Arbidabliu: Infantes Brasileira

Autor(a): Magnus R. S. Alexandrino


Volume 1

Capítulo 25: Festival

Manhã, 22 de março 1581 – Coniuro. Docas.

— Meus queridos pupilos, chegamos a Coniuro, uma das cidades aliadas e amigas de Pronuntio, alguns de vocês devem ter passado por aqui quando crianças, apesar de que não mudou muita coisa desde então...

Embarcando no porto da cidade, todos veem vários cidadãos limpando, enfeitando e preparando a cidade para um grande evento. Muitos outros barcos chegam de ilhas próximas e de outras cidades ou vilas da costa.

— E com o dia de hoje, ela está ficando mais bonita.

Coniuro é uma das grandes cidades da costa do Grande Continente, é a cidade mais próxima de Pronuntio, com que tem vários tratados comerciais e sociais. A cidade possui muitas casas de diversos tamanhos, feitas de tijolos e madeira, tamanhos que dividem a população em classes sociais: quanto maior a casa, mais reputação e bens materiais o dono possui.

As ruas também são feitas de tijolos. e algumas só de terra. Na região central, há uma grande quantidade de comerciantes variados, como armeiros, ferreiros, joalheiros, alquimistas, padeiros, entre outros.

Em sua extremidade, a cidade dispõe de grandes muros e torres de vigia. A cidade ainda tem vários terrenos vagos, para que futuras casas ou comércio sejam construídos, nesses terrenos está um grande palco de madeira para as apresentações do evento e, atrás dele, algumas cabanas e pequenas barracas para que os artistas se preparem.

O evento está reunindo tanto visitantes quanto artistas dos arredores da cidade.

— Dia da água! Sabem a importância desse dia, meus caros Infantes?

Júlio responde de prontidão.

— Sim! O elemento “água” é uma das bases para a vida, assim como o ar que respiramos. Esse dia é celebrado por causa da importância desse elemento da natureza, que deu para algumas vilas, centenas de anos atrás, peixes, plantações, hidratação entre outros benefícios que ajudaram as pessoas. Até hoje eles comemoram isso, arrisco a dizer que é um dos motivos pelos quais Úrsula tenha assumido o título de “senhora da água” ou “Electi da água”.

— Boa observação, Júlio... Água é um dos grandes benefícios que nosso criador deu a Arbidabliu e aos seres vivos nela.

— E onde iremos nos apresentar, mestra?

— Acalme-se, Pedro... Vamos à estalagem e ver todas as informações; cuidado, pois hoje a cidade tem muita gente, mais que o normal.

— E eu ouvi dizer que o clã da adaga pode atacar.

— A defesa foi redobrada, mas os ladrões são experientes, um evento desses atrai muita atenção, então cuidem bem dos teus pertences.

— A senhora não vai nos acompanhar?

— Só agora de manhã. No momento do evento, todos os mestres foram convocados para uma reunião, mas com magia conseguiremos ver as apresentações de todos do castelo.

Rupert comenta com certo desgosto, mas com tom de brincadeira.

— Injusto a gente vir em um barco velho, e Ray virá em um barco de luxo.

Meena acrescenta:

— Não só ele como aquele grupo de alunos negros... Os “Monk”? acho que são onze, os pais deles sabem mesmo como procriar...

Ambos riem, e Onilda os repreende.

— Não falem isso de pessoas que vocês não conhecem, só porque eles são da mesma raça, não quer dizer que todos sejam irmãos do mesmo pai ou mãe. Ray teve que pegar um caminho diferente do nosso, porque a carta que o pai dele normalmente envia ainda não chegou, ele foi verificar, e o único barco disponível para retornar foi esse “luxuoso” que você falou.

Para tentar aliviar a tensão do clima, Doug comenta:

— Se eu soubesse, teria ficado com ele, eu não vou me apresentar no evento e eu poderia aprender mais sobre as técnicas de lutas desses “Monk”, é um grupo simpático.

Júlio acrescenta:

— Sim, já falei com alguns deles no trabalho e nós já vimos outros em alguns treinos, eles aprecem hostis, mas são legais, além de trazerem parte de uma cultura muito interessante.

Pedro e Donny também comentam.

— Sim, eu já os vi trabalhando e treinando, são bons no que fazem...

— Eu aprenderia algumas coisas com eles também, mas hoje tenho apresentação no evento, quem sabe em outro dia.

O grupo caminha até a estalagem, no caminho até lá, Rupert questiona Onilda:

— Por que estamos trabalhando mais do que treinando?

— Os estudos agora são focados nas classes que vocês escolherão seguir, aprender coisas pertinentes à classe para que sejam peritos naquilo; as ilhas dos Electi não estão centralizando em batalhas, a ideia é que a “paz” faça com que seu maior desafio seja se enquadrar à população que nelas moram, ajudar a população e aprender sempre mais, descobrindo boas formas de viver e prosperar.

— Buscar algo tranquilo?

— Sim, apesar de que, se você busca mais diversão ou adrenalina, existem algumas outras formas, além de batalhas sangrentas ou mortes.

— E os boatos sobre o Império de Cristal?

— Vocês são jovens para isso, deixe só nos boatos mesmo, muita coisa ainda está para acontecer referente ao império e ao Grande Continente, melhor aguardar as ações dos líderes dela.

Doug ouve sobre o Império e comenta baixo.

— O “Império Futrespurco”.

Onilda gosta do nome e comenta:

— Lembro-me desse apelido que vocês deram para ele, eu acho que combina.

— Então trabalhar para o futrespurco está fora de cogitação?

— Trabalhar para o “Futrespurco”?

— Fora dos boatos, eles dão uma “boa vida” para seus guerreiros e patentes altas.

— Pode ser que sim, mas, se você for para lá, tenha muito cuidado.

Pedro ainda comenta:

— Trabalhar para o Futrespurco? Não me imagino em um lugar como aquele.

— Tem que ter a mente aberta, Pedro.

— Como a sua, Rupert? Não, obrigado, serei restrito por enquanto.

Todos chegam a uma das estalagens da cidade, ela é aconchegante e simples, mas lotada de pessoas, algumas de raças diferentes, chamando a atenção de alguns que não têm muito contato com essa diversidade. Depois de o grupo arrumar seus respectivos quartos, todos vão comer.

— Um dos momentos mais esperados...

No almoço, Onilda aproveita e faz um questionário, como uma prova oral, para saber se os Infantes lembram-se de informações sobre Coniuro e sobre o dia da água. Durante o questionário, Rupert pede.

— Por favor, mestra, eu achei que hoje seria um dia para relaxar.

— Preciso saber se vocês prestaram mesmo a atenção nas aulas sobre as cidades. E se vocês viessem aqui sem supervisão? Se fosse uma missão, por exemplo.

— A gente iria arrumar algum jeito.

— Espero que seja um jeito em que vocês sairiam ilesos... E hoje vocês não estão aqui para relaxar, vocês disseram que iriam ajudar Pedro, Donny e Jake na apresentação deles.

Pedro comenta confiante.

— Dar moral e torcer por nós também.

— Certo... Mas podemos aproveitar o tempo livre também? Raramente a gente sai da ilha para um lugar diferente assim.

Onilda se recorda de algo e diz, terminando de comer:

— Lembrei! Tenho algo importante para fazer... Vocês, artistas, devem ensaiar e verificar os instrumentos antes da apresentação. Rupert, Meena, Júlio e Doug, ajudem-nos no que precisarem. Certo?

— Certo.

— E vejam se deu tudo certo na viagem do Ray quando ele aparecer!

— Vamos ver tudo isso, mestra.

A tarde passa com Doug, Júlio, Rupert e Meena andando pela cidade, vendo e conhecendo alguns pontos importantes dela; em algum momento eles veem um rapaz peculiar, que os intriga.

— Aquele homem parece um aurem...

— A raça aurem?

— Sim, olhe!

— Verdade... Eu ouvi falar de um assim por aqui, o chamam de “O Raposo”, ele deve ser integrante do clã da adaga.

— Vamos ficar em alerta, se ele for mesmo um deles, outros devem estar por perto.

Em um momento mais reservado, Júlio e Doug aproveitam para dar as mãos e agir como um casal, tendo mais contato físico, alguns beijos, e conhecendo mais da cidade. Alguns os olham com estranheza ou receio, mas Doug usa a confiança que recebe de Júlio para ignorar tudo isso. Meena, com o apoio de Rupert, os alerta.

— Já falamos para vocês tomarem cuidado em agir assim.

— Como quer que a gente faça?

— Sejam mais discretos, é para o bem de vocês, e do grupo, isso pode trazer confusão desnecessária.

Meena e Rupert se afastam para rever outras lojas de armas e artilharia, e Júlio fica em alerta para uma possível ofensa ou agressão, mas ainda mantendo contato mais amoroso com Doug. Felizmente nada de ruim acontece, fazendo com que eles se recordem de seus amigos.

— Romanze e Taikuri devem gostar daqui.

— Eu acho que não, esqueceu que eles não gostam de multidões?

— Eles não gostam de “Humanos”, hoje tem várias raças diferentes, talvez eles ficassem menos intolerantes.

— Verdade, mas depois daquela briga, eles estão restritos a muita coisa.

— Pena, mas eu gostei de saber o que eles fizeram com aqueles “porcos”.

— Doug? Como assim?

Doug fica tímido pelo exagero que Júlio dá à afirmação dele.

— Não faz essa cara!

— Não estou te reconhecendo, está malvado assim? Vingativo! Doug, o Vingador?

— Besta! Para, sabe que eu gosto de paz, mas aqueles idiotas mereceram.

Júlio ri por conseguir provocar Doug e o abraça.

— Estou brincando, na próxima seremos nós que faremos nossos inimigos sofrerem!

— Não, Romanze e Taikuri são bons nisso, deixe com eles.

— E o que nós podemos fazer?

— Vou deixar você pensar em algo.

— Serio? Não vale recusar o que eu quero.

Doug ri e fica tímido com a cara maliciosa que Júlio faz para ele, medindo seu corpo como se fosse devorá-lo.

— Para! Alguém pode ver essa cara de louco.

— Então vamos para um lugar onde ninguém veja!

— Não, vamos logo, estamos enrolando muito aqui.

Pedro, Donny e Jake ensaiam e preparam os instrumentos musicais para a noite.

— Sei que esse dia é pequeno para artistas novos, mas me sinto bem entusiasmado.

— Sim, sim! É importante para nós, a primeira apresentação oficial, assim pode ser um bom marco, um sinal do sucesso, quem sabe.

— Pena que não dão tanta atenção para artistas, acho que é uma classe pouca valorizada... E você, Pedro, por que pediu para o plano do romance ser menor aqui?

Jake ri e comenta:

— Ele recuperou a razão, foi isso.

— Não é isso, não deu para ver se aqui será bem aceito, então vamos com calma e com menos “amor”; além disso, eu também vou me apresentar com vocês para dar mais apoio em enfrentar a multidão.

— Obrigado...

— Não precisa agradecer. Eu também gosto de arte e dos “benefícios” que ela traz também.

­ — Vamos ver se aqui tem todos esses “benefícios”.

A cidade fica pronta para o evento, que se inicia no final da tarde; muita comida, bebida e encantamentos que colorem o ar um pouco acima da cidade, tudo belo e animador, todos os moradores ficam felizes e seus visitantes se sentem bem acolhidos.

Pequenas confusões acontecem, brigas e furtos, deixando a guarda do local em alerta, dando conta da maioria dos casos. Ray chega com alguns outros visitantes e com um grupo de negros que se intitulam “Monk”, o tempo que eles passaram juntos os aproximou, integrando Ray ao grupo como se fosse um deles.

— Obrigado pela companhia, vou ver se eu acho meus amigos agora.

— Foi bom, e boa sorte para você e seus amigos na apresentação, Ray.

— Obrigado.

 Ray entra na cidade um pouco cabisbaixo.

— Pressentimento estranho... Sinto que hoje não será um bom dia.

Ray admira a decoração da cidade e segue direto para o terreno vazio que está sendo usado para as apresentações do evento. Em uma das barracas grandes tem o emblema de Pronuntio com “Infantes” escrito sobre ela.

— Ficou bom!

Ray entra e se encontra com Pedro, Donny e Jake, em pouco tempo os outros entram na barraca, tendo o grupo todo reunido.

— Finalmente todos aqui.

Ray é bem recebido e aproveita para comentar sobre o que aprendeu com os “Monk”, falando um pouco da cultura deles e tudo que conversou até chegar à cidade.

Depois, ao lado de fora da barraca, todos interagem com outros artistas e ouvem algumas dicas de alguns mais experientes, entre os participantes do evento há familiares e amigos, entre esses, aparece alguém conhecido, que se aproxima e cumprimenta Doug.

— Doug, tudo bem?

— Khan? Você por aqui?

— Isso, legal que se lembra de mim.

Júlio se aproxima, insatisfeito com o reencontro, e diz.

— Não faz tanto tempo assim para esquecer... Infelizmente...

— Verdade... Vocês vão se apresentar também?

— Alguns do nosso grupo sim.

— Eu também, alguns amigos vão se apresentar e eu vim dar apoio.

A conversa termina rápido, Khan volta para seus amigos, e Júlio e Doug saem para ver um pouco mais do evento.

— Não simpatizo com ele, me parece um mau caráter e de má índole.

Doug ri por sentir um ciúme no ar e muda de assunto para não deixar Júlio estressado.



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