Volume 1
Capítulo 02: Onilda Roser
— Ótimo... Antes que me descrevam, eu desejo saber de tu, Ray, o que queres ser?
— Eu também não sei ainda, talvez como o meu pai.
— É uma posição muito difícil de alcançar, saiba, mas, com determinação, muito estudo e treino tu conseguirás com certeza. Farás isso?
— Certamente que sim!
— Então vejam diante de vós, vosso herói!
Onilda encanta Ray para que tenha uma armadura com tons claros e partes douradas, uma bela espada com símbolos do zodíaco e uma pequena capa branca. Ray fica encantado, e Donny reclama.
— Por que a dele é mais legal?
— Não é a mais legal, é a mais adequada para aqueles que vão estudar o dobro, trabalhar o dobro e brincar menos, tu queres isso para ti também?
— Sim, talvez...
— Com o dobro de treinamento e lições para fazer em casa?
A maioria fica séria, e dizem honestamente:
— Não... Melhor não...
— É mais a cara do Ray mesmo.
Onilda ri e, com os encantamentos ainda no ar, faz com que todos fiquem brilhantes como se fossem trajes mágicos.
— Meus lindos alunos, todos serão heróis, cabe seguir bem o treino e os estudos, fareis isso?
— Sim!
— Perfeito... E me coloco à disposição para guiá-los nesta grande conquista, eu sou Onilda Roser, a professora de vocês.
— Por quanto tempo?
— Eu ainda não sei, mas, se depender de mim, será muito tempo... Vamos lá, falem de mim.
Ray só observa Onilda enquanto os outros falam.
— É baixa!
— Eu diria estatura mediana, mas vou aceitar isso, Meena?
— Bonita...
— Obrigada, Doug!
— Uma velha fofa!
— Não se esqueça das regras, Pedro. Irei deixar passar dessa vez.
— Gosta de roupas escuras.
— Sim, Jake, gosto de me ver usando cores mais escuras.
— É uma adestradora?
— Por causa da Opofrelse?
— Opofrelse?
— Sim, é o nome dela, minha coruja... Mas não, não chego a ser uma adestradora, essa é minha fiel amiga e companheira de muitos anos, ela não é domesticável, então não a irrite... Mas o que tu podes dizer de minha pessoa, Júlio?
— A senhora é uma Mestra da Magia.
— Ainda não, mas estou quase lá.
— Calma e sem cicatrizes, nunca foi em uma batalha?
— Já estive próxima disso, Donny, mas nunca estive na linha de frente, não gosto de batalhas, prefiro conversar para chegar a uma solução.
— Verdade.
— A senhora perdeu alguém importante na batalha?
— Ray?
— É por isso que a senhora usa roupas escuras?
— Sim... Mas podereis falar sobre isto em outro momento; hoje quero só falar de coisas que vos deixem felizes.
— Me desculpe.
— Não foi nada, fique despreocupado... Continuem brincando, que vou preparar uma aula para vocês.
Onilda lembra que Ray perdeu a mãe ainda jovem e entende que é por isso que ele tem essa percepção de perda nos outros. Passando algum tempo, Onilda conjura uma magia ao redor de todos, deixando-os pesados, limitando seus movimentos. Antes que eles comecem a reclamar, ela inicia sua explicação.
— Falaremos de vosso belo mundo, Arbidabliu! Lembrem que vosso mundo é dotado de grandes propriedades, até o nosso ar tem elementos que deixam os seres vivos mais aptos e vivos, elementos que possibilitam e aceleram certas evoluções que normalmente levariam milênios para serem concluídas. Arbidabliu também nos fornece energia para podermos conjurar magias, nos curar, nos fortalecer e até desafiar leis básicas, como. por exemplo, a gravidade do vosso mundo; quanto mais vosso mundo é vivo, mais nós seremos... Vos já tivestes os ensinamentos básicos, me coloco agora a ensiná-los a melhor forma de utilizar esses elementos que ganhamos do vosso mundo, dentro do que cada classe pode, é claro, pois cada classe tem um treinamento rigoroso e específico; mas todos aprenderão as propriedades de todos.
— Superaremos nossos limites?
— Isso mesmo, Ray, o mundo nos fornece moradia, água, ar, comida e propriedades mágicas; infelizmente, com o passar dos anos, essas propriedades foram diminuindo, vós estudastes sobre isso?
— Sim, os humanos abusaram muito do poder, consumindo mais do que precisam e mais do que o mundo pode regenerar.
— Exatamente, vamos nos aprofundar nesse assunto também.
Meena cansa de ficar com o corpo pesado e questiona.
— Por que estamos assim?
Onilda faz com que todos voltem ao normal e responde.
— Era só uma demonstração de como vós podeis ficar se não souberdes como cuidar de vós mesmos e de vosso mundo... Sei que alguns querem ser uma classe, e outros ainda não sabem o que serão ou o que querem ser, mas não se preocupem, nos estudos e treinamentos básicos todos vão adquirir novas habilidades e descobrirão seus talentos. Sentem-se e anotem algumas coisas que vou lhes falar.
A manhã passa com Onilda dando algumas lições naturais do mundo e das propriedades e elementos que Arbidabliu dá para os seres vivos que nele habitam.
Ela sempre usa artifícios mágicos para ilustrar algumas coisas, ganhando admiração e a atenção de todos, principalmente de Ray, que gosta de magia e de aprender coisas novas. Todos são atenciosos às lições e simpatizam cada vez mais com Onilda que, mesmo falando algumas palavras difíceis, tem empatia e energia para ensinar.
Ray fica amigo de Rupert por ajudá-lo a entender melhor algumas partes da aula.
— Obrigado, Ray, quando precisar de ajuda, é só pedir.
Meena é mais reservada, mas conversa com todos nos momentos que Onilda disponibiliza para que dialoguem, trocando informações e para se acostumarem uns com os outros.
— Achei que Pedro seria um aborrecimento, mas nas aulas você está mais quieto.
— Obrigado, eu sou legal, eu só falo o que eu vejo.
Pedro, Donny e Jake interagem rápido, parecendo terem os mesmos interesses em lazer e estudos.
— Nós três podemos fazer um grupo para disputar contra outros grupos de treino.
— É uma boa ideia, algumas dão recompensas.
— Podemos ver se os outros também querem.
— Eles não têm cara que gostem de disputas.
Júlio é simpático com todos e aproveita sua empatia para apresentar e enturmar Doug, que é reservado e demonstra receio de se aproximar dos outros além do Júlio. Doug sente que pode confiar em Júlio, ainda mais vendo as atitudes positivas dele.
— Obrigado por me ajudar...
— Não foi nada, tudo que você precisar pode me falar.
Nos momentos de socialização dos alunos, Onilda fica observando e verificando cada ação e identificando a personalidade de cada um; em pouco tempo ela percebe que são adolescentes bem didáticos e com grandes dons. Animada por ser mestra e orientadora desse grupo, ela investe mais de seu tempo e dedicação na esperança de formar grandes heróis para Arbidabliu.
— Deus, ajude-me e guie-me a ser uma condutora boa dessa geração.
Acabando o primeiro tempo, todos saem da praia e vão comer junto a outros alunos de outros grupos da ilha. Ray e Doug ficam mais reservados, observando tudo enquanto comem e ouvem as conversas ao redor.
Rupert e Júlio fazem mais contato com outros alunos, deixando o clima agradável.
Meena tenta fazer amizade com outras três meninas, mas sem sucesso, deixando-a recuada para novos contatos.
Jake, Pedro e Donny intimidam alguns outros alunos, ganhando mais confiança em si mesmos e demostrando que o seu grupo de estudo e treino tem destaque.
— Somos um grupo de elite, se preparem quando forem nos encontrar no campo de treinamento.
Mesmo tendo contato com outras pessoas e alunos, Ray, Júlio, Doug, Rupert, Meena, Pedro, Donny e Jake mantêm mais contato entre si, criando o início de uma boa amizade; eles trocam informações entre si, contando um pouco mais de si mesmos, ganhando com o tempo mais afinidade.
— Até que esse grupo pode ir longe.
Mais tempo se passa, e todos voltam para a praia e veem Onilda sentada, lendo um livro e comendo uma fruta diferente. Ainda conversando, eles se acomodam para voltar a estudar; Onilda vê que o retorno deles foi mais cedo que o pedido e questiona:
— Voltastes cedo, estais bem alimentados?
— Sim, senhora!
— Ótimo, espereis Opofrelse voltar e já começamos a aula.
Onilda vê que todos estranham o fruto que ela está comendo e oferece.
— Estais servidos? Eu tenho mais desta se quiserdes.
Todos recusam, mas Júlio e Doug se aproximam para ver o fruto de perto, que parece ser muito apetitoso. Doug está curioso e questiona:
— Que interessante, nunca tinha visto uma, o que é?
— Sapota preta! Pegue!
Júlio e Doug pegam ansiosos para experimentarem, ambos se olham com um sorriso e Doug diz, com a boca cheia de sapota mastigada:
— Muito delicioso!
— Muito bom mesmo.
Onilda sorri e comenta:
— Sabia que iam gostar, é um fruto muito bom.
Doug devora rapidamente o seu e lambe seus dedos, Júlio dá risada ao ver o gosto de Doug pela fruta e oferece a dele.
— Pegue o meu!
— Sério? Tem certeza?
— Tenho, é seu!
— É muito bom, se eu pegar, não vou te dar de volta.
Ambos dão risada, e Doug pega o fruto de Júlio e come com mais moderação, mas se deliciando a cada pedaço. Onilda fica feliz ao ver a relação dos alunos ficar cada vez melhor; ela se levanta e comenta, se aproximando dos outros:
— Não sei se vos sabeis, mas Ana Hyacin, Teresa Surrexerunt e Helena Viridi foram minhas alunas também.
— Verdade?
— Sim, praticamente foram as primeiras, e eu também não sou tão velha assim.
Onilda ri e Pedro questiona:
— Quem são essas?
— Ana é mãe de Doug; Teresa, mãe de Júlio e Helena, mãe de Meena.
Meena gosta da notícia e comenta, se recordando de algo.
— Sim, minha mãe comentou sobre uma “mestra da coruja”, ela disse que dava muito trabalho, com suas duas amigas.
— Isso mesmo, mas até que tomaram jeito depois, bem depois, mas viraram grandes mulheres.
— Minha mãe não veio para Pronuntio por que ela disse que a classe dela não é reconhecida aqui ainda.
Júlio fica pensativo e comenta:
— Estranho, minha mãe não falou muito da infância dela.
— Eu sei que com o tempo elas se separaram, mas a minha falou que ainda admira muito suas amigas de infância como se fossem irmãs.
Doug sorri, se lembra de uma coisa que sua mãe também lhe falou e acrescenta:
— As trigêmeas!
— Isso! Ela falou algo assim, e que a senhora Roser as criou.
Júlio ainda fica pensativo, tentando lembrar se a sua mãe falou algo sobre isso, mas não se recorda. Doug se aproxima de Onilda e, enquanto limpa sua boca do fruto que comeu, pergunta para ela:
— A minha mãe também disse que a classe dela não seria bem-vista aqui, por que isso, mestra?
— Vejamos, vamos aproveitar e acrescentar isso a vossa aula. Pode ser assim?
— Sim!
— Então vos ajeitais e anoteis os detalhes...
Depois que todos se arrumaram e se ajeitaram, Onilda começou.
— Pronuntio é uma das dez ilhas que cercam o Grande Continente, essas dez ilhas foram povoadas recentemente. Para cada uma delas, tinha um alto sacerdote, que guiava a população conforme os interesses mútuos da fé e as necessidades de cada ilha, mas rapidamente esses sacerdotes foram substituídos, tendo em seus lugares homens sem muita profundidade espiritual e interesses mútuos, diminuindo com o tempo a parte espiritual e aumentando a parte social, que também é necessária... Esses são hoje em dia os “regentes”, eles lidam com tudo que é importante para a comunicação com as outras ilhas e cidades da costa do Grande Continente, implantando alguns costumes do Império de Cristal, que cada vez mais cresce e se expande, formando a “paz” entre os povos... Alguma pergunta até agora?
Ninguém mostra dúvidas, todos eles estão interessados e escrevem tudo que Onilda fala.
— Continuando... Devido a isso, o controle que o Império está inserindo em alguns lugares deixa algumas práticas e gêneros de lado, elas acabam sendo vistas como “desnecessárias”; entre essas, as mulheres e classes que são vinculadas à natureza, flora e fauna. Esse é o motivo de alguns familiares e até conhecidos de vós ficarem reservados em suas cidades natais. Não que seja proibida à vinda deles, mas algumas leis e mudanças estão acontecendo, então tudo tem que ser feito com cautela, em outras palavras: tudo tem que seguir as ordens do Império de Cristal, para que não haja desentendimento ou equívocos.
— Isso é perigoso?
— Um pouco, mas não vos preocupeis, pois quaisquer mudanças vos serão avisadas e não sofrereis nenhum mal, tudo são problemas dos altos cargos hierárquicos, não havendo necessidade de um combate ou grandes confusões.
— Entendi... Mas e os novos Electi?
— Faz poucos anos que surgiu a nova geração dos Electi. Como eles são seres extraordinários, não prestam conta para os outros seres vivos, não se sabe se eles vão intervir nessas mudanças que estamos tendo aqui, pois eles têm que cuidar de várias coisas de Arbidabliu.
— Tem como pedir ajuda para eles?
— Sim, tem algumas pessoas indo atrás disso, então torcereis para que tudo ande bem.
— A senhora já conheceu algum Electi?
— Infelizmente não, mas quem sabe algum dia.
— Existe o oposto de um Electi?
— Não, Electi são os seres divinos, representantes de Deus no mundo, em uma forma mais física, não existe nada oposto disso; pelo menos, não que eu conheça.
— Eles têm dons para tudo, não tem nada oposto a isso?
— Estão curiosos pelo “oposto”... Oposto de dons? Alguém que não tenha dons?
Onilda pensa um pouco e se recorda de algo.
— Eu já vi um estudo sobre a “Síndrome do Impostor”... Todos sabem que Arbidabliu auxilia todos os seres vivos com sua energia, podendo proporcionar vantagens diversas. Um ser com essa síndrome acaba não absorvendo energia necessária para fazer algo que ultrapasse sua capacidade, tendo níveis baixos de poderes, imunidade, entre outras coisas; seria um ser “fraco”, mas que, mesmo assim, consegue viver normalmente se não passar por nenhum perigo alto.
— Então isso é raro?
— Sim, eu só vi em estudos antigos, mas nenhum relato de alguém que passou por isso, acredito que, se houver, há de ter uma cura, um jeito de reverter talvez.
— Seria ruim viver sem poderes...
— Muitos vivem assim, de uma forma humilde, eu diria, o ruim dessa “maldição” é que, além da vulnerabilidade, vos ficais impossibilitados de ter um crescimento mágico e até físico, mas ainda assim podeis se dedicar a outras coisas. Estudar é algo muito importante: quanto mais souber, mais poderá entender tudo no mundo e viver sem grandes poderes.
Opofrelse fica agitada, deixando Onilda preocupada, todos olham a coruja nervosa e, antes de questionarem o que está acontecendo, a voz de um homem chama a atenção de todos. Ele diz de uma forma arrogante, com braveza.
— Grupo da Infanta!
Todos estranham o termo usado pelo homem, ele é mais novo que Onilda, mas com características de um homem velho, aparência comum, estatura alta, pele branca, cabelo bem curto, liso, preto e com algumas partes grisalhas; está bem-vestido, roupas nobres de alto nível de poder de Pronuntio. Ele chega com alguns guardas, impondo total respeito e autoridade.
— O que estão fazendo? Levantem-se! Não sabem quem eu sou?
Todos ficam de pé e reverenciam o homem que pelas roupas é identificado como o regente de Pronuntio. Onilda o apresenta adequadamente.
— Meninos e meninas, este é Rícardus Deformem, o Regente de Pronuntio.
Rícardus se aproxima com mau humor e Onilda diz.
— Perdoe-os, são novos e...
— Todas as outras turmas já sabiam como se comportar e como identificar alguém importante para quem devem respeito e prestígio.
— Peço desculpas em nome deles.
Os alunos ficam sem entender a situação, por sentirem um clima desnecessariamente hostil. Onilda demonstra desgosto por Rícardus, que, com um ar arrogante, se aproxima dos alunos.
— Vamos, se apresentem!
“Sinto um mau pressentimento...”