Volume 1 – Arco 4
Capítulo 20: A Princesa Pérpetua
O quão grande uma casa pode ser? Quanto dinheiro alguém pode ter? Essas eram as exatas perguntas que a mente de Kurumi se fez repetidas vezes perante a nova vista.
Bem na frente do jovem estava uma mansão luxuosa, três talvez até quatro vezes maior que a mansão de Shizan, a tinta levemente gasta e um grande jardim verde, porém com diversas flores mortas, quem a olhasse poderia pensar que ela havia se perdido no tempo.
O grupo de assassinos havia chegado a alguns minutos, haviam sido recebidos por um mordomo que após os identificar adentrou para buscar a tal garota, agora estavam sentados aguardando.
Logo o som de passos chamou a atenção de todos, rangiam na madeira da mansão que de tão grande realizava um grande eco, e ao abrir da porta saiu uma jovem garota, uma idade próxima a dos demais jovens.
Possuía um curto cabelo loiro preso atrás em um pequeno coque, mas deixando algumas mechas a frente soltas pelo rosto, tinha grandes e brilhantes olhos azuis vazios e profundos, estava vestindo um vestido azul com a bainha chegando nos pés, o resto de seu rosto exalava um ar de seriedade, estava com a mesma cara de alguém que havia acabado de fazer o mais chato dos trabalhos.
Em contra parte a isso, Kurumi com aquela vista teve seus olhos quase saltando do rosto e se lançou a ela, ato esse que os demais tentaram impedir, já esperavam algo desse tipo devido à natureza do garoto.
Rapidamente ele segurou a mão dela se ajoelhando e sorrindo.
— Oi! Meu nome é Kurumi Kuni, 18 anos, meus hobbies são…
— Não me toque.
Disse fria, movendo seu joelho de encontro ao rosto dele assim o mandando para longe.
Ela seguiu parada, tão fria quanto um bloco de gelo, e da porta logo veio o mordomo tentando acalma-la, era próximo o suficiente para por a mão nos ombros dela e tentar faze-la relaxar.
Tal homem se mostrava já de certa idade, aparente devido suas claras rugas e cabelos brancos, um bigode e óculos, um ar chique, porém num tom sereno trajado em um terno preto padrão, Kurumi pensou nele como o estereótipo de qualquer mordomo que visse em qualquer filme ou séries antigas.
— Senhorita Towa, por favor se acalme.
— Esse pervertido idiota tocou em mim!
Hibari ajudou ele a levantar e moveu sua mão o dando um tapa na nuca, já imaginava esse exato cenário, mesmo que por toda viagem o tivesse avisado, as diversas experiencias dos dois já a tinham feito se acostumar. Ela se aproximou dela com uma feição calma.
— Senhorita Towa, peço perdão por ele, esse garoto é um idiota.
— Consegui notar, e você também, ao que parece.
Respondeu a loira fazendo a outra ficar confusa sobre a afirmação.
— Deveria tomar conta melhor desse vira-lata, esqueceu a coleira dele quando fez essa franja ridícula?
Hibari apenas suspirou, ela rangeu os dentes enquanto em sua mente seu mais verdadeiro desejo naquele momento era de ir para cima daquela garota, sentimento esse partilhado por Kurumi com ambos se olhando e forçadamente se contendo.
Shizan se moveu passando os dois e indo de encontro a jovem, estava com um sorriso simpático no rosto, já era profissional em lidar com pessoas desse tipo, um grande histórico ao contrário da dupla.
— Eu sou o Deus da morte, assassino número três do ranking de assassinos de aluguel, é um grande prazer conhece-la senhorita Towa — as palavras do homem acalmaram a mulher, ele sabia que teria que medir suas palavras com gente assim, e que inflar o ego da garota iria aliviar os problemas — Eu e meus subordinados vamos escolta-la até o ponto de encontro, porém temos bastante tempo, então pode se despedir se quiser, tome o tempo que desejar.
Ela se manteve intacta, não mostrando reação para tais palavras mesmo que por uma fração de segundo, e o mordomo apenas sorriu a olhando com ela se distanciando dele com seus passos firmes, sem olhar para trás.
— Eu não tenho ninguém, para me despedir.
Kurumi se chocou com tal afirmação, a feição do mordomo junto com a reação inicial o tinha feito pensar que eles possuíam alguma afinidade, mínima que seja, além da cara feição e gestos daquela garota, tanta naturalidade e calma, para alguém que ia morrer em tão pouco tempo? Alguém que estava caminhando para morte e se distanciando de uma vida de fortuna?
Antes que ele pudesse falar ou seguir seus pensamentos ele teve uma mão em seu ombro o chamando e ao olhar era o mordomo que o olhou profundamente nos olhos.
Algum tempo após isso, o grupo já havia saído daquela cidade, já havia anoitecido e faltava um pouco mais de dois dias para a entrega de Towa, eles haviam parado em um centro de piquenique para o jantar, todos estavam juntos em uma mesa com exceção da garota que estava comendo isolada.
Kurumi mesmo comendo não tirou os olhos da garota, sua feição estava pensativa, bem diferente do comum, não era alguém que buscava entender os outros ou ficar pensando tanto, mas aquela garota havia despertado uma curiosidade.
— Ei, que que cê tá pensando aí? — indagou Hibari se aproximando, de fato o ato de ver o garoto quieto a tanto tempo e ainda mais como se estivesse pensando, não era nenhum pouco comum, uma cena inédita para ela.
— Eu não consigo entender ela…
— Relaxa, ela também me da raiva, não tenta entender gente rica.
— Não é isso!
Exclamou fazendo a parceira se calar, estava num ar sério e nunca antes visto nele.
— Essa garota… Ela tem tudo que eu sempre quis… Eu virei assassino, apenas pra ter a minha vida dos sonhos, dinheiro, comida, ela já tem isso, então, por que desistir disso? O que pode levar ela abrir mão dessa vida tão facilmente sem nem mesmo mostrar desconforto ou incomodo?
A indagação dele era profunda, tão profunda que até mesmo fez ela ficar pensativa, estava vendo um lado novo do garoto, embora ela quisesse poder falar algo e o responder, essa era uma pergunta que ela assim como ele não sabia a resposta, outra situação inédita, mas o que menos faltava nessa missão eram tais situações inovadoras.
— Ei! Para de me encarar!
Towa berrou.
— Se não oque? — retrucou, furioso.
Com isso ele se levantou indo até ela, passos fortes e firmes, suas dúvidas se tornando frustração.
— Na boa, oque tem de errado com você, garota?
— Eu queria te fazer a mesma pergunta!
— Ainda não percebeu que tá indo pra morte?! Uma vez que se morre não se volta! Você vai só jogar tudo fora? É tão ingrata com sua própria vida que nem se deu ao trabalho de se despedir da sua família?!
Ele estava com uma chama nos olhos falando aquilo, a cada palavra ela aumentava enquanto a garota não abaixou a cabeça, seguiu firme o olhando.
— Eu não tenho família… — respondeu fria como gelo, não mostrava qualquer sentimento mesmo dizendo palavras tão pesadas, não hesitou ou ao menos mostrou qualquer sentimento dizendo isso. — Meus pais morreram quando eu tinha 5 anos, não conheci meus avôs, nunca tive tios, primos ou irmãos, eu não tenho uma família.
— E quanto ao mordomo?
Tais palavras saíram de forma natural e dessa vez a afetaram, eram como um martelo que havia quebrado a casca da garota que agora mostrou uma feição de leve choque, enquanto tremeu os lábios.
— Vai tratar ele como nada?! Ele te criou não foi? Mas você nem deve ligar, né? Pra você ele é só um empregado qualquer, pouco importa o quanto isso afetaria ele, né?!
O garoto rangeu e prestes a seguir ele foi calado com um soco no estomago, isso o fez parar e ao olhar era Shizan com um olhar sério para ele.
— Já terminou, Kurumi?
O garoto estranhou quando ouviu um som pingando no chão, ao olhar eram lagrimas, lagrimas que caiam dos olhos de Towa. Ela rangeu com sentimentos a mostra e apenas saiu correndo.
Tal visão foi chocante, não apenas para Kurumi mas para todos os demais ali, tirando Shizan.
— Haaa, que confusão… — o homem suspirou, agora voltou para a mesa voltando a beber seu vinho de maça. — Vá atrás dela, Nikkun.
— Que por que eu?
— Porque a culpa disso é inteiramente sua.
Ele rangeu e embora quisesse falar ou discordar sabia que era verdade, bem no fundo tinha noção que havia passado dos limites, e uma leve culpa o fez ir andando na direção que a garota foi.
Em paralelo a isso em outro ambiente bem mais sombrio, distante dali, num cenário tão escuro que até mesmo ver a mão era difícil, um homem foi andando com calmos passos, portava um sobretudo marrom que cobria todo seu corpo do frio daquele lugar, um chapéu com aba que escondia grande parte do rosto apenas dando para ver seus espetados cabelos pretos.
— Você realmente veio? Achei que não fosse vir e ficar vadiando, faz bem mais o seu estilo.
Ele piscava os olhos tentando se adaptar aquela escuridão e em sua frente apenas conseguia ver um vulto alto, difícil de enxergar devido ao breu.
— Tá achando que tá falando com quem? Eu posso te matar agora mesmo se eu quiser.
Era uma voz grave e firme, sério, sem hesitar em dizer tais palavras confiantes, embora não surtissem efeito naquele homem, ele apenas se manteve firme tirando uma pasta de um dos bolsos do sobretudo.
— Pode me matar se quiser, mas quero ver conseguir outra pessoa pra conseguir as missões pra você, ou alguém doido o suficiente pra vazar informações boas do Major.
Ele seguiu calmo jogando o envelope para o vulto que após um breve silencio começou a rir.
— Hahaha! Tatsuta Abura, você é mesmo um arrombado! — ele se abaixou pegando o envelope com sua mão e Tatsuta seguiu piscando tentando se adaptar a escuridão, aquele homem não mostrava dificuldade para enxergar ali, como se fosse natural para ele ficar imerso em tal escuridão. — Que trampo é esse? Mexer com o Deus da Morte? Parece uma missão difícil.
— E então, vai aceitar? Essa missão é bem importante, então eles confiam exclusivamente em você… Número 10 dos assassinos de aluguel… Yami Hakkai.
Tatsuta piscou de novo agora seus olhos se acostumavam a tal escuridão conseguindo ver com perfeição o homem, forte e musculoso com diversas tatuagens nos braços, um curto cabelo preto e uma barba mal feita, uma regata branca levemente surrada e um jeans preto, ele estava sentado numa cadeira com o papel em mãos lendo.
— Vamos esclarecer uma coisa… — Ele seguiu sentado quando seus lábios esboçaram um sorriso — Eu tô pouco me fudendo se essa missão é importante ou não, a única coisa que me interessa é o quanto eu vou receber.