Volume 4
Capítulo 1: Se eu tenho que fazer, que seja rápido
1
Entendo que algumas pessoas têm preferências pessoais, mas eu não diria que espero ter uma.
Pensando bem, na verdade, não tive uma educação única. Enquanto meu pai raramente estava em casa, ele ainda conseguia sustentar a família. Minha irmã era uma pessoa rebelde, arrogante e estranha que rapidamente juntou dinheiro assim que entrou na faculdade para fugir em uma longa aventura, mas não é como se ela tivesse seis braços e três rostos. E eu, Oreki Houtarou, não tive nenhuma experiência intensa e transformadora, como era de se esperar.
Certa vez, me envolvi em um problema pelo qual ninguém deveria ter passado antes. Durante esse período, eu não tinha ideia do que estava acontecendo, mas acabei conhecendo Fukube Satoshi, que ainda é um amigo próximo. Naquela época, minha irmã disse que era uma questão trivial que acontecia sempre, mas eu estava realmente indignado por isso estar acontecendo comigo. Enquanto eu estava ocupado franzindo as sobrancelhas e reclamando que tudo era irritante ou difícil, acabei me formando no ensino fundamental sem perceber. No entanto, pensando bem, percebo que, de fato, eram todos assuntos insignificantes.
Meus resultados na escola não eram ruins. Eu não era um gênio, mas também não era tão ruim nos estudos a ponto de estar tão preocupado com isso. Seguindo sem rumo, a maioria dos alunos da região da cidade de Kamiyama, com resultados medianos, tentou entrar na Escola de Ensino Médio Kamiyama. Estudar para o exame foi difícil, mas ainda assim dentro das minhas expectativas.
O Colégio Kamiyama era o elo perfeito entre o ensino fundamental e o ensino médio. Embora fosse a melhor escola para estudos avançados, tinha uma taxa de aceitação de mais de 90%. Mesmo considerando a existência de escolas particulares, a maioria das pessoas que queria entrar no Colégio Kamiyama conseguia passar no teste. De alguma forma, também passei no teste e entrei no Colégio Kamiyama.
Durante a cerimônia de entrada da escola, pensei que o Colégio Kamiyama também teria várias ocorrências. Eu tinha certeza de que, em meus três anos aqui, haveria alguns incidentes que chamariam a atenção.
No entanto, todos aqui, ou seja, meus colegas, teriam suas próprias experiências pessoais que chamariam sua atenção. Portanto, não tive a chance de dizer: "Estou vendo, isso é algo diferente" e mostrar meu orgulho. Quando estava saindo da Escola de Ensino Fundamental Kaburaya, olhei para o prédio da escola e murmurei: "No final, parece que nada de especial aconteceu aqui". Eu provavelmente diria o mesmo quando me formasse no Colégio Kamiyama três anos depois.
Isso porque tenho um lema inabalável.
Não importa o quanto eu pense sobre isso, de alguma forma não consigo me lembrar de quando comecei a seguir esse lema. Isso não me foi ensinado por alguém, nem o li em algum lugar. Mesmo assim, eu me apego firmemente a esse lema.
É…
Se eu não tiver que fazer, não faço. Se eu tiver que fazer, que seja rápido.
2
Gosto do meu lema do fundo do meu coração.
Por causa disso, fui colocado em uma situação difícil depois da aula. Na minha mesa havia dois pedaços de papel para escrever. O primeiro tinha o tópico "Sentimentos após o primeiro mês de aula e aspirações futuras" escrito nele, enquanto o segundo estava em branco. O departamento de orientação deve ter pensado bem dos calouros e acreditou que poderíamos preencher pelo menos duas páginas com nossas aspirações. Com certeza sou grato por isso.
Como esse era o dever de casa, eu o escrevi ontem em casa. Não consigo me lembrar exatamente o que escrevi, mas o completei. Então, por que tenho de ficar para trás depois da escola e enfrentar novamente essas perguntas cujas respostas não me lembro? Na verdade, esse deveria ser um mistério surpreendente, mas se eu tivesse que resumir a causa em uma frase, ela seria: "Sensei, deixei minha lição de casa em casa".
Satoshi riu da minha redação, que estava presa em três linhas das duas páginas dadas.
— Esse é definitivamente o Houtarou que não faz coisas opcionais. Ouso dizer que seria difícil para você falar sobre aspirações. Ainda assim, você não deveria, ao menos, ter feito isso de forma mais adequada?
Parece que você não está entendendo nada. Protestei enquanto segurava minha lapiseira entre os dedos e a girava.
— Eu fiz ontem à noite.
— Então, por que você está tendo tanta dificuldade em escrevê-lo uma segunda vez?
— Porque é a segunda vez.
Satoshi me olhou com desconfiança.
Girei minha caneta novamente. Bem, eu estava tentando girá-la novamente, mas, como estava girando com muito impulso, ela bateu no rosto de Satoshi e voou para um canto da sala de aula. Calmamente, levantei-me, peguei a caneta e voltei para o meu lugar, agindo como se nada tivesse acontecido. Satoshi fingiu estar despreocupado, como se estivesse se perguntando se algo havia acontecido.
— O que há de tão desagradável em escrever uma segunda vez?
— Eu poderia escrever o primeiro texto corretamente. Estou tentando fazer com que esta segunda redação siga a primeira, mas, no final, ainda não consigo escrevê-la bem.
Eu tive que me esforçar muito ontem à noite para criar algumas aspirações. Jogar isso fora e escrever do zero foi realmente muito difícil. Satoshi sorriu como se estivesse feliz com alguma coisa.
— Ha-ha… Eu meio que entendi. Então, por que você não se lembra do que escreveu ontem à noite?
— É precisamente por escrever isso tão bem que eu não consigo me lembrar.
A parte inferior da lapiseira bateu na mesa com um baque. Satoshi deu de ombros, como se a piada já tivesse sido contada.
O final de abril estava se aproximando. Era depois da escola, mas ainda não era tão tarde. Além de mim, ainda havia muitas outras pessoas na sala de aula, tendo suas próprias discussões particulares. Havia uma leve garoa lá fora, que já durava dois ou três dias. A previsão do tempo dizia que haveria fortes tempestades entre a tarde e a noite, mas esse não era o único motivo pelo qual eu queria chegar em casa mais cedo.
Satoshi sentou-se no canto da mesa e olhou para a minha bolsa, enquanto girava a bolsa de cordão que sempre carrega no ombro.
— Parece que você vai levar muito tempo. Você está indo para as atividades do clube, certo?
Ao ouvir a palavra "clube", fiz uma careta.
Com a orientação do meu lema, é claro que eu não teria interesse em entrar em nenhum clube. Já que estou tentando levar a vida no ensino médio de forma tranquila, por que eu faria intencionalmente algo que exigiria tanta energia?
Porém, uma carta acabou com minhas esperanças. Era uma carta de Benares, na Índia. "Entre para o Clube de Clássicos", dizia. Graças à má sorte e a um erro de leitura, agora estou no Clube de Clássicos, conforme as instruções.
A pessoa na minha frente é Fukube Satoshi, membro do Clube de Clássicos. Além disso, ele também é membro da Sociedade de Artesanato e do Comitê Executivo. Ele gosta de andar de bicicleta. Que homem dedicado ao lazer.
— Chitanda-san estava curiosa sobre algo. Ela disse que seria bom se você pudesse vir.
Fiquei em silêncio e olhei para a ponta da minha caneta esferográfica.
Chitanda também é um membro do Clube de Clássicos. Seu nome completo é Chitanda Eru.
De acordo com Satoshi, o mestre das informações triviais, Chitanda é filha de uma antiga família que possui uma grande área de terras agrícolas na região nordeste da cidade de Kamiyama. Seu passado distinto não se reflete realmente em sua aparência. Ela simplesmente parecia uma aluna bem arrumada da mesma série, com cabelos longos e um rosto delicado. Chitanda… ao ouvir esse nome, fiquei em silêncio sem pensar. Satoshi notou isso? Na verdade, é porque eu, de alguma forma, não me dou bem com ela.
Eu me juntei ao Clube de Clássicos porque achei que estaria sozinho, mas, como Chitanda também entrou no clube, ele se tornou um clube de verdade. Mas isso não é tudo.
Ela não é exatamente um tipo que me desagrada. Uma pessoa que economiza energia como eu, não tem muitos gostos e desgostos. Mas, no dia em que nos conhecemos, Chitanda fez a seguinte pergunta: "Por que eu estava trancada naquela sala?... Estou muito curiosa."
Naquele dia, Chitanda estava em uma sala de aula trancada, mas não percebeu que ela mesma havia sido trancada. Como fui eu quem destrancou a porta, é claro que não fui eu quem trancou. É compreensível que você ache isso misterioso, mas Chitanda teve que me pedir para resolver o mistério. Ao ser dominado por seu pedido extremamente forte, tive que explicar meus pensamentos sobre como isso aconteceu.
Felizmente, consegui mostrar minhas habilidades naquele dia. No entanto, depois que a verdade sobre o assunto foi revelada, tive uma estranha premonição no caminho de volta para casa. Meu lema de economia de energia é inabalável. Isso ocorre porque ninguém tentaria fazer intencionalmente com que um completo estranho se afastasse de suas crenças insignificantes. Isso é normal, assim como o que Chitanda fez naquele dia. Mas... a frase 'Estou curiosa', somada aos enormes olhos de Chitanda se aproximando demais. Ficaram gravadas em minha memória, como uma estranha premonição do que está por vir.
— Pedi a Chitanda-san que preenchesse o formulário de solicitação de autorização. Toda essa papelada problemática é o dever profissional de um membro fiel do Comitê Executivo como eu.
— Parece difícil. A propósito, como se escreve assíduo? * NOTA
— Você não ganha pontos por usar palavras que esqueceu como se escreve. Que tal trocar por trabalho duro ou algo assim?
Basicamente, Satoshi é alguém que fala o que quer quando quer, mas definitivamente ele não é uma pessoa obtusa. Ele soltou um pequeno suspiro e falou.
— Bem, se você não quer ir, não precisa se forçar em ir para as atividades do clube.
Eu não diria que não quero ir. É que depois da escola, pelo menos por hoje, completar ‘Sentimentos após o primeiro mês de aula e aspirações futuras’ é mais importante do que ir ao Clube de Clássicos. Minha intenção era apenas me esforçar mais como um orgulhoso aluno do Colégio Kamiyama. Hmm, Acho que não conseguirei transmitir meu ponto de vista se não usar a palavra "assíduo".
Ignorando minha folha de redação, que não havia sido preenchida, Satoshi bocejou. Quando olhei para fora, pensando que veria a interminável chuva de primavera, Satoshi de repente se virou para mim com um sorriso.
— Ah, sim, acabei de me deparar com uma conversa interessante. Aparentemente, um boato clichê tem circulado por aí. Você já ouviu falar dele?
— Clichê?
Levantei minha cabeça. O fato de eu me distrair tão facilmente é uma prova de quão entediado eu estava com essa redação. Satoshi assentiu com satisfação e levantou o dedo indicador com um estalo.
— É um clichê total. Eu sempre me perguntei se o Colégio Kamiyama, a maior escola para estudos avançados na cidade de Kamiyama e lar de muitos clubes suspeitos, guardava segredos obscuros ou ocorrências sobrenaturais, mas o que realmente me interessava era que essa conversa de fato existisse.
— O que é esse dedo?
— Ah, desculpe. Sem qualquer razão.
Satoshi retirou rapidamente o dedo indicador, mas manteve o sorriso no rosto.
— Não quer ouvir as histórias estranhas e rumores suspeitos da escola?
Eu fiquei em silêncio, pensando no que dizer, mas Satoshi continuou.
— No final do horário escolar, o piano toca sozinho na sala de música…
— Muito bem, já chega.
Não acho que isso seja interessante. Estendi a palma da mão e o impedi de contar sua história.
É realmente um clichê. Também havia esse tipo de conversa no ensino fundamental. Esses rumores escolares parecem ser originais, mas todos têm o mesmo formato. Eu não diria que estou farto deles, mas simplesmente não tenho interesse. Estou desapontado com o fato de Satoshi, como um homem de vários hobbies, ter me trazido uma conversa chata.
— Você não entendeu, Houtarou. Realmente acha que eu acho interessantes as 'histórias escolares estranhas' comuns?
Eu me pergunto sobre isso. Há algum tempo, você estava interessado na estrutura do seguro de vida postal.
— Você está errado. Não é óbvio que estou mais interessado no fato de que essa história começou em primeiro lugar?
— Oh?
— Existem trezentos e vinte alunos do primeiro ano, como nós, vagando sem rumo como cordeiros miseráveis em um ambiente totalmente novo. E, apenas duas semanas após entrarem na escola, pudemos dizer: 'Isso realmente existe nesta escola.' Você não acha que esse crescimento é notável?
A mão de Satoshi se abriu, demonstrando sua alegria.
Estou vendo. Agora entendo o que ele está tentando dizer. Coloquei meu cotovelo direito sobre a mesa e apoiei o queixo em meu punho.
— Isso é de fato verdade. Enquanto estiver se familiarizando em um novo ambiente, provavelmente não haverá espaço para que coisas como rumores se espalhem. Você está tentando dizer que, conforme as pessoas vão se acostumando com a escola e começam a ter mais tempo, cria-se um espaço para rumores estranhos, certo?
— Sim, exatamente. Você entendeu bem rápido.
— Isso me lembra da adivinhação do tipo sanguíneo.
Quando acidentalmente deixei escapar meus pensamentos, o bem-humorado Satoshi parou de balançar a cabeça.
— Por que você diz isso?
— Esse parece ser um assunto que você abordaria em seu primeiro encontro com alguém. Ambos os lados mal entendem o tópico que estão encontrando pela primeira vez. Geralmente, a conversa fluiria de forma suave e harmoniosa, mas, na realidade, muitas pessoas não acreditariam em uma palavra sequer
Satoshi prendeu a respiração e seus olhos se arregalaram. Estremeci com a resposta exagerada.
— O que é isso?
— Bem, estou chocado! — Satoshi exclamou, e eu me sentei mais ereto. — Houtarou realmente criticou uma técnica de comunicação interpessoal! Eu não tinha dúvidas de que Houtarou havia fechado os olhos para se tornar um animal social!
Que cara mal-educado.
— Eu não desgosto de pessoas. Posso dizer isso enquanto olho nos seus olhos.
Insinuei, enquanto olhava para Satoshi nos olhos. É claro que Satoshi não gostou disso e virou-se de costas.
— Tudo bem, eu entendo. É só o Houtarou conservando energia.
Isso é estranho?
— Então, que tal isso? Você gostaria de ouvir o símbolo do tempo livre dos alunos do primeiro ano, o mistério da sala de música?
Não importa que tipo de conversa tediosa Satoshi traga, não é o caso de eu querer ouvi-la. É que, se eu de repente dissesse que não estou interessado, ele provavelmente diria algo como: 'Como esperado, você dá as costas para a situação social, Houtarou. Tentar escutar com interesse, não importando quão chato seja o assunto, é o primeiro passo para uma relação interpessoal harmoniosa.' Bem, como atualmente estou escrevendo sobre minhas ambições, isso não deve ser um obstáculo. Peguei minha lapiseira, voltei minha atenção para o questionário e disse.
— Se você quer tanto contar sua história, estou ouvindo.
— Muito bem.
Satoshi limpou sua garganta intencionalmente.
— Foi ontem. Uma garota do primeiro ano foi ao quarto andar do Bloco Especial.
— Não é a Chitanda, é?
Eu tinha planejado não ouvir a história, mas respondi à primeira frase.
Além da sala de música, o Bloco Especial também abriga a sala de aula de geografia, que é onde acontece o Clube de Clássicos.
Nossa sala de aula do primeiro ano ficava no quarto andar do Bloco Geral. Para chegar ao quarto andar do Bloco Especial, seria necessário descer três lances de escada, passar pela passagem do telhado até o Bloco Especial e subir até o quarto andar. Em um dia chuvoso como este, a passagem do telhado não pode ser usada, então é preciso utilizar o caminho protegido no andar térreo. Isso é irritantemente longe.
Na verdade, o quarto andar do Bloco Especial é uma região remota do Colégio Kamiyama. Não consigo pensar em nenhuma outra garota além de Chitanda que iria intencionalmente para lá.
Tendo sido interrompido desde o início, Satoshi ficou desanimado por um instante.
— Não, não foi ela.
— Então, quem foi?
— Apenas escute.
Parece que eu o irritei. É hora de calar a boca.
— Depois da escola, a garota veio ao quarto andar do Bloco Especial. Era quase seis horas. Como os portões da escola são fechados às seis horas, não havia quase ninguém na escola.
— Quando ela estava subindo ao terceiro andar, ela notou a melodia do piano. Para o bem ou para o mal, essa garota sabia como apreciar música. A música era incrível e a garota ficou impressionada com a expressão intensa da peça. Era uma melodia com a qual era fácil se acostumar. Era a Moonlight Sonata. A garota estava tentando pegar algo que havia esquecido, mas, como estava imersa na música, parou em um estado de transe.
— O corredor, as escadas e a garota estavam pintados de vermelho pelo pôr do sol. Era como se o mundo tivesse explodido em chamas e estivesse prestes a se queimar. A bela música era como um réquiem dedicado aos últimos momentos de uma pessoa. Sentindo uma sensação de tremor nos pés, a garota realmente…
Fiz uma objeção à história de Satoshi
— Também choveu ontem, então não houve pôr do sol.
— Sim, o ar estava úmido com a chuva contínua, à medida que o crepúsculo se aproximava. A sensação de desconforto envolveu a pele, enquanto o barulho da chuva se misturava levemente com a música. O timbre da música gravou um sentimento inexplicável de ansiedade no coração da garota.
Mas que diabos…
Parece que a habilidade de Satoshi não diminuiu nem um pouco
— Colégio Kamiyama é conhecido por seus clubes artísticos. Não é estranho ter um especialista em piano desse nível. A garota queria elogiar o pianista, então colocou a mão na maçaneta da sala de música. De fato, havia música vindo daquela sala. Além disso, em que outro lugar haveria um piano que não fosse uma sala de música?
Acredito que há um piano no ginásio usado para cerimônias. Mas fiquei quieto, pensando que não deveria jogar água fria em Satoshi novamente.
— Mas no momento em que ela estava prestes a abrir a porta, a música foi subitamente interrompida. Perguntando-se o que havia acontecido, a garota abriu a porta lentamente.
Enquanto fazia a ação de abrir uma porta, a voz de Satoshi se tornou suave. Pela voz abafada, eu sabia que a parte assustadora era iminente.
— Depois de fazer isso, ela entrou na sala de música, que parecia estar cheia de uma atmosfera bizarra.
— Todas as cortinas estavam fechadas e a escuridão era total. A garota instantaneamente olhou para o piano, mas não havia ninguém lá. Por quê?, pensou a garota enquanto vacilava. Ela desviou o olhar para a esquerda e para a direita, e então a viu. Uma aluna com cabelos longos e bagunçados caídos sobre o rosto e olhos ardentes e ensanguentados, vestida com um uniforme de marinheiro, à espreita em um canto da sala de música!
Com as mãos entrelaçadas, Satoshi tremia de indignação. Que ato detalhado.
— Tendo sido agitada por um evento de arrepiar os cabelos, a garota fugiu imediatamente sem virar a cabeça. Mais tarde, a garota descobriu que, naquele dia, o clube de piano tinha a posse exclusiva da sala de música. Além disso, a única pessoa do clube de piano, que era uma estudante do terceiro ano, infelizmente machucou o dedo e não podia tocar piano!
— Mas Hontarou! Também é impossível para um piano tocar uma música sozinho. A menos que você considere o membro do clube de piano que lamentavelmente cometeu suicídio antes do Concurso Nacional...
— Alguém se suicidou?
Satoshi fez uma cara séria ao se aproximar do resumo da história. Essa apresentação solo demorou mais do que o normal.
— Acho que sim. Provavelmente aconteceu, mas não tenho certeza.
Por alguma razão, meu ritmo de escrita realmente aumentou enquanto eu ouvia as bobagens de Satoshi. Talvez minha capacidade de escrever esteja ligada ao meu estado mental quando o ignoro. Falei sem sequer olhar para cima.
— Na verdade, era você quem sabia que o clube de piano possuía a sala de música, bem como seu único membro, certo?
Satoshi parecia dar a sensação de uma risada amarga.
— Dedução brilhante, Houtarou. É isso mesmo. A presidente do clube de piano, Tamaru Junko, está atualmente fazendo tratamento para o dedo indicador.
Eu não conheceria a testemunha estudantil, muito menos os acontecimentos no clube de piano. Mas Satoshi sim. Como membro do Comitê Executivo, ele teria conhecimento detalhado dos clubes do Colégio Kamiyama.
O tom pomposo de Satoshi mudou para um tom de diversão.
— Parece que realmente havia uma aluna fantasma vestindo um uniforme de marinheiro e com o cabelo bagunçado. A menina do primeiro ano que presenciou o fato provavelmente ficou assustada ou chocada, mas, durante o intervalo do almoço de hoje, esse incidente estava sendo comentado na classe A.
— É óbvio que ela estava usando um uniforme de marinheiro.
De qualquer forma, os alunos do sexo masculino do Colégio Kamiyama tinham que usar o gakuran, enquanto as alunas tinham que usar o uniforme de marinheiro. Eu ficaria surpreso se houvesse alunas usando blazers ou jalecos.
— A questão é: essa história vai se espalhar? Se isso acontecer, como e com que velocidade ele se propagaria? Se você documentar o processo de circulação, ele provavelmente se tornará o material básico para a pesquisa folclórica. Ele será chamado de ‘O segundo dos sete mistérios do Colégio Kamiyama’. No momento, eu me pergunto quando ele chegará à minha classe D.
Satoshi disse isso em tom de brincadeira, mas ele se sentiu bastante atraído pela ideia. De fato, Satoshi não é a pessoa certa para ter um profundo interesse em algo como os meios pelos quais os rumores se propagam?
Mas eu não tinha tempo para me preocupar com a pesquisa de Satoshi. Havia algo nas palavras de Satoshi que eu não conseguia deixar passar.
— Espere um pouco. O que você acabou de dizer?
— Hmm? Folclore. Bem, você também poderia chamá-lo de lenda urbana. Ao dizer folclore, eu estava tentando criar uma espécie de nuance…
— Não, não é isso.
Ao ver meu semblante mudar repentinamente, Satoshi também pareceu duvidoso.
— Qual é o problema? Você achou realmente a estranha história da ‘Moonlight Sonata Piano’ tão interessante assim? Eu certamente não esperava que Houtarou tivesse interesse em tal coisa…
Eu realmente não me importei com a história. Mas se o que Satoshi disse for verdade...
Essa não é uma questão simples. É necessário tomar alguma medida para lidar com isso.
Tudo depende do questionário que tenho à minha frente, "Sentimentos após o primeiro mês de aula e aspirações futuras".
No entanto, quando pensei em me apressar, minha lapiseira ficou presa e as palavras simplesmente não apareciam. Se eu tiver que fazer isso, que seja rápido. Entretanto, assim como há situações em que é possível fazer as coisas rapidamente, também há momentos em que isso é impossível.
3
A chuva não para.
Enquanto escutava Satoshi detalhar a história, eu estava empenhado em preencher o questionário. Quando finalmente terminei de escrever, pela segunda vez, minhas ambições e estava pensando que poderia ir para casa, uma pessoa de cabelos negros esvoaçantes apareceu na sala de aula.
— Ah, você ainda está aqui, Oreki-san.
Um sorriso quase inexistente surgiu em meus olhos e boca. Essa pessoa é a presidente do Clube de Clássicos, Chitanda Eru, uma estudante que não tinha elegância, mas era sem dúvida uma beldade. Ela caminhava em minha direção, fazendo com que os colegas que ainda estavam na sala de aula me olhassem de uma só vez. Bem, acho que é compreensível.
Apontei na direção da lousa.
— Sua sala de aula é ali.
Eu estava na classe 1-B. Chitanda é estava na 1-A. Mas ela apenas sorriu.
— Sim, é verdade.
Ela já estava perto o suficiente, mas se aproximou mais meio metro e parou. Em seguida, ela retirou um folheto da pasta transparente que tinha em mãos.
— Já preenchi o formulário, Fukube-san.
— Ah, muito obrigado. Esse formulário é realmente desnecessário, não importa como você o veja.
Pensando bem, Satoshi mencionou que Chitanda estava em sua sala de aula preenchendo alguns papéis. Como se chamava formulário de solicitação de autorização, inicialmente pensei que fosse uma piada, mas parece que ela estava realmente escrevendo algo. Dei uma olhada, mas só vi que o título era ‘Formulário de Confirmação de Inscrição em Clube’.
Satoshi pegou um caderno de couro em sua bolsa de cordão, dobrou o formulário duas vezes e o colocou no caderno. Depois de assistir a isso, Chitanda se virou para me olhar. Seus olhos enormes traíam sua imagem elegante. Suas pupilas se dilataram, e seu olhar me fez sentir calor.
Reconheço essas pupilas e esses olhos. Foi somente esse olhar direto de Chitanda que fez com que o Oreki Houtarou, que economiza energia, resolvesse mistérios. Desde o dia em que conheci Chitanda na sala do Clube de Clássicos, nunca mais passei por isso. Afinal, não tivemos muitas chances de falar pessoalmente. Mas eu tinha um palpite. Aqui vai ele.
Antes que seus lábios pudessem se abrir, eu falei rapidamente.
— Você veio na hora certa.
— Hã?
Perdendo o embalo, Chitanda piscou. Usando o excesso de energia da sensação de libertação após preencher aquele questionário irritante, eu ri com extrema leveza.
— Acabei de ouvir uma história estranha de Satoshi. É um rumor muito estranho.
— Você está falando daquele incidente?
… Como esperado.
— Você já ouviu falar do ‘Memorando de Convite para o Clube Secreto’? É conhecido como ‘O primeiro dos sete mistérios do Colégio Kamiyama’.
Novamente, os enormes olhos de Chitanda piscaram repetidamente.
Por um momento, seus lábios se estreitaram em dúvida. Em seguida, ela juntou as mãos na frente do peito e seu sorriso habitual voltou.
— Hmm? O que é isso sobre um clube secreto? Isso é verdade?
— Não acreditei no começo, mas em vez de ouvir de mim…
Eu me virei e olhei para o Satoshi.
— Satoshi, conta a história para ela.
— Ah, ok.
Tentando digerir o curso dos acontecimentos, Satoshi hesitou por um tempo. Satoshi me olhou de relance, e eu acenei com a mão sorrindo, incentivando-o a falar.
Como esperado de Fukube Satoshi. Ele não se recusou quando pedi que falasse. Satoshi se sentou mais ereto na mesa e assumiu um tom mais alegre.
— Certo, obrigado por ouvir a história de ‘O Clube Secreto’ … O Comitê Executivo também é responsável pelos convites aos calouros. Foi isso que ouvi quando estive lá — ele continuou.
— De qualquer forma, o Colégio Kamiyama tem muitos clubes e sociedades. Como há muitos clubes, é óbvio que haveria muitos pôsteres de convite. No primeiro semestre letivo, os quadros de avisos da escola provavelmente estariam repletos desses pôsteres. É claro que o uso dos quadros de avisos requer permissão. Se você não obtiver o selo de aprovação do Comitê Executivo, não poderá colar o cartaz no quadro de avisos.
— No entanto, tudo o que ele precisa é de um pedaço de papel e uma tachinha. Se não fizermos patrulhas frequentes, surgirão versões piratas dos pôsteres de convite. Também é dever dos membros do Comitê Executivo remover esses pôsteres quando os virem. Há uma penalidade para os clubes legítimos que colocam esses pôsteres piratas. Na pior das hipóteses, os fundos do clube podem ser cortados.
— Isso foi inesperadamente severo.
— É isso mesmo! É realmente muito sério.
Tendo sido rapidamente absorvida pelo discurso fluente de Satoshi, Chitanda acenou com a cabeça repetidamente enquanto ouvia.
— Mas, todo ano, há apenas um pôster de convite de um clube desconhecido. Bem, acho que é mais um memorando do que um pôster. De qualquer forma, no ano passado, havia um pedaço de papel que parecia ter sido recortado de um caderno, detalhando a hora e o local do encontro. O memorando no quadro de avisos não era oficialmente reconhecido, e não é preciso dizer que o clube também era ilegal. O presidente do Comitê Executivo, Tanabe, percebeu então que havia um clube secreto que o Comitê Executivo não controlava e que o clube estava realizando reuniões secretas.
— O objetivo do clube e a identidade de seus membros eram desconhecidos, mas eles sabiam qual era o nome do clube.
— E qual era?
Satoshi riu com um largo sorriso.
— A Sociedade Aranha de Seda.
— Aranha de Seda…
Chitanda repetiu essa frase algumas vezes, tentando digeri-la. De repente, ela disse.
— Vejo com frequência seus ninhos no jardim de minha casa.
É possível saber a espécie da aranha apenas olhando para o ninho?
— Baseado no memorando confiscado, Tanabe-senpai tentou entrar em contato com a Sociedade Aranha de Seda, mas não foi muito bem. O lugar designado era uma sala de aula vazia, além disso, ninguém podia entrar sem uma chave. Como Chitanda-san sabe, é impossível pegar a chave emprestada sem um motivo válido. Com isso, Tanabe-senpai concluiu que a Sociedade Aranha de Seda, na verdade, não existia. Ele acreditava que aquele memorando no quadro de avisos era apenas uma brincadeira de um aluno infantil. Mas depois…
Como havia chegado ao clímax de sua história, Satoshi deu ênfase às suas palavras.
— No dia da formatura, um dos formandos disse ao Tanabe-senpai: ‘Eu era o presidente da Sociedade Aranha de Seda. Por favor, tome conta do próximo presidente. Se você conseguir encontrá-lo, é claro.’
— O recém-nomeado presidente do Comitê Executivo, Tanabe-senpai, não tinha a intenção de permitir a colocação de objetos não aprovados nos quadros de avisos. É provável que eles também estejam realizando um encontro este ano. Os membros do Comitê Executivo estão atentos, mas ainda não o encontraram até o momento…
Satoshi deu de ombros, encerrando sua história.
Assim como na história da sala de música, Satoshi modulou sua voz sem criar uma sensação relativamente antinatural. Eu conheço o Satoshi há muito tempo, mas nunca pensei que ele fosse tão bom em contar histórias. Esse cara provavelmente seria um narrador de cinema mudo no futuro.
Chitanda soltou um pequeno suspiro.
— De fato, há uma variedade estranhamente grande de clubes nesta escola. Não seria surpreendente ter um clube misterioso entre todos eles.
De fato, em comparação com as escolas normais de educação geral de período integral, os clubes culturais do Colégio Kamiyama são muito diversificados. Há mais de cinquenta clubes diferentes, desde o Clube de Acapela até a Sociedade Mágica, e no outono terá início o Festival Cultural de três dias. Parece relativamente deselegante não ter um ou dois clubes de mistério. Eu respondi.
— A Sociedade Aranha de Seda? Se levarmos em consideração que seu propósito é desconhecido, ela é bastante semelhante ao Clube de Clássicos.
— O Clube de Clássicos não é assim! — Chitanda exclamou, mas após pensar um pouco, Chitanda não pôde concordar com sua declaração anterior. — Na verdade, não posso dizer que sejam diferentes…
Isso me lembra que Chitanda disse que entrou para o Clube de Clássicos por um motivo especial. Ela disse que se tratava de um assunto pessoal, então não a questionei mais.
— Um único memorando em meio a inúmeros cartazes de convite, não é?
Chitanda apoiou a cabeça nas mãos e pensou um pouco. Com seus olhos fixos na distância, ela parecia uma jovem refinada.
Mas logo depois, com um grande aceno de cabeça, as emoções de Chitanda se dissiparam em um instante. Ela colocou as mãos na frente do peito e disse.
— É isso… Estou curiosa!
Certo.
Com o questionário na mão, levantei-me.
— Achei que você diria isso, por isso disse que veio na hora certa.
— Como assim? — Chitanda deu de ombros com curiosidade.
— É claro que vamos encontrar o memorando.
Primeiro, perguntei a Satoshi sobre o número de quadros de avisos pelos quais o Comitê Executivo é responsável.
Como esperado, Fukube Satoshi não havia registrado o número.
— Espere um pouco.
Ele resmungou e começou a contar.
— Há dois quadros em cada andar, do segundo ao quarto andar do Bloco Normal. No primeiro andar, há também quadros na enfermaria e na sala dos funcionários, portanto, há um total de quatro quadros. Também há quadros na passagem. Na passagem do segundo andar, há um perto do Bloco Normal e outro perto do Bloco Especial. Há um quadro em cada andar do Bloco Especial. Isso dá um total de dezesseis.
— Além disso, há um quadro por andar. Nesse caso, como um edifício tem quatro andares e dois lances de escada por andar, haveria outros dezesseis quadros.
Como eu só queria ouvir o total geral, ignorei o cálculo, mas Chitanda não fez isso. Para Satoshi, que havia dobrado demais o dedo, perdido a conta e estava apenas olhando para o punho, Chitanda disse gentilmente.
— Isso está errado, Fukube-san. Se um prédio tem quatro andares e dois lances de escada entre os andares, haveria doze patamares no total... já que um prédio de quatro andares tem três patamares.
— Er... Ah... É isso mesmo.
Ele dobrou o dedo novamente. Sua mão de alguma forma se transformou em um formato que causaria inveja a um rapper suspeito.
— E isso eleva o total a…
— Vinte e oito quadros.
Satoshi ficou surpreso.
— Em um quadro de avisos cabem pelo menos dez pôsteres, independentemente do tamanho. Como resultado, essa pequena escola teria pelo menos trezentos pôsteres.
— Não há também um quadro de avisos no ginásio?
— Agora que penso nisso, de fato há um lá. E há também um no prédio de artes marciais… portanto, há trinta locais no total. O Comitê Executivo certamente está trabalhando duro. Que grande comitê é esse! — Satoshi olhou para o teto e exclamou com emoção.
Surpreendentemente, Chitanda ignorou Satoshi, que estava emocionado. Sem comentar ou mesmo fazer uma observação fria, ela simplesmente desviou o olhar. Será que ela já descobriu o método de lidar com Satoshi, apesar de terem se encontrado apenas algumas vezes? Obviamente, isso era verdade.
Chitanda se virou para me olhar.
— Parece que há trinta locais no total... Devemos investigar todos eles?
Como se fosse possível. Fazer isso trairá minha crença e me levará à morte como punição.
— Não seria melhor considerar onde ele estaria primeiro? Qual é o local mais suspeito? Não é tarde demais para usar nossos pés somente depois de pensar sobre isso.
— Mayaka estava falando sobre isso antes — Satoshi respondeu, com um olhar zombeteiro no rosto.
— 'Esse Houtarou sempre usa a cabeça antes de usar o corpo', disse ela.
— Isso não é uma coisa boa?
— Como resultado, você geralmente acaba não usando seu corpo.
É claro que eu não poderia refutar isso.
Mayaka trata-se de Ibara Mayaka. Por alguma razão, eu estava na mesma classe que ela desde o ensino fundamental. Agora que penso nisso, entramos em turmas diferentes pela primeira vez no ensino médio. Ela não era especialmente amigável comigo, mas tinha um relacionamento muito próximo com Satoshi. Dizem que o gosto não se discute, mas Ibara tem uma queda por Satoshi.
— Quem é Mayaka-san?
— Hmm. Bem, terei a oportunidade de apresentá-la eventualmente.
Satoshi foi confessado muitas vezes, mas nunca aceitou nenhuma delas. Não faço ideia do motivo, e não tenho interesse em descobrir. De qualquer forma, como Mayaka apontou, agora eu estava usando minha cabeça.
— Lugares suspeitos… Em outras palavras, se um clube secreto divulgasse um memorando, qual seria o local mais provável, certo?
— Que condições você acha que o local deve atender, em geral? — Perguntei. Chitanda pensou um pouco e respondeu com os olhos arregalados.
— Se for vista por um membro do Comitê Executivo, ela será retirada. Se fosse eu... eu definitivamente o colocaria em algum canto da escola, onde não se destacaria. Por exemplo, a área ao redor da sala de aula de geografia seria suficiente, já que quase ninguém passa por lá.
— Bem, acho que sim. No caso do quadro de avisos do prédio de artes marciais, o memorando não seria visto se algum membro do clube ou do Comitê Executivo não estivesse presente.
Satoshi concordou. Mas haveria um problema se o memorando estivesse em um canto da escola. Declarei com o máximo de autoconfiança que consegui reunir.
— Isso está errado.
Não se deve fazer o que não se está acostumado a fazer. Pelo canto dos olhos, notei que Satoshi franziu a testa e me perguntei se eu havia sido excessivamente brusco. Mas Satoshi não era o problema. Parece que a preocupada Chitanda não encontrou nada de estranho.
— Está errado?
— Você não se enganou no início — respirei fundo e acrescentei. — Se o memorando de convite da Sociedade Aranha de Seda tiver sido colocado... ele estará na entrada da escadaria do primeiro andar ou em qualquer um dos patamares entre o primeiro e o quarto andares.
Chitanda inclinou a cabeça.
— Em outras palavras, você acha que ela está em algum lugar na rota que os alunos do primeiro ano usariam, certo? Mas isso é…. — ela murmurou, refletindo sobre isso. Se eu tivesse um melhor entendimento das habilidades linguísticas, poderia explicar mais rapidamente, mas, infelizmente, não tenho as técnicas de fala de Satoshi. Eu estava tentando lembrar o que dizer em seguida, quando Satoshi se intrometeu.
— Bem, bem. Parece que Houtarou pensou em algo. A teoria de Chitanda-san é que está em um canto do campus, enquanto a teoria de Houtarou é que está ao longo da linha de movimento do primeiro ano. Agora que já determinamos os dois lados da moeda, não seria mais rápido se fôssemos dar uma olhada?
Ao ouvir a sugestão, Chitanda começou a se mover rapidamente. Ela se virou para trás e exclamou.
— Então, vamos!
Acenei com a cabeça e carreguei a bolsa de ombro designada pela escola em meu ombro. Encontrei os olhos de Satoshi por um breve momento, e ele se afastou, assobiando.
4
— De qual escola você veio?
Desde que entrei no ensino médio, já me fizeram essa pergunta inúmeras vezes, mas é a primeira vez que sou eu quem a faz. Chitanda provavelmente também foi questionada sobre isso várias vezes, mas ela respondeu sem qualquer sinal de relutância.
— Eu era da Escola Inji. Fubuke-san e Oreki-san eram da mesma escola, certo?
— Sim.
A voz de Satoshi veio de trás.
— Fukube Satoshi e Oreki Houtarou são conhecidos como Terra, Vento e Fogo na Escola Kaburaya.
Quem? Quando? Do que você está falando?
Não é preciso dizer que eu não era muito conhecido no ensino fundamental, mas Satoshi era. Ele costumava ser o tesoureiro do Conselho Estudantil.
Chitanda e eu descemos as escadas em fila, enquanto Satoshi seguia atrás. Depois da aula, à medida que o dia ficava nublado, havia uma grande quantidade de tráfego na escada. Não nos espalhamos horizontalmente para não sermos um obstáculo.
No patamar entre o terceiro e o quarto andares, havia um quadro de avisos com pôsteres de várias cores disputando a atenção. Cada clube se dedicava a diferentes direções de design, produzindo uma atmosfera caótica. Chitanda apontou para um pôster específico.
— Gostei desse.
Esse pôster era circular e ocupava um grande espaço de forma ousada. Abaixo do simples convite "Você gostaria de participar da Sociedade de Artesanato?" havia um panda tricotado. Não desenhado, mas bordado. O panda bordado foi colado em um papel circular como parte do pôster do convite. Fiquei impressionado só de imaginar a quantidade de tempo e mão de obra que foi utilizada. Por que alguém iria tão longe…
Vendo que eu não conseguia dizer nada, Satoshi colocou a mão em meu ombro.
— O que você acha, Houtarou? Ao ver esse trabalho artesanal detalhado que se opõe totalmente à sua crença de economia de energia, você pode sentir a determinação e o trabalho dos artistas, mas não pode dizer uma palavra sobre isso.
— Eu acho que conhecer culturas diferentes é sempre empolgante.
— Fico muito feliz com sua opinião sincera.
Satoshi assentiu profundamente com a cabeça, virou-se para Chitanda e estendeu o peito.
— Também estou interessado nisso, então vou me juntar à Sociedade de Artesanato.
— Eh?
Chitanda ficou sem palavras. Parece que ela não estava ciente.
Se Chitanda continuar interagindo com Satoshi a partir de agora, ela provavelmente viria a saber de sua personalidade ativa. Cedo ou tarde ela vai começar a pensar: "Será que Fukube Satoshi tem alguma constância?"
Depois que Chitanda tocou no quadro de avisos, um pôster caiu em uma grande quantidade.
— Ah, a tachinha caiu?
Chitanda se inclinou e vasculhou o chão, mas não conseguiu encontrar a tachinha.
— De qualquer forma, parece que não está aqui. Vamos seguir em frente.
Em seguida, fomos investigar o patamar entre o terceiro e o segundo andar, bem como o patamar entre o segundo e o primeiro andar.
Palavras decorativas, slogans de bom gosto, artesanato intrincado e várias ilustrações que variam do estilo realista ao mangá. Todos os tipos de trabalho para atrair calouros foram exibidos na nossa frente. Não tem nenhum limite para as variedades de atividades de clube. O Clube de Pintura a Tinta pintou uma paisagem, o Clube de Estudos de Mangá ilustrou um mangá de quatro quadros, o Clube de Shogi e o Clube de Go apresentaram seus respectivos quebra-cabeças de xadrez e o Clube da Banda Marcial apresentou fotos de sua apresentação de gala. Os clubes de atividade física do Colégio Kamiyama, um pouco constrangedores, também não estavam deixando de existir, pois o Clube de Basquete, o Clube de Vôlei, o Clube de Atletismo e o Clube de Beisebol estavam convidando os alunos com a ilusão de que eram o lugar mais apropriado para todos os alunos do ensino médio investirem suas energias.
— Ahh, olhando novamente, o Colégio Kamiyama é realmente incrível!
— Você está certa. Não é possível ver nem mesmo o quadro de avisos.
Olhando para trás, para os dois que estavam se divertindo comentando sobre cada pôster, senti que havia cometido um erro ao acompanhá-los.
Esses eram pôsteres pelos quais passo todos os dias, pôsteres que já vi dezenas de vezes.
No entanto, ao encará-los de frente, fui afetado pela energia da qual eu queria fugir e me senti tonto.
Apesar disso, de alguma forma conseguimos descer até o primeiro andar.
Estávamos em frente à entrada da escada que todos os alunos do primeiro ano usam. O quadro de avisos ali era o mais desordenado que já tínhamos visto.
Satoshi riu e disse.
— Esse é o primeiro quadro de avisos que os calouros veem. Essa é uma localização privilegiada, portanto, é uma zona de guerra aqui.
Esse quadro de avisos é realmente bem cuidado pelo Comitê Executivo? Não havia um único pôster de tamanho normal. O quadro de avisos estava repleto de pôsteres de recrutamento do tamanho de cartões postais. Como esse é o local privilegiado, ele é compartilhado por muitos clubes. Vejo isso todos os dias no caminho de ida e volta da aula, mas ainda não me acostumei com o caos.
Diante dessa bagunça, Chitanda de alguma forma parecia ter chegado a um entendimento.
— Ah, estou entendendo. Então é assim que funciona.
Olhei por cima do ombro e sorri.
— Ainda não entendo por que Oreki-san acha que os quadros de avisos que atraem a atenção do público são suspeitos, mas com tantos pôsteres aqui, um aviso não autorizado seria difícil de detectar.
Em outras palavras, o melhor lugar para se esconder um graveto é em uma floresta.
Por um instante, eu queria mostrar meu orgulho e dizer: "É claro que esse é o motivo", mas isso seria apenas exibicionismo. Vou ser honesto aqui.
— Ah, desculpe. Eu não considerei isso. Esqueci que o quadro de avisos aqui estava em tal estado.
— Eh? Então por quê?
— Só direi se estiver realmente aqui. Se não estiver aqui, ficarei muito envergonhado para responder.
Chitanda tocou seu lábio inferior com seu dedo e sorriu. Ela ficou em frente ao quadro de avisos e disse.
— Seria preocupante se não conseguíssemos encontrá-lo, então. Agora mesmo, Oreki-san estava estranhamente confiante de que ela estaria lá. Eu realmente gostaria de saber o porquê!
Isso foi um pouco exagerado... Falando nisso, parece que Chitanda já sabe que não é do meu feitio ter uma atitude autoconfiante, embora não tenhamos conversado muito.
Com seus grandes olhos ainda mais arregalados, Chitanda examinou o quadro de avisos. Não pude deixar de me sentir desconfortável com sua visão que parecia ser capaz de enxergar através do verso de uma página. Ela provavelmente não é muito intuitiva e perspicaz, mas era de longe a melhor em memória e observação. No nosso primeiro encontro, eu nem sabia da existência de Chitanda, mas ela sabia meu nome completo. Esse é o resultado de uma forte memória e observação. Por outro lado, foi difícil para mim lembrar tudo sobre esse quadro de avisos.
— Clube de Arte Global, Clube de Debates e também há o Clube Hyakunin Isshu. Ah, o Clube de Adivinhação! Tenho um amigo que entrou para esse clube. * NOTA
Chitanda começou a olhar do canto superior direito do quadro de avisos e se moveu para a esquerda, abaixando o olhar e mudando para a direita quando chegou ao final, como se estivesse lendo um catálogo.
— Então, suponho que esteja lá?
Satoshi perguntou. Chitanda estava tão concentrada no quadro de avisos à sua frente que não percebeu a ironia da pergunta.
— Clube de Música Kato, Clube de Tênis de Mesa, Sociedade de Artes... não.
Chitanda gemeu enquanto endireitava o corpo, que estava curvado para a frente.
— Parece que o memorando da Sociedade Aranha de Seda não está aqui.
Chitanda deu um sorriso amargo e cheio de decepção.
Vendo essa expressão pela primeira vez, um sentimento de culpa cresceu em mim.
— Se você pensar sobre isso, não sabemos se esse clube secreto publicou seu memorando até agora, então Oreki-san não estava errado.
Por isso, ela até usou essas palavras de conforto.
Inesperadamente, tive vontade de pedir desculpas a Chitanda. Isso não é um sinal de fraqueza. É que Satoshi e eu, querendo ou não, vemos as coisas com uma pitada de sal, mas Chitanda parece ignorar totalmente essa inclinação. Ela deveria ter um pouco mais de dúvida, em minha opinião. Será que ela sequer considera que existem rodas dentro de rodas ou que está sendo enganada? Não pode ser verdade que Chitanda é apenas uma tola, certo? Apesar disso, por que ela não duvidou de mim? Acho que posso ter levado essa farsa longe demais. Mas, até agora, o plano tem progredido sem problemas. Tendo ido longe demais para recuar, só me resta prosseguir com o plano. Felizmente, a voz de Satoshi veio de trás de Chitanda.
— Eu me pergunto sobre isso. Mas acho que deveria estar lá. Não dá para saber se está lá só de olhar.
— O que você quer dizer?
Chitanda se virou e perguntou.
— Acho que seria necessário algum esforço para fazer as coisas pelas costas do Comitê Executivo. Bem, tanto faz. Se foi colocado, nós o encontraremos eventualmente — Satoshi deu de ombros. — O mais importante é que eu também quero saber por que Houtarou pensou que seria no meio da linha de movimento dos primeiros anos.
— Ah, você também? Tudo bem — respondi com uma voz sem tom. Provavelmente, eu parecia inesperadamente abatido.
Perguntei enquanto movia minhas mãos sem rumo.
— Ei, Satoshi, se você tivesse que esconder algum objeto na escola, qual local você escolheria?
Satoshi provavelmente não esperava que essa pergunta aparecesse de repente, pois sua resposta foi lenta.
— Esconder algo? Bem, acho que depende do tamanho. Supondo que certas condições sejam atendidas... Eu escolheria a sala de aula vazia em frente aos banheiros dos funcionários no primeiro andar do Bloco Normal. Ninguém vai lá.
— Além disso?
— Uma sala de estilo japonês, suponho, já que apenas a Sociedade da Cerimônia do Chá a utilizaria.
— Estou vendo. Então, onde você o esconderia na Escola de Ensino Fundamental Kaburaya?
A resposta de Satoshi foi ainda mais lenta.
— Isso é óbvio — ele disse, e sorriu.
— Ah... entendo.
— É assim que é.
Trocamos frases que nos fizeram parecer parceiros no crime.
— Acho que entendo onde você quer chegar, Houtarou. Certamente parece ser esse o caso.
— Eh, do que você está falando? Existe realmente um esconderijo adequado na Escola de Ensino Fundamental Kaburaya?
Chitanda, que havia sido deixado de fora, entrou na conversa com muita curiosidade e um pouco de insatisfação.
— Eu não diria que é um esconderijo realmente adequado. O primeiro lugar que me vem à mente é a despensa. Uma grande multidão de pessoas a visita todos os dias, mas ninguém presta muita atenção.
Chitanda ainda não entendeu a explicação. Ela não sabia a diferença entre a despensa e o quarto de estilo japonês. Eu disse sem rodeios.
— Satoshi queria esconder o objeto em um local remoto no Colégio Kamiyama. No entanto, quando se tratava da Escola de Ensino Fundamental Kaburaya, ele realmente queria escondê-la em um lugar lotado. E quanto a você? Se você tivesse que esconder algo na Escola de Ensino Fundamental Inji, não escolheria um esconderijo que todos vissem, mas não olhassem?
— Ah — Chitanda respirou fundo e levou as palmas das mãos à boca. — Você tem razão. Não sei por que, mas eu não o esconderia em um canto.
— A questão é se você está familiarizado com o local — declarei.
— Ainda não estamos familiarizados com o Colégio Kamiyama e o consideramos um lugar novo. Como não estamos acostumados com esse novo ambiente, optamos por esconder coisas em áreas isoladas. Por outro lado, passamos esses três anos no ensino fundamental e conhecemos todos os cantos e recantos do prédio da escola. Por isso, achamos que é melhor aproveitar corajosamente os pontos cegos, em vez de esconder o objeto do público de forma inexperiente.
— Mesmo que você esconda algo em lugares incomuns, como as salas de estilo japonês e as salas de aula vazias, o visitante ocasional pode ficar atento ao que o cerca. Como as pessoas ainda vão a essas áreas remotas, seria considerado arriscado deixar objetos lá. Como resultado, a Sociedade Aranha de Seda se distanciaria de tais locais.
— Entendi — exclamou Satoshi.
— Então, seria na entrada da escada, hm. De fato, não há lugar na escola que nenhum aluno visite. Se esse for o caso, é exatamente como Chitanda disse anteriormente: "Você esconde um cadáver em um campo de batalha".
Essa é uma ilustração perturbadora, mas é verdadeira.
— Quanto mais inexperiente a pessoa é, mais ela mostra o que não é convencional. Não há alunos do primeiro ano na Sociedade Aranha de Seda. Um clube de mistério que se preze teria percebido isso sem hesitação.
Chitanda parecia estar profundamente comovida. Com um semblante insuportavelmente sério, ela respirou fundo, refletiu sobre o que eu havia acabado de dizer por um tempo e depois assentiu lentamente.
— De fato, isso é natural. Foi ingenuidade minha pensar que ele ficaria escondido em um canto da escola. No entanto, parece realmente antinatural que o memorando não esteja no quadro de avisos.
— Bem, algo que não está lá não existe. Nem sempre se pode contar com a confiança de Houtarou.
Satoshi brincou enquanto se dirigia ao quadro de avisos. Então…
— Hmm?
Ele parou no meio do caminho. De repente, seu rosto ficou sério novamente e ele estendeu a mão para um cartão postal afixado no quadro de avisos. Era um cartão postal grande que parecia estar se afirmando em um grupo de cartões postais um pouco menores.
— Esse é o Clube de Beisebol, certo?
— Sim, é isso mesmo. Mas você não acha que está um pouco fora de lugar?
Satoshi deu uma resposta indiferente ao virar o cartão postal.
Sob o cartão postal, havia um pequeno pedaço rasgado de papel de ensaio fixado no quadro. Em sua superfície frontal, havia um texto que havia sido alinhado com uma régua. As palavras foram escritas com uma caneta de feltro preta: "Sociedade Aranha de Seda Dois Membros Necessários 05021722LL".
— Aí está… É estranho, mas depois de ouvir sua explicação, senti que era natural que estivesse lá, então não fiquei nem um pouco surpreso — disse Chitanda, que estava mais surpresa do que admirada. Por outro lado, Satoshi estava olhando atentamente para o conteúdo do memorando, quase sem expressão.
Então, ele lentamente disse.
— Carimbo de autorização do Comitê Executivo, sem cheque. Agora, é hora de fazer meu trabalho…
E destruiu o memorando.
Enquanto procurávamos o memorando, muitos alunos do primeiro ano passaram diante de nossos olhos. Todos eles estavam calçando os sapatos na entrada da escada e iniciando a jornada de volta para casa.
Eu disse.
— Estou um pouco aliviado. Tenho que ir à sala da equipe para entregar minha lição de casa e depois vou para casa.
— Sim, acho que também vou para casa.
Chitanda ficou sem expressão por um tempo, mas imediatamente sorriu.
— Tudo bem. Então esta é a despedida... "Quanto mais inexperiente alguém é, mais ele mostra o não convencional". Vou me lembrar disso. — Com essa frase de despedida, Chitanda acenou com a mão na frente do peito.
5
Ao contrário da previsão do tempo, a intensidade da chuva diminuiu gradualmente. Satoshi e eu pegamos os guarda-chuvas e começamos a caminhar de volta para casa. No caminho, passamos por um distrito comercial com um salão de jogos e finalmente conseguimos fechar nossos guarda-chuvas. Satoshi quebrou o silêncio.
— Achei que havia algo errado desde o início.
Sua voz estava carregada de espanto, sarcasmo e, até certo ponto, crítica.
— Depois de ouvir sobre "O Piano da Moonlight Sonata", você de repente perguntou: "A propósito, qual é o primeiro dos sete mistérios do colégio Kamiyama?" Eu estava pensando, será que o Houtarou realmente virou a conversa?
— Fico muito agradecido — eu disse. Na verdade, o segredo foi Satoshi ter percebido minhas intenções e me ajudado. Se não fosse por isso, acho que não teria sido tão tranquilo.
Satoshi girou seu guarda-chuva em círculos. Era um guarda-chuva cinza, moderno, com um padrão xadrez. Totalmente diferente comparado ao meu guarda-chuva de vinil. As gotas de chuva batiam na passarela pela qual estávamos caminhando.
— O plano de "Controlar um mistério com outro mistério" foi incrível.
Certo.
Havia apenas um motivo pelo qual eu propositalmente trouxe à tona a história da Sociedade Aranha de Seda. Isso fez com que Chitanda não conseguisse trazer à tona o mistério do Moonlight Sonata Piano.
De acordo com Satoshi, foi ontem que uma aluna da classe 1-A ouviu o piano na sala de música. Aparentemente, isso se tornou o assunto da turma 1-A por volta da hora do almoço hoje, mas ainda não havia se espalhado para a turma de Satoshi, a 1-D.
Tinha uma frase de Satoshi que não pude ignorar. E era "Me pergunto quando ele chegará à minha classe D". Se ele estava se perguntando quando a história iria se tornar o assunto na sua classe, não deve ter ouvido isso de seus colegas.
Então, quando, onde e de quem Satoshi pegou essa história?
Não tem necessidade de ficar pensando nisso. Antes de chegar na sala de aula, Satoshi estava na sala do Clube de Clássicos, a sala de aula de Geografia. Chitanda estava naquela mesma sala preenchendo o formulário de solicitação de autorização. Chitanda é uma aluna da classe 1-A.
Portanto, Satoshi obviamente ouviu isso de Chitanda.
Outro ponto foi que Chitanda queria vir à minha sala de aula. Isso me deu uma premonição. Não sei se uma boa ou má, mas foi isso que pensei: "Já que havia resolvido o Mistério da Sala Trancada, Chitanda não gostaria que eu resolvesse o mistério por trás da Moonlight Sonata Piano?"
Pensei que estava indo longe demais. Eu poderia contar nos dedos o número de vezes que me encontrei com Chitanda. Não acho que tenha feito nada para mostrar que posso ser confiável, e minha suposição de que Chitanda queria ir à minha sala de aula para me contar a história pode estar errada.
Embora eu tivesse dúvidas sobre minha premonição, precisava me preparar para a chegada de Chitanda. Na melhor das hipóteses, eu teria saído antes que ela chegasse à minha sala de aula. Porém, tive que voltar para fazer a lição de casa que havia esquecido de trazer. Eu não podia voltar para casa livremente, então pensei em contramedidas.
Então, Chitanda finalmente chegou.
Seu principal motivo era entregar o formulário a Satoshi, mas o fato é que ela veio. Eu não queria me preocupar com a história da sala de música, então pensei em combater essa curiosidade com curiosidade em outro tópico. Especificamente: "O Primeiro dos Sete Mistérios do Colégio Kamiyama". O esquema foi bem-sucedido. Chitanda estava claramente prestes a mencionar a história da sala de música, mas seu interesse foi desviado para o clube secreto.
Satoshi falou.
— Entendo o que você fez, mas não entendo por quê. O que você estava planejando quando substituiu o mistério Moonlight Sonata Piano pela história da Sociedade Aranha de Seda? Não pode ser que você quisesse fugir porque esse mistério estava além de seus poderes, certo?
Isso está, claro, errado.
Também, não era o que eu queria fazer, mas não tive escolha.
— Sobre a história do piano, cheguei a uma conclusão imediatamente após ouvi-la. Você pode verificar se isso é verdade se for até a sala de música.
— Então, por quê?
Se você precisa de um motivo, tudo o que tenho é uma frase.
— A sala de música fica longe.
A chuva leve bateu no teto de vinil da galeria e fez um som de farfalhar. Um caminhão leve passava pela rua estreita do distrito comercial de forma constrangida. Um jato de água encharcou meus sapatos.
Então Satoshi respirou fundo.
— Estou vendo. Agora entendi. Como esperado de Houtarou.
A sala de música ficava no quarto andar do Bloco Especial. Para chegar lá em um dia de chuva, é preciso descer até o térreo, usar o caminho protegido e depois subir até o quarto andar. É realmente longe da sala de aula.
A previsão do tempo dizia que a chuva se tornaria mais forte à noite. Eu não tinha o menor interesse em ir a um lugar distante como a sala de música.
É exatamente por isso que eu trouxe à tona a história do clube secreto. O Primeiro dos Sete Mistérios do Colégio Kamiyama, que pedi a Satoshi para apresentar, era um material extremamente apropriado para chamar a atenção de Chitanda. Eu sugeriria então que procurassem o memorando, fossem até a entrada da escada e voltassem para casa quando tudo terminasse. Assim, o plano estava pronto.
O que quer que estivesse acontecendo com o piano na sala de música, não era um assunto para eu me envolver. Se eu não tiver que fazer isso, não faça. Mas, quando Chitanda disse: "Estou curiosa!" com aqueles olhos azuis…
— Se eu tiver que fazer isso, que seja rápido.
Em suma, consegui acabar com isso o mais rápido possível.
No entanto, Satoshi estava cantando uma música diferente.
— Houtarou, isso não é uma coisa boa.
…
— Se você quiser anunciar seu lema, deve fazê-lo de forma magnífica e com orgulho. Agora, você está apenas dando uma desculpa.
Não consigo responder a isso.
Pelo contrário, eu também não conseguia olhar para o Satoshi de frente. Com o barulho abafado da chuva de primavera, eu só conseguia olhar para meus pés encharcados.
Amo meu lema de coração.
Mas, hoje, não sinto nenhuma satisfação por enfrentar problema após problema com minha crença. Em vez disso, apenas a culpa permanece em meu coração, pois me pergunto se fiz a coisa certa.
O truque tinha dado certo. Chitanda foi persuadida a descer até a entrada da escada e também ficou admirada com a explicação paradoxal. Além disso, enquanto Satoshi estava chamando a atenção, consegui colar secretamente o memorando de convite da Sociedade Aranha de Seda no quadro de avisos.
O memorando foi feito com um pedaço de papel de redação. Haviam dado duas folhas de papel de redação para que os calouros entusiasmados escrevessem sobre "Sentimentos após o primeiro mês de aula e aspirações futuras". Obviamente, não havia nenhuma chance de eu escrever duas páginas inteiras sobre isso. Fiz bom uso da folha que sobrou da redação.
Eu me apropriei da tachinha no patamar da escada. Quando Chitanda viu o pôster desalojado e pensou que a tachinha havia caído, na verdade, ele já estava em minha mão.
Tudo foi como planejado. Evitei que a história do piano fosse contada e, assim, consegui voltar para casa, como esperava. Mas agora, até eu reconheço que meu lema parece uma desculpa. Não há espaço para discussão. Mesmo enquanto o plano estava sendo executado, eu estava pensando que deveria parar. Queria chegar em casa rapidamente e não queria ir para a sala de música.
Tudo bem, o objetivo é justificável. Mas e o método?
O salão de jogos chegou ao fim e chegamos a um cruzamento. Eu teria que segurar meu guarda-chuva daqui para frente. Satoshi parou, olhou para o meu rosto e soltou uma risada estranha.
— Houtarou, você entende sua falácia básica hoje?
Acho que sei o que é, mas não acho que esteja absolutamente certo. Fiquei em silêncio.
Satoshi deu de ombros com grandeza forçada.
— Combatendo um mistério com outro mistério. Sim, gosto disso. É uma boa reviravolta.
E então, assim como eu havia feito com ele antes, Satoshi olhou fixamente em meus olhos e falou.
— Mas isso não é do seu gosto.
Desviei o olhar discretamente.
— Se você realmente quisesse se adequar ao seu lema, só havia uma coisa a fazer. Não há como evitar o fato de você ter esquecido a lição de casa e ter que ficar para trás. A chegada de Chitanda também não foi culpa sua. Mas por que você não disse simplesmente "Não sei"? Essa é a sua falácia.
— Independentemente do tópico que Chitanda apresentasse, não era seu dever encontrar as respostas. Você pode ouvir sem muita convicção e depois ignorar. Na verdade, não é isso que você sempre fez?
... Isso é realmente verdade.
Por que eu sequer pensei em bloquear um problema com um problema? Isso era definitivamente melhor do que ir para a sala de música, mas esse era, sem dúvida, um método que consumia muito tempo.
Por que escolhi fazer isso?
As palavras de Satoshi foram dolorosas, mas não deixaram de ser verdadeiras. Se eu realmente quisesse evitar o ataque de Chitanda, não poderia ter terminado dizendo apenas "Não faço ideia"?
O estranho sorriso de Satoshi ficou ainda mais profundo.
— Fico feliz em poder lhe ensinar algo além de conhecimentos diversos. Certo, Houtarou? Eu sei exatamente por que você escolheu fazer isso.
……
— Isso se deve ao fato de que... "Quanto mais inexperiente uma pessoa é, mais ela mostra o que não é convencional".
Essa frase com certeza me lembra algo.
Acho que sei por que o sorriso de Satoshi parece estranho quando eu já deveria estar acostumado com ele. A única parte dele que sorria era sua boca.
— Houtarou ainda não está familiarizado com o fato de pertencer ao Clube de Clássicos, do qual Chitanda-san faz parte. Esse é o motivo. É por isso que você usou um método tão indireto. Você provavelmente planejou rejeitar Chitanda-san hoje. Mas, a meu ver, isso não foi uma rejeição,
— Eu não queria exatamente rejeitá-la.
Eu achava que Chitanda era um incômodo, mas não queria cortar todos os laços com ela e nunca mais vê-la.
— Claro, isso foi apenas um adiamento do "status quo".
Adiamento.
Essa é uma palavra que misteriosamente fez sentido. Para lidar com a chegada de Chitanda, a demonstração de sua curiosidade incomparável e o tempo que eu teria que gastar, optei pelo adiamento. Essa palavra é muito apropriada para essa situação.
Eu também sabia o que viria depois disso.
Como se estivesse lavando as mãos da minha situação, Satoshi olhou para o céu e abriu o guarda-chuva com um estrondo.
No fim, Satoshi deu meia-volta.
— A propósito, o que você acha da "Moonlight Sonata Piano"? Não se preocupe, não vou lhe dizer para ir até a sala de música.
— Ah.
Nessa garoa úmida, eu não deveria estar sentindo sede, mas lambi os lábios. Olhei para os pés de Satoshi.
— Era antes das seis, quando o portão da escola fecha. Havia uma aluna com a mão machucada na sala de música. Ela estava com o cabelo bagunçado e os olhos vermelhos... porque tinha acabado de acordar.
— Ah, sério?
— A integrante do clube de piano dormiu porque estava cansada. Para garantir que acordaria antes das seis, ela programou um alarme. Ela colocou "Moonlight Sonata" no CD player.
Satoshi deu uma risadinha.
— Estou vendo. Afinal, o Colégio Kamiyama tem atividades vigorosas de clubes. É claro que haveria um CD player na sala de música! Você certamente entenderia se fosse até lá, pois o CD player ainda estaria com a mesma configuração. Ah, você destruiu meus sonhos! Eu não deveria ter perguntado.
— Mas Houtarou…
O sinal ficou verde. Houve uma melodia que indicou que era seguro prosseguir. Satoshi deu um passo e falou, suas palavras soando como uma profecia.
— Acho que ir para a sala de música o ajudaria a cumprir seu lema a longo prazo. O mistério não resolvido de hoje será de grande interesse. Não tenho intenção de prosseguir com o assunto, mas e quanto a Chitanda-san? Bem, vou indo agora. Vejo você amanhã.