Arbidabliu: Infantes Brasileira

Autor(a): Magnus R. S. Alexandrino


Volume 1

Capítulo 04: O Diário

Tarde, 8 de março 1580 – Pronuntio. Dormitório principal.

O clima na ilha está gelado, tempo fechado com nuvens carregadas que cobrem toda a ilha, o vento faz barulho nas janelas por toda parte, e a garoa fina deixa o clima um pouco triste, outro elemento recente foram mortes na ilha por causas naturais e, outras, por acidentes nos treinamentos em batalha; mais segurança e mais atenção foram tomadas para que casos assim não ocorram mais.

Em um quarto simples e pequeno, está Onilda, ela está sentada em sua cama, olhando para uma das penas de Opofrelse; com saudades de sua coruja, ela comenta chateada:

— Infelizmente, fiel amiga, eu não pude defendê-la da ignorância dos homens, fico triste em imaginar como deve estar sendo uma tortura para tu ficares trancafiada em uma gaiola pequena e suja... Alguns humanos se sentem mais fortes quando tiram a liberdade de outros...

Ao lado de Onilda tem uma bela sapota preta, a fruta doce favorita dela, mas a situação não a anima e nem desperta o desejo de comê-la, sua tristeza e medo do futuro próximo são claros em seu rosto.

— Bom que tenho meu diário... Para me lembrar de minhas motivações e desabafar as decepções que as pessoas na vida nos mostram... E hoje vou precisar ler algumas coisas para poder fazer o meu relatório.

Onilda pega um lindo diário de capa verde-escura na cabeceira de sua cama e encanta um pergaminho solto e grande, com a pena do Opofrelse.

— Longe de ser uma mestra da magia, infelizmente só tenho dons para pequenos encantos... Por favor, “Opofrelse”, escreva o que eu ditar, eu preciso deixar pronto esse relatório... Letras legíveis, espaçamento duplo, margem estreita, símbolo da ilha de Pronuntio e, se eu lembrar outro detalhe, eu lhe direis... De “A” a “Z”, Dáktylosgráphe!

A pena do Opofrelse cria sua própria tinta, se conecta as palavras de Onilda e começa a escrever tudo o que ela fala.

— Primeiro relatório de Onilda Roser: em outubro de 1575, eu iniciei os estudos e o treinamento de um grupo de crianças. Hoje um pouco mais de quatro anos depois dessa data, essas crianças já mostram o caminho que estão traçando e quais as suas dificuldades, vantagens e desvantagens que vão ter ao longo da vida e de suas possíveis aventuras...

Onilda lê por cima as informações que há em seu diário, lembrando-se dos fatos para colocar em seu relatório.

— Donny Rubrum! Ele tem uma boa agilidade, mas seu ponto fraco é a força bruta; mesmo não sendo bom e focado em músculos, ele segue um ritmo de atleta, boa disposição física e possui uma recuperação de energia e fadiga maior que a maioria, ele aprende rápido o manuseio de armas diversas, tendo maior gosto por arco e flecha. Em um dos treinos, eu notei que ele tem “hemofilia” em um nível baixo, ou seja, ele não se recupera tão rápido quanto os outros quando sofre cortes no corpo; não é grave, mas, dependendo da situação, pode ser preocupante. Ele também não tem muito foco em estudos, mas entende o que está sendo ensinado, gosta de músicas e de treinamentos que envolvam aventuras longas... Donny gosta da cor vermelha, e, curioso como o gosto de cores, gera discussão no grupo...

Onilda sorri, lembrando-se de alguns acontecimentos e continua.

— Doug Hyacin, bom em agilidade, seu ponto fraco é a vitalidade, sendo mais vulnerável a magias, encantamentos, e doenças que podem afetar o interior do corpo, mesmo assim, ele tem boa força de vontade, sendo bem esforçado em tudo, é ambidestro, tem um ótimo senso de direção e boa flexibilidade em seu corpo; contudo, ele tem memória fraca, é um pouco impulsivo e ainda continua tímido quando vai se relacionar com pessoas novas. Nos treinos ele não se dá bem com armas, então está focando em luta desarmada ou com algo nos punhos, ele gosta de treinar e de literatura, Doug é um dos pacíficos do grupo, sempre se afastando de conflitos... Ele gosta de da cor azul.

A chuva e o vento aumentam, deixando Onilda curiosa, ela se levanta e vai até a janela para refletir um pouco por alguns segundos. Ela olha para a pena encantada e continua.

— Meena Viridi, diferente da maioria, ela tem como ponto forte a força física, ela não ganha muita massa muscular, mas está cada vez mais resistente e apta para treinos mais pesados, eu até diria que ela tem uma pele mais rígida que o normal; contra isso, ela não exercita muito a mente, tendo baixas notas em tudo que é teórico. Com um pouco de insistência, ela ficou focada em estudar mais e diminuir essa “fraqueza”. Ela também tem uma empatia especial com animais. Tentei por algumas vezes incentivá-la a seguir um caminho “arbol”, pessoas que cuidam, conhecem e que tenham mais afinidade com o reino animal, fauna e flora de Arbidabliu, mas ela não se interessou; infelizmente Meena tem uma baixa autoestima, é teimosa, e seu lado emocional é fraco, menos até que de alguns homens que já conheci, às vezes imagino que pode ser o contato constante com meninos, pois a relação dela com as meninas está fracassada; em batalha ela sempre opta por armas pesadas e escudo, como uma guerreira nata, ela gosta muito de jogos de azar, e isso trouxe contratempos algumas vezes, mas agora está mais moderado, tivemos um problema um ano atrás: Meena sofreu um atentado a sua moral: por ela usar muito roupas masculinas e se dar melhor com eles do que com as meninas, um grupo de outra turma zombou dela, eles cortaram seu cabelo e chamaram-na de menino, tudo foi resolvido depois, ela foi bem acolhida por sua turma, que a defendeu do ocorrido. Eu consegui que todos os envolvidos na zombaria fossem disciplinados corretamente, mas percebi que Meena foi bem afetada. Com o tempo ela se soltou mais com o grupo e comigo também, a comunicação com outros grupos voltou ao normal depois de um período, mas ainda sinto que ela tem chateação e mágoas guardadas, tenho medo de que isso influencie suas decisões futuras, ela gosta muito da cor verde, eu achei isso um sinal para que ela siga a classe “arbol”, Meena achou engraçado, mas não concordou.

Onilda fica alegre, lembrando-se de uma reunião que ela fez com seus alunos, em quea harmonia tomou conta, ela sorri sentindo a nostalgia do momento e continua.

— Jake Aurantiacis! O pequeno príncipe, ele tem uma ótima destreza e contra isso ele tem uma força defasada, já tentei incentivá-lo a melhorar sua força física, não só para batalha, mas ele é bem magrinho, e isso pode ajudá-lo na saúde e resistência. Ele também segue um ritmo atlético, focando mais em locomoção, agilidade e destreza, mas nunca em força. O ritmo de treino que ele segue o está ajudando a melhorar no controle de energia e fadiga; sendo bem disposto como Donny, ele é ótimo em criar e improvisar músicas e poesias, mostrando um emocional bem controlado e apurado. Não gosta muito de brigas e tem maior interesse por em armas a distância, como arcos, balestras, zarabatanas entre outras. Jake é apaixonado por música, histórias, literatura e arte, eu vejo um grande artista sendo formado aqui; mesmo se mostrando tímido, revela uma aptidão para danças incrível, muitas vezes tem medo de fazer algumas coisas, algo que ele está melhorando gradativamente, pois eu também consegui fazer com que ele se inscrevesse para um evento de artes que terá em Coniuro... Além de ele gostar da cor laranja, também adora a fruta laranja e doces feitos com ela.

Onilda balança a cabeça lembrando-se de alguns desapontamentos que teve com o próximo aluno sobre o qual que ela vai relatar. Depois de pensar e ver mais algumas informações em seu diário, ela inicia o próximo parágrafo.

— Pedro Flavum! Ótimo na força bruta e na vitalidade, ela peca muito em sua agilidade. Ao contrário de Donny e Jake, ele gosta de levantar peso, fazer testes de resistência, mas ele despreza grandes distâncias e excesso de exercícios aeróbios. Ele tem uma boa memória, que o ajuda a ir bem nos testes teóricos, sua boa vitalidade o ajuda a ser mais resistente contra venenos e enfermidades, tendo assim um bom desempenho em alguns treinos práticos. Com exceção dos treinos pesados, ele é muito preguiçoso fazendo sempre o básico das outras matérias, lições, práticas e teorias, tendo como um de seus passatempos favoritos o sono, dormir e comer muito é algo de que ele gosta; tem facilidade no manuseio de qualquer arma, mas, com sua preguiça, ele não se propõe a ir mais além de espadas de uma ou duas mãos. Fanfarronice era a palavra que o definia no início. Com o tempo eu consegui com que ele melhorasse isso, sendo mais amigável e mais educado que antes, mas confesso que, até chegar a esse ponto, ele deu muito trabalho, arrumando várias brigas com outros grupos e até com Rupert e Meena... Amante da cor amarela.

Ao mencionar Rupert, Onilda opta em relatá-lo em seguida.

— Rupert d'Alba, outro bom na força, imagino que uma certa rivalidade foi criada tendo “força física” como uma competição adotada entre Rupert, Meena e Pedro. Diferente da maioria, Rupert não tem um ponto fraco, em todos os outros pontos treinados ele se dá muito bem, tem boa empatia, carisma e uma postura que chama a atenção de quem o vê agindo nos treinos ou em suas oratórias. Não é um bom trovador, mas, se tiver um texto na mão, ele consegue segui-lo e apresentá-lo muito bem, contudo, ele tem excesso de confiança, que o prejudica nos momentos em que deve estudar ou se esforçar mais. Outro ponto preocupante é que, em alguns treinamentos de combate, ele apresentou muita agressividade, centrando-se sempre em “morte”; os treinamentos são leves, não tendo que matar seus oponentes, mas dá para se perceber a fúria, e, em alguns momentos, o descontrole que ele tem. Não consegui melhorar esse ponto nele ainda, pois muitos desses treinos são regidos por Rícardus, que tem essa sanguinolência como lema. Mesmo Rupert sendo bom com arma de perto, ele foca no treino com arco e flecha. Outro ponto que estou tentando melhorar é que ele segue muito o que os outros falam, não tendo “vontade própria", às vezes, é facilmente levado nos ideais e nos planos bem formulados dos outros. O que o ajuda é que, como ele é próximo de Meena, ela não o induz a fazer coisas prejudiciais ou duvidosas. No início ele era atrasado com as lições, e, com a ajuda do grupo, ele conseguiu acompanhar a turma pouco a pouco, até que hoje em dia não precisa de tanto auxílio; é muito apresado às vezes, não pensando muito antes de agir, prejudicando suas tomadas de decisões. Rupert não é muito fã de cores, mas aprecia a cor branca...

Onilda volta a se sentar e começa a comer um pouco do fruto, em pouco tempo ela retoma seu relatório.

— Júlio Surrex. Diferente dos outros do grupo, ele é muito inteligente e autodidata, aprendendo sozinho, coisas que ele vê ou lê, também é bom com números, tem um bom temperamento, possui um senso do dever apurado e admirável, gostando sempre de ajudar os outros, buscando ações em apoio e auxílio aos outros, tanto moral quanto magicamente. Ele não é bem-visto pelas regras que Rícardus impõe, forçando-o frequentemente a batalhar e a ser agressivo, sempre, nos treinos. Júlio também tem uma boa flexibilidade nas juntas, ajudando-o nas manobras defensivas, conseguindo fazer o básico que é pedido nos treinos mais agressivos. Mesmo sendo tão proativo em ajudar os outros, ele sempre prioriza cooperar com Doug, algo que com o tempo está ficando claro para todos que os veem juntos; ele gosta muito de jogos e de canto, tendo uma voz agradável. Por ele ser um Descendente de Ivo, pequenos acontecimentos preconceituosos no decorrer desses anos deixaram Júlio mais reservado, escondendo alguns de seus sentimentos e emoções. O que também ajudou nesse receio foi a necessidade que ele tem de proteger Doug. Eu também me vi na obrigação de ajudá-los a se defenderem dessa perseguição, mas espero que eu não tenha protegido mais eles dois do que os outros, ou mais do que eles precisam; não gosto que alguns se sintam menos “amados”, outro motivo que me faz simpatizar especialmente com Júlio é a sua cor favorita... Rosa.

Com um ar de admiração, Onilda fala sobre seu último aluno.



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