Arbidabliu: Infantes Brasileira

Autor(a): Magnus R. S. Alexandrino


Volume 1

Capítulo 23: Bebedeira

— A decoração ficou realmente boa.

— Verdade... Olhe!

Júlio e Doug avistam Taikuri e Romanze, que estão em uma mesa mais afastada das outras, ambos estão bem arrumados e vestidos, sempre priorizando o estilo de tecidos longos mais usados por magos, para mostrar sua magnificência. Taikuri sorri ao vê-los se aproximarem e diz com malicia.

— Júlio e Doug, não acham que foi muito cedo para “aprontarem” por aí?

Doug fica envergonhado, e Júlio, estranhando, questiona desconfiado.

— Você usou magia de novo?

— Não, foi só uma suspeita que vocês acabaram de me confirmar.

Taikuri ri com seu parceiro, e Romanze que comenta.

— Você é perverso.

— Às vezes... E você gosta disso...

— Às vezes...

— “Às vezes”? Achei que você gostasse quando eu pego...

— Olhem-nos aqui!

Júlio brinca, tampando os ouvidos de Doug, para indicar que ele é novo para ouvir esse tipo de assunto.

— Mudem de assunto.

— Sim, claro, os puros não podem ouvir sobre essa “intimidade extrema”, são jovens para isso... Mas eu sinto que desejam esse momento, e desejam muito.

Taikuri ri alto, e Romanze o interrompe, dando-lhe comida na boca.

— Coma um pouco, você está atacando muito hoje.

Júlio e Doug riem da forma como os dois são um com o outro e se sentam para comer.

— Olha, Doug, o que você gosta.

Taikuri e Romanze pedem mais comida para acompanhar seus amigos e ficam admirados com o carinho que eles têm um com o outro: Júlio sempre preocupado em pegar e deixar perto tudo o que Doug gosta, e com Doug que fica preocupado se Júlio está comendo o suficiente e se está focando em coisas saudáveis para o seu controle de energia, por usar mais magia do que os outros do grupo.

— Pândego, veja como eles são fofos um com o outro.

Doug estranha o apelido e questiona:

— “Pândego”?

— É uma forma “carinhosa” que eu chamo às vezes Romanze; ao contrário de seu nome, ele é mais “bobo alegre” do que romântico.

Mais alguns assuntos são abordados sobre treinamento, trabalhos voluntários, rumores de guerras do Grande Continente e algumas datas festivas do Antigo Mundo. Júlio e Doug se destacam novamente pela forma que agem, fazendo Taikuri se recordar de algo.

— Vocês me fazem lembrar de algumas histórias que eu li de Pando.

— Você diz a Floresta de Pando?

— Sim, igual àquela história que vocês viram da aldeia, eles foram para Pando no final, é um ótimo lugar para se viver se você for gay.

— “Gay”?

— É um termo que eu uso, mas simplificado...

— Como surgiu?

— Gaiato, abreviou para “Gai” ou “Guei”, assim Gay é mais bonito e mais fácil de falar e lembrar, ouvimos em alguns livros de Pando também.

— Interessante. Pando parece um ótimo lugar mesmo, bem à frente de outras civilizações.

— Sim! Quando tiverem alguma aventura e for perto de Pando, façam uma visita.

— Vocês já foram?

— Não, mas é maravilhoso, só de ouvir e ler as histórias de lá.

— Então vocês conhecem alguém que já esteve lá?

— Sim, o mestre Jimu Gym...

Eles são interrompidos por uma voz conhecida, que chega agitada.

— Como, como, como assim? Ouvi “Jimu”, mas parece que vocês queriam dizer só Gym.

— Me desculpe, mestre “Gym”!

— Melhor assim, rapaziada, uma festa dessa e vocês ficam importunando os outros, isso é feio!

Todos riem de Gym agindo como Gym sempre age; ele oferece uma bebida forte e, com a recusa de todos, ele diz orgulhoso:

— Admirado... Fico admirado em ver jovens ficando longe de bebidas assim.

— Mas você ofereceu e ainda vai bebê-la.

— Gym já é um caso perdido, rapaziada, mas não quer dizer que eu não testei vocês agora... Fiquem atentos.

— Sei...

— Até mais, tem umas amigas arco-íris querendo minha presença.

— Até mais...

Quando ele se afasta, Taikuri comenta.

— Sei muito bem o que essas “amigas” querem... Eu terei um pouco disso hoje, Pândego?

— Se parar de me chamar assim, quem sabe.

— “Quem sabe”? Você já foi melhor...

Júlio e Doug acham que eles podem brigar e mudam de assunto.

— Vocês leram a história de Blanco? Lemos e gostamos muitos.

— Sim, sim, o “Cavalo Electi”, no Grande Continente deve ser mais comum de achar um desses.

— Só lá?

— No Antigo Mundo tem muitos caçadores e feiticeiros que matam seres poderosos assim para fazer rituais mais obscuros... De qualquer forma, eu espero ver um de perto um dia, ou até montá-lo.

— Se for como a história, ele é muito rápido.

— Sim, e difícil de ser domado, apesar de que Blanco era sensível e se familiarizava bem com pessoas “boas” e “puras”.

Romanze pega o copo em que Taikuri iria beber e diz, antes de acabar com o que há no copo, deixando Taikuri sem suco.

— Boas e puras? Então eles não irão gostar de você.

— Você é mais maldoso que eu e está me importunando, irei castigá-lo hoje.

— Esse é um assunto mais interessante.

Logo eles se distraem com a apresentação do teatro, música e dança de alunos mais velhos, quase na formação de seus treinamentos. Tudo é encantador, tendo muito a ajuda e o auxílio de mestres de poder, que enfeitam o ar e o céu com luzes e ilusões bonitas e que realçam o que é dito, interpretado e cantado pelos grupos.

Depois das apresentações principais, todos voltam a suas rodas de conversa. Júlio e Doug veem que Pedro, Donny e Jake não conseguiram se apresentar, mas que conseguiram um grupo grande de fãs para ouvir suas canções em uma área livre para os convidados.

— Romanze, Taikuri, venham ver nossos amigos, eles são bons.

— Aqueles do “Jakdon”?

— Sim!

— Esses merecem meu tempo.

Taikuri e Romanze gostam deles por achar que eles sempre estão interpretando alguma história de romance de Pando, “interpretação” que eles veem nessa apresentação. Nessa, em especial, todos veem que Jake está mais afetivo do que Donny, tocando, se aproximando mais e olhando fixamente em momentos que a música fala sobre amor ou amizade profunda.

Pedro aproveita e consegue ouro para os três, e consegue seduzir algumas moças, ganhando alguns beijos e a garantia de algum chamego depois. Como a troca de carinho entre eles é bem explicita, alguns que acham tudo isso estranho e desnecessário se afastam; três lutadores que ganharam nas disputas anteriormente veem a cena e reclamam alto.

— A qualidade das lutas e da arte está péssima!

— Esses “veados” e “gazelas” deveriam ter um canto só deles e parar de incentivar essa arte nojenta.

O comentário é forte e gera uma pequena confusão, com Pedro liderando isso e afrontando em um tom alto:

— Se tem algum problema com meus amigos, vamos brigar só nós, acham que só porque ganharam de alguns bêbados que são os maiores?

— Você é um deles então?

— E se eu for? Qual o seu problema com isso?

Donny e Jake se preparam para atacar, mas a confusão é interrompida por um mestre que, só com sua presença, dispersa a multidão. Ainda se afastando, o cara comenta:

— Essa “raça” é tudo músico, porque, para ser um guerreiro, tem que ser homem de verdade.

Donny fica preocupado com seus amigos e questiona:

— Jake, Pedro, vocês estão bem?

— Sim, sim... Aqueles idiotas.

— O que esse povo tem na cabeça?

Taikuri comenta quando se aproxima com Romanze, Júlio e Doug.

— Obviamente nada, esses bêbados só pensam com o músculo e só dão vexame.

Jake percebe que os quatro viram e ouviram tudo e suspeita de que eles devam ter ficado ofendidos com o que foi dito, por serem ofensas direcionadas a pessoas como eles.

— Me desculpem, amigos, aquele cara falou coisas que vocês não precisavam ouvir.

Júlio e Doug não demonstram preocupação, e Júlio ameniza o desconforto de Jake.

— Sem problema, já ouvimos esses babacas antes, independente do que somos, sempre haverá idiotas querendo nos ofender.

Pedro ficou mesmo estressado e, para melhorar seu humor e do grupo, ele os leva para uma mesa mais tranquila, perto de outros músicos que estão cantando músicas mais alegres e festeiras.

— Vamos animar as coisas!

Doug é o único a perceber que Romanze e Taikuri ficaram mais sérios e calados depois da discussão; mesmo perguntando se algo os incomoda, ambos comentam que só estão cansados da noite e que não ficarão na festa até o fim. Em um momento de desconcentração, ouvindo uma música que diz que todos podem ter vindo da evolução de animais diferentes uns dos outros, Júlio comenta com Doug.

— Seríamos dois lobos, belos, ferozes e fiéis.

Meio desanimado, Doug comenta:

— Pelo que dizem, nós seríamos dois “cervos”, veados...

Júlio abraça Doug e diz:

— Podemos ser, mas isso não muda nossos caráter e qualidade, não importa o que os outros achem de nós, sempre seremos cheios de virtudes e melhores do que eles.

— Sim, estamos treinando para fazer a diferença no mundo e para o mundo.

— Infantes!

Pedro, Donny e Jake ouvem Júlio falar o nome do grupo e aproveitam, fazendo um brinde.

— Aos Infantes!

— Infantes!

Quando o grupo menos espera, Taikuri e Romanze já foram embora sem se despedir. Doug ainda fica preocupado, mas segue no ritmo de seus amigos em se divertir e conversar. Pouco tempo depois, Taikuri e Romanze encontram o cara que ofendeu sua classe de Descendentes de Ivo; o cara está com os seus comparsas, terminando de beber e já em frente do dormitório para se recolherem.

— Hoje foi muito bom, ganhamos de vários idiotas.

— Esses novatos são todos fracos, vão morrer fácil nas batalhas reais.

— Eu gostava de antes, quando tínhamos que sangrar mesmo, assim esses fracotes seriam eliminados no início e não ficariam por aí passando vergonha.

— Teríamos mais bebidas, comida e mulheres, apesar de que muitos nem gostam de mulheres.

— Sim, e nem inventado musiquinhas para disfarçar a nojeira que são.

Taikuri e Romanze ouvem tudo sem serem vistos, e Romanze confirma, falando baixo no ouvido de Taikuri.

— Eu verifiquei, os mestres estão longe, cuidando do evento.

— Ótimo... Está na hora do nosso evento começar.

Taikuri usa sua magia e cria uma bolha ampla que os engloba eles ao grupo do seu oponente, para abafar um pouco do som que irão fazer. Romanze dá a volta e aborda o grupo pelo outro lado.

— Sei que estão cansados, mas vocês terão que sentir um pouco a dor das consequências de suas ações de hoje.

— Que idiota é esse?

— Idiota não, “veado”, guarde bem o vocativo.

— Ele é um daqueles estranhos.

Romanze já tinha pegado os baldes com a sujeira do banheiro do dormitório deles e com magia ele arremessa tudo que está nos baldes, desde fezes a urina, que banham seus inimigos, com exceção do líder, que recuou, os outros ficam enfurecidos e atacam Romanze que, com alguns movimentos de mão, gera um frio intenso, que faz a urina esfriar e a paralisar o músculo deles.

— Maldito, não pode usar magia fora do treino!

— Vocês são guerreiros de elite, não achei que só lutam dentro de regras.

O líder saca uma adaga e a lança em Romanze, que com magia, consegue que a arma venha em uma velocidade baixa até a sua mão, para usá-la.

— Não gosto de armas, não, mas vou aderir a sua sugestão hoje.

O líder sente o estalar de uma chicotada nas costas e, ao virar, vê Taikuri bravo e com os olhos penetrantes, como se já estivesse olhando para o corpo sem vida de seu inimigo.

— Eu sou apaixonado por bacon, mas é uma pena saber que algo tão saboroso vem de bichos com você. Porco!

— Você que é nojento! Desregrados!

Antes que o líder ataque, ele sente outra chicotada no rosto, nas costas e nas pernas, fazendo-o cair de quatro no chão. Ao gritar de dor, ele vê que, no lugar de sua voz comum, sai grunhidos de um suíno. Desesperado, ele vê que não consegue se levantar ou sair do lugar. Taikuri se aproxima e comenta.

— Que porco barulhento, ouvi falar que, se abater um porco nesse estado, a carne não fica boa.

Outro da turma sai do dormitório e sem pensar ataca Romanze, que reclama do cheiro.

— Como vocês fedem, falando tanta merda só podem cheirar a merda mesmo.

Romanze se esquiva dos primeiros socos e segura o punho do seu oponente, seu olho brilha forte, lançando um feitiço no seu atacante, que sente uma dor forte de cabeça, que o descontrola. Ele tenta fugir, mas o seu braço congela rapidamente.

— Que magia é essa?

Romanze está bravo e com força quebra o braço congelado, usando a adaga.

— Bom, mas mesmo assim não vou aderir ao uso de armas assim.

O homem grita desesperado enquanto Taikuri, ao ver seus inimigos em desespero, se aproxima e estapeia forte a cara do líder.

— Está bom para você, porco? Infelizmente eu não posso demorar muito, vocês não valem tanto do meu tempo... Alguma última palavra?

Taikuri o libera do feitiço para que fale e, mesmo com muita vontade de xingar o cara, grita:

— Socorro! Socorro!

Taikuri se afasta e ri.

— Me surpreendeu, confesso.

— Socorro! Jimu! Mestre Jimu!

— Espere... Não, não diga o nome errado...

Taikuri sente que sua bolha mágica foi estourada e vê Jimu Gym afastando-o do seu inimigo.

— Decepcionado, rapaziada, uma festa boa que tivemos, e vocês agindo assim?

— Como ele fez isso?

Jimu Gym, com educação, pede para Taikuri e Romanze se afastarem e esperar por ele, pois ainda tem uma palavra a dar para eles; ambos têm desprezo pela situação, mas respeitam, por se tratar de Jimu Gym, que está ordenando isso.

Jimu Gym dá umas tapas fracos na face do cara sem braço, revelando para ele que era uma ilusão, e que ele não perdeu seu braço.

— Vocês beberam muito, magia mental é mais com vocês assim... Cruzes! Vocês estão cheirando muito mal, vão todos se banhar rápido!

O líder se levanta e fala com Taikuri e Romanze:

— Gostam de luta injusta? Nos atacando cansados de uma noite inteira de lutas?

Taikuri se aproxima e diz confiante.

— Nem com décadas de treino, a luta entre nós será justa, pois você sempre será um porco sujo que só fala besteiras.



Comentários