Arbidabliu: Infantes Brasileira

Autor(a): Magnus R. S. Alexandrino


Volume 1

Capítulo 09: Amizade

Manhã, 20 de novembro 1580 – Pronuntio. Campo de Treinamento Quatro Chifres.

A chuva cobre os campos de treino de Pronuntio, o frio e o vento dificultam mais os treinos de todos, porém os mais experientes estão se saindo bem. Onilda ao longe vê que seus Infantes estão em mais um treinamento, no qual todos estão agindo como um grupo e despertando cada vez mais seus dons, tanto em batalha quanto na vida cotidiana.

— Incrível como em poucos meses eles mostraram uma grande evolução!

— Fenomenal esse seu time, Onilda.

— Não são só meus; depois que Úrsula assumiu e fez essas mudanças e interações de mestres, é um orgulho dizer que todos os professores estão juntos nessa jornada, então o mérito é de todos nós.

— Oh ká! Valeu por me valorizar!

Falando com Onilda está outro mestre de treino, homem, humano, trinta anos com aparência de vinte e quatro, pele clara, olhos escuros, cabelos curtos e pretos, seu porte físico é forte e bem musculoso e de estatura alta.

Ele usa vestes como de um lutador, cobrindo mais a parte inferior do corpo do que a superior, ele tem um jeito legal de falar e de se expressar, sempre ganhando a atenção das mulheres e alunas por perto. Onilda vê algumas o admirando escondido e ri com isso.

— Tu mereces ser valorizado, sim, Jimu Gym.

— Não. Gym me representa mestra, só Gym!

— Desculpe, eu ainda não estou acostumada...

— Relaxa, que vai natural... Mira lá! A Meena, sou fã dessa garota.

No campo de treino, Meena está mostrando o seu ponto forte, a força bruta. Em um grande labirinto, ela derrota inimigos e abre caminho destruindo paredes mais finas. Juntando-se a ela chegam Rupert e Donny, ambos bons de mira; usam armas a distância para dar cobertura para que Meena ajude Ray e Jake, que foram cercados e pegos por uma armadilha do labirinto.

Jake também é bom de mira e, como está focado em ser um “cantor de batalhas”, ele canta a música dos Infantes para motivar o grupo e fazer algumas brincadeiras, entre os trechos da letra da música ele elogia e depois zomba de seus companheiros, deixando algumas situações bem engraçadas. Jimu se alegra com a canção no meio da batalha e elogia:

— Fenomenal, fenomenal!

Ray se distrai às vezes com a música, ficando distante dos outros com o tempo. Com mais foco, ele consegue manter bem a defesa até a chegada de Pedro, que os ajuda a chegar até os outros.

Um pouco mais escondido dos oponentes estão Júlio, que está concentrado em dar energia e encantamentos que melhoram o desempenho do grupo e Doug, que o defende com sua técnica de luta. Assistindo ao treino, Jimu questiona:

— Onilda? Você deu essa mentalidade pro rapaz dos apoios mágicos?

— Sim, em meus estudos eu vi muito sobre magias benéficas; como ele se interessou, eu acabei passando muito do que eu sei para ele, até o final do outro ano já devo encerrar esse ensino.

— Legal, Legal.

— E você também deu algumas dicas para Meena e Doug? Vejo que nesses últimos meses eles tiveram uma melhora nas técnicas de lutas.

— Nem tanto, Úrsula é uma mãe, me deu liberdade para treinar aqui e treinar essa geração cheia de talentos.

— Bom que você chegou nessa época, porque antes estava muito complicado.

— Sei disso, sei disso, escutei dizer que o clima aqui era bem pesado.

Onilda ainda ri do jeito peculiar com que Jimu fala e se expressa com sua linguagem corporal, e, para disfarçar o riso, ela comenta:

— Jake canta muito bem, ele faz umas rimas e encaixes engraçados nas músicas.

— Mira lá! O rapaz dos apoios representando de novo!

Os Infantes estão chegando ao fim do objetivo, Júlio com Ray tinham desvendado o mistério do labirinto, permitindo que os de força bruta pudessem quebrar algumas das paredes e para que os de ataque a distância pudessem ter uma visão e o alcance melhorado.

Os inimigos eram alguns outros alunos com armadura e alguns fantoches de madeira manipulados por magia, por um mago que auxilia nos treinos.

Terminando o treino, todos se reúnem com Jimu e Onilda. Todos comemoram e Jimu diz animado, abraçando Júlio.

— Rapaz dos apoios! Vocês vão escutar e não vão acreditar, desde que pisei como treinador aqui em Pronuntio, não vi ninguém mentalizar o labirinto... Esse aqui também, é Ray seu nome?

— Sim, senhor.

— Senhor não! Gym. Chama de Gym... Mas o trato secreto era assim: o líder do grupo que mentalizasse o labirinto levaria um prêmio.

Pedro pergunta para Onilda:

— Mentalizar o labirinto?

— Ele quer dizer desvendar, descobrir, colocar o labirinto na cabeça.

— Quanta tradução.

— É que eu também não sei ao certo, mas vamos seguir a ideia dele.

Jimu mostra um emblema do mais luxuoso hotel de Pronuntio usado só para visitantes de alta classe e comenda.

— Divine agora cuida de seus visitantes, e o hotel diminuiu a frequência, mas ainda é belíssimo e confortabilíssimo... O líder hoje leva o emblema e fica oito dias tranquilos lá, aproveitando tudo que eles têm, e eles têm muito, eu aprovo.

Jimu entrega o emblema para Júlio, ele pega, dá para Ray e diz:

— Mas o líder de hoje é o Ray, então Ray ganha o prêmio.

— Erro meu, erro meu, eu achei que foi o rapaz dos apoios que era o líder.

Ray olha para Júlio e diz:

— Jim... Gym está certo, você foi um grande apoio hoje, você merece o prêmio.

— Não, Ray, pode ficar...

Onilda gosta de ver como um reconhece o outro, e Jimu fica chateado.

— Erro meu, não mentalizei algo assim, achei que iriam gostar.

Ray demonstra gostar do prêmio e pede:

— Mas o prêmio é bom, Gym, será que não daria para dividi-lo? são oito dias e somos oito integrantes.

— Você jogou um mistério pra mim...

Onilda fica muito feliz com o pedido de Ray e o ajuda, falando com Jimu.

— Gym, veja como hoje é um grande dia, eles desvenda... É, eles “mentalizaram” o teu labirinto e agora demostram generosidade em dividir o prêmio... Por favor, fale com o grupo do hotel para que essa divisão seja possível.

Jimu pensa um pouco e, sorrindo, concorda.

— Oh ká! Hoje é um grande dia! Valeu, vou falar com o hotel para deixar esse plano do Ray. quem está liderando esse mês é uma boa amiga do arco-íris, então será mais fácil.

Todos estranham o termo, e Onilda diz, mudando de assunto.

— Colorido, então! Então, então... Mas o que vocês iam fazer, se não desse para dividir?

Todos se olham, e Ray diz, rindo:

— Íamos dar para nossa mestra, você!

Onilda ri alto e diz, brincando com Jimu.

— Melhor você não falar com sua amiga lá, trato é trato. Se é só um, então será só um. Pode ir ao hotel!

— Assim não vale!

Todos riem e, caminhando para o refeitório, Júlio questiona Onilda?

— Será que eu e o Doug podemos ir juntos?

— Juntos onde?

—Ao hotel.

Onilda fala mais alto por impulso, mas logo se conserta:

— Não!... Desculpe, é que fica inapropriado, sabe, cada um tem um dia, e as acomodações são próprias para um só. Um come, e o outro olha?

— Eu economizei dos trabalhos...

— Não, fazemos assim, vamos deixar o dia de vocês seguidos, assim vocês podem comer junto no salão, aproveitar o lago, rio...

— E a cama?

— Cama? Pelo criador! Não sei! Melhor... Faça o que tem que fazer e não me conte, pode ser assim?

— Não entendi.

— Eu também não estou entendendo... Mas tudo que se passar no hotel você não me conta, é um segredo, não conte para mim, se puder, não conte a ninguém, assim não surge inveja entre os outros, entendeu?

— Acho que sim...

— Ótimo, agora vamos comer porque hoje vocês tem muito trabalho a fazer.

Todos iniciam a tarde comendo e descansando, depois todos seguem com serviço comunitário, ajudando a população de Pronuntio; e em seguida vão para seus trabalhos comuns. Com a amizade já fortificada entre os Infantes, eles arrumam algum jeito de se encontrarem em algum momento durante o período de trabalho. Ray se encontra com Júlio.

— Júlio, você não me falou que era difícil caçar pragas.

— Você pega o jeito, às vezes até parece aqueles treinos de agilidade e destreza, muitas das coisas que treinamos para a batalha dão para ser usadas na vida comum.

Júlio com Meena:

— Meena! Eu estou gostando de trabalhar com poções mágicas e não mágicas, o ruim são as entregas, são muitas.

— Eu gostava mais das entregas, ver as pessoas doentes ficando melhor, é muito bom.

Meena com Rupert:

— Rupert? Você gostou de ser o “Bobo”? Tem momentos que me estressa.

— Todo momento eu me estressava, mas as brincadeiras que davam para fazer aliviavam isso.

Rupert com Jake:

— Você se adaptou fácil no começo? Não sabia que tinha que levar alguns animais domésticos para passear.

— Foi fácil. Eu gostava mais dessa parte, porque ficar na fazenda ou no casarão limpando sujeira, dando comida e até cuidando dos doentes era difícil, muita coisa seguida.

Jake com Donny:

— Meu amigo Donny! Quantas coisas gostosas para entregar e pra comer, bom que algumas entregas eu faço correndo, para emagrecer o que eu estou engordando.

— Nem me lembre disso. Me dá saudade desse trabalho, bom que você está gostando... Ninguém vai ver, vem aqui e me dá mais um daqueles doces...

Donny com Pedro:

— Pedro, menino feio! Eu achava que eu só acordaria as pessoas, mas a essa hora eu tenho que avisar dos acontecimentos ou lembrar os outros de coisas.

— Sim, você é um “anunciador” ou um “mensageiro vocal”... Bom que você gosta de cantar igual ao Jake, então cante, menino feio, cante!

Pedro e Doug:

— Doug, você sabe que é meu amigo, então me ajuda, não tem algum item mágico ou encanto que ajude? Eu suspeito de que Júlio te ajudou algumas vezes, ele sempre te ajuda.

— Não pode, porque o “trabalho” é esse, é como um treino de disciplina... E Júlio não me ajuda... Só algumas vezes...

Doug e Ray:

— Ray, obrigado pelas dicas e atalhos, está ajudando muito! Como eu já estou acostumado a andar com o trabalho antigo, esse já não fica difícil.

— Ótimo, se precisar de mais alguma coisa, é só falar.

No início da noite todos os Infantes se encontram no refeitório para comer, todos estão animados e bem-dispostos por ter sido um dia bom e produtivo para todos. Ao saírem, eles vão ao encontro de Onilda, que está em uma praça, comendo sapota preta.

— Mestra, deve amar essa fruta.

— Sim, com certeza! Querem?

— Não obrigado...

— E o que vocês fazem aqui?

— Viemos ver nossa Onilda, mestra favorita.

— Isso não é boa coisa, o que vocês querem?

Eles riem, e Rupert pede.

— Eu serei o líder no próximo treino, e gostaria de uma chance para irmos pro “Cinco Chifres”!

— Tem certeza disso?

— Sim, senhora!

— Todos aqui sabem a história dos guerreiros caos, não?

Júlio é proativo e responde.

— Sim. Os campos de treinamento representam a dificuldade de enfrentá-los, então, quanto mais chifres tiver, mais difícil será.

— Isso mesmo, e alguns alunos que estão no final de seus treinos já foram no sexto e sétimo chifre e saíram feridos.

— Por que não existe o campo de Dez Chifres?

— Vocês já deveriam ter notado, pois há falta de espaço e não é necessário também, o oitavo e o nono chifres são usados para aulas de relaxamento e para algumas apresentações.

— Um dia queremos chegar ao nono.

— Não precisa, esse campo, antes das mudanças de Úrsula, era obrigatório, e alguns morriam nos últimos chifres. Hoje em dia serve só para acompanhar o nível dos guerreiros, vocês podem concluir seus estudos e treinos sem precisar passar do “Quatro Chifres”.

— Sabemos disso, mas queremos mais.

— Certo... Vou ver com Jimu um horário amanhã.

Jimu surge, assustando Onilda e alguns alunos.

— Chamou, chamou? Se chamou, chamou errado, porque é Gym... Gravou?

Todos acham a frase engraçada, e Onilda atualiza Jimu no assunto.

— Certo, certo. Bom que está aqui... Gym! Os Infantes aqui querem treinar amanhã no “Cinco Chifres”.

— “Cinco Chifres”? É um alto salto! Tens certeza?

— Temos sim!

Todos mostram estar determinados, e com tudo que Jimu viu no último treino, dá a credibilidade para deixá-los treinar em um campo mais difícil.

— Oh ká! Mas essa semana o “Cinco Chifres” está cobiçado... Tudo certo se vocês forem com outros grupos?

— Outros quantos?

— Contando, dá mais dois.

— Um momento, por favor.

Todos se reúnem um pouco distante de Onilda e Jimu, para conversar sobre a possibilidade de irem, nesse momento Onilda questiona Jimu.

— Sei que não é da minha conta, mas fiquei curiosa pelo que eu vi hoje mais cedo, você tem mais de uma amiga colorida?

— Amiga arco-íris! Isso, não sei como, mas eu desperto algo que chama sabe... Atrai esses arco-íris pra a minha vida.

Onilda pela primeira vez vê que Jimu tem um corpo bem atraente, fazendo-a lembrar-se de um pequeno romance que já teve anos atrás. Jimu vê que Onilda se perde em sua memória e a chama.

— Onilda?... Mestra. Está bem?

— Sim, sim... Só pensei em algo do passado...

Os infantes se decidem e se aproximam novamente.

— Certo, concordamos, podemos treinar amanhã?

— Amanhã?... Vocês têm “quefazeres” amanhã?

— “Quefazeres”? Você quer dizer “trabalho”?

— Sim, é que amanhã o treino vai ser bem longo, sempre tem feridos... Nossa!

Jimu se assusta, alarmando todos e diz chateado:

— Não tenho prêmio para amanhã... Gosto de premiar em treinos assim...

O jeito de Jimu se expressar é engraçado, não passando a real chateação dele. Onilda ri e o conforta, dizendo.

— Não se preocupe, tenho algo guardado, que posso usar como prêmio.

— Fenomenal! Mas tem para os outros grupos também?

Antes de dizer o “Não” e ótimas justificativas, Onilda sente dó do jeito despojado e engraçado de Jimu e cede ao pedido indireto.

— Acho que sim... Vou ver com outros mestres algo com que podemos premiar mais alunos.

Jimu fica feliz e abraça um a um.

— Fenomenal! Valeu aqui, valeu você, valeu Onilda, a mestra mentalizada! Oh ká! Agora eu vou subir em um arco-íris e ir dormir...

Donny e Jake questionam.

— Arco íris?

— Podemos ir também? Nunca subi em um.

Jimu responde de forma natural, mas Onilda o interrompe em seguida.

— Claro, mas tem que estar bem alimentado, sabe...

— Não, não! Gym vai lá, e os Infantes aqui vão dormir porque amanhã tem um grande treino no novo campo.

Pedro e Rupert também comentam.

— Um arco-íris deve ser legal.

— É possível, Mestra?

Onilda fica afobada querendo abafar o assunto.

— Esqueçam o que ele falou, é um sentido figurado para algum afazer dele, não é um arco-íris que vocês veem no céu.

Donny e Jake voltam a comentar curiosos.

— Mesmo assim deve ser legal.

— Sim, se tem esse nome, pode ser um...

Onilda interrompe todos, empurrando-os a caminho dos dormitórios.

— Pode ser nada! Vão dormir, e outro dia vocês veem com ele o que é, sem que eu esteja por perto.

Todos ficam sem entender e vão para o dormitório. A noite está fresca e tranquila, fazendo com que todos tenham bons sonhos com exceção de Ray, que tem um pesadelo envolvendo morte.

Ao acordar na madrugada, ele não se lembra da morte de quem especificamente; mesmo assim, a falta de sono o fez lembrar-se de um cântico de seus pais, que o ajudava a acalmar e a dormir mais fácil e tranquilamente, acreditando até que seria mágico.

Na manhã seguinte todos levantam animados com o treino, todos se alimentam bem, traçam alguns planos para algumas situações e alongam seus músculos, preparando-se para o início do grande treino no campo mais desafiador. Todos chegam um pouco cedo e ficam espantados, por verem mais mestres envolvidos no treino, além de guardas e mais alunos.

Entre os mestres, Maxmilliam se coloca à frente e com magia faz com que sua voz seja ouvida por todos que estão por ali.

— Alunos de Pronuntio, hoje nós teremos um treino inovador: no mesmo campo de treino, estarão três grupos. Além do desafio, normalmente os treinos são focados em dois lados, alunos contra o desafio; hoje haverá quatro lados, pois só um grupo pode ganhar, ou todos perderão.



Comentários