Arbidabliu: Infantes Brasileira

Autor(a): Magnus R. S. Alexandrino


Volume 1

Capítulo 07: Uma Aula como qualquer outra.

Manhã, 12 de março 1580 – Pronuntio. Campo de Treinamento Quatro Chifres.

O dia está ensolarado e um pouco abafado na ilha de Pronuntio, o sol ardente prejudica mais o desempenho dos alunos nos nove campos de treinamento, e a voz brava de Maxmilliam deixa os alunos mais nervosos.

— Vamos! Não queriam treinar no “Quatro Chifres”? Honrem o treinamento de vocês.

Onilda assiste de longe, conseguindo ver outros grupos que, diferentemente dos alunos dela, estão mostrando melhor desempenho.

— Hoje não está sendo um bom dia para eles...

O campo de treinamento está repleto de areia fina e, com um grande grupo de humanoides de areia, manipuladas por magia, conforme os alunos avançam, Maxmilliam usa sua magia para debilitá-los, tirando algum dos cinco sentidos ou deixando o humanoide de areia inimigo mais difícil de ser derrotado.

No centro do campo, está Júlio que, com habilidades mágicas de suporte e alguns golpes com seu bastão, auxilia Doug, que usa a boa destreza de seus punhos e investidas fortes, empurrando e derrotando alguns humanoides; com a distração dos dois, Pedro, Donny e Jake avançam pela lateral e ao mesmo tempo Meena, Rupert e Ray passam pelo outro lado, todos focam em chegar ao humanoide com uma coroa de pedra.

No percurso Doug é derrubado, mas, antes de ser derrotado, Júlio o socorre, mas acaba caindo em uma armadinha de areia movediça. Donny salva Jake e Pedro de uma armadilha, ficando preso nela; Jake tenta ajudá-lo enquanto Pedro avança para seu objetivo. Meena enfrenta um humanoide melhorado e, mesmo com a ajuda de Ray, ela é derrotada e colocada para fora do campo de treino.

Ray entra em um dilema entre avançar com Rupert e Pedro ou voltar para ajudar os outros. Antes de tomar sua decisão, ele é cercado por novos humanoides que saem do chão e o atacam, Ray consegue se defender bem no ataque inicial, mas, com o tempo e com um de seus sentidos enfraquecido, ele é derrotado. Rupert e Pedro passam por mais humanoides e enfrentam o coroado; quanto mais eles atacam, mais o humanoide cresce e demonstra ficar mais forte.

Quando os dois atacam ao mesmo tempo, focando a queda do inimigo, ambos são presos pelo corpo do humanoide e são colocados para fora do campo de treinamento. Onilda, de longe, lamenta.

— Pena... Mas por que eles estão agindo assim?

Todos se recompõem e andam ao encontro de Maxmilliam. No caminho cada um exclama.

— O “enfraquecer” atrapalhou muito.

— Fiz o que pude para te ajudar, mas caí em uma armadilha na areia.

— Esses meninos são todos fracos, deveriam ter aberto caminho para mim.

— Se eu tivesse mais suporte, teríamos concluído, eu quase consegui, faltou pouco.

— Eu deveria ter deixado vocês dois caírem no buraco e eu ter avançado.

— Eu tentei te ajudar, mas o campo era difícil mesmo.

— Se alguns ajudassem mais, eu teria conseguido... Eu não deveria ser penalizado, eu cheguei no fim.

— Eu hesitei muito no final... Esse calor está insuportável.

Antes de gerar confusão e até uma briga física, todos eles chegam até Maxmilliam, que está claramente desapontado com todos. Antes que eles falem, Maxmilliam aponta para outro grupo que está treinando e diz:

— Só observem, que já falo com vocês.

Todos sentam aborrecidos e veem um grupo iniciando o treino. O grupo tem muita dificuldade, demora mais tempo no campo, mas termina concluindo com êxito o treino, comemorando na saída. Todos ali com Maxmilliam não demostram interesse, deixando-o intrigado.

— Acho que vocês precisam ver só mais um... Olhem!

Todos se levantam e, com poucos passos, eles conseguem ver parte do “Cinco Chifres”, um campo de treinamento mais difícil e menor do que o “Quatro Chifres”; no campo de treinamento tem um grupo também de oito integrantes e com posições de batalha parecidas com as deles. Esse grupo demonstra ir bem, mas começa a perder depressa, deixando todos que assistem surpresos.

A mudança na dificuldade pega o grupo em cheio, e todos perdem, sem poder fazer muito para contornar a situação; ao saírem do campo de treinamento, o grupo comemora a batalha e pede autorização para seu treinador para ir à praia. Todos ao lado de Maxmilliam estranham, e Pedro comenta.

— Eles perderam! Vão comemorar o quê?

Maxmilliam aproveita a oportunidade e inicia sua análise.

— Esse é o ponto certo: vocês são bons individualmente, mas chegará uma hora em que precisam saber como é estar em um grupo, em uma sociedade ou até em uma guerra; agir impulsivamente, sem ver que tem outros ao seu lado, é um grande erro.

— Mas...

— Não há “mas”! Vocês são um dos grupos com maior potencial, por terem uma herança genética favorável, não desperdicem isso com maus costumes e atitudes retrógradas.

Todos abaixam a cabeça e Maxmilliam continua com o tom de voz mais calmo.

— Vocês estão na mesma turma, por que não agem como um time? Vejam os fatos e verão que estou correto... Doug agiu bem, mas deveria ter falado suas intenções ao grupo, para que todos tomassem uma posição favorável e conjunta. Júlio é bom no suporte, e inteligente; mesmo em desvantagem numérica, soube agir e como ajudar, mas não há só vocês dois no grupo, seu suporte tem que ser mais amplo e coletivo. Meena sabe de seu potencial, mas o seu ego não deixou que pedisse ajuda e, até nos momentos em conjunto, suas ações atrapalharam quem a ajudou. Indiferente do gênero, todos precisam de ajuda, isso não é mostrar ou assumir inferioridade. Rupert e Pedro foram egoístas e impulsivos, ao avançarem sem ver como seus companheiros estavam? Vocês dois chegaram ao “final” porque o resto do grupo colocou vocês lá e nem o reconhecimento disso no final do treino houve. Donny e Jake agiram bem, ajudando uns aos outros, mas ainda falta comunicação e mais treino em batalha defensiva. Ray hesitou em um momento crucial, é compreensível, mas isso tem que ser evitado, o objetivo principal é ajudar e salvar. Depois de seguros, vocês podem focar no ataque e em derrotar seu oponente.

Todos se desculpam com Maxmilliam, se olham envergonhados e se desculpam entre si. Onilda se aproxima e diz:

— Então... Já que o treinamento prático acabou, vamos comer?

Todos respondem desanimados e seguem para o refeitório em silêncio, Onilda se aproxima de Maxmilliam e comenta:

— Não foi muito duro com eles?

— Não... Sei que o treinamento que foi dado é superior ao do “Quatro Chifres”, mas, com o potencial a que cada um pode chegar, eles não podem se acomodar.

— Entendi... Mas temo que isso os afugente.

— Compactuo com seu modo de pensar... Mas, pelas últimas informações que ouvi sobre o Grande Continente, eu fico com mais medo de que eles não estejam preparados para o que pode vir pela frente.

— Soube de algumas coisas também... Desculpe me intrometer assim.

— Não há problema, como você também está ensinando-os, eu peço que me ajude nesse ponto importantíssimo.

— A união deles.

— Sim, eles têm grandes dons e conseguem fazer muito sozinhos, mas, em uma situação mais extrema de guerra, ou vida e morte, eles serão subjugados facilmente, além de que eles precisam entender um pouco mais sobre a vida. A união é a base da maioria, desde os pequenos animais aos maiores.

— Com certeza! Como tu falaste mesmo em um ambiente de paz, eles têm que saber como viver em sociedade, em família...

— Exatamente!

— Não se preocupe, eu farei o possível para ajudá-lo nisso.

— Obrigado.

Até o início da tarde, o tempo passa com os alunos de Onilda comendo e descansando, há pouca conversa e muita reflexão, cada um lembra o que Maxmilliam falou e de algumas das histórias de Onilda sobre grupos de heróis ou até de pessoas comuns que, juntos, fizeram diferença para o seu povo.

Depois de descansados e alimentados, todos fizeram um serviço comunitário referente a uma das novas regras estabelecidas desde que Úrsula assumiu Pronuntio, e depois todos foram ter uma aula teórica com Onilda.

A sala de aula foi melhorada e adaptada com mais materiais e itens que facilitam o aprendizado. Com todos sentados, Onilda sente que todos ainda estão pensativos e tenta mudar o humor deles.

— Vejam que interessante: eu estava lendo algumas curiosidades feitas por um dos alunos de Copus Lithy e queria dividir isso com vocês... A maior parte dos seres que forma a fauna e flora se adapta ao meio ambiente em que estão, mas os castores, não, eles que adaptam o ambiente para eles viverem bem, fazendo lagos, barragens e casas características.

Todos se lembram das aulas sobre animais e acham interessante. Onilda sente que está distraindo-os e continua.

— Até os animais têm momentos difíceis e têm que mudar as coisas para que fiquem tudo melhor. No livro também fala sobre uma espécie de morcego que constrói sua casa com folhas de árvores para se proteger da chuva, inteligente, não?

— Sim.

— A asa do mosquito bate mil vezes por segundo... Mas não consegue escapar do morcego castanho que apanha mais de quinhentos mosquitos em uma hora.

— Que dó!

Alguns riem, Onilda sorri e continua.

— A formiga consegue erguer cinquenta vezes o seu próprio peso e puxa até trinta vezes o seu peso.

— Gostaria de ser forte assim.

— Tem alguns animais que não conseguem fazer coisas simples também, vejam esses... Os touros correm melhor subindo do que descendo algum lugar. Cangurus não conseguem andar para trás. Os peixes não conseguem piscar os dois olhos, com exceção do tubarão. O crocodilo não consegue colocar a língua para fora da boca...

— Conheço alguém aqui que também não deveria.

Todos veem como uma brincadeira, e Onilda continua depois de rir com todos.

— Entre os mamíferos, só o elefante não consegue saltar... Os ratos não vomitam.

— Que nojo...

— As girafas não têm cordas vocais.

— Que triste!

— Aqui vem uma bem diferente... O porco tem um “momento de excitação” de trinta minutos.

— Excitação?

— Orgasmo!

Todos se espantam e começam a rir alto.

— Que loucura!

Depois de alguns comentários e zombarias, Onilda continua ainda com riso em sua voz.

— Vejam outro desse gênero... Leões podem acasalar cinquenta vezes por dia.

— Nossa! Outro “líder” do reino animal.

Júlio faz uma comparação.

— Prefiro a qualidade do porco à quantidade do leão.

Pedro rebate.

— Mas ser o leão significa aproveitar vários “lombos” diferentes!

— Olhem, meninos, vejam como cada um tem gostos e pontos de vista diferentes, isso é bom quando respeitamos todos... Olhem essa aqui que interessante: a maior parte dos pássaros constrói novos ninhos todo o ano; já as águias, como a águia careca, acasalam para a vida toda e constroem apenas um ninho e, conforme os anos passam, elas vão melhorando-o e aumentando-o.

Júlio olha para Doug e diz:

— Gostei, eu “seria” uma águia, sempre fiel.

Pedro rebate rindo.

— Monótono!

— Olha quem fala!

Parece que uma discussão começará, mas Jake comenta com indignação.

— Mas é incrível... Trinta minutos? Como?

Todos riem e Pedro diz:

— Você ainda está pensando no porco?

— Mas é surreal, trinta minutos! Eu teria uns três “momentos” nesse tempo.

Todos riem mais, ao ponto de lacrimejarem.

— Pare de falar essas coisas!

Onilda oferece água e frutas para todos enquanto se acalmam.

— Bom que estão gostando, vejam como curiosidades despertam mais curiosidades.

— Incrível mestra!

— Vou ver mais uma aqui, entrando em um assunto diferente... As estrelas do mar não têm cérebros.

— Tem alguns nessa sala que também não têm.

Alguns se olham feio, mas de uma forma de brincadeira, com todos se divertindo e descontraindo. Onilda gosta do clima que está à sala e continua.

— Os camarões têm o coração na cabeça... O máximo que uma galinha doméstica ficou em voo foi de treze segundos.

Pedro bate na mesa e zomba, falando alto.

— Isso por que ele não viu Meena sendo arremessado do campo de treinamento.

Todos seguram as risadas, lembrando-se da cena, e Meena rebate:

— E você, “leãozinho”, fica sentado enquanto as “Leoas” fazem todo o trabalho por você.

— Olhem só, ela também leu as curiosidades?

— Não, eu só presto mais atenção que você nas aulas.

Antes que a conversa fique ofensiva, Onilda chama a atenção para mais um fato:

— Uma pulga pula mais de trezentas vezes a sua própria altura, já imaginaram fazer isso?

— É possível?

— Se treinar e unir habilidades físicas e magia, é possível sim.

— Incrível!

— Sabiam que as baratas sobrevivem sem a cabeça por nove dias, e só morrem porque não têm como se alimentar?

Meena olha para Pedro, Donny e Jake e diz, apontando o dedo.

— Olhem aí, eu topo fazer o teste!

— Fica quieta, menina-menino!

— Sou mais homem que vocês, sabiam?

— Não duvido disso!

Onilda se preocupa com a conversa, mas todos riem e zombam um do outro sem mostrar qualquer sinal de hostilidade.

— Olhem, mais uma curiosidade sobre o porco: eles são os únicos animais que se queimam com a luz do sol.

— Um porco bronzeado!

— Deve chamar bem a atenção, não?

— Com certeza.

— Vamos para outra curiosidade: o elefante, além de a média de peso dos seus recém-nascidos ser de cem quilos, eles são os únicos com quatro joelhos.

— Que estranho... Nunca parei para pensar nesses tipos de informações.

— Vejam que tem seres pensando e pesquisando de tudo no mundo... Aqui! A girafa consegue limpar suas orelhas usando a língua.

— Que horror, por que faria isso?... Tanta coisa legal para fazer com a língua.

— Calma. Calma... Vamos ver esse outro fato aqui. Milhares de árvores são plantadas acidentalmente porque esquilos esquecem onde enterram suas nozes.

— Isso eu achei legal.

— O olho do avestruz é maior que o seu cérebro!

— Olha outro parente da sala!

— Olhem que curioso: só os golfinhos, além das raças “pensantes”, fazem sexo por prazer.

— Diferente...

Jake levanta-se e diz, indignado:

— Como assim? Deve estar errado isso, mestra!

— Errado? Por que tu disseste isso?

— E o porco? Para que servem os trinta minutos se não para ter prazer?

Todos riem, e Pedro comenta também, demostrando chateação.

— E o leão? O que adianta “caçar” várias leoas se não for por prazer?

Todos ficam com várias dúvidas e comentam, brincando com comentários bobos, deixando até Onilda animada com as informações que leu. Depois de alguns minutos, ela retoma a aula mais séria.

— Isso são pequenos fatos não comprovados, eu só achei interessante vocês saberem como surgem dúvidas e curiosidades sobre o mundo e seus seres.

Júlio comenta surpreso:

— Realmente, quem saberia que o porco tem um orgasmo de trinta minutos?

— Esqueçam o porco!



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