Volume 4
Capítulo 2: Para cometer um pecado capital
1
Estávamos aprendendo sobre a história da China em nossa aula de História Mundial. Infelizmente, eu já sabia muito sobre o período dos Reinos Combatentes, por isso estava me sentindo extremamente entediado. No entanto, eu não tinha interesse em desenhar pequenas ilustrações cômicas nas margens do meu caderno negligenciado, nem tinha vontade de distribuir anotações agradáveis aos meus colegas de classe. Além disso, eu não tinha hobbies, que podem ser considerados tão entediantes quanto empregos paralelos, ou interesses em geral. Enquanto ignorava a cansativa explicação sobre a tática das alianças horizontais e verticais, para passar o tempo, refleti sem me mexer sobre a boa sorte de não ter nada para fazer enquanto ansiava pela ociosidade.
(N/SLAG: As alianças horizontais se referem aos estados que se aliam uns aos outros para repelir o estado Qin, enquanto as alianças verticais se referem aos estados que se aliam a Qin para participar de sua ascendência.)
Como a Escola Kamiyama é uma escola de ensino médio voltada para a preparação dos alunos para estudos posteriores, os alunos têm, em sua maioria, boas atitudes em relação ao aprendizado. A voz clara do velho professor ressoou na sala de aula, onde a tranquilidade é preservada. Um som forte de raspagem soou quando o giz atingiu o quadro-negro. No momento, era o quinto período, então provavelmente serei atacado pelo demônio do sono em breve.
Era um dia claro na estação chuvosa de junho. E assim, minha vida no ensino médio foi desperdiçada. Bati na minha lapiseira. Não foi porque eu queria escrever algo, mas porque o grafite não saía. Eu não havia notado que o grafite estava quebrado. Peguei um grafite sobressalente em meu estojo, segurando-o com o polegar e o indicador. Em vez de inseri-lo pela parte de trás, tentei inseri-lo pela frente, como se estivesse enfiando a linha em uma agulha.
No entanto, a paz foi subitamente quebrada.
Um som perigoso soou. Parecia o som de bambu batendo em algum objeto duro. Pego de surpresa, me encolhi. Todo o sono se dissipou quando o grafite HB quebrou ao meio em dois pedaços limpos.
Que desperdício. Bem, acho que ainda posso usá-los.
Parece que eu não fui o único a se assustar, pois a sala de aula estava cheia de agitação. Ao meu lado, uma aluna disse para a amiga que estava atrás: “O que foi isso? Isso me assustou”. Parece que ninguém desistiria da oportunidade de conversar.
O som não ocorreu apenas uma vez. Ele soou algumas vezes seguidas, misturado com algumas palavras irritadas. Era uma voz masculina alta e assustadora, mas como estava na sala de aula, não consegui entender o que estava dizendo. Naquele ponto, meus colegas e eu deduzimos grande parte do que estava acontecendo. Na sala de aula ao lado, o professor de matemática, Omichi, perdeu a paciência mais uma vez.
A profissão de professor é comumente chamada de “pegar a bengala do professor”, mas, nesta época, não vi nenhum professor segurando uma bengala. Na melhor das hipóteses, eles tinham um bastão apontador flexível. No passado, tive um professor chamado Morishita no departamento de aconselhamento de alunos que acreditava que “mesmo que você não esteja segurando um bastão de esgrima, não há dúvida de que você quer o segurar se isso for permitido”. Por falar nisso, Omichi-sensei tem uma vara de bambu áspera em forma de bastão de esgrima que ele carrega consigo e, às vezes, usa como bengala de professor.
No entanto, Omichi-sensei, que pode ser considerado o professor mais veterano da escola, definitivamente não usaria sua vara para bater em um aluno. Ele só a usava na mesa do professor e no quadro-negro para coagir os alunos a se comportarem. Omichi-sensei é o honrado professor que me ensinou que o quadro-negro é inesperadamente firme e difícil de danificar.
No entanto, embora eu tenha essa impressão do Omichi-sensei, não gosto dele nem o desprezo. Tive esse tipo de professor no Ensino Fundamental II e até mesmo no Fundamental I. Se eu tivesse que dizer o que sinto por ele, seria o mesmo sentimento que tenho pela garota sentada ao meu lado.
Conheço seus rostos, nomes e personalidades, mas não me importo.
De qualquer forma, não fiquei impressionado com o fato de ele estar fazendo barulho em minha aula. Enquanto eu estava pensando nisso, uma voz clara interrompeu a voz incontrolável e irritada. Essa voz com certeza me soa familiar. Quando percebi a quem pertencia à voz, murmurei ao mesmo tempo, sem pensar.
— Não é possível…
Era a voz de Chitanda.
Eu a conheci por meio de um pequeno incidente fatídico logo após entrar na escola, e estamos no mesmo clube desde então. Pensando bem, Chitanda estava na classe ao lado. Fiquei surpreso com o fato de haver um aluno nessa escola que discutia com Omichi quando ele tinha acabado de começar a martelar no quadro-negro, e nunca pensei que esse aluno seria Chitanda. Forcei os ouvidos para confirmar se era mesmo Chitanda, mas, de qualquer forma, era uma voz do outro lado da parede. Não sei dizer com certeza, mas a entonação também soa como Chitanda.
Eu não conseguia entender o que ela estava dizendo, mas cada palavra dela era, sem dúvida, incisiva e animada. Já ouvi sua voz inúmeras vezes, mas é a primeira vez que ouço esse tom. Parece que Chitanda também fica irritada e levanta a voz.
Ela provavelmente havia dito tudo o que queria de uma só vez, pois a voz logo diminuiu. O silêncio também caiu em nossa sala de aula por um curto período, como se estivéssemos prendendo a respiração coletivamente. Nesse momento, a sala de aula ao lado voltou a ficar quieta. Chitanda fez com que Omichi se calasse de verdade? A atmosfera irresponsável que nos fazia esperar mais problemas se dissipou em um instante.
De qualquer forma, como agora estava tudo calmo, não tivemos escolha a não ser voltar à nossa aula de história.
Peguei outro pedaço de grafite para minha lapiseira. Dessa vez, eu o recarreguei rapidamente pela parte de trás e o girei em meu dedo.
2
Era depois da escola. Os raios do sol do início do verão brilhavam diagonalmente na sala do Clube de Clássicos, a sala de aula de Geografia.
Mantive meu livro de bolso aberto entre os dedos ao perceber o estado de nervosismo de Chitanda. Quanto ao motivo pelo qual ela estava tão nervosa, era por causa da discussão entre Fukube Satoshi e Mayaka Ibara, que haviam se posicionado no meio da sala de aula, embora não fosse realmente possível que os dois brigassem. Na verdade, era Ibara criticando Satoshi unilateralmente, e Satoshi evitando isso com uma conversa fútil ou aceitando com um sorriso irônico. Embora eu tenha testemunhado a disputa desde o início, não tenho ideia do que realmente se trata. Provavelmente começou com um debate sobre algo trivial, como se todos os postes telefônicos são altos ou se todas as caixas de correio são vermelhas.
Era abril quando Chitanda, Satoshi e eu entramos no Clube de Clássicos, o qual não tinha nenhum membro. Em maio, Ibara procurou Satoshi e pediu para entrar no clube.
Ibara está na mesma classe que eu desde a primeira série, mas não nos falávamos. Nós finalmente ficamos em classes diferentes no ensino médio, mas agora estamos no mesmo clube. Até que ponto estamos ligados pelo destino? Por outro lado, Ibara está atualmente envolvida em três atividades ao mesmo tempo, pois faz parte do Comitê da Biblioteca, da Sociedade de Pesquisa de Mangá e do Clube de Clássicos. Satoshi, que faz parte do Comitê Executivo, a Sociedade de Artesanato e o Clube de Clássicos, deve se dar bem com ela.
O Clube de Clássicos era um lugar tão calmo e tranquilo quando éramos apenas três.
Satoshi fala com uma paixão assustadora, mas se ele não tivesse nada que quisesse dos outros, ficaria quieto. E Chitanda estaria realmente calma, como seria de se esperar, se sua curiosidade habitual não explodisse.
É um lugar tranquilo onde realizamos nossas atividades de clube e nada acontece. Pouco a pouco, tenho ido à sala de aula de geografia. Não é que eu esteja particularmente interessado nas atividades, mas passei a considerá-lo um lugar relaxante.
Mas a situação mudou quando Ibara se juntou ao clube. Se Ibara está sozinha, ela é apenas uma colega de classe pouco sociável. No entanto, quando combinada com Satoshi…
— Talvez você tenha um motivo, mas isso não vem ao caso não é óbvio que você deveria ter entrado em contato comigo não haveria problema em cancelar, mas você deveria pelo menos ter me telefonado sei que você estava com seu telefone tudo bem se fosse apenas um incômodo para mim, mas não é o que há com esse olhar você entende a situação em que se encontra isso não será resolvido apenas com um pedido de desculpas.
(N/SLAG: Aqui está tudo sem pontuação, porque Ibara está falando tudo de uma vez.)
O resultado é esse.
Quantas vezes aconteceu? As primeiras vezes, Chitanda ficou terrivelmente perturbada e, de alguma forma, tentou arbitrar. Ela tentou persuadi-los e convencê-los, mas, infelizmente, foi um esforço inútil. Agora ela não estava tentando interferir, mas estava esperando o momento certo para perguntar sobre o que estava errado. Olhei para cima e encontrei seu olhar preocupado. Ela apontou discretamente para os dois com o dedo indicador.
O livro que eu estava lendo era um romance de ficção científica e, embora o início fosse interessante, ficou difícil de entender no clímax. Eu sabia que algo ruim havia acontecido, mas não tinha ideia do que era exatamente. Não conseguia entender, mesmo lendo-o pela segunda vez, e foi quando percebi que as duas vozes eram barulhentas. Suspirei e coloquei meu livro com a face para baixo.
— E eu sei que você está ciente disso, mas você não tem um pingo de decência quando é importante você sabe o que ia acontecer, mas não disse nada depois que choveu ventou houve relâmpagos e até granizo caiu no final eu realmente não me importei com essa reunião, mas passei um tempo escolhendo o que vestir e de repente eles estão destruídos e é tudo culpa sua você não pode dizer nada sobre isso certo?
Ibara gritou sem parar em um só fôlego.
— Você está cansada? — Ibara, que estava olhando fixamente para Satoshi, virou-se para mim e deu uma resposta curta e clara.
— Estou.
— Então, faça uma pausa.
— Tá bom.
Ela se sentou docilmente em uma mesa próxima. Ela estava muito irritada agora, então não tenho certeza se sua ira foi tratada com tanta facilidade. Satoshi me encarou e me deu um sinal de gratidão com o polegar para cima, no estilo americano, e disse sem vergonha.
— Caramba, você sabe mesmo ficar brava. Aposto que liberou muito estresse com isso.
— Se Fuku-chan tivesse mais decência, eu não ficaria estressada em primeiro lugar.
— Bem, mas…
Diante da mentira flagrante, Satoshi se voltou para Chitanda.
— Você deveria aprender com Chitanda. Nunca vi ela ficar irritada.
Chitanda estava dando um suspiro de alívio e acariciando o peito enquanto testemunhava a trégua. Nunca a vi fazer isso antes. Ao ser repentinamente arrastada para uma conversa, ela deu uma resposta assustada.
— Eh? Eu?
Mas Ibara franziu a testa.
— Sério? Mas ela não fica brava sempre que Oreki se atrasa?
De fato, houve algo assim no passado, mas essa raiva é um pouco diferente da ira de Ibara. Qual é a palavra adequada para isso?
— Eu também vi. Mas isso foi mais uma repreensão do que raiva.
É isso, pensei por um instante, quando percebi que era muito lamentável ser repreendido por uma garota da mesma idade.
— Ah, sim, é isso mesmo. Parecia mais uma advertência.
Isso também não é bom. Com um sorriso preocupado e uma expressão vaga, Chitanda inclinou a cabeça.
— Se você está falando sobre não ficar com raiva, também não vi Fukube-san ou Oreki-san ficarem com raiva…
Depois de um breve momento, Ibara e eu abrimos nossas bocas ao mesmo tempo.
— Satoshi fica totalmente irritado.
— Fuku-chan fica realmente irritado.
Quando as pessoas são atacadas por dois lados, sua capacidade de julgamento cai consideravelmente, e isso não foi diferente para Chitanda. Seus olhos grandes tentaram se concentrar em mim e em Ibara, mas não conseguiram, e então se fixaram em Satoshi, que estava entre nós.
— É mesmo?
Satoshi respondeu com um sorriso irônico.
— Bom, eu acho. Não demonstro minha raiva tanto quanto a Mayaka, mas fico com raiva de vez em quando.
Acabei de me dar conta de que ainda não vi Satoshi se irritar na frente de Chitanda. Bem, só se passaram dois meses. Tudo é possível.
— No entanto, não consigo imaginar Fukube-san irritado.
É compreensível do ponto de vista de Chitanda. Como Satoshi gosta de mostrar suas habilidades em áreas estranhas, ele raramente demonstra suas emoções sem ter medo do que os outros possam pensar, muito menos para o sexo oposto, sendo Ibara uma exceção.
— Ele não é nada assustador quando está com raiva.
Sim, sua raiva quase não tem intensidade. Ele simplesmente fala menos, não faz contato visual e muda claramente o assunto dizendo: “Não vamos falar sobre isso”. De acordo com minha experiência, não é tão raro que Satoshi faça isso.
— Não é assustador? Você realmente me despreza…
Olhando para Satoshi com os olhos virados para cima, Chitanda murmurou.
— Acho que estou curiosa.
Parece que Chitanda está planejando irritar Satoshi. Estou totalmente ansioso por isso.
— E quanto ao Oreki? — Ibara estava olhando para mim.
Quando eu estava prestes a dizer a eles que não estava com raiva ultimamente, ou que estava me divertindo nessa situação tão estável quanto um dia de primavera, Ibara sorriu. Embora um sorriso seja um sorriso, isso foi, sem dúvida, uma careta. Ibara então se virou para olhar para Chitanda e, em um tom que parecia dizer “Prepare-se para isso”, ela falou.
— Oreki nunca ficaria com raiva.
— Isso porque ele é muito gentil?
Ibara balançou a cabeça.
— Não, é que ele é um ser humano solitário que não consegue se satisfazer nem mesmo quando fica com raiva.
… Epa, isso não é um pouco cruel, independentemente das circunstâncias?
Ah, mas percebi que não fiquei nem um pouco irritado com isso. Não tenho ficado com raiva ultimamente, mas quando foi a última vez que perdi a paciência? Bom, não preciso me preocupar com isso. Os comentários concisos de Ibara são sempre precisos... não. Ela consegue captar um aspecto da verdade, mas não posso dizer que esteja totalmente correto. Há também a explicação de que sou muito gentil para ficar bravo, afinal de contas.
Espere, isso também não está certo, eu posso ficar com raiva se quiser, sim.
— Haha, Houtarou não tem certeza.
Fiquei um pouco irritado com o fato de Satoshi ter exposto à situação de forma tão franca.
Ei, eu fiquei com raiva!
Não se importando comigo, Satoshi continuou com sua piada.
— Deixando de lado a falta de emoções de Houtarou, acho que Chitanda nunca fica com raiva; é um caso especial. É como se ela estivesse acostumada a ser tolerante e calma. A Mayaka deve tentar ser mais calma e controlada, não no estilo de Houtarou, mas como Chitanda-san.
— Mesmo que você diga isso, não é como se eu pudesse mudar essa parte de mim apenas tentando. Não quero ser como Oreki, e não posso ser como Chii-chan.
As sobrancelhas de Chitanda se franziram. Em uma voz que era difícil de ouvir, ela perguntou.
— Erm… estou sendo elogiada aqui?
Eu me pergunto, embora definitivamente estejam falando mal de mim. De alguma forma, encontrei os olhos de Satoshi e Ibara.
Primeiro, Ibara falou.
— Acho que você pode estar.
Em seguida, eu.
— Só estamos fazendo observações, então não falamos nada positivo ou negativo.
Mas Satoshi sorriu com extrema diversão.
— Não, não, esqueça aquelas pessoas que não conseguem ficar com raiva, mas acredito que não ficar com raiva é uma excelente característica. Afinal, a ira é um pecado grave. Acho que você deveria reduzir suas explosões, Mayaka.
— Pecado? Você é punido por eles? Como por barulhos altos?
Satoshi balançou a cabeça arrogantemente, enquanto Chitanda deu uma explicação com o rosto ligeiramente vermelho.
— Os pecados capitais, certo? Achei que fosse conhecido como raiva — ela continuou. — Se estiver tentando me elogiar, por favor, pare.
Chitanda estava com a cabeça baixa, envergonhada. Além disso, sua voz estava ainda mais baixa do que antes, de modo que ninguém aceitou o protesto. Essa é, provavelmente, a primeira vez que vejo Chitanda envergonhada. Por outro lado, Satoshi acenou com a cabeça em sinal de satisfação.
— É isso mesmo. Como esperado de Chitanda-san. Como se trata de um tópico popular, acredito que Mayaka já ouviu falar dos sete pecados capitais?
— Sim, é claro que eu saberia disso.
Eu não.
— Não existem 108 pecados?
— Isso é klesha.
(N/SLAG: No pensamento budista tradicional, diz-se que as pessoas têm 108 aflições ou kleshas. Há seis sentidos (visão, som, olfato, paladar, tato e consciência) multiplicados por três reações (positiva, negativa ou indiferença), resultando em 18 “sentimentos”. Cada um desses sentimentos pode ser “ligado ao prazer ou desligado do prazer”, formando 36 “paixões”, cada uma das quais pode se manifestar no passado, presente ou futuro, formando 108 klesha.)
Tanto faz.
— Os sete pecados capitais são conceitos dos ensinamentos de Cristo, mas foram reunidos apenas na posteridade, portanto não estão registrados na Bíblia. Er, além da ira, há também…
Satoshi disse enquanto dobrava o polegar. Dobrando o resto dos dedos em ordem, ele continuou.
— Orgulho, ganância, avareza... Hmm, só consigo me lembrar desses quatro…
Satoshi, que estava parecendo um idiota olhando para seu punho, foi salvo por Chitanda.
— Inveja, luxúria e preguiça, eu acho.
Quando ela disse o último pecado, pareceu que Ibara olhou para mim e riu... Bem, não é bom ter um complexo de perseguição. No momento, Ibara estava olhando para Chitanda.
— Então, esses são os sete pecados capitais. Isso não torna Chii-chan perfeita? Você é diligente e não come demais.
— Não consigo imaginar que você seja gananciosa e, definitivamente, não é preguiçosa.
— E... você não tem a mente suja.
— É difícil dizer se ela tem inveja de alguém.
Esses dois agora estavam claramente zombando dela em vez de elogiá-la. O rosto cor de cereja de Chitanda ficou gradualmente mais vermelho. Ela torceu as mãos para negar as alegações e falou em um ritmo acelerado.
— Por favor, pare! Além disso, quando estou com fome, posso comer muito!
Assim como qualquer um.
— Ela parece ser a Santa Eru, certo?
— “Chitanda Eru” não soa meio angelical?
— Uriel, Gabriel, Chitandel? Ahaha!
Esses dois combinam muito bem. Chitanda foi pressionado a dar uma resposta diante de uma coordenação extraordinária. Ela limpou a garganta e reuniu sua força e dignidade. Então, de repente.
— Eu disse, por favor, parem! — Ela gritou em uma voz clara.
— Ela ficou brava…
— E nos repreendeu.
Chitanda sorriu para as duas pessoas de aparência desanimada.
— Além disso, não acho que seja bom nunca ficar com raiva.
Ibara e Satoshi pareciam chocados, eu provavelmente estava com uma expressão similar. Chitanda continuou suavemente, sem mostrar sequer um indício de que estava procurando palavras para dizer.
— Não é a mesma coisa para os outros pecados capitais?
— Desculpe Chii-chan, mas eu realmente não entendi.
— É isso mesmo? Eu deveria ter usado uma escolha melhor de palavras, então.
Chitanda sorriu enquanto respondia.
— Acho que não se pode viver sem o orgulho e a ganância. Embora, como eles se baseiam em ensinamentos religiosos, deve ter havido vários motivos para que fossem considerados pecados capitais.
Satoshi inclinou a cabeça em um ângulo não natural.
— Algum exemplo?
— Por exemplo, se você não tiver nenhum orgulho, isso significa que você não tem autoconfiança. E alguém que nunca pode ser chamado de ganancioso seria incapaz de sustentar sua família. Além disso, se ninguém no mundo sentisse inveja, novas tecnologias não teriam sido inventadas.
Chitanda parou surpresa. Olhando para nossas expressões, ela falou.
— Umm… Eu não queria transformar isso em um sermão…
Satoshi, que estava ouvindo atentamente, cruzou os braços.
— Hmm, estou vendo. Interessante…
Fiquei satisfeito com o fato de meu modo de vida estar sendo defendido. Perguntei com um tom leve.
— Basicamente, você está dizendo que é uma questão de grau? Isso é como o confucionismo.
(N/SLAG: A filosofia confucionista enfatiza a busca pela harmonia, virtude, respeito às hierarquias e aprimoramento moral.)
— Não posso explicar a Bíblia, mas não acho que seja útil considerar pecados capitais como absolutos e aplicá-los à nossa vida.
Ela afirmou sem timidez. Eu não tinha pensado no que a Chitanda acredita, então isso é muito interessante.
— Então, você acha que se irritar não é uma coisa ruim, Chii-chan?
— É isso. Se você nunca se irritar com nada, provavelmente significa que não tem nada que você goste.
Posso ficar totalmente irritado.
— Mas se for esse o caso, então por que você nunca se irrita?
Essa resposta foi rápida.
— Porque isso me cansa. E eu não quero ficar cansada.
Oh? Satoshi segurou sua cabeça, que havia perdido a cor, com as mãos e se levantou.
— Chi-Chitanda foi enfeitiçada pelo Houtarou. Mas que diabos! Eu deveria ter pelo menos evitado que isso acontecesse! Tem um fantasma assombrando a Escola Kamiyama! O fantasma da conservação de energia!
— Não, foi só uma brincadeira.
O silêncio se instalou.
Em uma voz que parecia que desapareceria logo, ela se desculpou.
— Desculpe, tive um impulso repentino de brincar.
Eu poderia dizer que era óbvio, mas isso é apenas fugir do fato de que fui enganado por Chitanda. E eu achava que tinha encontrado uma alma gêmea.
Chitanda respondeu à pergunta novamente, como se a brincadeira anterior tivesse sido esquecida.
— Quando vejo pessoas desperdiçando comida, eu fico irritada.
… Bem, ela é filha de uma família de fazendeiros. Ela acredita no ditado “Cada grão de arroz é uma gota de suor”.
Pensando nisso, de repente me lembrei do incidente durante o quinto horário. Falei sem pensar muito.
— Sobre esse assunto, não foi você que se irritou na aula de Omichi durante o quinto horário?
Enquanto falava, senti o humor de Chitanda mudar.
Agora que fiz isso. Uma onda de arrependimento fez com que minhas costas se enrijecessem.
Chitanda, que estava desfrutando de uma conversa calma e divertida, recuou um pouco o queixo fino e fechou os lábios com força. Embora ela não exagere em suas emoções, suas mudanças de humor são fáceis de entender. Ela murmurou.
— Ah, é isso mesmo! Como eu poderia ter esquecido? Eu estava esperando que pudesse perguntar a Oreki-san sobre isso!
Ótimo. Outro erro. Satoshi e Ibara estavam brincando com Chitanda sobre ser uma santa ou uma pessoa abençoada agora mesmo. Eu estava pensando que a imagem não combinava muito com ela, se considerarmos o aspecto de fazer as coisas com moderação. Esse foi um grande erro. Embora ela seja diligente, a característica que a diferencia de uma pessoa perfeita é sua curiosidade.
Tendo criado problemas para mim mesmo, estalei a língua em silêncio. Indiferente à minha situação, Satoshi parecia estar tranquilo.
— Aconteceu alguma coisa, Chitanda-san?
— Na verdade, sim, durante o quinto horário, eu me irritei na aula de matemática.
Chitanda fez um aceno vago para Satoshi e Ibara e depois se virou para me olhar. Eu gostaria que você olhasse para outro lugar, mas não adianta chorar pelo leite derramado.
— Mas não sei o que aconteceu para me deixar irritada. É claro que não havia necessidade de eu ficar com raiva, mas algo aconteceu para me deixar com raiva, e não sei o que aconteceu.
Tive que me esforçar muito para entender o significado de sua frase complicada. Em resumo, é provavelmente o que Chitanda disse em seguida.
— Estou curiosa!
3
A quinta aula de hoje foi de matemática, com o Omichi-sensei.
Acredito que Oreki-san e Fukube-san sabem que tipo de professor ele é.
Não sei bem por onde devo começar para que você entenda, então vou explicar desde o início.
Omichi-sensei chegou quase no momento em que o sinal tocava para o quinto horário. Ele parecia descontente, mas, até onde sei, ele tem essa expressão na maioria das circunstâncias. Ele abriu a porta e, logo antes de entrar na sala de aula, parou por um momento e olhou para a placa com o nome da turma. Até aquele momento, tudo era bastante normal.
Depois de fazer uma reverência apressada, ele começou a escrever uma equação quadrática na lousa. Era uma equação bastante simples, y=x²+x+1, mas ele restringiu o domínio de x de 0 a 3. Em seguida, batendo em seu ombro com sua vara de bambu, ele escolheu Kawasaki-san e disse-lhe para desenhar o intervalo de y. Você conhece Kawasaki-san? Ele é um cara alto e magro que gagueja um pouco... mas isso não tem nada a ver com a história.
Kawasaki-san obviamente parecia confuso, assim como eu. Ainda não havíamos aprendido nada sobre restrições de domínio.
Achei que Omichi-sensei estava testando nossa imaginação, tentando descobrir o que sabíamos sobre restrição de domínio antes de começar a nos ensinar. Sinceramente, não sou especialista nessas questões, mas já experimentei esse estilo de ensino antes. Por outro lado, esse método de fazer os alunos pensarem não parece se encaixar no plano de aula do Omichi-sensei.
Kawasaki-san pensou sobre a pergunta de Omichi-sensei por um tempo e depois disse que não sabia como respondê-la.
Naquele momento, ao contrário do que eu esperava, Omichi-sensei ficou com raiva. “O quê? Você não sabe? O que estava ouvindo na minha aula anterior?” Ele começou a repreender Kawasaki-san... Eu realmente não quero dizer isso, mas, na verdade, era mais como se ele estivesse abusando do Kawasaki-san.
Depois de dizer mais algumas palavras irracionais sobre como seu futuro era inseguro, Omichi-sensei disse a Kawasaki-san para se sentar.
O próximo escolhido foi Tamura-san, que é melhor em matemática do que Kawasaki-san. Ele se levantou, mas não conseguiu responder.
Omichi-sensei chamou Tamura-san de idiota e ordenou que ele se sentasse. Ele então olhou para a classe e disse em voz alta: “Não há ninguém que possa resolver isso?
Provavelmente eu deveria ter notado isso antes, mas nesse momento eu finalmente percebi que o Omichi-sensei havia se enganado quanto ao que havíamos aprendido no livro didático. Verifiquei o livro didático e descobri que hoje deveríamos ter concluído apenas os métodos de determinação de uma função quadrática e começado com os valores máximo e mínimo. Omichi-sensei estava errado por cerca de uma hora de aula.
Como os outros alunos da classe também começaram a perceber, a sala de aula começou a ficar barulhenta. Isso só deixou Omichi-sensei mais irritado e ele começou a bater no quadro-negro com sua vara de bambu. Em seguida, ele criticou nossa atitude em relação às aulas, ao amor pelo aprendizado e ao espírito público em um tom exasperado (Irritado). Ele também tinha palavras muito duras sobre nosso caminho após a formatura e nosso futuro.
Sim, é isso mesmo, ele batia no quadro-negro após cada pausa.
Acho que algumas pessoas da classe conseguiram traçar o intervalo de y. Eu não frequentei uma escola preparatória, mas sei que a maioria das escolas preparatórias cobre o conteúdo das aulas consideravelmente mais cedo do que as escolas normais. No entanto, aqueles que sabiam a resposta ficaram em silêncio e ninguém levantou a mão.
Omichi-sensei apontou para Tamura-san de novo. Ele foi obrigado a se levantar e permanecer ali até pensar na resposta. Foi então que me levantei. Eu lhe disse que ele poderia ter confundido nosso progresso e pedi que ele verificasse novamente no livro didático.
Eh? O que exatamente eu disse?
… Desculpe, mas isso é um segredo. O que quer que eu tenha dito enquanto estava com raiva não é algo de que eu queira me lembrar e de que me orgulhe.
É isso mesmo, foi aí que fiquei com raiva.
4
Depois de dizer tudo isso, Chitanda limpou ligeiramente a garganta. Ela provavelmente estava envergonhada por revelar sua raiva.
A especialista em raiva, Ibara, incentivou Chitanda a continuar.
— O que aconteceu depois disso?
— Omichi-sensei pegou o livro didático. Depois, verificou algumas páginas, murmurou “Ah, entendi!” e disse a Tamura-san para se sentar. Depois disso, foi uma aula normal.
Ibara cruzou os braços imperiosamente.
— Então Omichi é esse tipo de professor. Sinto muito pela Chii-chan e por todos os outros, mas estou feliz por não ter tido esse tipo de professor!
— Exatamente! Sério, foi graças a ele que tive que me esforçar muito, mesmo depois dos exames de meio de semestre!
Respondi a Satoshi, que havia levantado a voz, como se estivesse em uma peça de teatro.
— Suas notas baixas não são culpa do Omichi. É melhor fazer algo em relação aos exames finais.
Em seguida, eu disse a Ibara.
— Ele não é exatamente um mau professor.
— É isso mesmo, ele não é um professor terrível.
— Bem, acho que ele não é tão ruim.
Não são pessoas incríveis que conseguem entender qualquer perspectiva?
Chitanda olhou para mim.
— Então, de qualquer forma, o que você acha?
Com isso, você quer dizer que a história acabou? Arrumei minhas pernas cruzadas.
— Havia algo estranho nessa história?
Chitanda olhou da direita para a esquerda, pensando se deveria repetir o que acabara de dizer. Então, ela falou.
— Ah, eu não mencionei o que mais me preocupava. O que achei misterioso foi porque Omichi-sensei cometeu esse erro. Pela sua escrita no quadro-negro e pelas marcações em seus exames, Omichi-sensei não parece ser do tipo que comete erros.
— Bem — Satoshi entrou na conversa. — Existem dois tipos de professores rigorosos. Um é rigoroso consigo mesmo, enquanto o outro é indulgente consigo mesmo.
Isso também não é verdade para as pessoas em geral? Bem, até eu sei que Omichi seria do primeiro tipo.
— Mesmo assim, por que ele cometeu um erro tão óbvio? Eu realmente não entendo.
— Então, você quer saber porque ele cometeu esse erro? Isso é impossível, não importa como você olhe para isso. Por que você não vai até a sala da coordenação agora e olha dentro da cabeça dele?
Chitanda balançou a cabeça.
— Não, por favor, escute. Oreki-san e Fubuke-san provavelmente sabem disso, mas Omichi-sensei sempre abre seu livro didático após a aula, mesmo que não o tenha usado.
Satoshi e eu nos olhamos e demos de ombros ao mesmo tempo. Nenhum de nós se preocupou em observar suas ações.
— Em seguida, ele usa a caneta para escrever um pequeno lembrete. Para que você acha que isso serve?
Entendi, então é assim mesmo. Entendo o que ela está tentando dizer.
— Para registrar o quanto ele avançou no conteúdo daquela aula?
— Também acho. Omichi-sensei perceberia qualquer erro verificando o livro didático, e acredito que isso já aconteceu algumas vezes. Além disso, é bem provável que ele saiba que somos da classe A, pois ele sempre verifica a placa de identificação antes de entrar em uma sala de aula.
— Está acompanhando? Omichi-sensei então olha para o memorando que mostra o progresso da aula e depois verifica a sala de aula novamente. Pode-se dizer que está tudo perfeito.
— Mas então, por que ele ainda seria capaz de cometer um erro?
Suponho que suas anotações sejam do tipo “1º de junho, Classe X” na página 15 e “3º de junho, Classe X” na página 20 ou algo assim.
Fiz uma sugestão sem pensar muito.
— Ele não deve ter confundido as datas?
É preciso assumir a responsabilidade por suas palavras. A punição por minhas palavras descuidadas foi aplicada rapidamente. Com um olhar frio, Ibara retrucou.
— Se fosse esse o caso, ele poderia voltar atrás, mas isso não poderia fazer com que ele pulasse adiante. Use seu cérebro, não fale apenas por reflexo espinhal.
Você acabou de usar a palavra “espinhal”? Ibara está em perfeita forma hoje. De fato, ele pode examinar um lembrete anterior, mas definitivamente não pode fazê-lo para um lembrete futuro que ainda não foi escrito…
Ibara, que estava em sua melhor forma, virou-se para Chitanda e inclinou a cabeça em sinal de perplexidade.
— Não estou tentando vencê-la em seu próprio jogo, mas…
— Sim?
— Estou um pouco curiosa sobre uma coisa. Posso lhe fazer uma pergunta?
— Por que está me perguntando? Sim, vá em frente.
Chitanda mudou sua postura, o que pode ter sido uma falta de julgamento de sua parte. Em vez de assumir uma postura mais séria, Ibara fez a pergunta em seu tom habitual.
— Sobre a história da Chii-chan, eu entendi o porquê de você ter se irritado. Parece que ele disse algo extremamente grave e, nessa situação, eu também ficaria com raiva. Mas eu não gostaria de responder a um professor dessa forma. Isso não é como colocar a mão deliberadamente no fogo?
Ela disse a última frase enquanto olhava para mim e para Satoshi em ordem. Bem, isso é uma coisa extrema de se dizer. Brincadeiras como essa não combinam com ela.
Ibara pode não conhecer Omichi, mas sabe que é um grande risco discutir com ele quando ele perde a paciência. Eu, obviamente, não faria algo assim, nem mesmo Satoshi. Duvido que alguém do corpo estudantil de mil alunos da Escola Kamiyama faria isso. É por isso que fiquei surpreso durante o quinto período.
Mas Chitanda deu uma resposta descuidada.
— Não sei bem por que fiquei com raiva.
Ela ficou tão furiosa que se esqueceu? É dessa Chitanda que estamos falando aqui? Não importa o que aconteça, eu simplesmente não consigo imaginar... Enquanto eu pensava comigo mesmo, Chitanda continuou.
— Mas não acho que fiquei com raiva porque ele estava nos criticando.
Depois de refletir um pouco, Ibara perguntou.
— Então, será que foi porque aqueles que podiam responder ficaram calados?
— Não, NINGUÉM gostaria de responder nessa situação. Além disso, se alguém tivesse respondido, a aula teria continuado, embora já estivesse muito adiantada.
— Por que ninguém mais apontou o erro do professor?
— Não.
Ibara pensou mais um pouco.
— Será que foi por causa da aparência deplorável daquela pessoa, Tamura?
Isso seria igual a Chitanda. Ou muito parecida com ela. A pessoa em questão inclinou a cabeça para o lado.
— Eu tinha simpatia por ele, mas não acho que ficaria com raiva por causa disso. Eu realmente. Eu não entendo muito bem, mas consigo entender por que o Omichi-sensei repreendia os alunos que não se lembravam de nada da aula anterior, embora suas palavras possam ter sido muito duras.
— Mas o que foi que me deixou irritada?
Então Chitanda deu um meio sorriso.
— Eu me acho difícil de entender às vezes.
— Hmm, estou vendo.
Ibara também sorriu sem jeito.
Entendo por que Ibara fez sua pergunta. Qualquer pessoa no lugar de Chitanda se sentiria irritada. Até eu me sentiria desconfortável nessa posição. Mas como temos a impressão de que Chitanda nunca perde a calma, é estranho que ela fique com raiva, mesmo quando isso seria natural para os outros.
Mas a resposta para essa pergunta não foi dada. Como Chitanda mencionou, pode ser porque ela acha difícil responder, ou talvez porque se sinta envergonhada com isso, ou talvez porque seja incômodo… Espere, ela mencionou alguma coisa sobre o fato de ser problemático?
Não conheço Chitanda muito bem para saber o que ela gosta ou desgosta. Além disso, eu tinha mais interesse em terminar o livro de bolso que estava em minhas mãos.
— O que você acha, Oreki-san?
— Não tenho ideia.
— Também não sei, mas…
Nesse momento, Chitanda fez uma pausa. Rapidamente, ela respirou fundo e olhou para mim, com seus olhos enormes brilhando de entusiasmo.
— Mas você pode descobrir se pensar um pouco sobre isso!
— Oh? — Satoshi disse em voz alta. Fiquei surpreso. É assim que você se sente quando depende de alguém?
E será que ela percebeu que eu não havia pensado nisso?
Ibara, que estava sentada do outro lado da sala de aula, ergueu as sobrancelhas.
— Chii-chan, você não pode esperar muito do Oreki, mesmo que ele tente. Ele era um gafanhoto em sua vida anterior.
(SLAG: AQUI EU VOU TER QUE LANÇAR. SE VOCÊ TEM PODER, E NÃO USA, VOCÊ É UM TOLO!)
— Eh, Mayaka-san, você consegue ver as encarnações anteriores das pessoas?
Justamente quando pensei que sua curiosidade havia sido desviada.
— Mas, no momento, estou curiosa sobre o Omichi-sensei.
Em um instante, voltamos à estaca zero. Que chato. A propósito, Satoshi é mais adequado para ser um gafanhoto do que eu. Eles morrem no inverno não porque economizam energia, mas devido a seu princípio de aproveitar a vida ao máximo.
— Oreki-san.
Bem, não vamos a lugar nenhum se eu não disser nada…
Acho que vou desistir do meu livro por um tempo e começar a pensar.
5
Deve ser seguro presumir que Omichi estava de fato anotando o progresso da turma em seu livro didático. De qualquer forma, ele não fez nada além de ensinar matemática pelos últimos dez ou vinte anos. Como nos anos anteriores, ele está dando muitas aulas este ano, e seria definitivamente confuso acompanhar o progresso de cada turma. Usar lembretes seria a resposta óbvia.
Entretanto, apesar de seus esforços, ele cometeu um erro. E ele não voltou atrás, mas foi mais adiante. Essa é realmente uma história estranha.
Espere um minuto. Como seria possível pular para frente?
Para cometer esse erro, é preciso haver uma nota em uma das páginas após a correta. A Classe X ainda não avançou tanto, mas uma nota na página indica que sim.
Essa poderia ser uma resposta simples para o problema. Cruzei minhas pernas e perguntei à Chitanda.
— Sua classe ainda não aprendeu sobre domínios, certo?
— Sim, você está certo.
Chitanda parecia perplexa ao afirmar a declaração desnecessária. Minha pergunta seguinte só aumentou a confusão dela.
— E se eu dissesse que sua classe já aprendeu?
— O que você quer dizer?
— Omichi ensina matemática todo ano. Não somos os únicos alunos do Omichi… a classe A do ano passado também aprendeu sobre restrições no domínio de X no mesmo momento.
— Ah, — Chitanda ofegou. Confundir o lembrete do ano passado com o deste ano é certamente plausível, certo?
No entanto, antes que Chitanda pudesse declarar sua concordância, Satoshi balançou a cabeça lentamente.
— Se você está dizendo que ele pode ter confundido as notas dos últimos anos, receio que isso seja impossível.
— O que você quer dizer?
Como sempre, Satoshi parecia muito feliz ao compartilhar algumas informações sem sentido.
— É simples. Os professores recebem novos livro didáticos todos os anos. Eles precisam ter as revisões mais recentes para se manterem consistentes com os alunos, certo? A propósito, o Omichi está usando a quarta edição deste ano.
Chitanda baixou os olhos.
… Entendo, parece óbvio depois que Satoshi disse isso. No entanto, eu gostaria realmente de saber como ele sabe qual edição Omichi está usando.
Mas como Omichi tem o hábito de escrever em seus livros didáticos, e se as anotações se misturassem… Certamente é possível, mas se Chitanda aceitaria isso é outra questão. Omichi provavelmente escreve a aula e a data na página em que parou. Será que ele a escreveu com uma grafia confusa? A menos que haja uma maneira de provar que ele gosta de rabiscar em seu livro didático…
Hmm.
Ao me ver sentado em silêncio, Satoshi decidiu que não era possível depender de mim e continuou em um tom alegre.
— Mas eu realmente não entendo de domínios. Não me orgulho disso, mas já é difícil o suficiente para mim apenas desenhar os eixos x e y. Seria assustador ser escolhido por Omichi.
Se é esse o caso, que tal esquecer algumas de suas trivialidades aleatórias e se concentrar em seus estudos? ... Não posso realmente dizer isso, posso? Seria como dizer aos pássaros para não voarem. Gostaria de saber o que Satoshi está tentando aprender agora. Lembro-me de ele ter dito algo sobre o Clássico das Mutações.
Ah, espere aí.
De repente, tive uma ideia. Questionei Satoshi.
— Satoshi, sua classe já terminou com os domínios?
— Hm? Sim.
— Em que classe você está?
— Ei, Oreki, você deveria pelo menos se lembrar das aulas de seus amigos.
Tentei um contra-ataque contra o Ibara.
— Então, você sabe em qual classe eu estou?
— Não é como se fôssemos amigos ou algo do tipo.
Fiquei sem palavras.
Vendo essa situação, Satoshi riu.
— Está tudo bem, Mayaka. Houtarou sabe.
Quando ele disse isso, tive a sensação de que eu sabia.
A classe de Satoshi já completou os domínios. A minha classe não. E, claro, nem a da Chitanda.
Estou vendo. Agora entendi.
— Não há dúvida de que ele fez uma anotação em alguma página antes de onde sua classe chegou.
Eu afirmei.
— Sim, é isso mesmo. Eu também acho.
— Além disso, a nota foi escrita este ano e mostra o progresso da turma. E se o lembrete que ele escreveu não era, de fato, para a sua classe, mas para a classe de Satoshi?
— Classe do Fubuke-san?
Ignorando a pergunta de Chitanda, Satoshi perguntou duvidosamente.
— Omichi é responsável pelas classes A, B, C e D. Mesmo que não seja classe A ou B, não precisa ser classe D, certo?
Ibara interrompeu.
— E, de qualquer forma, por que a classe D?
— Porque não seria estranho para ele confundir D com A. C claramente não é nada parecido com A.
Ibara olhou para mim, como se dissesse: “Você disse algo estúpido novamente”. Não, isso não é exato. Ela realmente disse isso.
— Você disse algo estúpido novamente. A e D são totalmente diferentes.
Fiquei um pouco assustado com seu olhar, mas fingi manter a calma.
— Omichi é professor de matemática.
— E daí?
— Um professor de matemática tem uma chance muito maior de confundir A e D. É como no katakana ツ(tsu) e シ (shi).
— O quê?
Seu olhar de desdém parecia perguntar: “Ei, você não está se sentindo bem?”. De alguma forma, quando está discutindo com Satoshi, ela consegue se manter animada até o fim, mas quando discute comigo, parece perder a energia.
Mesmo assim, continuei.
— Por exemplo, Omichi escreveu algo como “1º de junho, A” na página 10 e “1º de junho, D” na página 15, certo? Se ele confundiu D com A, isso explicaria o que aconteceu. Além disso…
Respirei fundo.
— Omichi estaria acostumado a escrever em letras minúsculas.
Naquele instante, nós quatro ficamos em silêncio.
Me perguntei se eles haviam entendido, ou eles estão pensando: “Que besteira é essa?” Foi um momento tenso para mim.
Finalmente, o silêncio foi quebrado.
— Ah, estou entendendo!
Satoshi exclamou.
— São as letras minúsculas a e d!
Assenti com uma expressão rígida. Como Chitanda afirmou que Omichi verificou a placa com o nome da classe, seria errado dizer que ele havia se enganado sobre a sala de aula. Nesse caso, não haveria outra maneira de ele se enganar a não ser por meio do lembrete. Seria impossível para ele ler A erroneamente. Entretanto, a história seria diferente para a.
Ibara ainda permaneceu firmemente em silêncio.
Seus lábios se contraíram e, por algum motivo, ela me encarou com ressentimento. Mas, inesperadamente, o que saiu de sua boca foram palavras de concordância.
— Eh, isso é possível.
— O que foi, está se sentindo desconfortável?
— Sim, recentemente perdi pontos em um teste de inglês porque o professor não sabia a diferença entre o a e o d.
— Oh, você também? No meu caso, foi entre o n e o h.
Felizmente, parece que não sou a única pessoa com essa experiência. No meu caso, não se trata de inglês, mas de matemática, e perdi nota porque meu 1 e 7 não puderam ser diferenciados. Pensando bem, isso foi quando eu ainda era um jovem bonito e de bochechas rosadas, ou seja, quando estava na primeira série. Lembro-me de me sentir incomodado por acertar a resposta e não ter recebido a nota, mas não me preocupei muito com isso.
E quanto à Chitanda?
Chitanda, com sua caligrafia elegante, não teve essa experiência. Ela pensou um pouco e depois fez dois leves acenos com a cabeça.
— Sim, isso parece provável.
Chitanda sorriu gentilmente.
— a e d… Consigo entender o erro agora. Talvez eu tenha ido longe demais no que disse ao Omichi-sensei. Foi errado da minha parte.
Essas palavras me deixaram um pouco chocado.
Essas foram quase as palavras exatas que previ que Chitanda estaria pensando.
— Eh? Por que você diz isso?
Após dar uma olhada de relance para Ibara, que estava insistindo para que Chitanda não fosse longe demais, já que Omichi estava errado, dei uma olhada no rosto de Chitanda. Ao contrário de suas palavras de autoculpabilização, seu semblante era ensolarado e eu podia até ver que ela estava um pouco aliviada.
Foi isso que pensei lá no fundo.
A normalmente calma Chitanda ficou irritada e queria saber o motivo. Ela disse que não é necessariamente ruim ficar com raiva, mas a verdade é que ela nunca quer ficar. Talvez Chitanda quisesse que Omichi tivesse seus motivos e quisesse acreditar que ela se irritou por causa de seu próprio erro, por isso queria entender seus motivos para se irritar.
Chitanda não é esse tipo de pessoa?
Não.
Balancei a cabeça para afastar esse último pensamento. O que me leva a pensar “A Chitanda não é esse tipo de pessoa?” quando a conheço há apenas dois meses? Eu entenderia muito bem os pensamentos e sentimentos de Satoshi, já que o conheço desde o ensino fundamental. O mesmo pode ser dito de Ibara, que está na mesma classe que eu há nove anos e pode ser considerada uma conhecida. Mas, o que eu sei sobre Chitanda?
É isso mesmo. Consegui prever suas ações algumas vezes, mas, por outro lado, seus motivos foram claramente mostrados, e pensar que posso ler seus pensamentos mais íntimos seria, como ela disse, cometer um pecado capital. O pecado capital do orgulho. É melhor eu tomar cuidado, pois de alguma forma me tornei muito arrogante. Mesmo hoje, quantas vezes Chitanda agiu de forma diferente de minhas expectativas?
Sorri amargamente e percebi que Ibara e Satoshi haviam se desviado do assunto do Omichi. Parece que não é mais minha vez. Olhei para o relógio e vi que já eram quase cinco horas. Observei o pôr do sol lá fora. Talvez seja hora de voltar para casa?
— Entendo o que Chii-chan está dizendo, mas não sei, se eu estivesse lá…
— Então, você faria o que faria normalmente. Mas pense no que Chitanda-san estava dizendo antes…
Bem, acho que ainda é cedo. Peguei meu livro e li novamente a página em que ele estava aberto. Assim, mais da minha vida no ensino médio é desperdiçada. Pessoalmente, acho que cometer o pecado mortal da preguiça é mais do que suficiente para mim.