Volume 3
Capítulo 5: A paisagem matinal
MAYAKA IBARA
Cinzas ao Crepúsculo era um mangá de 30 páginas contendo três contos. Apesar do título que soa mórbido, na verdade veio do conhecido verso de Rennyo*: "Podemos ter rostos radiantes pela manhã, mas à noite podemos nos transformar em cinzas brancas."
O tema abrangente desses contos é a ênfase na impermanência abstrata da vida. Tendo como cenário um cenário clássico e escuro no estilo Showa, os contos descrevem uma história bastante triste. Dito isto, o mangá não se entrega ao toque retrô, mas na verdade também foca no amor platônico das garotas do ensino médio, por isso também é rico em entretenimento.
Como estudante do terceiro ano do ensino médio, fiquei sem palavras quando vi e comprei isso por capricho, enquanto visitava o Festival Cultural da Escola de Kamiyama. Embora não houvesse nada de especial no tema, ele parecia sinceramente vívido para mim.
Uma história única que se desenvolve juntamente com o seu rico diálogo, é apoiada por obras de arte de aspecto sensível, que pareciam algo saído de um teatro kabuki*. Em certos pontos cruciais da trama, a arte daria um efeito surreal. Se tenho que listar uma obra, comercial ou não, que me impressione, então tem que ser Cinzas ao Crepúsculo.
*[Kabuki é uma das quatro formas tradicionais de teatro japonês (Patrimônio Intangível da Humanidade pela UNESCO, em 2005), sendo que os outros são o noh, o kyogen e o teatro de fantoches bunraku. O kabuki se desenvolveu durante os mais de 250 anos de paz do período Edo (1600-1868).]
E assim, este foi um mangá que possui um certo encanto que só palavras não conseguem descrever. Se eu tivesse que fazer críticas, diria que a arte parecia um pouco amadora, mas mesmo isso não é suficiente para torná-la ruim.
Houve apenas dois doujinshis que me tiraram o fôlego completamente. Um foi Cinzas ao Crepúsculo, o outro foi Conversa Corporal, um título que encontrei em outro evento de doujinshi não relacionado à Escola de Kami. Eu estimo essas duas obras como meus tesouros. Mas se eu tivesse que escolher um desses dois, eu teria que escolher Cinzas ao Crepúsculo.
Para contrariar o argumento de Kouchi-senpai de que, para começar, uma obra pode ser excelente, independentemente do que os leitores pensam, eu teria de lhe mostrar um vislumbre deste título. Tal era a minha fé na sua capacidade de encantar.
Fiquei muito feliz quando descobri que consegui entrar na Escola de Kamiyama. Além de estar feliz por ter entrado no ensino médio, fiquei ainda mais feliz por ter entrado em uma escola onde era possível vender qualquer tipo de mangá gratuitamente, como se fosse uma máquina de venda automática de refrigerantes. É por isso que entrei no Clube de Mangá assim que comecei a escola.
Ainda assim, me senti meio desapontada depois. Não tinha ninguém no clube que soubesse nada sobre o autor de Cinzas ao Crepúsculo. Mas, como eu continuei me divertindo com as pessoas debatendo sobre as coisas que gostam, eu decidi que a minha escolha de entrar para o Clube de Mangá foi correta. Foi o que pensei.
Na manhã do segundo dia do Festival Cultural da Escola de Kamiyama, cheguei à escola com uma cara fechada. Não tive escolha senão adiar o que pretendia fazer. Antes de ir para a cerimônia de presença, fui primeiro ao Clube de Mangá.
Eu pretendia chegar cedo, mas descobri que Kouchi-senpai havia chegado ainda mais cedo. Ela estava vestida com um smoking elegante hoje. Ela provavelmente está vestida como aquele boxeador tailandês. Como ela não é particularmente alta, a fantasia de ontem não combinava muito com ela. Ela estava tentando se vestir como um personagem diferente do jogo todos os dias ou ela simplesmente queria fazer cosplay com fantasias variadas? Embora eu também esteja fazendo cosplay de um personagem diferente de ontem, não dediquei tanto tempo e dinheiro à minha fantasia quanto ela dedicou à dela.
Kouchi-senpai olhou diretamente para mim, ou melhor, para o broche em formato de coração no meu peito.
— Indo para o antiquado de novo? Entendo — ela disse. Hoje usei um cardigan por cima da blusa, e meias altas combinadas com uma saia godê. A única parte que realmente poderia ser chamada de cosplay era o broche e a boina que eu estava usando.
— Você vai distribuir doces Jintan* disso?
— Não, isso é só para o show.
— Se você está fazendo cosplay de um personagem, você deveria pelo menos se esforçar no seu cabelo.
Não seja ridícula. Eu já estou muito embaraçada de ter um cabelo que desafia a gravidade, sem mencionar que ele não é tão longo.
Eu preciso chegar no tópico principal, de qualquer forma.
— Então, onde está o seu Cinzas ao Crepúsculo.
Foi Kouchi-senpai quem iniciou a conversa. Fiquei surpresa por ela conseguir lembrar o nome de um título que só ouviu uma vez. Sempre pensei que ela fosse uma pessoa bastante perspicaz, então não é como se ela pudesse realmente ler minha mente ou algo assim.
Como a maioria dos membros ainda não havia chegado, a sala do Clube de Mangá estava bastante silenciosa. Todos, incluindo os membros que não estavam aqui ontem, sabiam da minha briga com Kouchi-senpai. Até mesmo Kouchi-senpai, que parecia bastante confiante ontem, agora olhou para mim com uma expressão tensa, mesmo sem perceber.
Isso é ruim. Mas não posso simplesmente fugir agora. Respirando fundo, enchendo meus pulmões tanto quanto possível, e enquanto fazia o meu melhor para não parecer desprezível, eu disse: "Sinto muito, não o trouxe hoje."
— O quê?
— Eu devo ter levado para a casa dos meus parentes por engano, nas férias de verão.
Sim, durante toda a noite e até esta manhã, procurei meu exemplar de Cinzas ao Crepúsculo no meu quarto. Fiz questão de procurar em todos os lugares que pude imaginar. Olhei cerca de dez vezes ou mais nas estantes que continham meus livros favoritos. Fiz o mesmo com as outras estantes, além de abrir as caixas que continham meus mangás antigos.
Mesmo assim, não consegui encontrar minhas Cinzas ao Crepúsculo em lugar nenhum. Não me lembro de ter emprestado a ninguém. Não era um livro que eu mostraria a Fuku-chan. E eu estava lendo isso repetidamente durante o primeiro semestre… Então, em vez disso, trouxe Conversa Corporal como substituto. Mas eu já tinha decidido trazer Cinzas ao Crepúsculo no dia anterior, então isso parecia uma desculpa. Trazer um livro que não satisfizesse minha intenção era tão bom quanto não trazê-lo.
Mesmo assim, não senti que tivesse perdido o livro. Lembro-me de organizar meus livros durante as férias de verão, e de colocar os livros antigos em caixas para serem enviados para o depósito da casa dos meus avós. Deve ter sido misturado naquela época. Provavelmente encontraria se olhasse lá.
No entanto, tal confusão causal não deveria ter acontecido, e fiquei um pouco envergonhada por causa disso, já que ultimamente tenho cometido muitos erros bobos. Mesmo que eu reflita sobre eles, a ação já foi realizada. Eu gostaria de não ter cometido tais erros para começar.
—Ehh?
Um breve som de desaprovação foi emitido. Olhando em volta, vi apenas a Presidente Yuasa com sua expressão calma; isso significava que não era ela. Deve ter sido outra pessoa.
— Hmm, então você não tem.
A expressão de Kouchi-senpai suavizou. Eu, em contraste, mordi os lábios. A vitória ainda não foi decidida, pois ainda podemos ter argumentos a apresentar, mas tendo dito que apresentaria provas para apoiar o meu argumento, não poderia ser evitado agora que não as apresentei. Ouvir os seguidores de Kouchi-senpai rindo só me dá nos nervos.
— Ibara, você não estava falando tanto ontem? E você acha que consegue fugir dizendo que não tem? — disse um deles.
— Pois é. Você não tem outra maneira de se desculpar? — o outro completou.
Eles provavelmente não ficarão satisfeitos a menos que eu me ajoelhe. Decidi ignorá-los, pois isso era um problema apenas entre mim e Kouchi-senpai. Se ela me pedisse para me ajoelhar, eu o faria com prazer. No entanto, Kouchi-senpai, como se estivesse perdendo o interesse em mim, simplesmente acenou com as mãos e disse brevemente: "Então, ajude-me a desenhar um pôster".
— Poster?
— Desenhe um personagem moe… eu vou sair um pouco agora — ela disse, saindo da sala do clube.
Enquanto me deliciava com os olhares frios de seus seguidores, que haviam sido deixados para trás, virei-me para falar com a Presidente Yuasa.
— Presidente, você tem materiais para desenhar um poster?
— Hmm? Ah sim, temos.
Balancei a cabeça e olhei para o meu relógio. Está quase na hora de ir para o Ginásio. Apontei para o relógio e disse: "Vou começar a desenhar assim que voltar".
Se vou desenhar algo, é melhor colocar todo o meu esforço nisso, em vez de parar no meio do caminho. Eu me pergunto o que devo desenhar para essa ordem de "personagem moe" do vencedor?
SATOSHI FUKUBE
Depois de assinar a frequência, eu rapidamente saí do ginásio.
Não foi porque houvesse algo que eu quisesse ver, pois afinal sou membro da Comissão Geral, que tem a função de zelar pelo bom funcionamento do Festival Cultural. Na hora marcada, precisei comparecer à reunião na sala de conferências onde está sediada a Comissão Geral, para cumprir as ordens decididas pelos executivos da Comissão. Além da segurança, também há organização de eventos para cuidar. Particularmente a montagem e desmontagem de equipamentos de eventos pelos vários clubes exige muito trabalho. A propósito, se não há trabalho a ser feito, você fica livre durante o dia. Carregando dentro de mim um nobre senso de dever, bati na porta da sala de conferências.
— Fukube reportando. Eu vejo que não recebi nenhum trabalho hoje, então vou me retirar por enquanto.
Foi uma pena não poder ajudar o Comitê Geral no Festival Cultural da Escola de Kamiyama. Quando eu estava prestes a conferir algum evento estranho prestes a começar no Clube de Ficção Científica, alguém me parou.
— Espere, Fukube. Vocẽ tem trabalho.
Como é?
O Presidente Tanabe era a única pessoa lá dentro, com um quadro branco atrás dele, coberto por um horário. Em pouco tempo, ele se virou para mim e sorriu amargamente.
— O que é esse olhar desapontado que você tem?
— Não, na verdade, esse sou eu grato que eu vou conseguir contribuir com os meus esforços.
Na verdade, eu tinha planos de estar no O Clube de Cozinha às 11h30 de hoje, então só pretendia trabalhar com a Comissão Geral nos horários que fossem convenientes para mim. Embora eu fizesse uma cara brincalhona, não estava exatamente infeliz. Abrindo a porta, entrei na sala.
— Bem, o que é? Contanto que termine antes das 11:30, eu posso pular no inferno ou no oceano por você — eu disse, esfregando as mãos.
— Isso acabará em breve. Há sacolas contendo chinelos de visitantes na sala dos professores, você precisará levar duas dessas sacolas para cada entrada do prédio. É isso.
De fato, isso levaria um bom tempo. O presidente Tanabe deve ter trabalhado muito no panfleto. Casualmente, eu comecei a conversar com ele.
— Senpai, você não vai dar uma passeada no festival?
— Hmm? Ah.
Olhando para o quadro com o seu cronograma, ele virou pra mim e falou gentilmente.
— Há um monte de coisas servis para cuidar. Ainda assim, isso exige que eu me mova pelo campus, então não é como se eu não pudesse ver nada. Ah, sim, eu ouvi dizer que o filme mostrado pela Classe 2-F é muito bom.
Ah, isso são notícias boas para nós.
— Mas você não está conseguindo aproveitar os eventos, né?
— Eu não vou conseguir atender ao Comitê Geral se eu aproveitá-los. Diferente de você, não é como se eu fosse talentoso ou tivesse vários interesses — Tanabe-senpai disse, sorrindo amargamente.
Eu pareço ter muitos interesses ou ser talentoso para outras pessoas?
— Bem, o que é isso? Você tem algo interessante para me contar?
— Interessante…?
Pensando nisso, tem a questão do Clube de Clássicos ter 200 exemplares de antologia, mas Mayaka não ficaria feliz se eu usasse isso como brincadeira. A apresentação do Clube de Rakugo na cerimônia de abertura foi bem interessante, mas essa é apenas minha opinião pessoal. Também ouvi falar de outras coisas, mas elas não são tão interessantes quando mencionadas uma por uma.
Hm. Eu particularmente não achei isso intrigante, mas se eu tivesse dito a ele que não havia nada de interessante, a conversa ficaria muito chata. Então, que tal isso?
— Parece que temos um ladrão aparecendo no Clube de Go.
— Hmm?
— Algumas pedras foram roubadas da caixa, e o ladrão deixou uma mensagem.
— Sério?
Isso deixou o presidente interessado. Isso é surpreendente.
— Entendo. O Clube de Go, né?
Quando eu estava prestes a dizer que isso poderia ser alguma pegadinha encenada pelo próprio Clube de Go, o presidente Tanabe continuou: "Ouvi de Okano que algo semelhante aconteceu com o Clube de A Capella."
— O quê?
Desta vez foi a minha vez de despertar o interesse. Algo semelhante acontecendo com o Clube de A Capella significa que foi descartada a possibilidade de se tratar de um trabalho interno do Clube de Go.
— Eles parecem ter levado uma bebida que estava no cooler.
— Tinha uma mensagem que foi deixada para trás?
— Eu não sei se foi deixado pelo culpado, mas eles acharam um bilhete estranho dentro.
Agora isso parece muito interessante. No mínimo, meu interesse aumentou além do nível quando ouvi isso de Tani-kun pela primeira vez. Temos um ladrão fantasma à espreita no Festival Cultural da Escola de Kamiyama! Na verdade, esta é uma brincadeira muito divertida.
Hmm, agora como eu deveria organizar o meu horário daqui pra frente… não, espera. Agora ainda não é o timing pra isso.
— O que aconteceu, Fukube? Você está sorrindo.
— Não. Naaaa~da. De verdade.
Ainda é muito cedo para entrar nisso. Para que um incidente de ladrão desconhecido seja estabelecido, o ladrão desconhecido precisaria continuar com sua pegadinha. Se eu acabar assustando o ladrão prematuramente, isso só me fará parecer um tolo. Minha experiência me diz que é melhor brincar primeiro com o ladrão. Além disso, poucos na escola ainda estão cientes disso. Até eu acabei de ouvir sobre isso. Eu não estava realmente preocupado se o ladrão pretendia atrair muito interesse ou não, mas agora, sua flauta é apenas vagamente audível.
Como eu ainda tinha um evento para participar, não seria tarde demais, mesmo que eu descansasse um pouco agora e permitisse que o ladrão me surpreendesse ainda mais. Então foi melhor eu deixar isso de lado por enquanto.
Certo, onde está o meu bornal?
— Acho que vou começar o trabalho então.
— Claro. Boa sorte.
Tendo me encorajado, o senpai voltou a olhar o seu quadro branco.
HOUTAROU OREKI
"Farei o meu melhor novamente hoje!" Ao dizer isso, Chitanda saiu da sala.
Agora, vamos começar a vigiar a barraca durante o dia novamente.
Como devo dizer isso? Nunca pensei que ser responsável por uma barraca onde as pessoas quase nunca vão fosse tão chato. Eu gostava de ficar ocioso e despreocupado, mas certamente não de ficar entediado. De qualquer forma, não é necessário muito esforço para inserir repetidamente um trocado na caixa de moedas. Mesmo que eu demorasse para ir ao banheiro, ninguém viria. Ainda assim, embora eu tivesse trazido um romance de bolso para matar o tempo, não era o livro certo. É bastante impróprio para um economizador de energia como eu desejar alguma ação só porque estou entediado.
De qualquer forma, eu deveria alinhar as cópias de Hyouka. Dez cópias por pilha me parece certo.
Quando eu terminei de alinhá-las, um cliente chegou. Era um estudante masculino que eu não conhecia. O broche no seu colarinho me indicou que ele era do segundo ano.
— Estão vendendo?
Agora, isso é algo. Melhor eu usar as minhas maneiras.
— Sim, estamos.
Hmm, talvez eu devesse ter dito mais, como "Sim, estamos, cara." Mas isso não parece educado, não é? O segundanista meio que se pendurou na pilha de Hyouka e olhou para a capa.
— Então isso explica de onde vem o nome do Festival de Kanya?
Uau, parece que o apelo do microfone de Satoshi ainda estava tendo alguma influência. Ou ele ouviu isso de outra pessoa? De qualquer forma, eu deveria estar grato.
— Eu posso ficar aqui e ler? — ele perguntou, em resposta a minha concordância.
— Receio que não.
— Ah, qual foi. São só 200 ienes, né?
— São só 200 ienes, mas por favor, compre uma. Nós temos muitas sobrando, estou à beira das lágrimas.
Não que eu realmente estivesse.
O segundanista riu, tirou a carteira e comprou um exemplar. Ao agradecer e vê-lo colocar a carteira de volta no bolso, percebi: "Senpai, sua braguilha está aberta".
— Que? Não acredito!
Ele freneticamente colocou a mão entre as pernas. Após a inspeção, ele levantou a cabeça e gemeu:
— Argh, não consigo, está quebrado!
Olhando de perto, vi seda preta pendurada na abertura. Entendo, agora entendi o que ele está dizendo,
— Seu zíper está quebrado?
— Sim, e eu ainda tenho um dia inteiro pela frente antes de conseguir tempo para consertar isso.
Você tem meus sentimentos. Não há nada que eu possa fazer.
Não, espere, isso não é verdade. Ainda o tenho comigo, não é? Olhando na gaveta da mesa, encontrei. Foi o broche que obtive ontem. Embora eu não esteja interessado em assistir a um desfile de moda, o crachá tem um alfinete de segurança colado atrás dele, que pode ser facilmente removido.
— Só tem um, mas tente usar isso.
Eu entreguei o broche para ele. O segundanista pareceu grato como se tivesse sido abençoado pelos deuses.
— Wow, valeu mano. Surpreendente que você tenha um com você.
Ele ficou o alfinete entre os dois pedaços de pano… mesmo parecendo estranho, deve servir por agora.
— Você é incrível cara, você me ajudou muito — ele disse, feliz.
— Se você quiser demonstrar gratitude, pode comprar outra cópia.
— Não, obrigado — disse o segundanista, sorrindo.
Embora ele parecesse ter pensado em alguma coisa e colocado a mão atrás das calças. Procurando no bolso de trás, ele tirou uma arma de mão.
— Isso é um assalto? — eu disse, olhando para a pistola.
— Não seja idiota. É uma arminha d'água.
O segundanista colocou a arma na mesa.
— Você pode ficar com isso como agradecimento.
— Entendo.
Eu olhei para a arma d'água e depois para ele.
— Esse é seu hobby?
— Claro que não. Eu sou do Clube de Jardinagem. Nós estamos colhendo batatas doces hoje — o segundanista continuou, parecendo satisfeito — veja, precisamos de fogo para assar as batatas. E se houver fogo, precisaremos de um pouco de água para apagá-lo. Mas seria muito chato usar apenas um balde, certo?
Ahh, entendi. Então ele deveria ser um soldado ou algo assim... Então há clubes que realmente fazem coisas bobas. Olhei para a arma de mão.
— Então você precisa disso, não?
— Eu já tenho uma. Isso é só uma arma secundária. Minha arma principal é uma Kalashnikov.
Fabuloso. Então eles estão realmente pensando em apagar um incêndio usando uma pistola d'água? Em vez disso, eles deveriam ter mais cuidado ao lidar com o fogo.
De qualquer forma, para que serve uma pistola de água para vigiar a barraca do Clube dos Clássicos? O mesmo vale para o broche, parecia que eu estava recebendo todo tipo de coisa inútil. Embora eu não tenha motivos para recusar ele.
— Obrigado, mano. Até!
O segundanista saiu da sala de geologia, parecendo exaltado. Eu olhei para a arma que ele deixou e murmurei: "Uma Glock 17…?"
Ter uma AK como uma arma principal e uma Glock como uma arma secundária. Isso não é meio inconsistente?
(176 CÓPIAS RESTANDO)
ERU CHITANDA
— Eu vou dar o meu melhor de novo hoje!
Eu estava pensando muito ontem à noite. O que o Tanabe-san e Toogaito-san disseram estava correto. Não consegui expandir nossos pontos de venda, nem consegui fazer com que o Clube do Jornal se interessasse por nós. No entanto, ainda é cedo para desistir e dizer que nada pode ser feito.
Ouvi rumores de que o filme feito pela classe 2-F era bastante popular. Alguns de meus amigos queriam ir assistir, mas parece que durante todo o primeiro dia a sala audiovisual ficou lotada durante a exibição. Nós, do Clube dos Clássicos, estivemos ligeiramente envolvidos na produção daquele filme da Classe 2-F. Ao resolver o problema encontrado durante as filmagens do filme, Fukube-san o chamou de "Incidente da Imperatriz". Eu não fiz exatamente muita coisa, embora o conselho do Oreki-san pareça tê-los ajudado bastante. Assim, para mim, pessoalmente, foi uma alegria saber que o filme estava indo bem.
Conheci um dos alunos da turma 2-F, Irisu Fuyumi-san. Falando nisso, este "Incidente da Imperatriz" também se aplica a ela, já que ela esteve envolvida na supervisão da produção do filme.
Se nós conseguíssemos um acordo para que Hyouka fosse vendido junto com um filme popular, tem uma chance que as nossas vendas possam aumentar. Assim, hoje eu vou garantir que esse acordo seja feito.
Vou dar o meu melhor.
A sala de audiovisual estava transmitindo o filme O Ponto Cego de 10000 Pessoas. A entrada da sala foi deixada aberta, com uma cortina preta para impedir a entrada de luz externa. Parece que hoje é outro dia movimentado, mas não tenho como saber, pois não pude espiar dentro da sala escura. Do lado de fora havia uma placa da minha altura que dizia "Em exibição - o ponto cego de 10.000 pessoas", com os horários de exibição escritos em um papel colado abaixo dela.
Havia uma mesa ao lado do quadro que parecia funcionar como balcão de recepção. Embora seja chamado de balcão de recepção, como o filme é gratuito, não haverá cobrança de entrada. Em vez disso, eles parecem estar vendendo panfletos do filme. Uma garota foi designada para vigiar o balcão, mas como parece que ninguém apareceu durante a exibição do filme, ela está conversando com outra pessoa.
Essa outra pessoa não era outra senão Irisu-san. Deve ser meu dia de sorte, pois estava preparada para procurá-la por todo o campus. Ao esperar que elas terminassem a conversa, falei.
— Bom dia, Irisu-san.
— Hmm? Ah, é a Chitanda.
Percebendo minha presença, ela rapidamente encerrou a conversa com a balconista. Caminhando um pouco da entrada da sala de audiovisual, ela me chamou para ir até a saída de emergência de incêndio.
Irisu Fuyumi-san é filha do diretor do Hospital Rengou, localizado próximo à Escola de Kamiyama. Ela é tão alta quanto eu, embora sua figura seja muito mais esbelta. Só por segurança, isso não significa que eu seja corpulenta comparado a ela. Seus traços finos dão a impressão de uma pessoa muito perspicaz, decidida e capaz de resolver qualquer problema encontrado. Ela era alguém que admiro um pouco.
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Irisu-san apontou para a sala de audiovisual.
— Tenho de agradecer a vocês. Nosso filme foi um sucesso, como pode ver… e pensar que estávamos correndo o risco de não conseguir terminar o filme a tempo. Você tem a minha gratidão.
— Ah, não, não há necessidade… A Hongou-san está bem?
Hongou-san era a escritora original do filme, mas eu ouvi dizer que ela desmaiou de estresse.
— Ah, ela está bem agora. Você gostaria de vê-la?
— Entendo… ah, não agora.
Talvez, percebendo a minha hesitação, Irisu-san baixou a sua voz.
— Você precisa de algo de mim?
— Sim, não só de você, mas de algo da sala 2-F — eu disse, concordando.
Eu preciso ir para o ponto principal.
— Por favor, ajude o Clube de Clássicos a vender sua antologia.
— Então você está nos pedindo para vender a sua antologia onde mostramos o nosso filme, certo? — Irisu-san disse, depois de piscar duas vezes.
— Sim, essa é a ideia.
— Certo. Quantas cópias você tem?
Eh?
— Você aceita o nosso pedido?
— Por que você parece surpresa? — perguntou Irisu-san, levantando as sobrancelhas.
— Ah, não, err…
Como ontem eu estava acostumada a ser recusada diretamente, fiquei sem saber o que fazer quando meu pedido foi atendido tão repentinamente agora... Além disso, mais uma vez, esqueci de explicar os detalhes.
— Muito obrigada!
— Você pode me agradecer depois que eu vender as cópias. Então, quantas cópias vocês têm?
— Nós imprimimos 200…
— 200!? — disse Irisu-san, arregalando os seus pequenos olhos por um momento — Isso é muita coisa.
— Nós encomendamos mais cópias do que deveríamos por engano. É por isso que esperamos vender o máximo possível. E-Eu — Ah não. Justamente quando pensei que tinha obtido a ajuda de Irisu-san, fiquei sem palavras. Ainda estou conversando, então cerrei os dentes e continuei — Sinto muito. Quanto ao preço, definimos em 200 ienes por cópia.
— Se você estiver disposta a diminuir o preço para 150 ienes, eu posso vender 20 cópias por você.
— Eh? Diminuir o preço?
— O nosso panfleto custa 50 ienes cada. Junto com a sua antologia, ficaria 200 ienes por conjunto. Apesar de precisarmos organizar algumas coisas.
— Hmm, mas você não precisa consultar isso com a classe 2-F?
— Ah, eu cuido disso depois.
Incrível. Se for Irisu-san, ela aceitaria qualquer pedido sem fazer perguntas. Além disso, não seria incômodo para ela receber vinte exemplares nossos? Já que pretendíamos vender apenas vinte e quatro cópias em três dias.
Como se ela pudesse ler a ansiedade em meu rosto, Irisu-san acrescentou com indiferença.
— Devemos ser capazes de vendê-los todos hoje. Se o fizermos, poderemos encomendar outro lote de você.
— Tudo bem por você?
— Sim.
…Eu senti o meu peito apertar de novo. Irisu-san estendeu a mão direita que ela havia apoiado no quadril. Ela estava tentando apertar minha mão? Tirando minha mão, coloquei-a em cima da dela.
— Ao invés de apertar a minha mão, você deveria me mostrar um exemplar.
Um exemplar? Eu balancei minha cabeça. Irisu-san deu um pequeno suspiro. Eu estraguei as coisas? Ela então falou suavemente enquanto eu permanecia assustada.
— Está tudo bem já que sou eu, mas se você realmente vai pedir a alguém para vender sua antologia para você, você deveria pelo menos trazer um exemplar com você. Ou você não conseguirá convencer ninguém.
Entendi, então é assim que se faz…
— Entendo. Muito obrigada!
Foi então que comecei a pensar. Ontem, quase não consegui nada. Talvez eu tenha passado tanto tempo me preocupando com o que fazer a seguir que meu pedido ainda seria recusado. Esforcei-me muito para explicar minha situação tanto para Tanabe-san quanto para Toogaito-san, mas se eu tivesse pedido a Irisu-san para vir comigo naquela época, talvez meus pedidos não tivessem sido recusados.
Sim, eu não devo cometer os mesmos erros que ontem. Eu devo garantir que a minha taxa de sucesso aumente daqui pra frente.
Tendo isso em mente, eu decidi fazer outro pedido para Irisu-san.
— Irisu-san.
— O-O que?
Ah não, acabei me aproximando demais dela. Este era um mau hábito com o qual Oreki-san sempre me disse para ter cuidado. Dei um passo para trás.
— Irisu-san, você é boa em convencer as pessoas a realizarem o seu pedido, certo?
…
— Por favor, me ensine como fazer isso!
— O QU-?
Irisu-san soltou um grito confuso e fora do personagem, embora seu estado de confusão durasse apenas um momento antes de ela começar dar risadinhas.
— Heh, já fui chamada de muitas coisas, mas nunca "boa em fazer com que outras pessoas cumpram pedidos" antes.
Encostado na saída de emergência, Irisu-san olhou para mim e falou devagar:
— Certo. Às vezes você tende a ser muito direta em suas abordagens. Vou lhe ensinar dois ou três métodos dos quais você pode se lembrar.
— Obrigada.
— O que você sabe sobre atuação?
Irisu-san abaixou a cabeça, fechou os olhos e começou a pensar. Esta foi a primeira vez que a vi parar para pensar. Meu corpo ficou rígido de ansiedade.
— Certo... Bem, vamos colocar desta forma…
Ela murmurou e abriu os olhos. Ela então ergueu o punho cerrado em minha direção. Como resultado, instintivamente me inclinei para trás.
— Existem duas maneiras de fazer com que as pessoas atendam aos seus pedidos. Primeiro, há uma em que se espera que você retribua o favor recebido.
Ela levantou o seu dedo indicador.
— A segunda é quando você não retribui com nenhum favor.
Ela então levantou o dedo do meio. Em pouco tempo, ela retirou os dois dedos e colocou a mão de volta no quadril.
— Para pedidos em que você deve retribuir o favor, isso significa que a pessoa a quem você está pedindo não confia em você.
— Eh?
Talvez tenha algo a ver com seu jeito calmo de falar, mas a voz serena de Irisu-san parecia ter bloqueado o barulho gerado pelo Festival Cultural ao nosso redor.
— Para situações em que você está lidando com estranhos com os quais não voltaria a lidar depois de receber o favor, em nove entre dez casos, eles considerariam seu pedido uma exploração. Mesmo que não o fizessem, eles tentariam minimizar o esforço que eles fariam para atender ao seu pedido. Portanto, nos casos em que se espera que você retribua o favor, você não deve apenas pensar no que esperaria que eles fizessem, mas também levar em consideração o tempo que eles têm e o esforço que eles estão dispostos a fazer. Você também deve levar em consideração que eles podem não ser capazes de fazer o que você solicita. Se você não estiver disposta a fazer isso, eles também não estarão dispostos a correr tal risco pelo seu pedido.
— Embora você pudesse usar a psicologia reversa para fazê-los pensar que estão enganando você, isso seria muito difícil para você. Então, por enquanto, você é mais adequada para o segundo tipo, onde a confiança seria necessária.
— Em tal situação, você precisaria proporcionar-lhes satisfação mental para atender ao seu pedido. É fácil fazer as coisas de má vontade quando apenas uma recompensa física está disponível, mas não é bem assim com uma recompensa mental. A melhor maneira de alcançar isso é fazê-los sentir que são carismáticos ou populares, mas você descobrirá que não terá muitas oportunidades de usar isso. O próximo passo seria a fé e o amor, mas isso exigiria muito tempo para se preparar de antemão, eu mesmo nunca confiei nesses dois.
— Se possível, você deve aproveitar seu senso de justiça ou dever, seu espírito profissional ou sua auto-estima, mas sua dificuldade está acima do intermediário. Apesar de que quando você dominar isso, você deve conseguir usar em várias situações. No outro extremo do espectro seria fazê-los pensar que são temidos ou superiores a você, mas não entraremos nisso hoje.
— Para uma iniciante como você, você deveria mirar na expectativa criada sobre eles. Escute, é basicamente para fazê-los pensar que "só eles poderiam atender a esse seu pedido". Fazer com que eles pensem que são sua única esperança, o que é muito fácil de fazer. Não seria raro que eles fizessem alguns sacrifícios por você, já que você tem expectativas em relação a eles, mesmo que esteja apenas fingindo. Além disso, não os faça pensar que o problema é enorme. Não deixe que eles saibam que você está desesperada por sua ajuda. Simplesmente não há muitas pessoas que ajudariam outras pessoas a resolver um grande problema sem nenhum benefício para si mesmas. Em vez disso, você deve fazer com que o problema pareça muito trivial, para que eles se sintam excepcionais. Finalmente, se possível, faça o pedido onde não houver mais ninguém por perto, para alguém do gênero oposto.
[Vai anotando gente..]
Por um momento, minha cabeça ficou turva.
Acabei de ouvir algo realmente incrível. Eu nunca pensei nessas coisas antes. Para que um estranho atenda ao seu pedido, é preciso fazer com que ele se sinta amado e confiável, bem como se sinta superior porque você tem expectativas em relação a ele, sozinho em um lugar onde ninguém pode ver... Vai ser difícil para mim digerir tudo isso de uma vez. Eu precisaria de tempo para entender lentamente tudo isso. De qualquer forma, eu precisaria agradecer a Irisu-san.
— Hmm, hmm, eu…
Mesmo assim, Irisu-san apenas disse "Apresse-se e traga-me as cópias."
E rapidamente voltou para a sala de audiovisual. Eu deveria ao menos me curvar profundamente em gratidão a ela. Muito obrigada, Irisu-san! Eu não vou deixar que seu conselho seja desperdiçado!
HOUTAROU OREKI
A light novel de bolso que eu trouxe mostrou-se entediante.
Embora eu não tenha exatamente desperdiçado meu dinheiro, pois o comprei por apenas 100 ienes em uma nova livraria de segunda mão, ainda senti como se tivesse sido enganado por eles. Eu simplesmente não conseguia me forçar a continuar lendo. Dito isto, não havia nada que eu pudesse fazer além de bocejar. Eu deveria ter trazido um romance alternativo.
Ouvir o Clube de A Capella cantando ontem com certeza foi uma boa maneira de matar o tempo. Me perguntando se eles estariam cantando novamente, resolvi me levantar e abrir as janelas... E senti um cheiro de folhas queimadas, pois logo abaixo de mim havia algumas pessoas em volta de um fogão. Como parecia haver algum tipo de sentinela armada naquele grupo, devia ser o Clube de Jardinagem.
Batata-doce — só de sentir aquele cheiro já dá fome. Quer seja batata-doce ou não, no momento tive vontade de comer qualquer coisa, já que dormi demais esta manhã e decidi pular o café da manhã. Isso foi realmente culpa da minha irmã por pegar o despertador do meu quarto sem permissão. Como resultado, estou com um pouco de fome. Como eram apenas onze horas, ainda era cedo para almoçar.
Enquanto eu continuava encarando o fogão…
— Doces ou travessuras!
— Yay!
Alguém se intrometeu, enquanto gritava com vozes estranhas. Soavam como meninas, mas não tenho ideia de quem são se não consigo ver seus rostos. Ou melhor, não tinha como ver seus rostos. Havia dois intrusos, ambos carregando cestos cobertos com pano branco e usando máscaras de abóbora na cabeça… Abóboras?
O que diabos? Cabeças de abóbora? Já estão usando fantasias de halloween?
— Doces ou travessuras! — continuaram a gritar, enquanto eu parecia perplexo.
— Yay!
Elas fizeram o mesmo cumprimento, enquanto balançavam os braços.
Estavam tentando dançar?
...Eu precisava me acalmar. Tudo bem, então eles estão em clima de Halloween. Isso significa que devo jogar feijão neles? Ou devo servir chá doce para eles?*
Não, espere, eu me lembro agora. Olhei friamente para as cabeças de abóbora dançantes e disse.
— Se é doce que você quer, não tenho nenhum, então vá embora.
— Nossa! Como você é rude!
— Mas vocês são bem-vindas a comprar nossas antologias.
— Não estamos interessadas!
— Quem diabos são vocês, de qualquer forma?
Foi então que as duas cabeças de abóbora avançaram em sincronia e me mostraram suas cestas. Como se estivessem treinadas para isso, as duas falaram ao mesmo tempo.
— Estamos fazendo vendas de porta em porta para o Clube de Confeitaria. Gostaria de alguns cookies, biscoitos e pãezinhos recheados?
— E se eu dissesse não?
— Doces ou travessuras!
— Yay!
OK, já entendi. Parem de dançar, suas vendedoras insistentes. Mas esse poderia ser um bom timing.
— Quanto custa um de seus biscoitos?
— Hehheh, custa 100 ienes por sacola, senhor!
Elas realmente não têm muita consistência em seus discursos de vendas. Peguei uma cópia de Hyouka.
— O que é isso?
Uau, elas voltaram a falar com suas vozes normais.
— É uma antologia do Clube de Clássicos. 200 ienes por exemplar. Posso trocar dois sacos de seus biscoitos por isto.
— Não estou interessada.
— Ah, não diga isso, eu quero seus biscoitos apesar de tudo.
— Isso vai bagunçar a balança entre a oferta e a demanda.
É inútil. Eu decido tirar a minha carteira do bolso.
— Uau! O que é isso? É tão legal! — disse uma das cabeças de abóbora, pegando a Glock 17 e aumentando o tom da sua voz.
— Uau, que foda! Como você tem uma dessas? Você é um colecionador?
— Ei, você acha que seria melhor para as nossas vendas se andássemos com uma dessas?
Sério? Eu acho que você só assustaria as pessoas.
Ah, bem, se elas querem…
— Vou te dar aquele semi-automático junto com a antologia por dois sacos de seus biscoitos.
— Sério, você está dando para nós?
Eu balancei a cabeça. Segurando a Glock na mão, ela começou a dançar novamente. Depois de girar uma vez, ela tirou dois sacos de biscoitos da cesta, bem como um pequeno saco de papel amarelo.
— Aqui está um sinal de gratidão das abóboras.
— O que é isso?
— Yay!
— Yay!
Sem responder minha pergunta, as duas cabeças de abóbora pegaram a Glock e um exemplar de Hyouka e foram embora. Essas cabeças parecem bastante grandes, será que conseguirão ficar de pé corretamente nelas…? Só espero que não tropecem.
Abrindo a sacola de papel, eu olhei para dentro.
É farinha de trigo. Olhando a descrição, diz "farinha fina".
Mais uma vez, eu tenho algo que não tem utilidade alguma.
De uma caneta-tinteiro a um distintivo, de um distintivo a uma Glock, e agora de uma Glock a um saco de farinha. De alguma forma, isso parece a história do milionário de palha*, mas de alguma forma, os itens que estou recebendo não parecem estar aumentando de valor. Pensando bem, essas pessoas não estavam me dando esses itens simplesmente porque elas mesmas não tinham utilidade para elas?
Tirando 200 ienes da minha carteira, coloquei-os na caixa de doces que estávamos usando de caixa registradora. Recostando-me na janela, abri um dos sacos de biscoitos.
(171 CÓPIAS RESTANDO)
SATOSHI FUKUBE
São pouco mais de onze horas. O torneio do Clube de Cozinha acontecerá às onze e meia. Pode parecer que estou me gabando, mas tenho confiança quando se trata de cozinhar. Embora eu não tenha pensado em ter três pessoas como equipe. Eu teria gostado mais se pudesse fazer tudo sozinho, mas como não podemos participar sozinhos, acho que não tem jeito. Ainda assim, não é como se eu não fosse me divertir, então convidei Mayaka e Chitanda-san também. Embora também seja interessante ver Houtarou carregando uma faca, ele provavelmente não viria mesmo se eu o convidasse.
Exceto... Por um lado, Mayaka sabe cozinhar de verdade. Eu sabia disso, pois ela ocasionalmente trazia seu próprio almoço embalado. Embora eu não saiba sobre Chitanda-san, ela é um fator desconhecido. Quando contei a ela sobre isso, ela concordou prontamente: "Entendido. É para promover nossa antologia, certo?"
Essa era uma das minhas preocupações. Na verdade, eu tinha duas preocupações. Inclusive, eles deveriam mesmo ser chamadas de "preocupações"? Hmm, devo fazer algumas pesquisas sobre o significado dessas palavras. De qualquer forma, minha outra preocupação era se Mayaka chegaria a tempo depois de terminar suas funções no Clube de Mangá.
Decidindo visitá-la, fui em direção à Sala de Preparação nº 1.
Uau, tem muita gente aqui. E Mayaka estava dizendo como o Clube de Mangá estava quieto ontem. Está basicamente lotado hoje, parece carnaval aqui. Enquanto pensava nisso, notei um pôster colado na porta.
Desenho Relâmpago de Poster
Apresentando as nossas duas melhores artistas!
A Esper vs. A Pantera
Assista agora como os seus sensos artísticos brilham a uma velocidade inabalável!
…Eu nunca ouvi falar desse evento antes.
Resolvi dar uma olhada.
— Uau…
Eu engasguei.
Mayaka, vestida com um cardigã por cima da blusa e boné de boina, rabiscava com a caneta um papel A3 sem sequer desviar os olhos. Esta era Mayaka no modo sério. Eu podia até ouvir a caneta sendo batida no papel enquanto ela desenhava. Eu podia até ver suas bochechas ficando vermelhas como se o sangue estivesse subindo para sua cabeça. Eu não tinha ideia do que ela estava desenhando, pois não conseguia ver daqui.
Ao lado dela, a garota de smoking era igualmente incrível. Justamente quando pensei que ainda havia muitas áreas brancas em seu desenho, como se recebesse alguma inspiração divina, ela começou a colorir o desenho com ousadia.
De novo, eu não fazia ideia do que ela estava colorindo, mas em cinco minutos…
— Feito!
Ela entregou seu desenho para as meninas que esperavam diante dela. Imediatamente, muitas pessoas se reuniram e colocaram o desenho sobre uma mesa para secar. Foi então que vi o que era, o desenho de uma personagem feminina de uma popular série mensal de mangá. Isso é bom. Esse é o desenho de Mayaka, sem dúvida. Então Mayaka faz o desenho enquanto a garota de smoking pintava.
Duas das melhores artistas do Clube de Mangá, né?
Eu dei uma risadinha e virei as costas. Se a Mayaka acabasse não aparecendo para o torneio de cozinha e isso resultasse na nossa imediata derrota por causa disso, eu não reclamaria.
Este capítulo foi traduzido pela Mahou. Entre no nosso Discord para apoiar nosso trabalho!