Arbidabliu: Infantes Brasileira

Autor(a): Magnus R. S. Alexandrino


Volume 1

Capítulo 21: Corações de Mães

— Tem alguém ali... Moésawa?

Aíka fica apreensiva por ver sua amiga impedindo seu caminho, mas, pelo respeito, ela não a ataca e se aproxima para conversar.

— Moésawa, amiga, por favor, não impeça!

Por estar escuro, Aíka não percebeu que sua amiga está em prantos e, com os olhos inchados de tanto chorar, Aíka abraça forte, e Moésawa fala.

— Eu faria de tudo por você... Você é como uma irmã...

— Sim, eu sei disso, você também é uma irmã para mim.

— Jura? Nunca mentiria para mim?

— Não! Jamais! Eu juro que te vejo assim também...

— Então... Por favor, não negue o meu pedido.

Moésawa olha para a carruagem e pergunta:

— Yawara, você está levando ele para Pando?

Aíka desconfia de que o pedido de Moésawa seja algo com o seu filho e se afasta da amiga.

— O que tem Yawara? Jurupari obrigou você a falar comigo?

— Não, não...

Moésawa chama alguém dos arbustos, e Ikatu aparece. Aíka estranha e questiona.

— Por que Ikatu está aqui?

— Aíka, amiga, leve-o com você, leve-o para Pando.

A mente de Aíka dá um giro, deixando-a tonta por um instante, ela então percebe e entende tudo o que aconteceu e o que está acontecendo.

— Eles são o Aisu, eles são iguais...

— Sim...

— Você sabia!

— Sim, mas não sabia o que fazer... Por isso eu desejo chegar a Pando, aqui os meninos vão morrer.

Aíka sorri e compartilha a aflição de uma mãe nessa situação. Aíka pega na mão da amiga e diz confiante e mais animada.

— Então vamos todos nós!

— Não posso!

— Como não? Você não pode ficar.

Ikatu está confuso e triste por saber tudo o que está acontecendo e que está em perigo. Moésawa pede para que ele entre na carruagem e ela se explica para Aíka.

— Eles vão te caçar, e com Ikatu com você, a busca será mais forte, eu tenho que ficar e ajudar a fuga de vocês.

— Não, eles vão te matar!!

— Aíka, fale o que pensa, diga a verdade para mim... Você sabe se Pando irá receber você?

— Não, eu acho que vou morrer...

— Você morreria pelos nossos filhos?

— Sim...

— Então eu farei o mesmo, vão e não olhem para trás, deixe nossos filhos a salvo desse mundo de ódio e egoísmo.

Aíka e Moésawa se abraçam e choram, elas se despedem lembrando-se de momentos juntas, e Aíka diz, arrancando parte de sua roupa.

— Não, eu estou pronta para morrer, mas não em saber que você também vai.

— O que você está fazendo?

Aíka entrega a parte que ela rasgou para Moésawa.

— Diga que eu o sequestrei.

— O quê?

— Diga que você tentou me impedir e que eu traí nossa amizade.

— Não! Eu não posso fazer isso com sua lembrança.

— Pode e deve! Você sabe a verdade, minha linhagem já está atacada, use isso e se proteja, prefiro ter mais ataques ao nome da minha família do que saber que você morreu por isso, você é muito importante para mim.

Moésawa abraça forte Aíka, já sentindo saudades dela e de se filho.

— Cuide de Ikatu, por mim.

— Pela minha vida, eles chegarão a Pando... E serão felizes...

Moésawa se despede de seu filho e de Yawara, que estão na carruagem.

— Cuidem bem um do outro, e não esqueçam que vocês são bons, não importa o que os outros digam... Vocês são bons, e a mamãe ama vocês.

Moésawa corre de volta para a aldeia; no caminho ela se suja de lama e folhas para dissimular que foi atacada, e, por estar claramente desesperada e triste, ela consegue enganar todos, dizendo que Aíka fugiu e levou seu filho por vingança contra Jurupari, uma forma que ela achou de culpá-lo sempre pela perda do seu único filho.

Moésawa também deu informações erradas para atrasar o rastreamento e a caça dos guerreiros. Dias e noites se passaram, comida foi acabando, e o medo do receio do futuro incerto foram deixando Aíka e os meninos tristes e sem ânimo.

Aíka vê que, além de se perder, acabou subestimando o tempo que gastaria para chegar à floresta amarela de Pando, mas, em um belo dia, a moral dos três se elevou ao ver a floresta.

— Ali, meninos! Estamos chegando... Floresta de Pando.

— Falaram muito mal dessa floresta, tia Aíka.

— Sim, mas é tudo mentira, lembra o que eu falei para vocês?

— Sim, é uma floresta mágica e, quando chegar, é para a gente chamar nossos amigos, encostando nossa mão na árvore.

— Isso! Toquem na primeira árvore amarela que virem, a magia funciona com pessoas boas como vocês, e peçam para entrar.

Esses dias de viagem são desafiadores, ainda mais para quem não tem costume. Aíka está distraída e fraca, pois sempre focou a água e alimento para os meninos, além das noites maldormidas, vigiando com medo de algum inimigo abordá-los.

Mesmo passando por territórios hostis, Aíka e os meninos tiveram sorte em não encontrar nenhum obstáculo. O cansaço deixou Aíka descuidada e não percebeu que inimigos estão próximo dela, ela só notou quando uma flecha acertou a carruagem.

— O que foi isso?

Ao olhar para trás, ela vê Jurupari com seus guerreiros montados em cavalos e em alta velocidade. Aíka se desespera e açoita o cavalo para agilizar sua chegada. Yawara fica preocupado com Ikatu e o protege, tirando de visão e ficando à frente dele para que não seja acertado.

Aíka vê que está próxima e pede para os céus que a ajudem. O mais próximo deles é Jurupari, que está ansioso pela morte de Aíka e de seu filho. Ele conjura um poder antigo, passado de chefe para chefe de aldeias, contra a carruagem.

Sowo Iyagayvli!

Em sua mão se forma uma lança mágica gerada da energia da natureza ao redor; essa lança age como um raio, e, ao atirá-la, ela corta o ar e gera mais energia, causando a destruição da carruagem. Aíka conseguiu nos últimos instantes salvar Yawara e Ikatu, e, ao desprender a carruagem do cavalo, ela insiste para acelerar, mas o cavalo está fadigado. Jurupari usa seu poder novamente e os acerta; o cavalo morre, e Aíka fica ferida. Na queda, Yawara se fere mais por tentar proteger Ikatu; eles se arrastam e Aíka pede:

— Filho! Vão para a floresta.

— E você?

— Vão!

Eles estão bem próximos da floresta amarela. Ikatu está confuso e com medo, e Yawara corre, sendo quase acertado por outra lança de Jurupari. Os meninos a abraçam à primeira árvore de folhas amarelas e pedem por socorro. Com esforço, Aíka se levanta para chamar a atenção do inimigo.

— Aqui! Maldito!

Jurupari se aproxima, ordenando para seus guerreiros se prepararem para atacar. Aíka anda de costas se aproximando da floresta. Por ver que Yawara ainda está no campo de visão dos guerreiros, ela pede:

— Entrem na floresta, não saiam dela!

— Mãe, e você?

— Por favor, filho, entre, Ikatu precisa de você!

Eles correm, deixando Jurupari bravo, pois ele nunca ousaria entrar na floresta titulada como maldita e mortal. Aíka teme ser morta pela floresta ou pelos guerreiros e diz, ao ver Jurupari enfurecido.

— Faça! Minha missão está feita.

Jurupari grita de longe.

— Entregue meu filho!

— Não! Você e Moésawa foram enganados, aceitem. Agora ele está livre de vocês!

— Se não entregar ele, você morre!

— Você nunca mais os machucará, acabou!

Sowo Iyagayvli!

Com a lança de Jurupari, há as flechas de seus guerreiros para matar Aíka que não vê outro destino além da morte; ela agradece por seu filho não ver isso e agradece aos céus por ter conseguido salvar os dois meninos. De braços abertos, ela aceita seu destino.

— Amor... Eu estou indo...

Yawara aparece desesperado ao ver a cena, o grito dele espanta Aíka, que teme pela vida de seu filho.

— Não veja isso! Corra!

— Mãe!

A lança de Jurupari e algumas flechas acertam Aíka, atravessando seu corpo, a cena é forte e chocante, mas incrivelmente estranha, pois Aíka não sente dor e nem vê sangue, os projéteis atravessam seu corpo, como se ela fosse espectral, sem causar danos a ela. Com mais atenção, ela percebe que o seu corpo está encantado.

— Tupã?!

Os guerreiros se assustam ao ver que Aíka está viva e intocada pelos ataques, mas Jurupari tenta mais uma vez, ele atira a lança, que desaparece em pleno ar. Em seguida, homens bem armados e com armaduras saem de dentro da floresta, se posicionando para atacar Jurupari e seu grupo, entre eles um mais forte grita, com sua voz trovejante.

— Único aviso! Voltem ou morram aqui!

Aíka se ajoelha perante os guerreiros da floresta, com medo de ser atacada. Jurupari e seus guerreiros temem os homens amaldiçoados da floresta e fogem. O que tranquiliza Jurupari é saber que Aíka será morta pelos inimigos que vivem ali.

Enquanto se afastam, os homens da floresta investigam a redondeza para saber se não há mais ameaças. Yawara e Ikatu saem da floresta e abraçam forte Aíka, que teme que eles possam ser rejeitados.

— Por favor, homens da floresta amarela, esses meninos são como vocês... Eles são bons... Peço que cuidem bem deles.

Eles acham engraçada a forma com que ela se dirige a eles e comentam entre si.

— “Homens da floresta amarela”? Não é um nome ruim.

— Sim, já fomos chamados de coisas bem ofensivas, mas essa é nova para mim.

Um homem mais velho e mais sério se aproxima e os alerta.

— Parem com esses comentários, não veem que ela está apavorada?

— Desculpe.

Aíka está confusa e, antes que se explique, esse mais velho a aborda.

— Por favor, levante-se. Seus inimigos já se foram, tenha calma e nos explique o que vocês vieram fazer aqui.

Aíka demora a responder, achando estranho não haver agressividade e intolerância nesses homens; para ter certeza, ela questiona.

— Vocês são “Filhos de Ivo”?

Os outros estranham, olhando um para o outro e respondem.

— Sim, e a senhora é?

— Eu... Eu sou Aíka, Aíka Atuká, e esses são meus filhos Yawara Atuká e Ikatu Ukena eu vim trazê-los, minha tribo não aceita pessoas...

— Como nós?

— Sim...

— Certo... Bem, então vamos entrar?

Yawara pede, com o apoio de Ikatu:

— Senhor, por favor... Quero minha mãe comigo.

— Tia Aíka é minha segunda mãe, quero ela com a gente.

Aíka acha que é pedir muito e tenta convencer seu filho a seguir em frente e deixá-la; ao iniciar seu diálogo, o homem a interrompe.

— Não! Onde a senhora ouviu falar sobre nós?

Os outros riem, e o homem reforça.

— Floresta de Pando é um lar para todos. Você como mãe pode com certeza viver com eles.

— Sério? Isso é verdade?

— Bom que conhecerá melhor a floresta e como somos realmente.

— Obrigada...

Os olhos de Aíka, Yawara e Ikatu transbordam felicidade a alívio, eles se abraçam forte, emocionados, gerando comoção entre alguns homens que ajudaram, e um deles comenta.

— Essas poeiras que vêm direto nos olhos... Vamos indo...

O velho analisa melhor o estado dos três e diz.

— Vejo que estão cansados, famintos e sinto que debilitados por algum tipo de veneno, vamos cuidar desses pontos e depois a senhora conhecerá a verdade sobre Pando, muitos demonizam esse lugar por medo do que somos, mas somos tão filhos do criador quanto qualquer um.



Comentários