Hyouka Japonesa

Tradução: slag

Revisão: slag


Volume 2

Capítulo 3: A Intrusão Invisível


Leia primeiro na Mahou Scan!


No dia seguinte. Como estava bastante relutante em agir no dia anterior, recebi um telefonema da Chitanda logo cedo naquela manhã. Era praticamente uma ordem da nossa presidente do clube me pedindo para ir, não importa o quê. 

Como não tinha motivo bom o suficiente para resistir a um pedido tão gentilmente formulado, acabei indo para a escola naquele dia também. Bem, não é prático pular de um navio no meio de sua viagem, e eu não tinha intenção de fazê-lo.

Ao sair de casa, notei que uma carta internacional havia sido entregue em nossa caixa de correio. Como estava endereçada ao meu velho, em vez de mim, nem me dei ao trabalho de abri-la. Nem precisei ver para adivinhar quem era o remetente: Oreki Tomoe, minha irmã mais velha.

Minha irmã não se contentava em apenas ficar no país, mas desejava vagar pelo mundo. Ela provavelmente está em algum lugar da Europa Oriental agora. Minha irmã já me envolveu em todo tipo de coisas irritantes diversas vezes. 

Embora essas coisas irritantes estejam em um meta-nível completamente diferente das que Chitanda me envolve. Mas como a carta dessa vez não era para mim, isso provavelmente significa que estou mais influenciado pela Chitanda franca e honesta do que pela minha irmã, o que não é algo ruim.

...Ou talvez não.

De qualquer forma, agora chegamos à Sala de Geologia.

Não fizemos nada em particular antes da chegada da Eba. Como de costume, sentei-me à sombra e comecei a ler meu romance de bolso. Só porque assisti a um filme de mistério não significava que eu iria me esforçar para comprar um romance de mistério. Era apenas um romance normal comprado em uma livraria comum.

Em frente a mim estava Chitanda, que estava em pé perto da janela, sem se incomodar com o sol escaldante do verão enquanto olhava para o terreno abaixo. Ela deve ter uma resistência ao calor, já que não parece estar bronzeada apesar de ficar tanto tempo sob o sol... Ela apenas ficou lá olhando para o terreno abaixo, ou mais precisamente, ela pode ter encontrado algo para se intrometer entre as pessoas se preparando para o Festival Cultural. 

Mas era apenas seus olhos curiosos brilhando, o que significava que ela também estava entediada.

Ibara, por outro lado, estava longe de estar entediada. Como a pessoa real responsável pela compilação da antologia Hyouka, ela estava ocupada escrevendo notas sobre isso também. Algum tempo atrás, perguntei a ela sobre o que ela estava escrevendo quando tudo o que restava era apenas publicar o manuscrito. Ela me deu um olhar aterrorizante e disse.

— Se o manuscrito pudesse ser enviado para ser publicado imediatamente, não haveria necessidade de editá-lo!

Bom, continue o bom trabalho então.

Quanto ao Satoshi, ele estava lendo um romance de bolso assim como eu. Como suas mãos estavam cobrindo a capa do livro, eu não tinha ideia do que ele estava lendo. Embora sorrir fosse sua expressão padrão, ele não fazia isso quando estava lendo. Dito isso, era estranho ver um Satoshi tão sem expressão por uma vez.

Enquanto eu pensava nisso, sua expressão gradualmente voltou ao normal. Colocando o livro de lado, ele levantou o rosto e olhou ao redor.

— Diga, quantos romances policiais vocês já leram?

Ibara parou de escrever ao ouvir essa pergunta e virou a cabeça. 

— Fuku-chan, o que você está tentando dizer?

— Sabe, depois de ouvir o Nakajou-senpai ontem, pensei. Embora o método dele de dedução fosse bastante parecido com os vistos nos romances policiais, ainda estava muito longe do alvo. Então pensei que talvez devesse ler alguns romances policiais para nos ajudar a deduzir isso melhor.

Hmm. De fato, enquanto o raciocínio de Nakajou parecia inovador a princípio, depois de pensar sobre isso durante a noite, não era diferente de um programa de detetive comum na TV. Não era raro para Satoshi fazer tais conexões nos lugares mais estranhos.

— Hmm, para mim, só li uma quantidade normal de romances policiais.

— Então, o quão normal é a sua quantidade afinal? É por isso que estou perguntando.

Satoshi sorriu. Ibara sorriu amargamente.

— Bem, para mim, hmm, normal significaria ter lido Agatha Christie e Ellery Queen, eu acho.

Era isso normal? Embora eu saiba pelo menos os nomes dos autores... Satoshi também inclinou a cabeça.

— Em vez de normal, essa quantidade de leitura deveria ser considerada especialista. Esses são mais como clássicos dignos do Clube dos Clássicos, não são? ... É só isso? E os autores japoneses?

— Embora haja muitos deles, não é como se eu lesse muito. Li alguns mistérios ferroviários, mas é só isso. Embora eu possa ter algum interesse em romances policiais, há muitos autores cujas obras não consigo apreciar.

Bem, parece que quanto mais você lê, mais familiarizado fica com eles, não é mesmo? Você foi a única que mostrou interesse quando ouviu que a Turma 2-F estava fazendo um filme de mistério. Suponho que entre os quatro de nós, Ibara fosse a mais proficiente em ficção de detetive.

— E você, Houtarou?

Fechei o livro que estava lendo e respondi. 

— Não leio esses.

— Você está especialmente consciente de não ler histórias de detetive em particular? Você não tem muito orgulho em seus métodos de leitura, sabe?

Oh, me deixe em paz.

— Li alguns livros de bolso com capas amarelas como este, é só isso.

Sem levar a sério, dei a ele uma resposta adequada.

— Ahh... Então isso significa que apenas autores japoneses, huh? Você é meio rígido, sabe?

Ele me deu uma resposta instantânea. Parecia que isso era suficiente para responder à sua pergunta. Como sempre, Satoshi possui uma ampla gama de conhecimento sem motivo específico.

Satoshi agora se virou para Chitanda, que balançou a cabeça lentamente. 

— Eu não leio nenhum desses.

— Eh?

Ele soou surpreso. Embora também fosse surpreendente para mim também, já que com base em sua tendência de buscar uma resposta para cada enigma que encontra, eu esperaria que ela estivesse bastante interessada em ficção de detetive. Satoshi tentou se certificar disso.

— Nem um único?

— Acho que provavelmente não tenho tanto interesse em romances policiais depois de ler alguns. E já faz muitos anos desde que toquei em um.

Em vez de não ter lido nenhum romance policial, ela acabou rejeitando-os após lê-los. Pensar que nossa senhorita seria fraca em romances policiais apesar de encontrar situações não muito diferentes das vistas nos romances policiais. Parece bastante contraditório. Isso seria como um empresário que não gosta de ler romances empresariais. Mas pensando bem, isso não é totalmente estranho.

— Mesmo? Mas Chi-chan, você não estava se divertindo quando assistimos ao filme de mistério da Turma 2-F?

Chitanda sorriu gentilmente.

— Eu estava apenas feliz que a Irisu-san nos convidou para nos mostrar algo que ela e seus amigos tinham feito... Não é como se eu particularmente gostasse de assistir a filmes de mistério.

Entendi, isso faz sentido.

Bem, isso significa que só falta uma pessoa. Todos devem ser incluídos, afinal. Perguntei a Satoshi, que parecia ter entendido tudo e estava acenando ansiosamente.

— Então, e você?

— Eu?

— Presumo que você tenha lido todos os romances policiais do mundo, passado e presente? 

Perguntei brincando, ao que Satoshi negou categoricamente.

— Não, não li.

Hmm? Ibara começou a sorrir no canto dos lábios.

— Oh, eu sei o que Fuku-chan gosta de ler.

Satoshi baixou a cabeça em constrangimento. Parecia que o interesse de Chitanda havia sido despertado.

— Eh? Então o que é? Fukube-san, não é um segredo, é?

Em outras palavras, se for um segredo, Chitanda definitivamente não irá perseguir mais. Sei disso com base na experiência, de que nossa senhorita tem algum controle sobre sua curiosidade.

Enquanto isso, Satoshi estava sem palavras. 

— Bem, eu...

O que? Apenas diga, já. Enquanto eu pensava isso, Ibara rapidamente entregou o jogo. 

— Fuku-chan é um ávido Sherlockiano!

...Ah, entendi. Um Sherlockiano é um fã apaixonado por Sherlock Holmes. Embora não tenha muitos detalhes, ouvi dizer que essas pessoas realmente pesquisaram o destino do buldogue criado pelo parceiro de Holmes. Era um interesse sério que não deveria ser tratado como mera brincadeira ou entretenimento. Embora para Satoshi, provavelmente fosse um pouco dos dois.

— O que é um Sherlockiano?

— Um, você vê—

Enquanto Ibara tentava explicar para uma Chitanda alheia, Satoshi a corrigiu silenciosamente. 

— Um fã ávido não é chamado de Sherlockiano, é Holmesiano...

Qual é a diferença mesmo? Assim que estávamos provocando Satoshi, Eba chegou à porta e curvou-se cortesmente como de costume.

— Sinto muito em informar que não conseguimos garantir uma sala vazia hoje, então pediremos que a reunião de hoje acontecesse na sala da Turma 2-F, se isso não for incomodar muito, já que pode estar um pouco bagunçada.

Não vejo por que ela sente a necessidade de se desculpar por isso.

— Bem, então, vamos para a Rodada Dois de nossa Reunião de Dedução.

Ao ouvir a voz intencionalmente alegre de Satoshi, saímos da sala de aula. Embora eu ache que é um pouco demais chamar isso de Reunião de Dedução.

 

***

 

As atividades dos vários clubes estavam tão animadas hoje quanto ontem, com música combinando instrumentos e pessoas cantando sendo ouvida. A melodia parecia familiar. Acabou sendo a música tema de Mito Komon. Parecia elegante, mas ainda não muito.

Enquanto estávamos caminhando, Eba nos deu um briefing antecipado.

— A pessoa que vocês vão encontrar hoje é Haba Tomohiro, da divisão de adereços.

Olhei para Satoshi, que balançou a cabeça. Parecia que esse Haba também não era muito famoso. Ontem era a divisão de filmagem, então hoje é a divisão de adereços, huh? Parece que estamos seguindo uma tendência aqui. Eba continuou solenemente.

— Embora ele não tenha sido designado para nenhum papel específico inicialmente, ele decidiu se intrometer…... envolver-se ativamente em todos os tipos de detalhes finos. Há mais alguma coisa que vocês gostariam de perguntar?

Ibara, notando algo específico, perguntou.

— Umm, se esse Haba-senpai estava se intrometendo... se envolvendo ativamente na produção do filme, por que não lhe foi designado um papel de atuação?

Heh, entendi. De fato, uma pessoa assim deveria estar na frente de uma câmera. Eba virou-se para Ibara e assentiu.

— Ele foi preterido.

—Isso significa…

— Os papeis foram decididos por votação. Ele não recebeu votos suficientes.

Agora entendi. Finalmente falei.

— E por que estamos nos encontrando com essa pessoa?

Em outras palavras: Alguém que decide se intrometer... envolver-se ativamente em um projeto aceitaria a opinião de nós, estranhos? Eba mostrou uma expressão incomumente preocupada.

— Também tenho dúvidas sobre a escolha dele... mas foi Irisu que o escolheu, então ela deve ter seus motivos. Se me perguntarem, provavelmente tem algo a ver com ele ser o mais proficiente em ficção de mistério entre toda a equipe. Pelo menos é o que ele afirma.

Como não consegui encontrar resposta, decidi forçar um sorriso para ela.

Ainda assim, Satoshi havia enfatizado que a Imperatriz Irisu era boa em fazer com que as pessoas realizassem suas tarefas habilmente. Se ele estivesse correto, então seria como Eba disse, que Irisu tem seus motivos para escolher Haba. Para começar, isso era apenas um dos assuntos nos quais Irisu nos envolveu, então não é como se não tivéssemos suspeitado de tal estratégia. Enquanto pensava nisso, Satoshi mostrou alguma insatisfação.

— Onde diabos a Irisu-senpai foi parar? Ela não apareceu sequer uma vez depois do filme.

Pensando bem, ele tem razão. Não a vemos desde anteontem. Embora Eba tenha respondido nossa pergunta imediatamente.

— Ela disse que estaria procurando um substituto para o roteirista enquanto vocês descobrem a dedução correta. Ela também está tendo algumas dificuldades do lado dela.

Chegamos ao corredor que ligava o Bloco Especial ao Bloco Geral. Antes de chegarmos à sala de aula da Turma 2-F, Chitanda abriu a boca gentilmente. 

— Eba-san.

— Sim?

— Você é próxima da Hongou-san?

Eba pareceu brevemente confusa. Embora não parecesse preocupada, eu podia sentir que ela estava lutando para encontrar as palavras certas para responder.

Por que você pergunta?

— Fiquei curiosa — disse Chitanda, sorrindo para Eba. — Não conseguia parar de pensar em como seria a pessoa que escreveu o roteiro. Ela parecia ser muito séria.

Agora chegamos à frente da sala de aula da Turma 2-F. Eba parou seus passos, virou-se e disse lentamente.

— Hongou é uma boa amiga. Ela é sincera, atenciosa e tem um forte senso de responsabilidade obstinado, além de ser gentil e carinhosa. Mas, há algo que vocês gostariam de aprender com isso? ...De qualquer forma, Haba está esperando vocês lá dentro.

Ela então virou as costas para nós e saiu sem nem mesmo nos apresentar a Haba.

Era exatamente como Eba havia descrito — a sala de aula da Turma 2-F estava bastante bagunçada. Havia muitas mochilas, bem como seus conteúdos ainda não mostrados espalhados por toda parte. No quadro-negro havia algumas anotações bagunçadas que pareciam ser o cronograma de filmagens, com uma longa frase escrita no topo em giz amarelo que dizia Próximo domingo = Prazo Final! 

As mesas e cadeiras também estavam em desordem, e pela primeira vez percebi o quanto essa classe estava enfrentando uma crise com seu projeto. Enquanto eu me perguntava se isso também fazia parte dos planos de Irisu em nos fazer encontrar Haba aqui.

No canto da sala de aula onde o sol não brilhava estava um aluno do sexo masculino. De óculos, ele era bastante magro para seu tamanho. Ao nos ver, ele levantou as mãos de maneira melodramática e disse.

— Então vocês são os observadores enviados por Irisu. Prazer em conhecê-los, meu nome é Haba Tomohiro.

Assim como ontem, Chitanda mais uma vez nos apresentou começando por ela mesma. Haba repetiu nossos nomes várias vezes como se estivesse tentando memorizá-los antes de nos fazer gestos para nos sentarmos.

Embora eu não tenha ideia de como Haba se comportaria normalmente, ele parecia estar de bom humor hoje. Enquanto observava tomar nossos assentos com uma expressão satisfeita, ele assentiu.

— Ouvi dizer que vocês são muito bons com mistérios, pelo menos em comparação com nossa turma, onde quase ninguém é bom com eles.

Parece que as pessoas da Turma 2-F foram mal informadas. Até Chitanda percebeu isso e declarou.

— Nós somos do Clube de Clássicos.

Os olhos de Haba se arregalaram.

— Ah sim, o Clube de Clássicos. Então vocês devem estar familiarizados com todos os livros da Era de Ouro, não é? Uau.

Ele parecia estar ainda mais enganado do que antes. Mas, novamente, como o Clube de Clássicos era um clube envolvido em atividades desconhecidas, não é surpreendente que ele seja confundido como um clube proficiente em romances policiais.

Enquanto Haba ainda murmurava — Uau —, ele tirou um pedaço de papel tamanho A4 e o colocou na mesa diante dele. Era o mapa do teatro visto no filme. Nele estavam escritos os nomes formais para cada sala, assim como as posições de todas as janelas, e um nome de designer incompreensível chamado Nakamura Aoi ou algo parecido. Até o corredor bloqueado estava bem marcado.

Satoshi levantou a voz sem nem pensar. 

— Senpai, o que é isso!?

— Hmm? Vocês não viram isso antes?

Sem dizer uma palavra, Satoshi tirou seu próprio mapa desenhado por ele mesmo. Haba gemeu. 

— Isso facilita as coisas.

— Umm, de onde você tirou esse mapa? — Perguntou Ibara, ao que Haba respondeu.

— Este prédio foi construído pela prefeitura de Furuoka, então só precisei procurar na prefeitura. A dedução só pode ser feita com este mapa.

Então ele sorriu. No mapa de Haba estavam marcadas a posição do corpo, assim como onde todos os outros estavam espalhados antes. Ele estar tão entusiasmado não era algo ruim, pois eu também gostaria de saber tais informações. Haba parecia ainda mais animado enquanto continuava.

— Ainda assim, para um escritor ou leitor de mistério, um mistério escrito por um amador como Hongou não seria suficiente para satisfazê-los.

Ele parecia bastante confiante. Chitanda perguntou.

— Hongou-san não era proficiente em histórias de mistério?

— Não. Ela nunca tinha lido nenhuma antes de fazer este filme.

— Mas ouvi dizer que ela fez algumas pesquisas.

Haba levantou os cantos dos lábios para formar um sorriso.

— São todas histórias antigas. Olhem lá, são as coisas pelas quais ela passou durante a noite.

Ele apontou para um canto da sala com o queixo, revelando inúmeros volumes de livros empilhados juntos. Um olhar para eles mostrou que eram todos livros de bolso. Chitanda se inclinou e perguntou.

— Umm, você se importaria se déssemos uma olhada neles?

Haba pareceu preocupado com o interesse de Chitanda ser direcionado para lugares tão inesperados. Eu também estava me perguntando o que ela estava fazendo, embora a curiosidade de nossa senhorita fosse fácil de ler. Sem esperar por uma resposta, ela se levantou de sua cadeira e foi pegar um livro.

Olhando para a montanha de livros ao lado do mapa, Satoshi disse com uma voz intrigada.

— Ahh, a versão traduzida por Nobahara... E é a nova edição também.

Eram as histórias de Sherlock Holmes sobre as quais estávamos falando há pouco tempo. As capas estavam bem gravadas com uma fonte que parecia escrita à mão impressa em papel branco brilhante, incentivando o leitor a começar a ler as histórias de Sherlock Holmes imediatamente após comprar. Ibara olhou para os livros e disse friamente.

— Então ela só estudou Holmes como pesquisa?

Haba respondeu.

— Sim. É por isso que eu disse que ela é uma amadora.

...Então pessoas que leem Holmes são apenas amadores, huh? Uma afirmação bastante audaciosa que ele está fazendo aqui. E ele está dizendo isso na presença de Satoshi, um Sherlockiano (embora ele prefira se chamar de Holmesiano). Ainda assim, Satoshi sorriu sem parecer muito incomodado.

— Bem, eu escuto isso com frequência.

Hmm. Pegando o primeiro livro no topo da montanha de livros, Chitanda começou a folhear as páginas. Realmente deveríamos voltar ao assunto... Eu não tinha ideia se ela percebia minha ansiedade ou não; provavelmente não. A mão de Chitanda parou em uma das páginas.

— Oh.

— O que é?

— Há algumas marcações estranhas aqui. Olha.

Ela me mostrou a página em que estava, e instantaneamente soube que era o Índice sem nem mesmo ler as palavras. De fato, havia marcações antes do título de cada conto. Embora eu não pensasse nessas marcações como — estranhas — como Chitanda havia pensado.

 

As Aventuras de Sherlock Holmes e Sir Arthur Conan Doyle

◯ Um Escândalo na Boêmia

△ A Aventura da Liga dos Cabeças Vermelhas 

X Um Caso de Identidade

△ O Mistério do Vale Boscombe 

X Os Cinco Pes Pêssegos

◎ O Homem do Lábio Torcido

◯ A Aventura do Carbúnculo Azul 

X A Aventura da Faixa Malhada 

X A Aventura do Nobre Solteirão

△ A Aventura dos Carvalhos de Cobre

 

— Aqui tem mais, olha.

 

O Livro de Casos de Sherlock Holmes e Sir Arthur Conan Doyle

◯ A Aventura do Cliente Ilustre

◎ A Aventura do Marinheiro Branqueado

△ A Aventura da Pedra de Mazarin x A Aventura das Três Empenas

◯ A Aventura do Vampiro de Sussex

◎ A Aventura dos Três Garridebs

△ O Problema da Ponte de Thor

△ A Aventura do Homem que se Arrasta

△ A Aventura da Crina do Leão x A Aventura do Locatário Véu

 

Ao ver aquilo, rapidamente dissipei as preocupações de Chitanda.

— O que há de tão estranho nisso? Provavelmente são apenas notas marcadas usadas por Hongou. 

— É... mesmo?

Embora ela não parecesse muito convencida, decidiu deixar o assunto de lado por enquanto. Durante esse tempo, Satoshi parecia murmurar algo, e quando eu estava prestes a perguntar a ele, ele encontrou meu olhar e fez um gesto indicando que ele também não saberia, e voltou sua atenção para o mapa.

— Vamos deixar isso de lado. — Batendo os dedos na mesa, Haba falou. — Em vez disso, vamos começar com a dedução.

Suspiro. Parecia que ele não podia esperar para começar com suas próprias deduções. Por outro lado, eu também queria me apressar e terminar com isso. Então, segurei a mão de Chitanda para impedi-la de pegar outro livro, e só então ela percebeu que Haba estava esperando, e colocou-o de volta no monte parecido com uma montanha.

— Desculpe. Por favor, comece.

Haba assentiu e tirou uma caneta esferográfica do bolso do peito. Provavelmente um item necessário para que a palestra prosseguisse, então prestem atenção, pessoal.

— Tudo bem. Do jeito que vejo, este mistério não é tão difícil. Na verdade, poderia ser classificado como fácil.

Ele pausou para observar nossas reações. Eu não dei nenhuma, aliás, e não tinha ideia de que reações os outros estavam dando também.

— Primeiro, este assassinato foi não premeditado, ou melhor, foi apenas meio premeditado. Então não é um daqueles casos — Tudo conforme planejado. Acontece que as condições estavam certas para o assassino realizar seus planos. Estão me acompanhando?

Não foi um mau discurso de abertura. Não, para ser honesto, isso não é exatamente o que eu estava pensando. Veja bem, agora que ele menciona, não importa que técnica o filme empregue, ele não será capaz de retratar um plano elaborado sem que isso não faça sentido. Quanto à razão.

— Qual é a razão para isso?

Chitanda acabou de perguntar algo incrível. Haba parecia bastante descontente por ter sido interrompido tão cedo depois de começar, mas respondeu rapidamente com uma expressão alegre.

— A razão é que se tudo fosse planejado, Kaitou seria solicitado a ir para o lado direito do teatro. Em vez disso, o que vimos foi que ele pegou a chave aleatoriamente e foi para aquele lado por conta própria. Então acredito que o assassino apenas fez bom uso dessa condição. Bem, não deve estar muito longe da verdade, já que existem muitos exemplos desse tipo em mistérios de assassinato.

Embora haja muitas instâncias de um trapaceiro fazer uma pessoa escolher exatamente o cartão que ele quer que seja escolhido, não parecia ser o caso desta vez. Então Haba está fazendo sentido até agora.

Haba continuou apontando sua caneta esferográfica para o Palco Direito no mapa, onde o corpo havia sido encontrado.

— Como todos vocês sabem, este é um assassinato em sala selada. As únicas saídas disponíveis no local são aqui, aqui e aqui. Duas delas estão seladas e inutilizáveis, enquanto a outra estava trancada quando o corpo foi encontrado. Também existem duas janelas, com uma selada enquanto a outra estava coberta por grama alta do lado de fora, que não mostrava sinais de alguém pisando nela. Em outras palavras, o assassino de Kaitou não escapou por meios normais.

Ele havia chegado agora ao ponto em que Nakajou havia parado, para o qual ele sorriu.

— Dito isso, o assassino não estava mais na sala depois que Kaitou foi morto, uma situação típica de sala selada. Embora vocês possam não ter pensado nisso antes, uma situação de sala selada geralmente é estabelecida no momento em que o corpo é encontrado. Ou para ser mais preciso, quando todos os outros entraram na sala e encontraram o corpo. Agora, como isso é estabelecido? Um só precisa pensar nos escritores de ficção de detetive do passado e do presente.

— Vamos começar com o método mais simples. O assassino pode escolher pegar a chave mestra e usá-la para entrar na cena do crime, e depois devolver a chave mestra para onde estava.

— Mas isso é totalmente desinteressante. Haveria um tumulto se fosse realmente o caso. Nem mesmo um amador como Hongou escolheria tal método. Então vamos dar uma olhada nos fatos.

— As chaves foram encontradas no escritório do teatro. Para chegar ao escritório, é preciso passar pelo saguão. E qualquer pessoa que passasse pelo saguão seria vista por Sugimura na sala de equipamentos do segundo andar, ou pelo menos atrairia sua atenção. Então, se o assassino quisesse pegar a chave mestra, ele teria que esperar que não fosse visto por Sugimura. Simplesmente não faz sentido para um assassino correr tal risco.

— Agora, e se fosse Sugimura quem pegasse a chave? Isso também não serviria, pois ele também teria que correr o risco de ser visto por Senoue, Katsuda e Yamanishi.

Hmm, ele é bastante prudente com suas deduções, não é? Se ao menos ele pudesse fazer o mesmo com sua atitude.

— Agora, o fato de que o saguão não pode ser acessado sem ser observado é bastante importante, pois isso significa que não apenas o Palco Direito, mas o corredor inteiro não pode ser acessado pelo assassino a partir do saguão. Agora você entende o significado por trás disso? — Ele perguntou enquanto erguia o rosto do mapa. Como um professor esperando que um aluno responda suas perguntas, ele olhou para nós um por um.

...Ah! Ibara notou seu olhar encontrando o dela. Após um breve silêncio, ela deu uma breve resposta. 

— O assassino usou algum tipo de truque físico?

Um breve lampejo de decepção foi mostrado no rosto de Haba. Embora logo tenha voltado ao seu jeito otimista.

— Exatamente.

Qual é o problema dele afinal? Estava ficando chateado por alguém adivinhar corretamente suas perguntas? Ele parecia bastante carente de prudência e direto sobre isso.

— De fato, se o assassino usou algum tipo de corda para trancar a porta de fora do quarto. Mas isso também não faz sentido. Como o assassino não seria capaz de sair do corredor direito, que é efetivamente um segundo — quarto externo selado. Em outras palavras, não era possível criar um quarto selado de fora.

— Pode-se argumentar que este quarto selado foi feito por ninguém menos que a própria vítima. Talvez a vítima não tenha sido morta instantaneamente e tenha decidido se trancar dentro para fugir do assassino e acabou morrendo lá dentro. Mas isso não muda o fato de que esse — quarto externo selado — ainda existe.

— Então, quais outras possibilidades estão disponíveis? Estas incluem o assassino não estar presente quando a vítima foi morta, ou o assassinato ainda ocorrer quando a vítima foi encontrada. Em suma, a vítima foi morta por algum mecanismo, ou foi rapidamente morta sem que ninguém mais soubesse. Você entende agora?

Sim, entendi. Embora também houvesse pessoas que não entenderam, especialmente Chitanda, que mal havia lido qualquer ficção de detetive. Ela levantou as mãos apologeticamente.

— Umm, desculpe, mas você poderia explicar mais detalhadamente?

Haba parecia bastante satisfeito com o pedido de Chitanda, e assentiu enquanto começava a explicar alegremente,

— Mecanismos basicamente significam que o quarto foi preparado com algum tipo de armadilha, que acabou matando Kaitou. Por exemplo, poderia ser um arco e flecha ou uma agulha envenenada. Ser rapidamente morto sem que ninguém mais soubesse significa que Kaitou ainda estava vivo no momento em que a porta foi destrancada, e o assassinato ocorreu discretamente durante este breve momento em que todos foram confirmar se Kaitou estava morto ou não.

Chitanda soltou um suspiro desagradável.

— De qualquer forma, essas duas possibilidades são rejeitadas também, pois têm a mesma falha, você sabe qual é?

Haba se virou para Ibara como se a desafiasse a responder. Ibara levantou as sobrancelhas indicando que sabia o que ele estava fazendo. Ela não precisava responder, mas ainda decidiu.

— Sim, é a condição do corpo, certo?

— Exatamente…. É realmente interessante conversar com alguém que entende. — Embora ele estivesse sendo irracional, eu meio que entendi o que ele estava fazendo, e ri em meus pensamentos. Haba limpou a garganta e disse: — A condição do corpo, em outras palavras, a teoria de que Kaitou poderia ter tido seu braço decepado e sido morto por uma máquina ou morto rapidamente ao entrar no quarto é rejeitada. Primeiro, para que uma máquina o matasse com tanta força, teria sido descoberta imediatamente. Segundo, como seria necessária uma forte força para matá-lo, matá-lo discretamente sob os olhos de todos simplesmente não era possível.

— Isto significa...

— É difícil para o quarto selado criado por Hongou ser acessado pela frente.

Haba terminou sua explicação, recostou-se ainda mais na cadeira e respirou fundo. Logo ele retomou sua atitude extremamente confiante e se virou para mim.

— Você, Oreki-kun, não é? O que você acha dessa dedução?

Naquele momento, eu realmente queria dizer a ele, — Foi ótimo, podemos ir agora? — Mas tenho a sensação de que Haba está propositalmente guardando o melhor de sua dedução para o final. Provavelmente ele tinha uma resposta padrão preparada antecipadamente, não importa o que eu dissesse. Mas, enquanto eu permanecia em silêncio, ele fez um sorriso forçado, como se me indicasse em uma tentativa de continuar o fluxo, — Se apresse e diga que você não entende!

Como esperado, ele soltou uma risada sarcástica e elevou a voz.

— Não, isso não vai funcionar! Mas isso não é impossível, certo?

Então ele lentamente se levantou e caminhou em direção a uma das mochilas vistas no filme, depois enfiou a mão dentro da bolsa e a trouxe assim até nós.

— Como vocês sabem, estou com a divisão de adereços. Sou responsável por comprar o equipamento necessário para a filmagem do filme. Fomos nós que fizemos o sangue de Kaitou, bem como seu braço decepado.

O objeto que ele puxou da bolsa era exatamente o que eu esperava. Uma corda.

— Hongou pode ser bastante descuidada em sua preparação. Por exemplo, embora ela pretendesse que houvesse muito sangue a ser usado naquela cena, a equipe de filmagem entrou em pânico quando descobrimos que nosso estoque de sangue falso não era suficiente. Ainda assim, ela especificamente nos pediu para pegar uma corda. Ela disse que alguém precisaria descer por ela, então precisaríamos de uma corda muito resistente. Então eu perguntei se uma corda de segurança padrão serviria, e ela concordou. Você percebe o que ela pretendia fazer com isso? — Ele disse enquanto voltava para sua cadeira, colocando a corda na mesa. Ele ergueu o peito confiante enquanto continuava, — Deixe-me dar uma dica. Apesar de sua aparência esbelta, Kounosu é na verdade membro do Clube de Montanhismo.

Ele deu uma olhada em cada um de nós. Ibara provavelmente entendeu. Satoshi continuou mantendo seu sorriso enquanto olhava para seu caderno, mas provavelmente não entendeu. Chitanda simplesmente parecia confusa, então certamente não entendeu.

De qualquer forma, visto que nenhum de nós disse nada, Haba falou com uma voz como se estivesse nos contando um segredo incrível.

— Em outras palavras, se o assassino não pode entrar pelo primeiro andar, então ele só precisa entrar pelo segundo andar. Essa é a rota viável restante. O corredor direito no segundo andar estava ocupado por Kounosu, e não foi coincidência ela ter sido designada lá. Se eu tivesse que adivinhar, provavelmente é por causa dela estar no Clube de Montanhismo.

— O truque de Hongou é na verdade bastante simples: fazer o assassino descer pela janela do segundo andar usando uma corda, matar Kaitou sem que ninguém perceba e depois voltar pela mesma corda.

— Umm, então o assassino entra no Palco Direito de cima, certo?

— Bem, é claro. Se o assassino tivesse entrado por qualquer outra rota, a porta trancada não teria servido para nada... Agora, tenho certeza de que todos vocês entenderam agora. Como o filme ainda não tem um título, se é para ter um, deveria ser chamado de A Intrusão Invisível.

Haba estufou o peito como se estivesse declarando: — Agora, o que acham disso? — Como se o que ele acabara de dizer fosse a verdade incontestável, ele disse: — Agora, deixem-me ouvir o que pensam sobre isso.

Ele nos perguntou o que pensamos, uhum? Trocamos olhares entre nós. O rosto de Ibara parecia como se estivesse me cutucando para mostrar algo; decidi ignorá-la, não tinha intenção de desperdiçar energia desnecessária apenas para repreendê-lo como fizemos com Nakajou ontem. Enquanto Nakajou era muito apaixonado, Haba era extremamente confiante. Virei a cabeça para o outro lado e encontrei o olhar de Chitanda. Senti o que ela queria dizer e dei um aceno de aprovação.

Acenando de volta, ela se virou e disse a Haba.

— Achamos que é uma dedução maravilhosa.

Embora Haba possa ter achado a resposta dela um fato, ela estava apenas dizendo por cortesia. 

— Oh, você me lisonjeia demais. — Então ele se virou para Ibara com um sorriso. — E você?

Caramba, ele está tentando provocá-la. Ainda assim, Ibara, apesar de se sentir frustrada, decidiu assentir ao ver a resposta de Chitanda.

Haba parecia ter terminado o que queria dizer. Sentindo que era hora, prossegui para falar.

— Foi uma grande dedução, Haba-senpai. Devemos ser capazes de fornecer a Irisu-senpai uma revisão adequada... Tenha um bom dia.

Haba assentiu satisfeito. Levantei-me ao terminar. Cada um de nós se despediu e saiu da sala da Turma 2-F.

Antes de sair, Chitanda olhou para os livros de Sherlock Holmes na cadeira e disse.

— Com licença, Haba-san, mas você se importaria se nós os pegássemos emprestados?

Embora fosse um pedido estranho, como Haba estava de bom humor, ele concordou.

— Esses são os livros de Hongou. Certifique-se de devolvê-los quando os tiverem emprestado.

Não empreste livremente pertences alheios. Eu disse dentro dos meus pensamentos. Ibara e Satoshi também saíram da sala. Quando estava prestes a fechar a porta, enfiei minha cabeça de volta para dentro para perguntar algo.

— Haba-senpai.

— Hmm? Há mais alguma coisa?

— Não, não é nada importante. Eu só estava me perguntando se você já viu o filme. Eu achei que o efeito do braço decepado do Kaitou-sensei ficou bem realista.

Então Haba balançou a cabeça e sorriu amargamente. 

— Para ser honesto, ainda não o assisti.

Aquela resposta foi boa o suficiente para mim.

 

***

 

— Cara, ele me irrita.

Ibara disse, no momento em que retornamos à Sala de Geologia. Como podíamos sentir a raiva fervente em uma frase tão breve, não tinha intenção de provocá-la.

A única pessoa capaz de fazer isso seria Satoshi.

— O que há de errado? Você parece como se tivesse ficado muda com a atitude provocativa do Senpai.

Ibara balançou gentilmente a cabeça.

— Bem, se você está falando de pessoas provocativas, eu fico provocada por você o tempo todo.

Sua descrição era apropriada de uma maneira estranha. Embora Satoshi fosse conhecido por viver sua vida sem muito medo, nunca o ouvi ser chamado de provocativo antes. Porque eu teria pensado que ela acharia o modo na sua cara de apresentar-se irritante, para dizer o mínimo. Vendo que não entendíamos o que ela queria dizer, Ibara suspirou e continuou.

— O que não gostei foi a maneira como ele me tratou, foi como se fosse uma boba.

— Mayaka, uma boba?

— Além disso... não é só comigo, mas com todos nós, até mesmo Hongou-senpai e o resto da Turma 2-F foram tratados da mesma forma. Só porque não tenho um bom motivo para ficar com raiva não significa que não estou.

Ao invés de estar com raiva, ela está se sentindo chateada porque não conseguiu encontrar um bom motivo para ficar com raiva, é?

Para mim, Haba estava apenas mostrando sua confiança, embora para Ibara fosse nada mais do que uma exibição de arrogância, já que ela disse que Haba estava olhando para baixo para todos. Realmente, há uma linha tênue entre confiança e arrogância. Talvez eles sejam realmente a mesma coisa. Ainda assim, até mesmo ficar com raiva disso, senti que Ibara combinava muito bem com a descrição para a carta Justiça e sorri para mim mesmo, divertindo-me.

— Ele até zombou de Sherlock Holmes! Você não está bravo com isso, Fuku-chan?

Ela parecia realmente enfática. No entanto, Satoshi apenas encolheu os ombros e levou tudo na boa. 

— Não muito.

— Por quê!?

— Bem, é verdade que Sherlock Holmes é coisa de nível iniciante para leitores de mistério. Quando ouvi dizer que Hongou-senpai estava fazendo alguma pesquisa sobre ficção de mistério, o primeiro pensamento que tive foi que ela olharia para Sherlock Holmes. Você não estava pensando a mesma coisa, Mayaka? Então não fique tão brava, okay?

Ele disse enquanto batia nos ombros de Ibara. Em vez da atitude arrogante de Haba, ela na verdade estava mais irritada com a falta de respeito por Sherlock Holmes... Bem, visto que Ibara parecia à vontade para dizer o que queria dizer, não havia necessidade de eu intervir.

Agora, quanto ao problema principal; mudei de posição na minha cadeira e disse: — E agora? Devemos apresentar a proposta de Haba para Sua Alteza Imperial?

Incluindo Chitanda, que estava olhando para o livro de Holmes que ela abriu, os outros três se viraram para me olhar.

O primeiro foi Satoshi, que disse com alguma dúvida em sua mente.

— Bem, por que não? Para ser honesto, a conclusão dele mal foi interessante, mas ele disse que Hongou-senpai pediu especificamente o uso de uma corda. Deixando os detalhes de lado, acho que talvez ele tenha acertado.

Ibara seguiu, inesperadamente concordando com um aceno.

— Eu também não vejo nenhum problema específico com isso... Não há contradições em suas deduções, nem inconsistências com o roteiro. Não vou rejeitá-lo apenas por rejeição.

Os votos favoráveis agora têm dois votos. E quanto ao terceiro voto?

Enquanto olhávamos para Chitanda, por algum motivo, ela parecia bastante perturbada. Incapaz de ficar calma, ela arregalou os olhos e abriu a boca, mas ficou sem palavras.

— O que houve, Chitanda?

— Eh... eu, eu simplesmente não consegui concordar com isso por algum motivo.

Hmm.

Ibara perguntou de maneira sociável, algo que eu nunca faria.

— Chi-chan, por quê?

Chitanda parecia ainda mais perturbada.

— Umm, bem, eu mesma não tenho certeza disso. Mas, só sinto que não é a verdadeira intenção da Hongou-san... Ahh, simplesmente não consigo aceitar essa dedução. Embora seja diferente do senso de desorientação sentido com a dedução do Nakajou ontem, simplesmente não pude aceitá-la!

Enquanto não ouvirmos da própria autora, se Chitanda não entendeu, então não havia como eu entender também. Parecia que Chitanda estava contra a dedução. De repente, Chitanda virou os olhos para mim como uma vespa. 

P-Para de me olhar assim com esses olhos!

— E você, Oreki-san? Você acha que essa dedução está correta?

Ah. Nunca pensei que atrairia tanta atenção. E eu estava planejando dizer algo despreocupado. Mudei-me na minha cadeira, balancei as pernas e balancei a cabeça o mais dramaticamente possível.

— Não, não acho.

Ibara me respondeu imediatamente.

— Por quê, Oreki!?

...Isso é um pouco de duplo padrão vindo de você. Sentindo-me triste por ela, respondi.

— Porque a proposta do Haba é inviável. Se um assassinato realmente ocorresse em um teatro assim, tais preparativos poderiam ter funcionado. Mas é impossível para esse filme.

Satoshi me instigou com seu sorriso usual. 

— Em outras palavras?

— Em outras palavras, é contraditório com o que vimos no filme. Deixe o mapa de lado e tente lembrar do filme que vimos anteontem. O que vemos fora da janela do Palco Direito?

Estou bastante surpreso por até mesmo eu ter conseguido lembrar, considerando que não estava prestando atenção quando assisti ao filme. Ao sugerir-lhes que ignorassem o mapa, não foi difícil para eles também lembrar.

Satoshi liderou o caminho acenando. 

— Ah sim, aquela janela.

— Exatamente. O prédio estava em ruínas há tantos anos, mesmo o Katsuda-senpai, que parecia robusto, teve dificuldade para abrir aquela janela. Tenho certeza de que todos vocês se lembram do barulho de rangido que ele fez ao lutar para abri-la, mostrando que era bastante difícil de abrir. 

— Se eles fossem filmar uma cena mostrando o assassino entrando pela janela, então teriam que arranjar para que a Kounosu-senpai descesse do andar de cima usando uma corda, e para não perturbar a grama, ela teria que abrir a janela enquanto mantinha uma posição de suspensão desconfortável. Isso é bastante difícil de realizar, já que abrir uma janela assim leva tempo, sem mencionar o som que ela faria. E se não fosse aberta corretamente, o vidro até poderia ter quebrado. Além disso, o que vocês acham que o Kaitou-sensei estaria fazendo? Ele teria simplesmente ficado lá parado e assistido? Claro que não.

— Se Hongou não tivesse visitado o local pessoalmente ao escrever esse roteiro, então esse método poderia não ter problema em ser adotado, considerando que ela não teria conhecimento sobre a condição da janela. A sugestão do Haba é baseada apenas no mapa, sem nem mesmo assistir ao filme.

— Oh, então foi por isso que você perguntou ao Haba-san se ele tinha visto o filme!

Chitanda levantou a voz enquanto exclamava. Ela realmente ouviu minha conversa com Haba? Eu nunca deixo de ficar impressionado com seus sentidos extraordinários.

— Certo. Se ele tivesse visto o filme, então ele saberia que era impossível entrar no quarto de cima.

— A verdade é que Hongou tinha estado no local pessoalmente e escreveu o roteiro com base em suas observações. Nakajou disse isso. Se Hongou realmente tivesse a intenção de usar a janela como Haba descreveu, e assumindo que Irisu está certa sobre Hongou ser uma pessoa meticulosa, então ela teria solicitado à divisão de filmagens que preparasse algum lubrificante para ser usado na janela no local do crime. Eu não acredito que ela simplesmente ignoraria tais defeitos no prédio.

— Em resumo, não posso concordar com a dedução do Haba. O que acham?

Eu nem precisava perguntar. Eu podia dizer que Satoshi achava minha explicação apropriada, enquanto Ibara dava uma expressão como se não quisesse concordar realmente.

— Bem, então, — Uma voz atrás de mim disse, — Isso significa que vocês também não chegaram a um acordo hoje, certo?

Ao me virar, encontrei Eba parada ali sem nem perceber.

Ela deve estar realmente ansiosa pela solução deste mistério. Embora ela não tenha mostrado enquanto dizia.

— Então estou ansiosa para guiá-los para conhecer a terceira pessoa amanhã.

— Oh... Sim, obrigado. Aguardamos sua assistência.

Chitanda se curvou imediatamente depois de terminar. Eba balançou a cabeça e acrescentou algo mais como se não fosse nada importante.

— Mas amanhã será o último dia. Se o problema ainda não estiver resolvido até a noite depois de amanhã, então o roteiro não poderá ser feito a tempo para as filmagens.

Hoje é quarta-feira. Vejo, estamos com um cronograma apertado aqui.

Enquanto sentíamos uma sensação de desconforto, Eba relaxou sua expressão e curvou a cabeça profundamente. 

— Sou eu quem deveria estar ansiosa pela sua assistência.


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