Arbidabliu: Infantes Brasileira

Autor(a): Magnus R. S. Alexandrino


Volume 1

Capítulo 05: Ray Blok W

Com um ar de admiração, Onilda fala sobre seu último aluno.

— Ray Blok W... Sou suspeita em falar sobre ele, mas quem acompanhou seu trajeto sabe: a maior parte do tempo ele treina com seu mestre e padrinho Maxmilliam, mas, no pouco tempo que passo com ele, posso ver que ele é “especial” e superdotado, nem parece ser um humano comum. Ele é híbrido, tendo bom desemprenho com sua força, vitalidade, inteligência entre outras qualidades. Ele não é o melhor em todos os pontos, mas ele faz mais que a média, sempre treinando para que não haja “fraqueza”. Ray é muito dedicado com tudo e todos, tem seus sentidos apurados, é amigável e suspeito de que ele tenha um dom natural de detectar “boas pessoas”, pois nunca teve problemas de relacionamento com ninguém, e, quando outros alunos de outras turmas, com ações ou de caracteres duvidosos, se aproximam ou precisam fazer algum treino junto, Ray sabe muito bem como agir e a distância certa a se manter de alguns, para que não haja conflito desnecessário. Ele é um pouco ansioso, acho que isso vai melhorar com o tempo, vejo que ele tem certo receio de errar, receio de decepcionar os outros, então não demostra tudo que é capaz de fazer, talvez por medo de decepcionar a honra de seus pais, que foram antigos heróis de guerra, Ray tem muito gosto em aprender, tendo um ótimo desempenho em seus estudos. Referente a armas, ele sempre opta por espadas de uma mão e escudo pequeno. No início eu achei que era mais cômodo o uso de armas mais simples, mas, nos últimos treinos, percebi que essa escolha é mais uma estratégia do que um costume; Ray é determinado e com um bom senso de liderança, mas sempre foge das posições de comando. Sempre ajuda Rupert, Meena e Doug, mas, como há pouco tempo de estudo com a turma, ele não desenvolveu grande aproximação com os outros, mas nunca houve algo preocupante entre eles; pequenos detalhes que percebi no início que ele melhorou pouco a pouco os hábitos comuns, como dormir cedo e o tempo necessário, treinar sem exagero, sempre estudar, ler, reservar tempo para lazer, socializar e se alimentar adequadamente sem exageros ou gula. Adoraria que os outros vissem isso como exemplo a se seguir. Maxmilliam com certeza o ajuda nessa evolução, tanto que, com o tempo, vejo Maxmilliam mudar sua postura com Ray: no início era mais profissional, como um mestre e seu aluno; hoje em dia, eu já vejo um apreço e cuidado paternal entre eles, é admirável estar perto e presenciar tudo isso, pois sei que Maxmilliam escolheu uma vida solitária sem muito vínculo familiar.

Onilda usa sua magia para fazer com que a pena encantada venha até o seu diário, fazendo uma observação a mais nele.

— Pedro, Donny e Jake são bons rapazes, mas, quando estão juntos, eles ficam mais festeiros e relaxam com seus deveres e responsabilidades; quando há competição com outras turmas, eles tendem a intimidar e arrumar inimizades. Muitas vezes eles tramam suas atividades às escondidas dos supervisores, como apostas e castigos. Fazendo mal uso de seus talentos. Megalomania e luta pela fama resumem a união desse trio. O bom é que, quando eles se unem com os outros do grupo, ficam mais tranquilos e evitam esses maus hábitos, com exceção de eles zombarem de Júlio e Doug, por verem os dois tão próximos, mesmo não tendo nenhum parentesco e por não serem menina e menino, e sim, dois meninos... Júlio e Doug se dão muito bem, bem até demais, eu achei que era pelo fato de os dois serem Descendentes de Ivo, uma informação que está em segredo, pelo menos sobre Doug, pois os outros sabem sobre Júlio. Depois de que outros como ele se aproximarem do grupo e comentarem sobre o assunto. Depois que eu pesquisei um pouco sobre esses homens, eu descobri que eles têm um senso de localização para com os seus, eles sentem quando há outro como eles por perto, mas mesmo assim essa afeição entre os dois é diferente dos outros alunos que também são descendentes, eles não têm essa mesma afinidade e aproximação com os outros. Voltando a minha análise, nesses “descendentes” eu suspeito que haja algo que vai além da amizade, não sei como agir, eu normalmente os afasto por serem jovens, espero que, atrasando o inevitável, não os influencie negativamente, pois Júlio é o mais velho do grupo e seus hormônios pedem por algo além de abraços... Enfim... Temo o destino deles quando eu for embora...

Onilda fica triste, ela respira fundo, bebe um pouco e volta a relatar em seu diário.

— Meena, Rupert e Ray se dão bem entre si, diferente do outro trio; quando esses três se unem, os deveres e responsabilidades são bem-feitos e são executados mais rapidamente que o normal, gosto de ver essa amizade crescer neles...

Onilda encanta outro pergaminho e, ainda triste, diz:

— Preciso reportar algo que me incomoda há muito tempo... Rícardus Deformem, regente da ilha de Pronuntio, ele está a cada dia atrapalhando alguns mestres que não seguem seus termos agressivos e desumanos, punições severas, nocivas, guerra, ódio entre outras coisas que afetam muito a moral, desempenho e a relação de todos. Anos atrás eu consegui ajudar um grupo de Descendentes de Adéa e Ivo que seriam enviados para lugares longínquos e hostis; pouco a pouco ele arrumou um jeito de afugentar esse grupo da ilha, alguns simplesmente sumiram, outros fugiram, e a maioria se sente acuada com uma grande pressão para desistirem de treinar e estudar aqui. Lembro-me de dois irmãos, ambos descendentes, os Kabuki. Logo que eles chegaram, ambos foram levados a um treinamento difícil e invasivo, tudo os obrigando a irem embora... Com a ausência de Ynascar, que foi resolver um assunto importante na universidade do Grande Continente, a ausência de altos sacerdotes que foram chamados para uma reunião urgente com alguns Electi da nova geração, e da saída repentina de Maxmilliam, que foi chamado em Coniuro para assuntos comerciais, Rícardus está planejando me expulsar da ilha. Opofrelse foi presa injustamente, e eu não posso agir contra Rícardus, pois ele tem um grupo de fiéis guerreiros e até magos que acatam cegamente as suas ordens; não os culpo, o mundo está cheio de pessoas que só servem para seguir e não para pensar ou se sensibilizar... Temo pelo destino dos bons alunos e mestres que ainda estão firmes e fortes aqui... Júlio... Doug... Fiz de tudo para protegê-los, mas não poderei fazer de tão longe, pois, até que alguém acima das leis de Rícardus apareça, eu já estarei longe... Ou pior...

Onilda lê tudo que escreveu em seu relatório, diário e carta de reclamação, e comenta:

— Esqueci-me de falar a respeito da aula sobre profissões!

Ela usa novamente sua magia para acrescentar mais informações em seu relatório:

— Para deixar os alunos mais “humildes”, eles tiveram que exercer alguns cargos considerados inferiores. Pedro Flavum foi o “despertador humano”, indiquei esse serviço porque ele dorme mais do que precisa, assim ofereceria uma melhora no ciclo do sono dele. Doug Hyacin foi o “acendedor de lampiões”, é um serviço que pede mais rapidez e busca um pouco mais de individualidade. Júlio Surrex foi o “caçador de pragas”, f uma forma de aproximá-lo dos outros Descendentes de Ivo de outras turmas, que também foram exercer essa tarefa, assim me deu a certeza da diferença da relação que ele tem com Doug. Donny Rubrum foi o “Leiteiro” levando o café da manhã para vários grupos e para algumas casas de moradores locais, assim lhe dá mais responsabilidade, vendo que pequenos trabalhos trazem bons feitos. Jake Aurantiacis foi selecionado para “cuidador de animais”, dando mais atenção aos animais que nos proporcionam vários benefícios, desde alimentos a auxílio nos afazeres domésticos e até em batalhas. Rupert d'Alba foi o “Tolo do Povo”, queria testar o seu excesso de confiança. Ele se deu muito bem, é como um “ator caricato”, que anima crianças e moradores locais no início de alguns eventos. Meena Viridi trabalhou no “boticário” cuidando da preparação de remédios e de entregá-los aos enfermos. Ray Blok foi o mensageiro, assim ele acaba conhecendo mais da ilha e as pessoas que moram nela.

Onilda termina e logo um guarda a chama do lado de fora de seu quarto.

— Senhora Roser?

— Pois não?

— Lembrando-se da sua reunião com Rícardus.

— Certo, eu não esqueci não... Agradecida!

Onilda termina de ler seu relatório e com magia apaga alguns pontos.

— Melhor não falar tanto sobre a relação de Júlio com Doug; dependendo de quem seja o próximo mestre deles, essa informação pode prejudicá-los... Seria tão bom um mundo onde ninguém é discriminado pelo que é ou gosta... Esse não é o momento para pensar nisso... Em breve eu me encontrarei com Rícardus para formalizar a minha saída da ilha, só espero conseguir levar Opofrelse sã e salva comigo.

Onilda toma um banho aquecido pela sua magia, coloca roupas formais e adequadas para o tempo de frio e, antes de ir para a reunião na grande fortaleza, ela pega seu diário novamente.

— Lembrar-se de momentos bons... Isso me dá força...

Ela passa algumas folhas procurando algum evento do passado que a fez se sentir bem.

— Em uma das minhas viagens, eu fui conhecer um clã que cresceu muito no Grande Continente, o clã Sulzi, esse clã era famoso porque antigamente eles faziam grandes festas e celebrações, saudades de bons momentos assim... Tantas coisas aconteceram...

Onilda acha o capítulo que deseja e o lê em voz alta e com ânimo, como se contasse para alguém ali em seu quarto, lembrando-se dos momentos com sua amada Opofrelse.

 

Era o dia vinte e nove de junho de alguns anos atrás...

Em uma rua com uma única entrada e saída, o clã Sulzi fez uma grande festa, muitas e diversas carnes, bebidas, doces, músicas e danças; esse evento foi um dos grandes do clã, tanto que chamou muitos amigos, aliados e vizinhos para celebrar juntos, tudo durou três dias, um momento em que brigas e intrigas eram esquecidas, uma trégua familiar focando no só amor e a alegria. Na cozinha eu me deparei com uma mulher robusta e amigável, que ajudava na preparação da comida; pela roupa de aldeã e o vasto conhecimento na preparação de alimentos, eu imaginei que fosse uma das ajudantes de cozinha ou até a chefa delas. Em várias conversas abordadas em um momento quando só estávamos eu e essa mulher, eu comentei sobre algumas chateações da vida, contei por cima algumas situações pelas quais passei e escolhas que fiz na vida. Ela me olhou com simpatia e disse.

— Não se culpe por más escolhas e por erros, todos nós os cometemos, se você aprendeu com os seus, então você passou no teste e evoluiu.

Eu comentei também sobre família, e ela, rindo, me disse:

— Você acha que há família perfeita? Se não há pessoas perfeitas, por que há de ter família... O amor tem que ser perfeito, principalmente o amor-próprio...

A conversa com essa mulher de quem eu ainda não sabia o nome me agradou; lembro-me de uma de suas frases, que achei engraçada e ao mesmo tempo me fez refletir, ela me disse.

— Sabe no que eu errei? Em errar pouco! Deus nos deu a vida para aproveitar o que Ele fez para nós, claro que não estou falando de erros malignos, mas de ter tentado mais, explorado mais, dito mais a palavra “não” nos momentos que eu não queria dizer “sim”, e também ter dito “sim” nos momentos em que eu não queria dizer “não”.

Foi um dia maravilhoso, fiquei muito surpresa quando perguntei seu nome e ela me disse, como se não fosse importante.

— Eu? Eu sou Marilne.

Eu fiquei pasma, perguntei de volta “Marilne Sulzi?”, e ela me respondeu:

— Sim, por quê? Uma líder de um clã não pode ajudar nas tarefas?

Eu disse que não era por esse motivo, e sim pela surpresa por ela ter dado seu tempo para falar com uma desconhecida como eu. Eu não podia imaginar que a matriarca do clã estava falando comigo, sua humildade me cativou e me fez sentir especial, em tempos que não me sentia assim, quando viajava pelo Grande Continente. Naquele mesmo dia, eu conheci também a Malrilem Sulzi, outra das líderes do clã, comentei que eu não sabia dançar e que era tímida para esse tipo de situação. Ela me animou e me fez interagir com as pessoas, em uma dança coletiva, com passos simples, eu me senti da família, pude ver como é festejar, ver a solidariedade e a simplicidade que há no amor ao próximo, conversar e acolher um “desconhecido” como eu para dentro do clã e tratar como se fosse da família... Obrigada, Marilne e Malrilem, pois jamais esquecerei vocês duas.

 

Onilda fecha seu diário e comenta:

— Em vários dias felizes que passei em minha vida, esse dia foi um dos especiais para mim... Espero ver mais dias assim.



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