Volume 1
Capítulo 5: Caçada
— Alô? Chefe? Aconteceu alguma coisa? — perguntou alguém através do telefone que Rubens segurava.
Porém o diretor nada respondeu. Estava mudo e paralisado diante da presença aterradora de Frederico, que balançava a cabeça da direita para a esquerda, indicando para que ele respondesse “não”.
— Hum… Na-nada, na verdade. A-apenas liguei errado, desculpa…
Rubens olhou para o seminarista, como se esperasse por novas ordens, e Frederico foi ousado. Primeiro, levantou-se, depois pegou o telefone, colocou-o no gancho — assim o desligando — e por fim voltou a se sentar.
Quando pensou que aquilo se tratava de um ato de Deus, soltou um sorriso macabro, pois a caça havia ido até o caçador.
A verdade era que, desde o começo, nosso protagonista já estava de olho em seu diretor, uma vez que, há muito tempo, ouviu um boato de que ele estava envolvido em algum esquema de corrupção e desvio de dinheiro.
E recentemente pôde constatar que era verdade, ao presenciar uma cena inusitada.
Um dia, quando passava pela biblioteca, Frederico viu Rubens e uma outra pessoa da qual não recordava quem era. Ambos seguravam um livro em suas mãos e pareciam tensos, olhavam de um lado para o outro o tempo todo.
Com uma pressa que pareciam estar traficando droga ou algo do tipo, trocaram os livros e os esconderam por baixo de suas roupas. E, então, os dois se despediram e saíram em direções opostas.
Curioso, Frederico em sigilo seguiu o seu diretor. Viu-o, em um determinado trecho de seu caminho, pegar o livro e o beijar em alegria.
No objeto nas mãos dele, o seminarista pôde perceber um marca-página no mínimo estranho. Ele era todo molengo e se assemelhava a uma nota de 100 reais.
Rubens continuou o seu trajeto, mas acidentalmente derrubou o seu livro, revelando o que havia dentro: cédulas e mais cédulas de dinheiro, das mais variadas cores e valores.
Enquanto o diretor com pressa as recolhia e guardava, acreditando que havia ninguém por perto para lhe ver, Frederico acabou encontrando a sua luz no fim do túnel.
Até aí, o seminarista já havia iniciado o seu plano, então não arrastaria seu diretor para o inferno. Mas o usaria como ferramenta para obter a quantia necessária para posteriormente contratar os meus serviços.
Queria eu ter sabido desse acontecimento antes. Assim, poderia ter cobrado mais…
— O-o que você quer?! — perguntou Rubens.
— Ora, nada demais. Apenas uma pequena bonificação, se é que você me entende.
— “Bonificação”?! Pelo quê?
— Por poupar o seu trabalho. Sabe, cedo ou tarde os professores e os alunos que dei sumiço acabariam sendo expulsos pelo mesmo motivo que o senhor está tentando me expulsar neste exato momento.
— Hmpf, ‘tá certo — satirizou. — E com que dinheiro você espera que eu vá te pagar? O salário de diretor de seminário não é tão bom quanto pensa.
— Ah, mas eu sei bem disso. Esperava ser recompensado com o dinheiro do seu outro salário…
— Que “outro salário”?
— Ué, o do esquema de corrupção e desvio de verba em que o senhor participa.
— Ha! Você só pode estar brincando! Eu, diferente de você, sou um cidadão honesto. Você não tem provas de que eu esteja envolvido em algo assim. Até porque elas não existem!
— Ah, mas elas existem! E uma dessas provas acabou de passar por mim e me dar chá de camomila. Diga-me, diretor, sua esposa sabe das joias, do silicone e das cirurgias plásticas que deu para a sua amante? Creio que ela ficaria arrasada… bem como seus filhos…
Os olhos de Rubens se arregalaram, ele havia entrado em choque. Abaixou a cabeça, botou as mãos nela e começou a hiperventilar. Provavelmente, devia ter se tocado de que Frederico tinha um conhecimento a mais que ele não conhecia.
— Quan-quanto você quer? — perguntou em meio às fortes expiradas e inaladas.
— Hm… Ah! Não… não acho que o senhor teria todo esse dinheiro… — zombou o seminarista.
— Ora, não seja ridículo! — o homem de meia idade levantou a voz e desafroxou a sua gravata. Ele estava tão vermelho quanto um tomate. — Dinheiro não é problema para mim! Tenho várias roupas, perfumes e acessórios de grife, bem como carros luxuosos e mansões em países paradisíacos. Então anda logo, faça o seu preço!
O orgulho e ego ferido de seu diretor deixaram nosso protagonista levemente enojado, fazendo que por um instante parasse de encenar.
— Ai, certo. 800 mil reais em cédulas vivas.
Mas hein? Até onde sei, cobrei 500 mil para descobrir o nome completo de um policial que o seguia. Então por que ele pediu trezentos mil a mais do valor que eu havia lhe cobrado?
De qualquer forma, Rubens rangeu os dentes com o preço que lhe foi requisitado. Podia-se ler em sua expressão de que estava irritado com o fato de que um jovem-adulto seminarista estava contando vantagem sobre um adulto e experiente diretor de seminário como ele.
Frederico gostou nem um pouco dessa feição dele, então decidiu brincar um pouco. — Ora, não faça essa cara para mim... Ou você quer acabar igual aos outros?
Um suor frio escorreu pela testa do diretor, fazendo com que suas sobrancelhas se levantassem e desfizessem aquela expressão anterior.
— Você... não me mataria aqui, né? Que-quero dizer, como você pretende se livrar de um corpo dada às circunstâncias atuais?
— Olha, eu não me importo de matar você. “O que é um peido para quem já está cagado”, não é mesmo? E quanto às circunstâncias… bom, eu não teria problema de me livrar de seu corpo, afinal eu fiz um pacto com o diabo e consegui o poder dele.
Rubens arregalou os olhos, em choque com o relato. Frederico, então, começou a explicar como funcionava o meu poder — com algumas mentirinhas aqui e ali que o diretor não precisava saber.
Disse também que o homem de meia idade, ao invés de ir para o círculo da Ganância e Avareza, pecado do qual havia cometido, iria parar diretamente no círculo da Heresia, se fosse arrastado para o inferno.
Ahhh~ Devia admitir que, quando Frederico descreveu como era o círculo da Ganância e Avareza, uma certa saudade e nostalgia do lugar onde eu nasci surgiu em mim. Bons tempos… Tudo que ele falou dela era a mais pura verdade.
— Hã… com licença… está tudo bem aí, chefinho? Os meninos lá da portaria me disseram que você ligou para eles… — uma voz feminina levemente preocupada, provavelmente Rita, interrompeu o sermão do seminarista.
Estranhamente, ela não havia batido à porta igual a última vez, mas falou através dela. Rubens, por outro lado, olhou apavorado para nosso protagonista.
— Anda, diretor, não vai responder, não? — sussurrou. — Seria muito suspeito caso você não fizesse isso…
O homem de meia idade engoliu em seco. Parecia que estava se preparando para fazer besteira, mas, antes que pudesse fazer algo, foi interrompido pelos sussurros de Frederico.
— Ora, não acredita em mim? Pois bem, deixe-a entrar e lhe diga toda a verdade. Será um prazer arrastá-la para o inferno bem na sua frente, porque… agora me lembro de tudo. É ela quem troca os livros cheios de dinheiro com você, não é?
Frente a ameaça, Rubens se segurou e soltou um suspiro. Então, olhou para a porta e respondeu:
— E-está sim. Fui discar para você, para retirar as xícaras que você trouxe, e acidentalmente liguei para eles. Só isso.
— … Posso entrar, então?
— Cla-claro, fique à vontade.
Levou alguns segundos, mas Rita adentrou a sala do diretor com uma bandeja vazia em mãos.
Conforme ela passava pegando as xícaras de chá da mesa, Frederico e Rubens se mantinham em silêncio, sem nem sequer trocar olhares.
Um clima estranho estava acontecendo, e parecendo desconfiada Rita perguntou para o diretor:
— Está tudo certo mesmo?
— Ma-mas é claro que sim! Por que não estaria?
— Humpf, tudo bem. Se precisar de ajuda ou qualquer coisa, é só me chamar.
Rubens assentiu, e Rita olhou Frederico. Após receber um sorriso falso dele, ela se retirou do local, com todas as xícaras em cima da bandeja.
— Muito bem! — congratulou o seminarista. — Vejo que escolheu a resposta certa. Agora, onde estávamos mesmo…
— Tá bom, tá bom, eu aceito a sua proposta. Irei sacar o valor combinado e então marcamos um dia para você pegar o dinheiro.
— Nada disso. Eu estou com uma certa urgência e preciso dele agora.
— Ora! E da onde você espera que eu tire 800 mil reais assim, do nada!?
— Do mesmo lugar que você tira o dinheiro para os seus esquemas de corrupção: no cofre do seminário. Você tem acesso à sala do financeiro, não é mesmo?
— Bom, sim. Ma-mas normalmente eu tiro pequenas quantias de lá. Creio que eles perceberiam se 800 mil sumissem de um dia para o outro…
— Não seja por isso. O senhor disse que sacaria 800 mil para mim, certo? É só cobrir o desfalque com isso e pronto. Ninguém percebe.
Dada a solução, Rubens entrou em pânico. Um desespero arrebatador parecia desolá-lo.
— Não… eu não posso fazer isso… E… e… você não pode me obrigar! Quer dizer… se eu for arrastado para o inferno, você não conseguirá o dinheiro que você tanto quer… não é mesmo?
— Diretor, acalme-se e olhe fundo nos meus olhos.
Frederico apertou o maxilar de Rubens e o forçou a fazer o que ele estava mandando.
— Sua vida vale nada para mim — continuou. — Posso muito bem conseguir o dinheiro de outra forma. E ainda por cima, na melhor das hipóteses, não serei expulso do seminário, coisa que você iria fazer. Se ainda lhe resta dúvidas, lembre-se: tenho Rita como minha refém. Posso muito bem arrastar alguém que merece estar no inferno, por tudo que ela fez com você.
Em um pico de adrenalina, Rubens afastou dele a mão do seminarista e pouco a pouco se recuperou.
— Certo… vamos para a sala do financeiro, então.
Com passos hesitantes e uma certa dificuldade em se movimentar, o diretor saiu do local, acompanhado do seminarista.
Por todo trajeto, Frederico manteve-se atrás de seu alvo, rente a ele, cochichando coisas em seu ouvido como: “Mantenha-se em linha reta.”, “Um movimento errado, e eu te arrasto para o inferno.” e “Diga qualquer coisa suspeita, e esse será o seu fim.”.
Quando finalmente chegaram na sala do financeiro, Rubens foi direto para um quadro grande de uma figura religiosa e o removeu da parede, assim revelando um cofre escondido.
— Hmmm, então é aí onde fica todas as finanças do seminário… Esperto.
Ignorando o comentário de nosso protagonista, o homem de meia idade digitou a senha em um painel digital no cofre e o abriu. Pilhas e mais pilhas de dinheiro estavam ali dentro — fiquei até com água na boca~
— Está aí, pegue o valor que deseja e suma o mais rápido que puder — anunciou o diretor.
— Ora! E você espera que eu carregue no colo 800 mil reais e ande por aí sem mais nem menos? Ajude-me a encontrar algo discreto para que eu possa colocar o dinheiro, pelo menos.
Rubens assentiu, e os dois começaram a revistar a sala do financeiro, quando um objeto pesado acertou a nuca de Frederico.
Ele caiu no chão e, meio grogue, pôde ver a arma do crime, uma maleta, jogada ao seu lado e o culpado, seu diretor, deixando o local e trancando a porta da sala logo em seguida. Após, tudo que podia-se ouvir era um aviso dele em voz alta:
— Rita, chama a polícia! Tem alguém roubando o cofre do financeiro! Eu fechei ele lá dentro!
— Ô droga… — Com uma certa dificuldade, Frederico se levantou e continuou a reclamar. — Até agora nada saiu dos meus planos… Só não esperava apanhar desse jeito… Era realmente necessário ter feito isso, diretor? Eu até te dei abertura e fingi não perceber você colocando o dinheiro na maleta… Você só precisava fugir e chamar a polícia!
O seminarista grunhiu de dor. Ao colocar a mão em seu ferimento, um pouco de sangue manchou seus dedos.
— Tsc, isso talvez me atrapalhe no futuro… Mas agora não tenho tempo a perder! — Frederico pegou a maleta e a colocou em cima de uma mesa. — Narrador, pode vir!
Já era hora! Devido ao pedido, saí de dentro do nosso protagonista e fiquei a sua frente.
Para aqueles que não sabiam, antes mesmo de ir até a sala do diretor, Frederico havia me pago uma certa quantia em dinheiro para que eu o possuísse, mas não controlasse o seu corpo.
De acordo com o seminarista, a minha participação seria crucial para o sucesso de seu plano, então por isso optei por omitir essa informação da minha narração. Queria criar um certo elemento de surpresa. Gostaram? Kikiki.
De qualquer forma, precisava tirar sarro de uma atitude que nosso protagonista havia tomado, então satirizei:
— Olha, pelo visto nós não somos tão diferentes. Lembro-me perfeitamente de ter te cobrado 500 mil reais para descobrir o nome de um dos policiais. Então por que 800 mil? Por acaso a sua cobiça falou mais alto? Kikiki.
— Nada disso. — Frederico abriu as trancas da maleta, e a parte de cima dela se levantou sozinha. — É que, para que meu plano desse certo, eu precisava deixar o diretor em desespero, a ponto de ele tomar decisões idiotas, sem pensar. E também eu tinha algumas exigências para fazer para você, quando fosse descobrir o nome daquele policial...
O seminarista olhou para dentro da maleta e lentamente passou a olhar para o cofre do financeiro, que ainda permanecia aberto e repleto de dinheiro.
— Mas, agora, as coisas acabaram de melhorar. Tenho novas exigências para te fazer… — Kikiki, meu dia de sorte enfim chegou!
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