Hyouka Japonesa

Tradução: slag

Revisão: slag


Volume 6

Capítulo 2: Está Ensolarado nas Montanhas?

Um helicóptero passou depois da aula.

O barulho das hélices foi se aproximando — surpreendentemente próximo — e não parecia estar indo embora. O ruído permaneceu por tanto tempo diretamente acima que comecei a pensar que ele poderia estar prestes a pousar no pátio da escola, mas por fim, desapareceu ao longe.

Estávamos em quatro na sala de Geologia, o clube de Literatura Clássica. Eu lia um livro, Satoshi fazia algum dever de casa, e Chitanda e Ibara conversavam e riam em um canto, sabe-se lá sobre o quê.

Com o barulho ensurdecedor do helicóptero, a atmosfera da sala pareceu congelar. Quando o som finalmente sumiu, um silêncio mútuo tomou conta do ambiente. Era um pouco estranho. Não que eu estivesse tentando quebrar o silêncio, mas acabei falando.

— Um helicóptero, hein? — Já tinha ouvido esse som inúmeras vezes, mas dessa vez algo me veio à mente. — O Ogi gostava de helicópteros, não gostava?

Dirigi a pergunta ao Satoshi e à Ibara, mas quem respondeu foi Chitanda.

— Ogi-san? Está falando do Takahiro Ogi da turma 2-B?

— Quem?

— Da turma 2-B, como eu disse.

Como eu, um calouro que nunca se envolveu em nenhuma atividade escolar fora do Clube de Literatura Clássica, saberia o nome de um aluno do segundo ano? Fechei o livro nas minhas mãos.

— Você não conhece o "Ogi" de quem estou falando. Ele era professor de inglês na nossa escola do ensino fundamental. Satoshi, você lembra dele, né?

Ao ouvir isso, Satoshi colocou sua lapiseira na mesa. Ele inclinou a cabeça, aparentemente em dúvida.

— Claro que lembro do professor Ogi. Ele foi meu professor responsável no último ano lá. Só não sabia que ele gostava de helicópteros.

Dessa vez quem ficou surpreso fui eu. Satoshi costumava ser quem sabia de todos os detalhes mais aleatórios sobre qualquer assunto.

— Achei que fosse bem conhecido. Que ele gostava de helicópteros, quero dizer.

Enquanto dizia isso, lancei um olhar para Ibara. Imaginei que pelo menos ela saberia.

Nós três — Satoshi, Ibara e eu — tínhamos vindo da Escola Fundamental Kaburaya para o Colégio Kamiyama. Somente Chitanda viera de outro lugar. Mesmo percebendo meu olhar, Ibara mantinha os olhos virados para o outro lado. Tudo o que disse foi.

— Tá.

Algo estava errado. Será que Satoshi e Ibara realmente não sabiam de nada? Eu nunca fui do tipo que presta atenção especial aos professores. O fato de alguém como eu saber disso, enquanto eles não, era no mínimo estranho. Ainda por cima, Ibara e eu sempre estudamos na mesma classe naquela época. Não havia como ela não saber disso.

— Você não lembra, Ibara? Não lembro quando foi, mas um helicóptero sobrevoou a Kaburaya certa vez.

— É, e quantas vezes isso já aconteceu?

Sua resposta não teve um pingo de calor. Acho que nunca vi a Ibara sendo amigável, para ser honesto.

— Estou falando de uma vez específica. O Ogi parou de dar aula de repente, foi até a janela e ficou olhando pro céu. Ficou lá o tempo todo, desde que o helicóptero apareceu até ele sumir, e depois riu, dizendo algo como "Gosto de helicópteros", antes de continuar a aula.

— Hm — disse Ibara, enquanto franzia o rosto, tentando se lembrar. — Agora que você falou, acho que isso aconteceu mesmo. Foi o Ogi, né?

— Foi sim.

Que alívio. Não tinha sido só coisa da minha cabeça. Por outro lado, Satoshi continuava balançando a cabeça em dúvida. De um lado para o outro, como se estivesse fazendo algum exercício para aliviar os ombros. Parou de repente e disse.

— Tem algo estranho nisso.

— Estranho ou não, eu lembro disso com certeza.

— Mas houve uma vez em que vários helicópteros das Forças de Autodefesa sobrevoaram a escola em formação. Foi um baita espetáculo, e eu não lembro do professor Ogi reagir em momento algum.

Tive algumas perguntas na hora.

— O que você quer dizer com "em formação"?

— Em esquadrilha — respondeu ele.

— Como você sabia que era a Força de Autodefesa?

— Não consigo imaginar mais ninguém pilotando um monte de helicópteros em formação em V daquele jeito.

Fazia sentido. Mas ainda tinha mais uma pergunta.

— Você tem certeza absoluta de que o Ogi estava lá na hora?

— Acho que era ele, pelo menos. Lembro que olhei "ATM" no dicionário quando vi os helicópteros e fiz a conexão... o que significa que eu estava na aula de inglês, e o professor era o Ogi. Só tive aula com ele nessa matéria.

Aposto que a Ibara e a Chitanda estavam tentando entender o que helicópteros e caixas eletrônicos tinham em comum. Nesse caso, "ATM" era uma abreviação de mísseis antitanque — o tipo que os helicópteros militares costumam carregar. Mas enfim…

(N/SLAG: Automatic Teller Machines e Anti-Tank Missiles. Ambos são ATM abreviado.)

— Tem razão. Se algo assim sobrevoasse a escola, consigo imaginar o Ogi correndo para o pátio e dançando de empolgação.

— Não acho que ele dançaria, na verdade — respondeu ela. Era só um exemplo.

A Ibara também parecia estar se esforçando para lembrar de algo.

— É, tenho quase certeza de que foi o professor Ogi que ficou todo empolgado ao ver o helicóptero. Isso foi há um bom tempo... provavelmente logo depois que começamos o primeiro ano.

— Agora que mencionou, lembro de ter pensado "essa escola tem uns professores bem esquisitos" quando isso aconteceu — comentei.

— Mas, como o Fuku-chan disse, não lembro dele reagindo a nenhum outro helicóptero depois disso.

Logo após o começo do primeiro ano, hein? Minhas lembranças estavam meio embaralhadas, mas acho que a Ibara estava certa. Não me lembro de nada parecido depois.

O Satoshi também parecia ter se lembrado de algo.

— Sabe, se estamos falando do Ogi-sensei, tem uma coisa bem mais interessante... A Lendária História Chocante do Ogi!

— Para de inventar coisa.

Achei que o Satoshi fosse inventar alguma história maluca como sempre, mas ele parecia surpreendentemente sério.

— Tô falando sério. Não tô inventando nada. Foi ele mesmo que contou.

Ele sempre adorou contar histórias. Fiquei em silêncio, e em troca, ele sorriu de orelha a orelha e começou a se preparar como se fosse narrar uma saga épica.

— O lance com o professor Ogi é o seguinte... No começo, eu também não acreditei. Não sei se vocês vão aceitar isso numa boa, mesmo que eu conte. Não dá pra dizer que é impossível, mas...

— Vai direto ao ponto.

— Segundo ele mesmo, já foi atingido por um raio três vezes na vida.

Para Chitanda, o Ogi era só um estranho que gostava de helicópteros e de sacar dinheiro em caixas eletrônicos. Ela tinha uma curiosidade infinita, claro, mas duvidava que se interessasse por algo assim. Mesmo sem ter muito a acrescentar, ela resolveu falar.

— Sério? Tipo... raio mesmo? — Perguntou, apontando pro teto. Satoshi assentiu.

— Isso! Trovão!

Nunca tinha ouvido essa história antes. Virei em silêncio para olhar para a Ibara e, pelo leve balançar de cabeça, vi que ela também não conhecia.

A testa da Chitanda se franziu de forma intensa. Poxa, você nem conhece ele...

— E três vezes ainda por cima. É um milagre ele estar bem — comentou.

— O raio acertou ele assim, pá!

Foi uma pena eu ter escutado aquilo. Faria um favor a mim mesmo se fingisse que nunca ouvi.

— Não é como se tivesse sido direto, mas ele disse que mesmo assim o afetou. Uma vez, acho que ele chegou a desmaiar. Ele contou rindo, dizendo que ainda tem a cicatriz da queimadura pra provar — disse Satoshi.

— Entendo... Mas pelo menos ele sobreviveu. Isso já é alguma coisa — comentou Chitanda.

É verdade — ser atingido por um raio pode sim ser fatal em muitas situações. Ogi não tinha nenhuma sequela aparente, pelo que vi. Apesar de ser baixinho, parecia bem saudável. Considerando que isso foi depois de três raios, dizer que foi "sorte" é pouco.

Mas aquilo começou a me incomodar. Atingido por raio? E três vezes ainda? Isso é possível?

A cidade de Kamiyama nem era conhecida por tempestades elétricas frequentes, e mesmo assim só o Ogi foi atingido três vezes? Não é que eu estivesse chamando o Satoshi de mentiroso. Sim, ele inventava umas histórias de vez em quando, mas nunca começava uma dizendo: "Tô falando sério!"

Então o Ogi que era mentiroso? Também parecia improvável. Tem gente que gosta de exagerar os próprios infortúnios, mas dizer "Fui atingido por raio três vezes" parecia, sei lá... óbvio demais pra ser mentira.

Uma ideia começou a se formar, ainda que bem vaga. E não era uma ideia muito animadora.

— Satoshi, será que tem jornais antigos na biblioteca? — Perguntei.

Satoshi pareceu um pouco decepcionado com a mudança brusca de assunto, mas respondeu mesmo assim.

— Tem sim. A biblioteca da escola também tem alguns.

— É, mas só coisas relacionadas à escola — completou a Ibara.

Ah, é verdade. Quase esqueci que a Ibara trabalhava na biblioteca. Sempre que eu ia lá, acabava vendo ela no balcão. Isso não tinha nada a ver com o colégio Kamiyama, então provavelmente não haveria muita informação lá. Peguei minha mochila.

— Tô indo agora. Vou dar uma passada na biblioteca. Quer vir junto?

Assim que falei isso para o Satoshi, ele me olhou com uma expressão desconfiada.

— O que tá rolando aqui? Tá até parecendo que você tá ficando motivado.

Será que eu estava mesmo? Não sei se chamaria assim. Mas aquilo tava martelando demais na minha cabeça...

— Tô curioso.

No segundo em que falei isso, quase deu pra sentir o clima ao meu redor mudar. Não, com certeza mudou. O Satoshi cobriu a boca com as mãos, e a Ibara fez uma careta como se tivesse comido algo azedo. Satoshi começou a gesticular exageradamente.

— Houtarou? É você mesmo? Oreki Houtarou? Não foi possuído por alienígenas, né? Ou será que a Chitanda te possuiu?

— Tô bem aqui, viu — respondeu Chitanda, cruzando os braços.

— Acho melhor você ir direto pra casa, Oreki. Vai pra casa, toma um banho quente, se enrola num cobertor e descansa bem. Amanhã você já vai estar de volta ao normal — emendou Ibara, preocupada.

...Será que era tão estranho assim eu tomar uma iniciativa de vez em quando? Para mim, era tão natural quanto respirar. Não fazia ideia de que horas a biblioteca fechava, mas duvidava que ficasse aberta o tempo todo. Seria um saco se estivesse fechada quando eu chegasse. Melhor não perder mais tempo convidando esse bando e ir logo resolver isso.

Quando me levantei para fazer exatamente isso, outra pessoa também se levantou da cadeira ao mesmo tempo. Era a Chitanda.

— Oreki-san, você está curioso, não está!?

— Acho que sim.

— Vai tentar descobrir a resposta?

— Existe a chance de não encontrarmos nada, mas provavelmente é a melhor chance que tenho.

— Eu estou curiosa!

M-Mas o que é isso?

Chitanda veio rapidamente até onde eu estava, se esgueirando entre as carteiras e as cadeiras. Parou a cerca de um metro de distância, com os olhos negros fixos nos meus.

— Pensar que algo pudesse despertar o seu interesse, Oreki-san... Eu quero saber o que é! Estou curiosa!

Ah. Esse também é um problema pra mim.

Satoshi aparentemente precisava terminar o dever de casa, então não veio com a gente. Pensando bem, não é como se eu fosse ficar arrasado se ele não pudesse vir desde o início. Para ser sincero, teria sido bem útil se a Ibara tivesse conseguido vir, já que ela trabalhava como funcionária da biblioteca do colégio, mas nós dois não éramos próximos o suficiente para pedir esse tipo de favor.

Isso significava que apenas a Chitanda estava esperando ao lado dos portões da escola.

Era justamente a hora em que a maioria dos alunos começava a terminar suas atividades nos clubes. Alunos com uniforme escolar começavam a se aglomerar na entrada, voltando para casa, vindos de um colégio lotado de clubes, num fluxo que parecia não ter fim. Os estudantes dos clubes de esportes ainda estavam no pátio da escola, mas pelo visto, de forma geral, as coisas estavam terminando por agora.

Vi garotas do clube de atletismo carregando obstáculos nos ombros e garotos do time de beisebol andando pelo campo enquanto recolhiam as bases.

Eu sempre ia a pé para a escola, mas a Chitanda usava bicicleta. Suponho que ela não estivesse realmente esperando, já que a vi pedalando calmamente vindo do estacionamento de bicicletas atrás da escola.

— Vamos indo, então?

Quando ela disse isso, algo me veio à mente.

Nesse horário, havia estudantes indo para casa ao nosso redor até onde a vista alcançava. Para que Chitanda e eu fôssemos juntos à biblioteca, ela teria que descer da bicicleta e empurrá-la no meio da multidão. Imaginei essa cena na minha cabeça.

Provavelmente seria impossível. Sem surpresas.

— Pode ir na frente.

Chitanda olhou para mim.

— Você pode subir...

...disse ela.

Eu, sentado atrás da Chitanda enquanto ela pedalava... imaginei essa cena na minha cabeça. Isso com certeza seria impossível.

Pensando bem, não havia motivo para ela ter me esperado aqui desde o início. Se ela queria saber o que eu ia pesquisar, seria melhor nos encontrarmos direto na biblioteca. Em vez de apenas mandar ela ir na frente de novo, resolvi dar a ela algo para começar. Ela começou a pedalar.

Pensei um pouco e então a chamei.

— Ei, Chitanda.

— Sim? — ainda sobre a bicicleta, ela parou e se virou, olhando por cima do ombro para mim.

— Quando chegar à biblioteca, veja se dá para pesquisar os jornais antigos de forma eletrônica. Se der, você pode procurar por artigos que mencionem o nome Masakiyo Ogi?

— Entendido. Até logo, então.

A observei enquanto ela pedalava para longe, e não pude deixar de pensar que a bicicleta realmente não combinava com ela. Embora, por mais feminina que fosse, não é como se eu a imaginasse em uma carruagem puxada por cavalos ou em um riquixá também...

Me misturei novamente aos demais alunos que iam embora. Se eu andasse devagar demais, acabaria fazendo a Chitanda esperar. Correr, claro, iria contra minha política de economia de energia, mas andar um pouco mais rápido não faria mal.

Olhei para os meus pés enquanto caminhava com mais agilidade. A biblioteca da cidade não ficava muito longe do meu trajeto normal para casa; bastava fazer um pequeno desvio. Já estava tão acostumado a esse caminho, seguindo ao lado do rio. Às vezes eu dava a volta em dias de chuva para passar pela rua coberta com o fliperama, mas na maior parte das vezes, era por essa rua que eu ia e voltava.

A multidão de estudantes que inicialmente se reuniu na entrada da escola foi gradualmente diminuindo — talvez alguns indo para casa, outros para cursos preparatórios — e, eventualmente, eu era o único aluno do Colégio Kamiyama ainda caminhando ao lado do rio.

Estava um pouco cansado de andar tão rápido, então levantei o queixo e olhei para frente. Percebi um carro compacto vindo por trás e me afastei para o lado da rua. Ao finalmente olhar para frente, vi a paisagem familiar da cadeia de montanhas Kamikakiuchi cobertas de neve, imponentes como sempre, estendendo-se ao longe.

A cidade de Kamiyama ficava aos pés da cordilheira Kamikakiuchi. Se você saísse da cidade — em uma excursão escolar, por exemplo — perceberia que as montanhas se estendem como uma enorme cortina, inspirando ao mesmo tempo um sentimento de liberdade e inquietação. A cadeia montanhosa, com seu ponto mais alto alcançando os 3000 metros, impede até mesmo a passagem da atmosfera, e por isso o clima dos dois lados é completamente diferente. Ao menos é o que dizem. Nunca vi isso com meus próprios olhos. Li isso num livro didático uma vez, e minha irmã contou a mesma coisa.

Minha irmã, aliás, era do tipo que saía dizendo "vou dar uma volta" e acabava viajando pelo Japão e pelo mundo, já foi para essa cordilheira inúmeras vezes. Mas, apesar de tudo, Tomoe Oreki aparentemente não era uma alpinista. Tenho quase certeza de que ela só escalou a parte mais fácil da cadeia, com montanhas voltadas para iniciantes, com apenas 2000 metros de altura.

Também fui levado lá uma vez, quando estava na escola primária. É desnecessário dizer que fazer trilha é o oposto da minha política de economia de energia. Provavelmente nunca mais colocarei os pés em uma montanha.

Ainda faltava um tempo até o anoitecer. Não que eu tivesse esquecido da Chitanda, mas me permiti observar por um momento a linha de montanhas à qual já deveria estar acostumado.

Não era coincidência que eu estivesse com a cabeça nas nuvens pensando na cordilheira Kamikakiuchi.

*

 

Ao entrar na biblioteca, notei que Chitanda veio até mim com passos suaves e me entregou uma folha impressa.

— Encontrei algumas informações sobre o Ogi-san.

Ela não precisava ter impresso. Tenho certeza de que as cópias custavam 10 ienes por página, então peguei uma moeda de 10 ienes da carteira e ofereci a ela. Ela a aceitou em silêncio.

O que Chitanda encontrou era um artigo de jornal do ano passado.

Embelezamento da Trilha da Cordilheira Kamikakiuchi

O embelezamento da trilha do Monte Abumi, organizado pelo Clube de Montanhismo de Kamiyama, teve início no dia 26. Onze membros, incluindo voluntários, participaram da remoção de lixo da trilha e das áreas ao redor. Masakiyo Ogi (39), presidente do Clube de Montanhismo de Kamiyama, comentou:

Com o aumento da popularidade das trilhas nos últimos anos, cada vez mais montanhistas não têm cuidado com o ambiente ao seu redor. Gostaria que as pessoas tivessem consciência de como seus maus modos afetam a montanha.

— Vejo que o Sr. Ogi era um alpinista — disse Chitanda.

Minha expressão provavelmente ficou um pouco mais sombria enquanto ela me observava antes de continuar.

— Hm... Aconteceu alguma coisa?

— Nada demais. Você pesquisou todas as revistas antigas?

— Não consegui ver nada com mais de cinco anos, mas dá para solicitar ali no balcão.

Ao dizer isso, ela começou a parecer um pouco mais incerta quanto à minha atitude. Saber que ele foi atingido por um raio três vezes me deixou pensativo... Será que algo assim podia acontecer em terreno plano?

Acho que sim. Já ouvi histórias de pessoas ao redor do mundo que sobreviveram até após serem atingidas por raios dezenas de vezes. Mas eu estava seguindo uma linha de raciocínio diferente — e parece que acertei. Ainda assim, queria muito estar errado. Com esse pensamento em mente, me aproximei do balcão.

— Com licença, estou procurando uma matéria de jornal — pedi à jovem de óculos de aro prateado que estava sentada em frente ao computador.

— Certo. O que você está procurando?

Pedi uma matéria do ano em que entrei no ensino fundamental II, por volta de abril a maio.

O som das teclas continuou por um momento, ininterrupto. Em vez de olhar para o teclado ou o monitor, ela continuou olhando na minha direção enquanto digitava.

— Tem alguma palavra-chave?

Pensei por um segundo.

— Tente "isolados".

Sem perguntar o motivo nem mudar a expressão, ela digitou no computador.

Fiquei pensando se ela era bibliotecária. Antigamente, eu achava que qualquer pessoa que trabalhasse numa biblioteca era bibliotecária. Um tempo atrás, a Ibara descobriu isso de alguma forma e tirou sarro de mim. Deixando de lado se ela era bibliotecária ou funcionária temporária, o fato é que fez o trabalho bem rápido. Quase de imediato, ela já tinha uma lista de matérias de jornal que se encaixavam no que pedi.

— Há doze resultados. Deseja refinar mais sua busca? — ela perguntou.

— Não são muitos resultados. Pode me mostrar todos, por favor? — respondi.

A mulher virou o monitor em minha direção. Parecia que o banco de dados não continha os artigos em si, apenas servia para buscá-los. Só os títulos eram exibidos, mas entre eles, encontrei as palavras que confirmaram minhas suspeitas.

"Alpinistas Isolados na Cordilheira Kamikakuchi, Buscas Paralisadas"

— É de 9 de maio. Aqui diz de qual jornal veio. Vamos procurá-lo — disse Chitanda.

Não havia nem um traço de leveza em sua voz.

Chitanda nunca foi boa em juntar as peças. Mesmo que eu, a Ibara ou o Satoshi entendêssemos, ela frequentemente ficava sem saber o que estava acontecendo. Mas, pelo tom dela agora, provavelmente já tinha compreendido tudo. Segui em silêncio enquanto ela liderava o caminho.

Embora estivéssemos procurando o artigo sozinhos, não levaria muito tempo para encontrá-lo, desde que soubéssemos a data. Nem se passou um minuto e já tínhamos achado. Era a edição da manhã de sexta-feira, 9 de maio. O motivo pelo qual o professor de inglês da Kabuyara Middle School, Ogi-sensei, disse que gostava de helicópteros provavelmente estava ligado ao que aconteceu nesse dia.

O artigo dizia o seguinte:

"Dois Membros do Clube de Montanhismo de Kamiyama São Dados como Isolados"

No dia 8, autoridades de Kamiyama foram notificadas de que Kouichi Tawarada (43) e Isao Muraji (40) não retornaram da trilha no horário combinado. Ambos são membros do Clube de Montanhismo de Kamiyama e teriam escalado o Monte Shikoro, na cordilheira Kamikakiuchi. Uma equipe de resgate foi enviada, mas os esforços estão paralisados devido ao mau tempo nas áreas próximas. Autoridades estaduais transferiram um helicóptero de resgate para a polícia local, e uma busca aérea está programada assim que as condições climáticas melhorarem.

— Isso significa... o quê?

Chitanda provavelmente já sabia o essencial do que havia acontecido; só não queria ser ela a dizer. Como tudo isso foi ideia minha, a responsabilidade de responder era minha.

— Isso significa que o Ogi não gostava de helicópteros de verdade.

Havia mais gente na biblioteca do que eu esperava para aquela hora da tarde. Vi crianças e idosos, alunos do ensino médio de Kamiyama usando o mesmo uniforme que o nosso e até o que pareciam ser estudantes de outras escolas. Acho que devíamos falar baixo numa biblioteca. Reduzi um pouco o tom de voz.

— Ogi foi atingido por raio três vezes. Isso provavelmente é verdade, mas eu não conseguia entender como isso acontecia com um simples professor de inglês do ensino fundamental. Foi aí que comecei a pensar: e se ele costumava ir a lugares onde raios caíam com mais frequência?

— Nas montanhas, você quer dizer — respondeu Chitanda.

— Isso. Pensei: e se o Ogi não fosse só professor, mas também alpinista? Na hora, juntei os pontos e percebi o significado de ele ter dito que gostava de helicópteros naquele dia. Eu não queria acreditar, por isso vim confirmar.

E agora, temos o artigo do passado bem aqui na nossa frente — uma matéria sobre dois membros isolados do clube de montanhismo do qual ele fazia parte.

— Por que o Ogi foi até a janela ver o helicóptero naquele dia? Porque aquele helicóptero tinha um significado especial. Talvez o helicóptero sobrevoando a escola tivesse algum valor simbólico para ele, pensei.

— Indo além disso, ele precisava saber se o helicóptero conseguiria voar. Por isso, assim que ouviu o som, correu para ver com os próprios olhos, sem pensar.

Não dava pra entender nada só vendo um professor de inglês interessado em helicópteros.

Mas se mudássemos "professor de inglês" para "alpinista", surgiam muitas possibilidades. Ainda mais considerando que a cidade de Kamiyama ficava ao pé da cordilheira Kamikakiuchi, cuja crista mais alta atingia 3000 metros de altitude. Se você começasse a se perguntar por que um alpinista estaria tão obcecado com helicópteros conseguirem voar, não levaria muito para pensar em algumas hipóteses. As ligações entre alpinismo e helicópteros eram fotografia aérea e transporte. Se não fosse nenhuma dessas duas... então só poderia ser resgate.

A voz da Chitanda também era um sussurro, embora eu sentisse que não era só por estarmos na biblioteca.

— O artigo diz que o tempo no dia 8 estava muito ruim, então os helicópteros não poderiam voar.

— Isso mesmo.

Não falei mais nada depois disso. Ela provavelmente entendeu também. Não havia necessidade de dizer nada inútil.

O que o Ogi queria saber era se o helicóptero de prontidão da polícia de Kamiyama conseguiria decolar. Em sala de aula, enquanto ensinava o ABC para alunos do sétimo ano, ele se perguntava se o tempo na distante cordilheira Kamikakiuchi teria melhorado. Se o tempo abrisse, o helicóptero voaria. Se o helicóptero voasse, os dois que estavam isolados teriam mais chances de serem salvos.

— Como será que ele se sentiu...

Enquanto Chitanda murmurava isso, mais uma vez me lembrei do que aconteceu três anos atrás.

Ogi tinha corrido até a janela, e, quando o som do helicóptero finalmente se perdeu na distância, ele voltou ao seu púlpito.

— Eu gosto de helicópteros — foi a desculpa dele.

Acho que lembro de como era a expressão no rosto dele naquele momento. Talvez minha memória esteja falhando.

— Não sei como ele se sentia, mas tenho quase certeza de que ele estava sorrindo.

Talvez fosse só porque estava na frente dos alunos. No jornal publicado alguns dias depois daquele, dizia que os restos mortais dos dois membros do clube de montanhismo perdidos haviam finalmente sido encontrados. Foi o helicóptero da polícia que os localizou.

*

 

Quando saímos da biblioteca, o sol já estava se pondo — nada surpreendente. Embora isso tivesse sido só um pequeno desvio para mim, eu e Chitanda morávamos em direções opostas. Ao sairmos pela entrada principal e eu me preparava para me despedir, Chitanda, de repente, começou a falar.

— Umm...

— Hm?

Ela se virou para mim. Sua cabeça pareceu baixar quase imperceptivelmente.

— Posso te perguntar uma coisa?

— Pode.

— Por que você ficou curioso?

Ah, isso, né? Sorri de canto, antes mesmo de perceber.

— É tão estranho assim eu ser espontâneo?

Chitanda também sorriu.

— Acho que sim. É bem fora do seu normal.

— Bem, acho que é como dizem: "Se eu não preciso fazer, não faço."

— Não, não foi isso que eu quis dizer.

Ela logo rechaçou meu lema de sempre. Hesitando um pouco, continuou.

— Oreki-san, você faz tanto pelos outros. Já me ajudou tantas vezes também. Mas nunca se preocupa com assuntos seus. Então... por que justo hoje quis entender algo que você mesmo não sabia...? Desculpa, é que não consigo evitar. Eu fico tão curiosa...

Senti que ela estava errada sobre uma coisa — muito errada, na verdade. Mas a impressão que tive era de que corrigir esse mal-entendido levaria tempo. Já estava escurecendo. Decidi ir direto ao ponto e responder logo a pergunta.

— Quando ouvi a história sobre o raio, tirei uma conclusão infeliz.

— Foi isso que você me contou.

— Se essa conclusão estivesse certa, eu teria que começar a tomar mais cuidado dali em diante. Por isso vim confirmar.

Se fosse uma investigação longa, de uma semana, aí seria outra história. Mas, se bastava fuçar em alguns jornais antigos para achar a resposta, então não era grande coisa. Até tive ajuda.

Chitanda ainda parecia confusa com tudo aquilo.

— Tomar cuidado?

— Depois de saber daquele incidente, não posso simplesmente sair por aí dizendo que o Ogi gosta de helicópteros. Seria insensível. É claro que eu teria que ser mais cuidadoso — respondi, num tom despreocupado.

Por algum motivo, no entanto, os olhos enormes de Chitanda estavam completamente abertos. Parecia totalmente surpresa. Instintivamente, comecei a me preocupar se tinha falado algo errado. Tentei pensar melhor e desenvolver a ideia.

— Por "insensível", quero dizer algo como: "Você não sabe do que está falando!"... Embora, provavelmente, eu nunca mais veja o Ogi. Então acho que eu mesmo não sei do que estou falando...

— Oreki-san, isso é tão...

Chitanda disse de repente. Sua boca se mexia como se tropeçasse nas palavras, e então ela ficou me encarando, com um olhar vago. O que finalmente saiu foi uma única frase.

— Não consigo colocar isso em palavras.

Eu não fazia a menor ideia do que ela queria me dizer. Bem, se ela não conseguia colocar em palavras, então eu também não teria como escutá-las.

— Enfim, até mais. Obrigado por ter me ajudado.

— De nada. Até logo.

Foi uma troca curta. A casa da Chitanda era longe — mesmo com uma bicicleta, já estaria completamente escuro quando ela chegasse. Foi ela quem quis vir, mas mesmo assim, fiquei um pouco culpado com tudo. Com certeza fiquei devendo essa.

No caminho de volta para casa, olhei para cima, de repente. As montanhas de Kamikakiuchi já estavam completamente envoltas pela escuridão.

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