Volume 1 – Arco 4
Capítulo 19: Graça Divina
Um ar tenebroso e sinistro, uma iluminação pesada e escura, um cenário que podia ser visto de forma rotineira em filmes de terror.
Surgindo em meio aquelas sombras, saiu Kurumi, em seu rosto estava seu semblante sádico como de costume, exalava uma aura assassina com um sorriso tão largo que parecia que seu rosto ia rasgar enquanto em sua mão destra segurava Yanagiri.
— Te achei! Achou que poderia fugir? — sua voz era profunda entoando um tom macabro — Achou errado. você já era!
Com um movimento ele disparou sua palma de cima pra baixo com grande força e o resultado sendo uma verdadeira sujeira, tanto sua faca quanto seu rosto ficavam sujos desse liquido vermelho que pingava de seu rosto sádico.
— Dá pra cortar os tomates que nem alguém normal? — disse Hibari, se aproximando.
Ele estava em frente a um monte de tomates, ambos então partiram correndo de lá para cá atendendo uma grande quantidade de pessoas e o rapaz fazia os mais diversos pratos.
Estavam sem missões naquela semana então aproveitaram o tempo para trabalhar, ela que não possuía um emprego fixo apenas intercalando como ajudante para os demais estava sendo apoio ao novo restaurante de Kurumi, “Niku no Kuni”.
Determinado tempo após isso o corpo do garoto cedeu ao chão com um sorriso sentindo todo o cansaço de mais de um dia de trabalho, embora não pudesse e nem queria reclamar.
Hibari virou a placa de aberto para fechado e então se foi até o caixa com um movimento pegando as diversas cédulas e moedas adquiridas com o trabalho daquele dia, a garota passou os dedos pelos ganhos enquanto sua mente trabalhava com os números para contar os lucros. Para alguém como ela que vivia comprando das mais diversas coisas de forma desmoderada, já havia se tornado uma profissional em cálculos financeiros.
— Hmmm, com isso conseguimos um lucro de 2.053.000 ienes.
— Que foda! — respondeu empolgado pensando em todo aquele dinheiro.
— Bem, sim, é um bom lucro, a sua comida chama bastante clientes, entretanto se retirarmos os gastos de luz, água, o preço dos produtos e a minha parte do dinheiro, você lucrou um total de 922.287 ienes.
O garoto apenas concordou com a cabeça fingindo que entendia, era horrível nessas contas, por isso mesmo havia pedido a ajuda da garota.
Ambos se retiraram juntos, andando a uma distância média um do outro com o garoto exibindo um sorriso.
— A vida dos sonhos tá quase lá, só preciso primeiro pagar minha dívida com o Shizan!
— É verdade, você já tá com a gente faz 3 meses, já deve ter conseguido pagar… 3,5 Bilhões da sua dívida.
Ela havia ficado realmente impressionada, aquele valor exorbitante numa velocidade tão curta, desde que havia entrado no ranking mundial de assassinos, uma chuva de missões havia acertado Kurumi, até mais que quando ela mesmo entrou no ranking, não que tal fato fosse algo tão surpreendente para ela.
A dupla havia chegado na mansão, enquanto o garoto estava doido para comer, Hibari queria apenas tomar um banho para lavar o cansaço do dia e cair em repouso na sua cama.
Ambos os seus desejos tinham o mesmo caminho, a cozinha da mansão, mas ao entrarem no lugar eles eram recebidos com a visão de Shizan numa cadeira saboreando sua bebida preferida, vinho de maçã, o qual o mesmo tomava com certa frequência, Shizuki estava caído no chão, espumando pela boca e em um estado de total choque, já Muno chegou bem na frente deles estendendo os braços com uma feição sorridente, similar a uma criança cujos pais acabara de chegar do serviço.
— Bem vindos!
— O que houve com ele? — a garota perguntou.
— Sato-kun teve um susto graças a nossa nova missão. — o loiro respondeu.
— Nova missão?
— Não uma missão qualquer, uma missão que pagará muito bem, nosso maior pagamento até os dias de hoje, iremos ganhar um total de 2 bilhões de ienes.
— 2 Bilhões? Nós já recebemos mais que isso antes, Shizan-san.
Respondeu a garota, de fato, tal quantia era grande, mas para eles que viviam em missões oficiais, tal valor deixava de ser exorbitante para se tornar algo apenas incomum, mas não digno de toda aquela agitação dos dois.
— Ahh, perdão. Me expressei mal.
Respondeu calmo dando um leve gole em seu vinho antes de prosseguir.
— Eu quis dizer, 2 bilhões para cada.
Neste ponto, a simples reação da dupla foi congelar, ambos haviam sido dominados por um choque intenso, seus olhos pareciam explodir de tão arregalados, mesmo Kurumi que não era um exemplar de contas sabia o quão absurdo era tal valor com eles agora conseguindo entender a reação de Shizuki.
— Como isso é possível?! — Hibari indagou, mesmo em todos seus anos como assassina, ela nunca havia sequer ouvido falar de uma missão que tivesse um pagamento tão exorbitante. — Deve ser um erro, né? 10 Bilhões em uma única missão? Mesmo você nunca recebeu tanto de uma única vez!
— É uma missão particular.
Shizan respondeu.
— Missão particular?
Kurumi indagou, mesmo que estivesse mais imerso no mundo de assassino, tais termos ainda eram desconhecidos para ele, sua personalidade era de alguém que não caçava entender essas coisas, apenas improvisar e deixar que Hibari ou outro o ensinasse as coisas quando fosse necessário.
— Todos os alvos de assassinos de aluguel são monitorados pelo Major, ele avalia seu pedido e posta na lista bingo junto com o valor do sucesso da missão, isso são missões públicas, já particulares são ligeiramente diferentes.
Disse Hibari, já imaginava que teria que explicar isso para ele em algum momento.
— Missões particulares são missões destinadas a assassinos específicos, é estritamente proibido tentar se meter na missão particular de outro assassino, além disso os pagamentos são maiores e podem também ser discutidos entre o Assassino e o cliente.
Ele apenas ouvia o que ela dizia, assemelhou aquilo como se fosse o equivalente a escolher um restaurante com base no prato, um restaurante que fosse famoso por um prato especifico podia pedir preços maiores por ele. Isso também o fez entender porque suas missões desde que entrou no ranking havia tido um aumento tão grande de pagamento.
— Essa missão foi pedida por um figurão do governo, um de alta patente chamado “Kaga Yushiro”.
Voltou o homem a falar, Shizan dizia aquilo enquanto seus olhos percorriam a bebida de sua taça, seus olhos mórbidos apenas viajavam, o que estava pensando? Talvez no passado, talvez apreensão para o futuro, ou até um pouco de ambos, eram tantos pensamentos que não dava para se saber, a mente daquele homem era um verdadeiro mistério, até mesmo para ele.
— Bom, de qualquer forma — ele retornou a falar — A missão é simples, tem uma garota que possui um fardo especial, capaz de dar vida eterna para alguém.
— O que? Isso é possível? — Ela indagou.
— Aparentemente sim, eu também fiquei surpreso, o custo para isso é a morte do próprio usuário, um custo e tanto para tal poder.
Neste ponto a garota realmente não sabia o que responder ou pensar, em um momento que ela estava já preparada para ter seu merecido descanso, ela recebeu uma missão que a cada segundo ia ficando mais e mais surreal, fardos são abrangentes, e embora ela mesma tivesse e já tivesse visto fardos com capacidades sobrenaturais, nunca havia visto algo daquele calibre, na verdade ela nunca sequer cogitou que algo dessa magnitude pudesse de fato existir, e seus olhos ficaram para o loiro, sabendo que bem no fundo aquilo havia o chocado tanto quanto ela. Sabia que a figura de Shizan não era do tipo que mostrava emoções fortes, então presumia que apesar de transbordar calma e sutileza por fora, por dentro ele se encontrava em sentimentos intensos, com uma prova sendo a própria bebida que novamente ele goleava.
— Então vamos sequestrar a garota?
Kurumi perguntou.
— Não exatamente, a garota, Towa Hanami, aceitou de bom grado se entregar, nossa missão é apenas escolta-la.
— Que? Sério? Por que ela aceitou se entregar assim pra morrer? — novamente o garoto indagou.
— Eu não sei, não preciso saber e nem você. Não faz parte da missão. De qualquer forma, Hikari-chan, ajuda o Sato-kun, ele precisa estar bem disposto para amanhã.
— Entendido!
Ela foi dando tapas no rosto dele de forma continua na intenção de o fazer despertar.
— Acorda, Sacchan, amanhã nós vamos invadir uma ilha, e sequestrar a filha de uma família de mafiosos!
Os demais apenas ignoravam as falas de Muno, já estavam acostumados com as falas sem sentido dela referente as missões, nisso ela pegou Shizuki pelas pernas e foi correndo com ele o fazendo bater a cabeça diversas vezes contra o chão.
— Já acordei, já acordei!
A dupla riu de leve com aquilo, a presença de Muno pra ambos era como um mascote divertido para aliviar a tensão da vida mórbida de assassino.
— Vocês dois, é melhor se prepararem também, nós cinco partimos amanhã as nove horas.
— Nós cinco?
— Você também vai, Shizan-san? — a garota questionou.
— Vou sim.
O homem se repousou para trás na cadeira esboçando aquela feição pensativa.
Os dois ficavam levemente surpresos, para Kurumi que nunca havia visto Shizan de fato em ação, e Hibari que embora já tivesse participado de diversas missões com ele, ficou chocada pois aquilo realmente não era comum, aquele homem raramente ia em missões assim, ainda mais uma tão trivial como escolta.
Aquele homem seguiu quieto, seus olhos azuis apenas olhavam para o teto, enquanto sua mente confusa estava perdida em diversos pensamentos.
— Eu possuo um interesse particular nessa missão.