueceu! E temos que ir nós três!
— E agora?
Os três se aproximam de Rupert, Meena e Ray e pedem:
— Vocês tomam conta das nossas coisas enquanto a gente vai lá?
— Sim, sem problema.
Pedro, Donny e Jake saem da área dos artistas, e Ray se lembra.
— Desculpem, mas eu não poderei ficar. Mestre Maxmilliam me chamou no castelo, acho que verei a apresentação de lá.
— Tudo bem, nós avisamos aos outros.
— Falem que depois eu os recompenso e de lá estarei torcendo por eles.
— Pode deixar.
Poucos minutos se passam, e Meena comenta com Rupert.
— Não seria melhor a gente já arrumar um bom lugar?
— Eu gostaria de um bom lugar perto das mesas com bebidas e comidas exóticas, você viu quantas?
— Sim, eu também gostei. Algumas bebidas nem tem em Pronuntio. Vamos!
— Não, pera... E as coisas deles?
— Aqui está cheio de guarda e magia que informa sobre roubos, nenhum ladrão vai entrar aqui na área dos artistas, é reservado só para eles.
— Ótimo, então vamos!
Ao saírem, eles esbarram com Khan que os questiona:
— Já vão se apresentar?
— Não, eles foram fazer a inscrição para a competição.
— Legal, então vamos competir de novo, porque meus amigos adotaram o mesmo nome da última vez.
Rupert demonstra pressa e fala, sem dar muita atenção para Khan.
— Então é uma pena que irão perder de novo... Adeus!
Khan sente que foi destratado e comenta baixo, enquanto vê que ninguém está dentro da barraca dos Infantes.
— De novo não, com certeza não.
Alguns minutos se passam, os primeiros grupos se apresentam no palco, elevando o nível de talento do evento. Meena e Rupert já estão bem-posicionados em um lugar de fácil acesso a comida e bebidas, a que tanto visam, mas longe do palco.
— Muito cheio, bom que achamos esse lugar, ainda dá para ver o palco daqui.
Ray chega ao castelo e é acompanhado por Onilda, que fica interessada em saber sobre a carta do pai dele.
— Bom que deu tudo certo, Ray, agora me conta, como está o seu pai?
Júlio e Doug voltam para a barraca e estranham ver Khan rodeando o lugar. Ao ser percebido, Khan faz sinal com a mão e se distancia, indo embora.
— Sonso...
Júlio acha a atitude suspeita e comenta com Doug.
— Falei para você ficar longe dele, até o jeito que ele caminha é suspeito.
— Eu sei, eu não dou muita atenção para ele... Onde estão os outros?
— Deveriam estar aqui!
Pedro, Donny e Jake chegam afobados.
— Muita gente em todo lugar, quase que não conseguimos!
— Bom que nos apresentaremos a tempo!
— Onde estão os outros?
Júlio e Doug respondem:
— Não sabemos...
— Devem ter ido à frente, vamos logo!
Júlio e Doug seguem para um lugar próximo do palco e no caminho para na ala dos artistas, pois não há mais lugar bom entre os visitantes. Pedro, Donny e Jake são abordados por Khan no trajeto para o palco.
— Infantes! Sei que não têm muita torcida, mas eu e meus amigos vamos torcer por vocês, podem deixar!
— Como assim?
— Falei com aquele rapaz grosseiro e com a mulher de cara fechada, do grupo de vocês, e eles falaram que vocês não têm muito apoio.
Pedro demonstra ficar bravo com Khan.
— Que zoação é essa sua?
— Minha, não! Eles até falaram que iriam ficar longe do palco para não passar vergonha, eu achei que, chamando alguns amigos meus, ajudaria vocês, dando apoio, sei como é quando os amigos não incentivam artistas.
— Não sei de nada disso...
— Bem... Boa sorte então.
— Obrigado... Eu acho...
Pedro e Jake acham suspeito e vão conferir. Na preparação deles ao palco, não veem Rupert, Meena ou Ray por perto.
— Onde eles estão?
— Olhe, Júlio e Doug estão tentando chegar perto do palco.
— Eles vieram agora há pouco, os outros poderiam ter guardado lugar...
Os três se olham, demonstrando chateação, e Pedro diz:
— Sempre fomos nós três, vocês sabem, não é o apoio deles que vai nos dar o prêmio, é nosso esforço que vai!
— Certo!
Inicialmente a exibição deles é fraca, comparada aos outros profissionais já apresentados na noite, mas, com o compartilhamento individual deles, a apresentação melhora aos poucos; Pedro compartilhando a sua confiança; Jake, seus dons artísticos; e Donny, o seu carisma e otimismo.
A apresentação termina bem. Como começaram ainda se adaptando ao palco e à multidão, os líderes do evento dão uma oportunidade de destaque e permitem que façam mais um número, da mesma forma que fizeram com outros grupos que não tiveram muita sorte, mas que demonstraram ter talento.
Infelizmente na segunda chance o trio termina com fracasso, os instrumentos evidenciam maus cuidados, atrapalhando a música e deixando os três mais nervosos e desmoralizados, de modo que isso afeta a apresentação como um todo.
Algumas pessoas mais alcoolizadas zombam deles, e outras demonstram solidariedade, mas, em um momento como esse, os três só sentem e ouvem as palavras ruins e a falta de amigos que poderiam estar por perto.
— O que houve?
Jake fica muito chateado e triste pela desmotivação jogada em cima de seu sonho de ser um artista.
— Que azar...
Donny e Pedro o acolhem, compartilhando essa mágoa juntos, dando força para resistir ao momento. Os três voltam para as barracas dos participantes e lamentam, enquanto arrumam seus pertences antes de voltarem para o barco.
— Verificamos antes... O que pode ter acontecido?
Onilda chega pouco tempo depois que eles se apresentaram e vê Júlio e Doug.
— Cheguei atrasada... Eles já se apresentaram?
— Sim...
— E como foi?
— A senhora não viu?
— Não, eu consegui falar com quem eu precisava e quis vir ver pessoalmente, mas pelo visto, não deu tempo.
— Eles não conseguiram.
— Não? Como? Eles ensaiaram tanto... Foi ruim assim?
— Não sei dizer, parece que tiverem problemas.
— Vamos falar com eles, então, ver o que aconteceu, onde estão os outros?
— Eles...
Um guarda interrompe a conversa para falar com Onilda.
— Senhora? Precisamos de sua ajuda!
— Ajuda? O que houve?
— Estamos com um problema... Se me permite sua atenção.
O guarda da cidade cochicha para Onilda, falando que o problema é com um grupo de guerreiros do Império que estão querendo entrar na cidade para verificar o evento e ele não quer alertar os visitantes para que não haja caos. Onilda entende a preocupação da guarda da cidade e diz para os meninos.
— Júlio e Doug, por favor, encontrem Rupert e Meena, e veja o que houve com os meninos, eu preciso ver algo e falo com vocês depois.
— Certo, mestra.
— Obrigada.
Onilda se encontra com outros mestres e autoridades de Coniuro para confrontar o grupo de guerreiros do Império de Cristal, que estão hostis do lado de fora da cidade; ao mesmo tempo Júlio e Doug encontram Rupert e Meena, e entram na barraca para falar com Pedro, Donny e Jake.
O clima de baixo astral e chateação toma conta, Pedro inspeciona os instrumentos, vendo que foram sabotados e questiona, bravo, para os outros que entram na barraca.
— O que vocês fizeram?
A forma rude de Pedro mexe com a moral de Rupert e Meena, que já estão um pouco alterados pelas bebidas fortes que consumiram, e então respondem no mesmo nível de grosseria.
— O que vocês fizeram lá em cima? A gente tem culpa?
— Claro que têm! Pedimos para vocês cuidarem das nossas coisas e vocês estragaram!
— Não fizemos nada!
— Têm certeza?
Júlio tenta defender.
— Nos não estragamos a sua apresentação, quando eu e Doug chegamos aqui, ninguém estava prejudicando nada.
— Então vocês deixaram nossas coisas sozinhas? Por que não cuidaram delas?
Meena volta a criticar:
— Não temos obrigação nenhuma, seu mal-educado; por que vocês não ficaram e cuidaram vocês mesmos?
— Porque vocês disseram que ficariam!
— Não achamos que alguém faria algo assim em um evento como esse.
— O que você quer dizer?
— Você me entendeu! Acham que iam ficar famosos só por se apresentarem em um evento aqui? Ou usando aquela história de casais que sofrem preconceito? Vocês só arruínam o nome do grupo fazendo papel de “Esquisitões de Pando”.
Júlio e Doug se sentem um pouco ofendidos por aparecer que a imagem de Descendente de Ivo possa manchar a reputação do grupo. Percebendo que Doug ficou recuado, Júlio o abraça e segura firme em sua mão, passando conforto e falando em seu ouvido:
— Eles não estão agindo com razão, não ligue para as ofensas, Doug.
Rupert sente que Meena falou muito e comenta, achando que irá melhorar a situação:
— Não levem muito a sério... Acabou já...
— Só porque não é algo seu, não é tão sério?
— Para de ser ridículo!
Jake se magoa, Pedro vê que, se Jake entrar na discussão, ele começará a chorar, o que deixará o clima ainda pior, então Pedro faz sinal com a mão, para que só ele fale.
— Vocês são inúteis!
— Por que tanto drama para um evento desses?
— Por que tanto drama em fingir algo que não é? Cadê suas roupas de “menina-menino”? Está confortável em fazer o que os outros querem, soldadinha?
— Retire o que você disse!
— Não! Não é isso que estamos falando? Do nosso “teatro de esquisitos”? Por que forçar ser algo que você não é?
— Não quis dizer que vocês não são artistas!
— Estranho, porque pareceu!
Rupert fica bravo com tudo e se aproxima de forma hostil. Donny e Pedro levantam seus punhos, mostrando que vão brigar sério com ele.
— Faça! Faça e alegre minha noite!
Júlio e Doug os separam, e Pedro diz com ódio, para Júlio, que o segura.
— Me solta! Você está do lado deles!
— Parem com isso!
— Sempre fomos deixados de lado pelo egoísmo de vocês e o preconceito por nossa origem humilde ou até por sermos órfãos!
— Pare agora, Pedro, ainda podemos parar e continuar com nossa amizade.
— Verdade, Júlio? Que amizade?
— Pedro?
— Não! Sempre foi assim!
Ray entra na barraca e se assusta pelo clima agressivo.
— O que houve, Infantes?
Pedro lhe responde, ainda falando alto como se Ray também estivesse contra eles.
— “Infantes”? “Infames”! Isso sim!
— Pedro. se acalme.
Pedro recua, mas Donny estoura de raiva.
— Pedro está certo! Ray é o único infante aqui, cheio de benefícios em um pedestal, hoje mesmo nem estava aqui para nos apoiar.
Ray, Rupert e Júlio tentam apaziguar ou defender as alegações de Donny, mas não conseguem, por Donny falar mais alto e embravecido. Meena fica com raiva e ataca Donny, ele se defende, mas, antes de ser atingido, Jake separa os dois.
— Parem!
Na confusão, Rupert também bate em Donny e acerta Jake, que cai de mau jeito em cima das coisas deles e se machuca.
— O que você fez?
Ao verem Jake machucado ao ponto de não conseguir se levantar sozinho, todos param de brigar, Meena tenta ajudá-lo, mas ele nega, sendo levantado por Pedro e Donny.
— Não precisamos mais de sua ajuda...
Um momento de silêncio toma o ambiente, eles se olham decepcionados, Ray se aproxima para esclarecer as coisas, mas Meena e Rupert o seguram pelo braço.
— Não adianta, Ray, esses falsos não querem escutar.
Pedro encara e diz a todos, antes de sair com Donny e Jake.
— Escutar mais reclamações? Não... Guarde para você, grupinho predileto!
Rupert diz com desprezo.
— Sem noção!
Pedro ainda volta para discutir, mas Donny o puxa para ajudar a levar Jake para cuidar dos seus ferimentos. Dentro da barraca, os outros se olham e se perguntam o que aconteceu para todos agirem assim, eles ainda conversam um pouco, saem para o porto e verificam o barco que irá levá-los para Pronuntio. No caminho, Ray pede:
— Vamos manter a calma, no barco a gente conversa com eles e acerta tudo, pode ser?
Meena e Rupert se mantêm relutantes, mas cedem depois que Júlio e Doug concordam em ter uma trégua e pedir desculpa para os outros três.
A discussão do lado de fora de Coniuro, com o Império de Cristal, é resolvida, mas deixa todos os visitantes em alerta, pois seus barcos ou carruagens podem ser atacados, forçando-os a dobrarem suas defesas.
Onilda fica preocupada e volta o mais rápido possível para o barco; ela se encontra com alguns e, depois que o barco chega a seu destino, ela sente falta de outros, questionando Júlio sobre isso.
— Onde estão Pedro, Donny e Jake?
— Achei que eles chegariam com a senhora.
— Ruim. Isso é ruim, eu tive que vir correndo por causa de alguns problemas que tivemos com o futrespurco e esqueci-me de verificar se todos estavam a bordo... Mas por que eles não vieram com vocês?
— É uma longa história...
— Então me diga tudo!