Arbidabliu: Infantes Brasileira

Autor(a): Magnus R. S. Alexandrino


Volume 1

Capítulo 03: O Zelo da Mestra

“Sinto um mau pressentimento...”

Onilda repara que Júlio está preocupado, enquanto os outros se apresentam formalmente, reverenciando Rícardus; no final, a cada apresentação, Rícardus faz um comentário infeliz com total desinteresse em cada um deles.

— Eu sou Ray Blok W... Filho de...

— Eu sei quem você é, outro protegido... Próximo!

— Eu... Eu sou Doug.

— Não vai longe... Você! Menina!

— Meena Viridi! Filha...

— Não importa! Não sei por que trouxeram mulheres para treinar e estudar... Você!

— Eu sou Rupert d'Alba.

— D’Alba... Decepcionante... Próximo.

— Donny?

— Isso é uma pergunta? Não me parecem ser destaques... Próximo.

— Jake Aurantiacis, senhor!

— Bom! Corte esse cabelo e faça muito exercícios e talvez faça alguma diferença.

— Pedro Flavum...

— Certo... Será que você não é o delinquente que eu procuro?

— Não, senhor...

— Óbvio que não admitiria... Você agora... Quem é você?

— Eu sou Surrex!

— Seu nome?

—... Júlio Surrex.

Rícardus olha para Júlio, medindo-o com os olhos de cima a baixo e, com nojo, olha para os outros e avisa seus guardas.

— É esse! Podem levar.

Os guardas apanham Júlio pelos braços e o imobilizam, mesmo sem ele demonstrar resistência. Todos se assustam, e Onilda se aproxima, fazendo sinal com a mão para que Opofrelse não ataque.

— Rícardus, senhor, por favor, isso é necessário?

— Esse rapaz não era para estar aqui.

— Como assim?

— Esse menino viola leis naturais.

— Leis? O que está havendo?

— Esse menino é um Descendente de Ivo!

Rícardus dá as costas para todos e vai embora com seus guardas, e Júlio preso.

— Ele foi identificado na seleção e seria posto em um grupo de transformação para ver se há cura para ele, mas ele decidiu se esconder em um dos outros grupos.

Onilda fica muito preocupada por saber do preconceito que há com pessoas como Júlio e pede para os outros alunos, que estão totalmente confusos:

— Por favor, vos assumais, pegueis aquele livro verde ali e comeceis a ler, que eu explicarei melhor depois, agora preciso me informar melhor de algo.

Doug corre até Onilda e, pegando em seu braço, ele questiona:

— Mestra! Por que levaram Júlio embora?

Onilda esconde sua preocupação e conforta Doug.

— É isso que descobrirei. Sem preocupações, certo? Por isso preciso que tu e os outros fiqueis aqui focados e não saias.

— Pode deixar.

— Agradecida...

Onilda grita para sua coruja:

— Opofrelse! Tome conta deles...

Enquanto Onilda segue atrás de Júlio, com tom de preocupação e refletindo o clima daquele dia, ela pensa novamente sobre ter algo diferente em Júlio, diferente dos demais, e estranha a forma mais dedicada que ele tem com Doug. Rapidamente Onilda alcança Júlio, mas é interrompida por Rícardus que, além de entrar na frente dela, a ameaça.

— Escute aqui! Você sabe muito bem que, se dependesse de mim, mulheres como você não estariam ensinando aqui e em nenhum lugar.

— Como disse?

— Você me ouviu! Volte, e eu ignoro sua existência, siga em frente e eu, além de deixá-la sem lecionar, farei com que saia de Pronuntio e não volte mais a ensinar ninguém.

Onilda recua e abaixa a cabeça em silêncio, Rícardus sorri admirado e diz, indo embora:

— Sim... Assim que mulheres devem ser... obedientes.

Após se afastarem, Onilda olha ao redor e para o céu, pensando em algo.

— Inspirar e expirar... Sabedoria é poder... Pensar antes de agir... Recuar para atacar... Inspirar e expirar... Pense, pense...

Onilda vai para um canto entre a construção próxima, que está vazia, e diz, criando uma aura mágica ao redor de seu corpo.

— Opofrelse, está na hora, eu preciso agir e eu preciso de você... Opofrelse!

Opofrelse de Onilda se envolve em uma aura parecida à de sua dona e ambas trocam de lugar. Os alunos se assustam, e Onilda diz sorridente e animada.

— Viram! Magia é legal!

— O que houve?

— Nada de importante, continueis lendo, só tu que não, Doug! Venhas até mim, por favor.

Doug se aproxima, e Onilda o puxa para ficar distante dos outros.

— Doug, na reunião de seleção, tu conheceste Júlio?

— Sim... Ele está bem?

— Vai estar, mas preciso que tu me contes tudo o que aconteceu na reunião de seleção, pode me ajudar nisso?

— Sim...

Um bom tempo passa, e Rícardus já está em um dos alojamentos, com Júlio preso em uma cadeira; na pequena sala, há também cinco guardas usando brasões do Império de Cristal. Júlio olha para os lados e não vê outros alunos. Rícardus repara a observação de Júlio e diz sério:

— Por mim, você já estaria sendo “Purificado”, mas não quero problemas com outros líderes e sacerdotes amantes de paz... Você deve estar se perguntando onde estão os outros que foram descobertos como você, eles já foram embora de Pronuntio no primeiro barco, para alguma ilha que aceite isso.

— E o que vai acontecer comigo?

— O mesmo... Mas posso te mandar para um lugar melhor se você me disser se viu outro como você.

— Outro como eu?

— Sim. Você me ajuda, e eu te ajudo, e assim vocês, da mesma raça, ficarão juntos; veja que coisa boa, não?

Júlio fica pensativo, mas balança a cabeça, dizendo:

— Não tem outros.

— Sério?

Rícardus desconfia de que Júlio esteja mentindo, mas reforça:

— Lembre que se não encontrar ninguém como você para me entregar, eu encaminharei você para Sodorra.

Júlio fica com medo ao ouvir o nome dessa cidade, ele se lembra de uma conversa que sua mãe teve, falando sobre algumas maldades e atrocidades que estavam fazendo em Sodorra. Mesmo temendo seu destino, Júlio afirma:

— Eu não vi mais ninguém como eu.

— Certo... Eu tenho um artefato bem interessante, que pode localizar vocês, mas ele é custoso, ter um como você ao meu lado me ajudaria muito sabia...

Júlio permanece em silêncio, e Rícardus termina demonstrando raiva.

— Você fez sua escolha... Fique aqui, que vou preparar sua viagem.

Os guardas soltam Júlio para levá-lo embora. Ao abrirem a porta da saída, eles encontram Onilda com dois guardiões de Pronuntio; esses dois guardiões são maiores, mais fortes, mais equipados e claramente mais experientes que os outros cinco juntos. Rícardus fica surpreso e questiona:

— O que é isso?

Onilda diz claramente, entregando um pergaminho para ele.

— Uma intervenção... Eu não sei se o senhor sabe, mas, fora do Grande Continente, o Império de Cristal não tem autoridade.

Rícardus lê rapidamente o pergaminho enquanto dialoga com Onilda.

— Mas esses homens não estão agindo em nome do Império, eles são o reforço que o Império nos mandou, eles seguem as ordens de Pronuntio.

— Ótimo! Pois, segundo esse documento, Pronuntio pede a liberação dos alunos que foram encaminhados para outros lugares e a dispensa de todos esses homens que vieram do Império de Cristal.

Onilda entrega outro pergaminho para Rícardus e diz.

— Esse é um pedido de agradecimento para o rei do Império pelo reforço, mas eles não são mais necessários no momento, acho até que nunca foram.

— E quem permitiu?

Rícardus vê que ambos os documentos estão assinados e com brasões de autoridades importantes de Pronuntio, que juntas superam sua vontade e influência.

— Estou vendo...

— Pelo meu pequeno conhecimento, você, como regente, deve seguir os interesses para os quais foi colocado.

— Certo...

— Então o senhor pode cuidar do resto? Se quiser, eu mesma posso...

— Não precisa! Eu cuidarei disso eu mesmo...

Rícardus faz sinal para seus guardas o seguirem com Júlio, e Onilda o para.

— Me desculpe, mas esses dois belos rapazes que me acompanham vão escoltar esses guardas até o barco, que os levará para Grande Continente, e eu mesma levarei Júlio para o lugar dele.

— Lugar dele? Não! Mesmo ele ficando aqui, ele não segue os requisitos para sua turma, ele é mais velho que os outros.

— Eu sou uma mulher regente, a minha turma não tem requisitos, assim como eu.

Rícardus se aproxima de Onilda com ar ameaçador, e, antes que falasse algo, outro homem se aproxima e diz.

— Rícardus Deformem!

Rícardus se afasta e esconde sua raiva.

— Ynascar... Que honra o ver.

— A honra é minha, “regente”, acredite...

— Não sei se você está a par da situação, mas quero deixar o melhor lugar e ambiente para o seu filho.

— Sim, e ele já está com tudo isso, e mais... Onilda é muito bem recomendada, tanto que eu mesmo pedi para ela treiná-lo.

— Mas e esse menino? Pode ser um problema...

— Um Descendente de Ivo? Não vejo problema nisso, eu até agradeço que tenha alguns deles por aqui, pois, mesmo em um grupo pequeno, meu filho terá a visão da diversidade e respeito ao próximo.

Onilda comenta baixo:

— Qualidades que muitos adultos não têm.

Ynascar entrega um pergaminho para Rícardus e diz sorrindo para Onilda:

— Como hoje em dia procuramos ter tudo formalizado, pois algumas pessoas esquecem a palavra já dita, aqui está oficializada a autorização pela qual Onilda pode ensinar aqui em Pronuntio, e tendo também acesso a tudo que outros treinadores e professorem têm e terão.

Rícardus olha para o pergaminho, mas não o lê. Ele tenta esconder sua repulsa por toda situação, mas acaba ficando sem muita reação. Onilda o fita bem no olho, e ele diz:

— Certo... Se assim os senhores de Pronuntio desejam... Vou seguir com as novas orientações aqui registradas.

Onilda abraça Júlio, afastando-o dos guardas, que são escoltados pelos dois guardiões, e diz com ironia, olhando para Rícardus:

— Vossa Senhoria está certa, pessoas “obedientes” são realmente necessárias.

Rícardus segue para o castelo para reunir todos os guerreiros que vieram do Império para enviá-los de volta. Onilda olha para Júlio, que demonstra estar mais feliz, e diz:

— Tuas coisas estão lá dentro?

— Sim...

— Pegues e me esperes, tenho algo a falar aqui ainda.

Júlio entra no alojamento para pegar suas coisas, e Ynascar se aproxima de Onilda.

— Você agiu muito bem, mestra.

— Mas foi difícil... Chegam minhas costas a doerem.

— Eu falei que, se você quiser, dá para tirá-lo do cargo.

— Não, isso iria dar mais trabalho, e ele teria tempo de fazer algo ruim. só em ter ajudado aqueles meninos e Júlio, já fico feliz.

— Bom, devo agradecer novamente por você aceitar cuidar de Ray.

— O prazer é meu.

— Preciso avisar que ele também será treinado por Maxmilliam.

— Sim, ele já havia me falado sobre; sem problema, darei todo o suporte possível.

— Agradeço novamente...

— Por favor, não me agradeça, se não fosse o senhor e o alto sacerdote de Coniuro, que está aqui na ilha, eu não conseguiria fazer nada.

— Mas você que foi atrás de tudo isso, a heroína aqui é você, não diminua suas ações.

— Sim... Devo reconhecer minhas ações também, agradecida.

— A sua missão foi traçada, e você a oficializou, eu fico feliz por ter ajudado nisso; agora leve o menino junto aos outros, eu terei uma reunião importante hoje.

— Sobre a universidade?

— Sim, parece que é algo sério e que precisa de algum tipo de intervenção rápida.

— Se precisar de algo, pode me chamar.

— Obrigado, digo o mesmo.

Ynascar reverencia Onilda e segue para o castelo, Júlio sai ao encontro de Onilda e comenta:

— Esse é o famoso herói da antiga guerra?

— Falei para tu esperares.

— Desculpe, fiquei curioso em saber mais sobre tudo isso que está acontecendo.

— Tudo bem...

— Muito obrigado por me salvar.

Júlio abraça forte Onilda, deixando-a emocionada, ela esconde sua emoção e diz:

— Não foi nada, eu sou sua professora, lembra? Minha missão é cuidar de ti e guiar-te para o melhor caminho possível.

— Se eu não fosse assim, tudo estaria bem...

— Não é verdade, tudo está bem exatamente porque você é assim... Doug me falou que na reunião de seleção tu o ajudaste a escapar.

— Ele falou?

— Sim, eu descobri que ele também é um Descendente de Ivo por haver essa empatia entre ti e ele, mas diga-me: na seleção havia outros assim como tu? Vós também tivestes essa “simpatia” com os outros?

— Igual com o Doug?

— Sim, ou com Doug é algo diferente?

— Sim... Diferente...

— Interessante.

— É algo ruim?

— Não, não, de forma alguma, isso é um bom sinal na verdade; bom que tu, além de ajudá-lo, arrumaste um jeito de entrar na mesma turma que a dele, assim possais ajudar melhor.

— Isso, eu pensei nisso.

— Então prometa-me que continuará a cuidar dele?

— Sim, senhora mestra!

— Ótimo, agora vamos, mostrar-lhe-ei seu dormitório.

— Espera! Aquele homem disse que tem um artefato que pode encontrar pessoas assim como eu e o Doug.

— Sim, é um encanamento colocado na ponta de um chifre de servo, mas não se preocupe, Doug me falou que teve isso na seleção, e eu já dei um jeito nesse artificio.

— Que bom...

— Sim, depois tu precisas me contar como conseguiste fazer com que o chifre não localizasse Doug.

— Certo...

Em pouco tempo, Onilda e Júlio chegam a um dos dormitórios.

— Os outros estão lá?

— Sim, aquele casarão é feito para abrigar vários alunos aqui de Pronuntio, não só a tua turma, mas outros alunos de outras turmas.

Onilda apresenta melhor o lugar para Júlio, comentando pequenas regras comuns: de manter o lugar limpo, não incomodar ou fazer barulho à noite, entre outros detalhes. Júlio gosta do lugar, pois é mais aconchegante do que ele imaginava, tendo mais que o necessário como área de lazer, livros, exercícios, jardim, entre outras coisas para os jovens.

Em um grande quarto, estão todos os seus amigos de turma, com a exceção de Ray. Ao entrar no quarto, Júlio é bem recebido por todos.

Onilda acha muito bonita a amizade que está crescendo entre eles, mas ainda fica observando o desenvolvimento da relação de Júlio e Doug, pois, entre todos, só Doug teve mais contato e um abraço mais longo ao rever Júlio. Todos se preparam para dormir, e Onilda organiza tudo, dizendo:

— Um momento, por favor... Preciso que vós sigais mais uma regra, a regra do quarto e cama.

— Regra até aqui?

— Sim, o desenvolvimento social é importante... Fareis assim: Meena irá para outro quarto só de meninas, para também ter mais afinidade com as outras.

Doug vai dormir na primeira cama; Jake, na segunda; Rupert, na terceira; Pedro e Donny vão dividir a beliche, e na beliche também ficará Júlio.

— Não posso trocar de lugar?

Onilda vê que Júlio quer ficar perto de Doug, mas ela é contra.

— Não, sigais isso, por favor, é só para dormires, não precisais estender esse assunto...

— E na outra cama do beliche, Doug pode dormir nela?

— Não... Pois... Ray, isso! Pois Ray poderá vir dormir aqui, e é necessário ter um lugar fixo para ele.

Pedro estranha saber que Ray poderá vir dormir no dormitório-padrão e comenta:

— Se ele pode dormir no castelo, não vai vir para cá.

— Nesses primeiros dias, ele dormirá lá, mas depois dormirá aqui convosco, é melhor para o desenvolvimento dele ficar por aqui... E uma última coisa antes de retirar-me e repousar também... É importante saber que vos ouvirei sobre outros treinos, estudos e práticas que outros alunos estarão fazendo, presteis a atenção e vejam que muitas batalhas são travadas o tempo todo, e um dos motivos para o vosso treino é para enfrentá-las, graveis isso, o direi; vou me dedicar em ensiná-los e treiná-los para que sobrevivam a uma guerra, mas nunca para causá-las, vocês focarão em salvar vidas, não para tirá-las.

Todos veem que Onilda está bem séria e determinada com esse assunto, a credibilidade que ela já conquistou com cada um dá moral e inspiração para todos, fazendo com que entendam melhor a importância desse pronunciamento.

— Certo, mestra!

— Ótimo, vos prepareis, pois amanhã a aula começa cedo... Meena, por favor, venha comigo, vamos conhecer as outras meninas, eu irei ajudar a vos apresentardes.

— Sim... Até amanhã, pessoal.



Comentários