Volume 1

Capítulo 13: Execução

 

...?

... Ué, cadê? Por que não estou conseguindo acessar as memórias de Frederico?!

Tento mais uma vez e percebo que não só não estou tendo acesso a isso, como também aos seus sentidos, sentimentos, pensamentos…

“O que será que esse desgraçado fez!?”

Abro as asas e olho para cima, para aquilo que nós da oitava vala do oitavo círculo do inferno chamamos de céu. Pretendo tirar satisfação com ele.

Mas… por algum motivo, nenhum vórtice roxo surge. É como se… eu não tivesse mais um contrato com Frederico…

“Não… Não. ISSO NÃO PODE ESTAR ACONTECENDO!!!”

Entro em desespero. Se as coisas continuarem desse jeito, não terei mais narração. Tão pouco história para contar!

— Se acalme, Narrador. Lembre-se de quem és! — falo para mim mesmo. — És um demônio a serviço do Rei Demônio, em uma posição que todos desejariam ter. Era para os patéticos humanos se desesperarem por sua causa, e não o oposto!

Estapeio-me. Ai, por que eu fiz isso? Bom, de qualquer forma, ajudou-me. Sinto-me mais calmo.

Agora, preciso friamente analisar a situação em que me encontro e calcular os meus próximos passos. 

Há duas possibilidades do que pode ter acontecido: ou Frederico morreu ou… alguém cortou seus laços comigo.

Não acredito que meu contratante tenha batido as botas, senão saberia, ele teria vindo parar na vala onde atuo. Logo o que sobra…

“AQUELE SEM-VERGONHA NÃO AGUENTOU A PRESSÃO E SE ENTREGOU PARA O BISPO!!!”

Não, isso não parece estar certo… Desistir de seus objetivos, isso não é da índole do meu protagonista. 

Algo deve ter acontecido envolvendo aquele Agostinho baba-ovo de anjo, que não sei o que é. Mas que irei descobrir. 

Tenho uma ideia de como voltar para o mundo humano, então sigo até o Rio Flegetonte e chamo a morte, que me leva de barco até o covil do Rei demônio, no nono e último círculo do inferno.

Ao chegar lá, sou recebido com olhares de animação pelos demônios da espécie Superbia presentes no local. A euforia deles é tanta — mas contida, por serem deveras orgulhosos — que até o Rei Demônio entra nessa onda assim que me vê.

ESCRITOR! QUE BOM TE VER AQUI! — exclamam suas três cabeças em uníssono.

Ah, que sentimento bom é esse sempre que boto meus pés aqui~ Sempre escrevi histórias para o Rei Demônio, mas nunca tive um tratamento como esse. 

Muitos ignorantes taxavam elas como medianas, beirando o ruim, porém tudo mudou com a escrita desta novel aqui. 

Tornei-me uma celebridade. Alguém que as fazem esquecer, mesmo que por um instante, de suas vidinhas miseráveis. Uma figura admirada, como um pai — o que não é difícil, já que demônios nascem do acúmulo de energia negativa, sem a necessidade da copulação de um macho e uma fêmea.

— NÃO LEMBRO DE PEDIR PARA CHAMAREM VOCÊ PARA LER O PRÓXIMO CAPÍTULO PARA MIM… — comenta uma das três cabeças do imponente Rei Demônio à minha frente. 

De joelhos, encontro-me curvado perante a sua presença. Aquele cujas descrições acima não se encaixam. Aos seus olhos, não passo de um mero peão em seu grande tabuleiro de xadrez.

Vivo para servi-lo e claramente não estou falando isso porque depois terei que ler este capítulo para Vossa Majestade…

Mas tudo bem — conclui outra de suas cabeças. — Já que estás aqui, acredito que tenha terminado o próximo capítulo.

E em boa hora, diga-se de passagem — continua a última cabeça. — Para ser honesto, estava começando a ficar entediado… Mas isso não importa mais. Por favor, compartilhe comigo a continuação que você escreveu. 

Ah, bom… como posso dizer isso para ele…? — Peço desculpas de antemão, Vossa Majestade, mas infelizmente não concluí o próximo capítulo. Como pode ver neste exato momento, eu sigo escrevendo ele. Na verdade, o motivo de minha visita é porque gostaria de lhe fazer um pedido referente à história que estou lhe contando.

Seus rostos se fecharam — imagino, já que não consigo ver suas faces —, e o Rei Demônio se ajeitou em seu trono, deixando-o com uma postura assustadora.

PROSSIGA — ordenou as três cabeças em uníssono. 

Está tudo bem, Narrador, é só contar a mentira que você inventou no caminho para cá! — Preparei uma surpresa para esse próximo capítulo e gostaria de contar com vossa ajuda. Poderia eu escalar vossas costas para alcançar o mundo humano?

Como se fossem uma, as três cabeças do Rei Demônio arquearam as sobrancelhas em dúvida. 

HMMMM, CURIOSO… POR QUE VOCÊ SIMPLESMENTE NÃO ABRE UM PORTAL, VOA ATRAVÉS DELE E SURGE AO LADO DO SEU CONTRATANTE, COMO SEMPRE FEZ? — Seus olhos se semicerraram… acho. — HOUVE ALGUM PROBLEMA?

Droga, esqueci-me de pensar em uma resposta para isso! O que responder… — Bo-bom, é-é que essa é uma surpresa até para o meu protagonista. E-ele não pode saber…

O Rei Demônio apoia seu cotovelo no braço de seu trono e repousa a lateral do queixo do meio em seu punho fechado.

Cruza as pernas e, com certo ceticismo em sua voz, pergunta: — É MESMO? E O QUE SERIA ESSA TAL “SURPRESA” QUE NEM MESMO O PERSONAGEM PRINCIPAL DA SUA OBRA PODE SABER? 

Merda, será mais difícil enganar o Rei Demônio do que pensei. Terei que apelar! — Eu… até posso te falar, mas seria, com todo respeito, broxante quando eu ler o capítulo concluído e tal elemento aparecer. Vossa Majestade perderia todo aquele sentimento que uma boa surpresa trás.

— AH!

Sim.

Bom…

O Rei Demônio recua e permanece pensativo. Será que minha desculpa deu certo?

ESTÁ BEM — Vossa Majestade se recompôs —, PERMITIREI QUE VOCÊ VÁ ATÉ O MUNDO HUMANO ATRAVÉS DAS MINHAS COSTAS.

— Ah! Mu-muito obrigado! Se-se me permite fazer mais um pedido… O-O lugar onde surgimos por meio desse método é um tanto aleatório… Te-teria como eu ir parar na cidade onde meu protagonista mora?

ESTÁ EXIGINDO DEMAIS PARA QUEM EU DISSE ANTERIORMENTE QUE NÃO IRIA MAIS SUBIR NAS MINHAS COSTAS!!! — Meu corpo todo treme. — MAS, COMO ESTAMOS FALANDO DA SUA HISTÓRIA, POSSO QUEBRAR UM GALHO PARA VOCÊ…

Com o coração na garganta — modo de falar, demônios não possuem um —, agradeço, e o Rei Demônio vira-se de costas para mim. Respeitosamente, levanto-me e as escalo. 

 

***

 

Depois de um tempo, surgi no mundo humano. Encontrava-me em uma espécie de estabelecimento comercial abandonado. Ao redor, havia pichações, cápsulas de droga e crianças em situação de rua.

Saí do local e me deparei com uma placa. Nele, continha o nome da rua onde estava. Não demorou muito para associar que eu me localizava no bairro mais pobre e negligenciado da cidade onde Frederico morava!

Soltei pulinhos de alegria e então abri minha asas. Voei à noroeste, para onde ficava a igreja em que nosso protagonista exercia a profissão de padre.

No entanto, em pleno voo, algo aconteceu. — Ai!

Quando estava próximo do perímetro da paróquia, bati em alguma coisa e despenquei no chão.

Levantei-me e limpei a poeira das minhas vestes. A queda não tinha me machucado — nada neste plano terreno conseguiria —, mas aquilo que eu havia esbarrado enquanto voava… sim.

Olhei para cima, para o lado, para todas as direções possíveis, e encontrei nada que justificasse essa dor que senti. Logo me restava apenas uma explicação lógica.

Estiquei meu braço, e minha mão tocou em uma espécie de superfície gelatinosa e invisível. A princípio, era sólida e causava uma certa ardência, mas com um pouquinho de força conseguia atravessar ela e… AH!

Instintivamente, afastei-me, como um humano quando encosta em fogo, e assoprei minha mão. Quando o susto passou, olhei-a e pude observar o estrago causado pela minha curiosidade. 

Bolhas e queimaduras graves residiam nela, e a carne de dois dedos havia sido derretida, deixando para trás só os ossos. 

Calma e lentamente, minha mão ia se regenerando. O que era incomum, já que a recuperação dos demônios costumava ser bem rápida.

Tendo isso em mente, bem como um pouco de conhecimento prévio, não me restava dúvidas: diante de mim havia uma barreira divina.

Elas eram comuns em certos centros religiosos e lares de fiéis e serviam para repelir demônios e energias negativas. 

Em suma, eu podia perambular por qualquer parte do mundo humano, menos nesses lugares protegidos por essas barreiras. Claro, havia exceções, como entrar neles se próximo ou dentro de um contratante.

Mas, desde o princípio, NÃO DEVERIA EXISTIR UMA DESSAS ENVOLTA DESSE LOCAL, PORQUE É FREDERICO QUEM ESTÁ EM PROCESSO DE LIDERANÇA DESSA IGREJA!!!

Revoltado, dei um chute na barreira e me arrependi no mesmo instante. Peguei o pé que efetuou o golpe e comecei a assoprá-lo, enquanto pulava para manter o equilíbrio.

Foi então, quando a dor passou, que meus olhos pousaram em algumas pitadas de um pó branco no chão, que, formando uma longa linha, rodeavam todo o perímetro da paróquia.

“Cocaína? Açúcar? Não, aposto que é sal… Isso deve ser coisa daquele bispo de araque e sua equipe, certeza!”, deduzi, e um amargor preencheu o meu ser no mesmo instante, pois aquilo não se tratava mais de uma barreira divina natural, mas de uma artificial!

Naquele momento, não conseguia tirar da cabeça que algo que eu tanto temia realmente viria a acontecer: Frederico havia desistido e se entregado. 

“Acalme-se, Narrador, acalme-se… Tu não juntastes todas as peças do quebra-cabeça ainda…”, tentava me convencer, mas então o indiscutível rangido do portão principal da igreja sendo aberto soou, podendo ser escutado até mesmo de onde estava.

Virei a esquina e pude testemunhar a prova irrefutável de que o que pensava era verdade. Frederico se encontrava sendo escoltado pelo bispo e sua equipe, tal qual uma celebridade rodeada pelos seus guarda-costas. 

Uma sensação agridoce de raiva e medo percorreu o meu corpo. Desde o momento em que vi Agostinho pela primeira vez, passei a desprezá-lo. Seja por ser humano, seja por exercer uma profissão que servia apenas para me atrapalhar e, ilusoriamente, me subjugar.

Mas agora era pessoal, passaria a vê-lo como um inimigo. Quem ele pensava que era para se intrometer na minha história, para encerrá-la assim, de forma tão abrupta!? 

Minha estrutura de enredo foi para o espaço e escrevi tão poucas palavras que nem poderia chamar tudo que escrevi até agora de “volume”. Sequer de novel

Tu me pagas!” 

Com isso em mente, corri em direção ao bispo. Quando ia avançar nele, porém, olhei para Frederico.

Seus olhos estavam arregalados, e sua pele, pálida. Sutilmente, balançou a cabeça, sinalizando um “não” — mais precisamente um “não, não faça isso!” —, e eu, por algum motivo, me escondi. 

Não sabia exatamente o quê, mas algo me dizia para confiar nele, pois algo de estranho estava acontecendo.

— Hum? O que foi? — perguntou o desgraçado, vulgo bispo.

— Ah, nada de mais. Apenas achei que havia visto algo... — respondeu o padre. — Vamos indo?

De soslaio, vi que, após dizer isso, nosso protagonista entrou em uma van branca à sua frente. 

Em seguida, Agostinho olhou para adiante, o local onde Frederico havia olhado anteriormente, o local onde eu estava, e voltei a me ocultar.

Aguardei por um momento e escutei o som do portão principal se fechando, bem como o da porta daquela van fazendo a mesma coisa.

Voltei a espiar e então pude observar o veículo indo embora, com Frederico, o bispo e — provavelmente — sua equipe dentro dele.

Curioso para saber do que isso se tratava — mais para saber o desfecho mesmo — saí de meu esconderijo, abri minhas asas e furtivamente, do céu, comecei a acompanhá-los.

Algum tempo se passou. Eles rondaram a cidade, afastando-se cada vez mais do Centro, e estacionaram dentro de uma casa na zona rural.

Esperei um pouco para que as coisas se acalmassem, para que Frederico, Agostinho e sua equipe se dispersassem, e então me aproximei do perímetro.

A primeira coisa que fiz, por me lembrar do que aconteceu na igreja, foi esticar o braço e com cautela procurar alguma barreira divina. Mas, por incrível que pareça, constatei que não havia uma dessas ao redor daquele local.

Logo, procurei por um lugar para poder entrar, um que poderia ficar escondido e, ao mesmo tempo, conseguisse vigiar a movimentação deles.

Foi então que, do lado de fora, encontrei uma janela. Ficava no alto, precisava voar para alcançá-la, seu vidro não se mexia — mesmo com esforço, talvez só pudesse ser aberta por dentro — e era tão pequena que eu ou qualquer adulto não poderia passar por ela. 

Não que eu quisesse, pois, do outro lado, em uma espécie de sala, conseguia ver perfeitamente o bispo reunido com a sua equipe. Todos observavam a tela de um monitor. 

Nela, era exibido a imagem de Frederico através de uma câmera 24h. Nosso protagonista se encontrava em um quarto branco e simples, sem janelas ou estímulos visuais. Sua única forma de sair de lá era através de uma porta muito protegida por trancas e mais trancas e um sistema bem elaborado de cadeados.

— Vossa Excelência Reverendíssima, até aqui, fizemos tudo o que pediu, sem questionar suas ordens. Mas isso que está fazendo… poderia explicar para gente o por quê? — pediu um dos integrantes da equipe, rompendo o silêncio desconfortável do local.

Ele, bem como todos os outros, possuía uma expressão de incômodo estampada em seu rosto. Agostinho suspirou, creio que ele percebeu isso.

— Eu entendo que os senhores devem estar se sentindo mal pela situação em que nos encontramos. Acreditem, também estou, mas devo lembrá-los que o que estamos passando aqui hoje é para um bem maior, por tudo que é mais sagrado. 

— Prender o suspeito principal assim… — murmurou outro integrante. Dimitri o nome dele, se não me engano. — Não é um pouco exagerado? Sem querer contrariar as suas decisões…

— Não se preocupe, antes de tudo eu pedi permissão para Frederico, e ele concedeu. Jamais faria algo à força, sem o consentimento de alguém. — A equipe suspirou aliviada. — E, sim, seria exagero, se eu não estivesse convicto de que o homem ali dentro é o Mártir.

Todos arregalaram os olhos e abriram a boca, surpresos. — Vo-vossa Excelência Reverendíssima está certo disso?! Se-se sim, po-poderia nos dizer quanto??? — Soryu, acredito que seja ele, foi o primeiro a externalizar o choque que todos sentiam.

— Quinze por cento. 

— Só? Mas… isso é muito pouco… — comentou um outro membro da equipe.

— Eu sei. Devo lembrá-los que nós não terminamos de fazer todas as visitas, então minha certeza é baseada nas armadilhas que plantei no meio do caminho, nos lugares que visitamos, no pouco que vi de Frederico e, principalmente, em uma sensação que tive na primeira vez que o vi.

— Uma sensação…? — Dimitri indagou, fazendo com que todo o grupo se entreolhasse. — Então o que estamos fazendo aqui hoje seria equivalente a uma aposta? Com todo respeito.

— Pode-se dizer que sim. O plano que estamos executando aqui hoje tem uma pequena chance de dar certo, provando assim a minha convicção, e uma grande chance de dar terrivelmente errado, afastando qualquer hipótese minha atual de nossa linha investigativa.

— Compreendo… — assentiu um dos integrantes do grupo de cavalheiros. — Então, por favor, poderia compartilhar conosco o que andas planejando?

— Mas é claro! Por onde começo…

Logo, Agostinho iniciou sua explicação. Disse que, após conseguir a autorização de Frederico, lançou uma bênção temporária nele, assim repelindo dele qualquer energia maligna. 

Caso o padre fosse o Mártir, seu grande demônio, curioso, viria ao mundo humano para tentar entender o que havia acontecido com o seu contratante.

Por isso, pediu para sua equipe colocar uma proteção artificial em volta da igreja. Pois, se Frederico fosse o Mártir, a barreira divina, tão natural à casa do Senhor, não existiria.

Logo, se o grande demônio fosse até lá, atrás de seu contratante, e se deparasse com ela, ficaria irritado, achando que havia sido enganado, e procuraria o padre com mais afinco.

Odiava ter que dizer isso, ainda mais para um reles humano, mas meu desprezo por Agostinho caiu consideravelmente. Quase mordi a sua isca e arruinei tudo. 

Era assustador pensar que seguia exatamente os passos que ele havia planejado que eu seguisse. Então era assim que as vítimas de Fredericos se sentiam?

Seja como for, não estava mais com raiva. Não iria mais botar tudo a perder. A partir de agora, manteria cautela mediante ao bispo e não seguiria os passos premeditados pelo seu plano, já que sabia sobre eles.

— Os motivos por trás de termos confinado Reverendo Senhor Padre em um canto isolado da sociedade — continuou o bispo — são bem óbvios: para monitorarmos seus movimentos, à procura de atitudes suspeitas, e para vermos se nesse meio tempo alguém morreria pelo Mártir ou não.

Agostinho por fim conclui, dizendo que, enquanto sua equipe vigiaria Frederico em turnos, através do monitor, ele o observaria de perto, lá dentro do quarto.

— Perguntas? 

— E quanto às visitas a outras igrejas? — perguntou Soryu.

— Serão pausadas por tempo indeterminado. Já avisei os líderes das paróquias sobre isso, então não se preocupem.

— Que lugar é este em que estamos, para ter um quarto com equipamentos como aqueles? Como conseguiu ele? — interrogou Dimitri.

— Para ajudar com a captura desse grande demônio, um Reverendo Padre, que conheci em uma de nossas visitas, emprestou para nós o seu sítio. Aquele quarto, bem como todos esses equipamentos, foram pedidos meus acatados e concedidos por esse benfeitor.

Todos pareciam levemente surpresos, e eu até imaginava o porquê. Quando foi que isso tudo aconteceu? Há quanto tempo ele preparava essa armadilha?!

Por fim, o bispo perguntou se mais alguém tinha alguma dúvida, e o grupo respondeu que não.

— Ótimo, então irei dar prosseguimento ao plano.

Agostinho se dirigiu para o cômodo em que Frederico estava e destrancou a porta. Mas antes de efetivamente entrar no local, virou-se para sua equipe e comentou:

— Ah, sim, já ia me esquecendo. Mais uma coisa: se eu morrer ou se um demônio aparecer aqui, Frederico é o Mártir. Entenderam?

Alguns membros do grupo engoliram em seco e outros, nervosos, assentiram. Devem ter compreendido mais ou menos a gravidade da situação em que se encontravam.

Logo, o bispo entrou no quarto, e Dimitri trancou a porta novamente.

A partir daqui, a equipe passou horas, senão dias, monitorando os dois. Agostinho ia, vinha, às vezes conversava com eles, levava comida para Frederico, mas nada além disso.

“Afff… que tédio.”

Em uma noite, enquanto via, pelo monitor, os dois conversando dentro daquele quarto, pensei seriamente em desistir de Frederico.

Que se dane a estrutura da história! Nada acontecia, ninguém se mexia, estava tudo tão chato… E, obviamente, nesse meio tempo o Mártir fazia nenhuma vítima, então sem pessoas arrastadas para o inferno.

Para mim, aqui acabou. Frederico seria pego, não tinha como ele matar alguém sob tanta vigilância e duvidava muito que ele havia preparado algo para provar sua inocência. Que, no caso, seria matar alguém e fazer o Mártir reivindicar essa morte.

Quando estava prestes a encerrar nosso contrato, porém, algo inusitado aconteceu em uma televisãozinha que ficava ao lado do monitor e que a equipe utilizava para assistir alguns programas, ao mesmo tempo que faziam suas funções de vigia.

Em um dos maiores telejornais ao vivo da região, em uma importante emissora local, seu âncora começou a parecer extremamente desconfortável. Ele desafrochou a gravata, começou a arfar e seu rosto ficou rosa.

Logo, o som audível de algo estourando. O homem deu um pequeno salto na cadeira e então caiu duro na mesa, morto, com um semblante pervertido no rosto, digno de um demônio da espécie Luxuria.

Nessa hora, a equipe empalideceu-se. Alguém pediu para chamarem o bispo, e Soryu o chamou.

Quando Agostinho chegou, viu uma imagem estática do Mártir na TV, no telejornal, e uma voz mecânica parecida com a dele fez um pronunciamento.

— Lembraram, lembraram de como é o mundo sem a minha intervenção? Crueldade, violência e injustiça, quantas muitas vezes viram notícias assim aqui?

“Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Não vejo por que se esquecerem disso.

“Me despeço agora com um lembrete de que há alguém olhando por vós. Eu estarei voltando à ativa.”

A transmissão se encerrou abruptamente; apenas a estática da televisão restou. 

O aparelho foi desligado. Agostinho e sua equipe estavam incrédulos, provavelmente horrorizados com o que viram.

Eu, por outro lado, fiquei intrigado. Aquilo que presenciei de longe era o meu poder, o poder do Mártir. Então... quem poderia ter feito isso?


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