Volume 1

Capítulo 11: Mártir

 

Meses se passaram desde o “Incidente do Mundo Novo”, como ficou conhecido em todo território nacional. E internacional, tendo em vista que o ocorrido foi noticiado em alguns jornais e veículos de comunicação estrangeiros.

A sociedade brasileira, em sua superfície, mantinha-se a mesma, mas em sua essência havia mudado bastante.

Tal mudança, porém, só era possível ser vista por meio da internet, através das redes sociais, fóruns de discussão e sites criados voltados para ajudar o Mártir ou a adorá-lo.

Frederico, por curiosidade, já visitou algumas dessas páginas, mas nunca as utilizou. 

Ficava feliz por existir lugares onde as pessoas publicavam nomes e fotos de pecadores que deveriam ser punidos. “Mas quem poderia assegurar a veracidade dessas informações? E se alguém mal-intencionado colocasse um inocente lá, para me usar como ferramenta de assassinato?”, era o que ele pensava.

Quanto aos sites destinados a venerá-lo, esses considerava contraditórios. “Adorar somente a Deus. O Mártir não passa de um instrumento Dele, não deveria ser exaltado. Se eu tivesse os nomes dos organizadores e frequentadores dessas páginas, que agora não passam de meros pecadores…” Nada faria, pois tinha outras preocupações no momento.

Nosso protagonista havia sido transferido para a mais importante igreja de sua cidade e atualmente se encontrava em fase de treinamento pelo antigo líder do local, o padre que ele iria substituir.

Porém, um dia, a diocese da cidade realizou um comunicado convocando os líderes religiosos de todas as paróquias do município, para uma reunião a respeito do Mártir.

Frederico não pôde deixar de achar essa atitude um pouco estranha. Suspeita, até, pois as autoridades continuavam atrás dele, uma vez que ele seguia punindo pecadores.

Elas reconheciam a complexidade do caso e a genialidade e meticulosidade do Mártir, no entanto mantinham-se céticas.

Acreditavam que tudo não passava de um truque, apesar das milhões de testemunhas oculares que viram a transmissão de fim de ano e das centenas que presenciaram o arrastamento para o inferno de alguém próximo delas.

“A investigação continua em andamento, mas segue sem colher frutos, acredito eu, já que ninguém veio até mim para me interrogar ou prender. Mas não devo achar que estou tranquilo. Não posso me esquecer que minhas ações trazem consequências…”

Frederico não desejava ir até a reunião, mas ponderou por um instante e não viu outra alternativa a não ser acompanhar o antigo líder de sua paróquia, para ver o que aconteceria nela.

De carro, os dois seguiram, até pararem em frente a um velho casarão de dois andares, com símbolos religiosos e um lindo jardim frontal.

— Chegamos — anunciou o padre que Frederico acompanhava.

Ambos desceram do veículo e caminharam até a entrada principal da diocese. No entanto, no meio do caminho, nosso protagonista parou para admirar a vegetação que rodeava o local.

Foi então que ele viu ao longe um homem grande e forte, de olhos castanho-claros e cabelo branco como sua pele, alimentando pássaros e alguns animais pequenos à sua volta. 

Folhas caíam ao seu entorno, e a luz do sol refletia a sua imagem, tornando-a quase angelical.

— Ei, o que você está fazendo? Não fique aí parado, vamos logo! — apressou o padre que acompanhava, ao perceber a sua distração.

— Hã?... Ah! Ah, sim, me desculpe…

Frederico apertou o passo, e juntos, então, adentraram o velho casarão de dois andares. 

Dirigiram-se à grande sala de reuniões e, ao chegarem, os dois se depararam com algo parecido a uma sala de cinema. 

O espaço não possuía janelas ou qualquer entrada que possibilitasse a saída de luz ou que permitisse visualizar o lado de fora.

Mas era bem iluminado e amplo, com uma escadaria que levava até a última fileira de assentos.

Dispostos neles, estavam uma multidão de padres e, à frente deles, havia uma telona e um palanque de madeira em cima de um palco.

Sem pensar duas vezes, Frederico e o padre que acompanhava acabaram se sentando nos lugares mais ao fundo e aguardaram em silêncio em meio à barulheira que os demais religiosos faziam.

Tal falatório, porém, só se encerrou quando um bispo, acompanhado de onze outros religiosos encapuzados, entrou no recinto, subiu ao palco e ficou de frente ao palanque.

Frederico ficou surpreso. Aquele diante de ti nada mais era que o homem que ele havia visto mais cedo.

— Boa noite, Reverendos Padres! — cumprimentou a multidão, mas ela permaneceu em silêncio. — Certo… vamos tentar de novo. Boa noite, Reverendos Padres!

— Boa noite… — alguns responderam, em um tom fraco e sem graça.

— Hm… isso ainda não está legal… Cadê a animação? Hoje é sábado, amanhã os senhores terão que acordar cedinho para realizar uma missa em celebração ao nosso bom Senhor. Isso não é uma coisa boa?

Alguns da plateia abriram um sorriso e concordaram com o que foi comentado.

— Sei que podem fazer muito melhor do que isso, então vamos lá. Boa noite, Reverendos Padres!

— BOA NOITE, REVERENDÍSSIMO SENHOR D. AGOSTINHO ROSSI!!! — desejaram em uníssono. A sala de outrora agora vibrava em energia e euforia.

— Ah, agora sim, muito bem… Como estão?

Por educação, todos disseram que estavam bem ou “melhor agora com a sua presença” — puxa-sacos. 

— Ótimo, ótimo, Meu coração transborda em alegria em ouvir isso. — Em seu rosto, para minha surpresa, uma legítima expressão de felicidade. — Primeiramente, gostaria de agradecer pela presença ilustre dos senhores. 

“Sei que muitos possuem uma vida agitada, então fico realmente agradecido por acharem ou reservarem um dia em vossas agendas, ou até mesmo cancelarem um compromisso, só para estarem aqui hoje. De verdade, obrigado.

“Agora, sem mais delongas, irei iniciar a reunião, dizendo aos senhores o verdadeiro motivo de tê-los convocado esta noite.”

O clima do ambiente mudou de repente. Tensão pairava no ar. Assim como Frederico, muitos ficaram na ponta de suas cadeiras, prestando muita atenção no que seria dito.

— Sua Santidade, o Papa, foi agraciado com a visita de um anjo, em um sonho seu.

Os padres no local ficaram todos em êxtase, maravilhados com essa boa notícia. Nosso protagonista também… mas apenas em sua superfície. Em seu interior, ele sentia um pouco de medo, e eu não o podia culpar por isso.

Anjos, apesar de interferirem indiretamente no cotidiano humano, supostamente, eram mais fortes do que nós, demônios.

Eles tinham asas de ave, auréolas e uma beleza delicada, emanando forte brilho, e agiam de forma indiferente com os humanos. Não se acham inferiores, superiores nem iguais a eles. 

No entanto os viam como possíveis mensageiros da paz, da esperança, da palavra de Deus e da salvação. Então, por livre e espontânea vontade, protegiam religiosos e pessoas boas.

— E tal anjo — continuou o bispo — veio com um alerta e um pedido. Disse que um grande demônio havia sido libertado no Brasil, mais especificamente aqui na região do Vale do Paraíba, e pediu para que ele o detivesse.

O medo de Frederico se intensificou. “Droga, isso pode ser apenas uma mera coincidência. Mas… será que o anjo se referia ao Narrador?!” Tomara. Ficaria extremamente contente se fosse reconhecido pela galera lá de cima, como alguém forte~

— Logo, Sua Santidade mobilizou alguns grupos de funcionários do Vaticano e os enviou para cada diocese da região, para investigar o paradeiro desse ser das trevas. Dito isso, gostaria de apresentar os cavalheiros que me ajudarão com essa responsabilidade.

À medida que seus nomes eram apresentados, de um em um, os religiosos — que se encontravam atrás do Bispo — tiravam seus capuzes e revelavam seus rostos. 

Enquanto o público os olhava com certa admiração no olhar, o medo de Frederico estranhamente diminuía, até não sobrar mais. O que isso poderia ser?

— Os cavalheiros aqui presentes, por saberem latim, uma das línguas oficiais do Vaticano, falam muito bem o nosso português. Pude atestar isso quando conversamos um pouco antes, a respeito dessa investigação. E curiosamente chegamos a uma conclusão. Dado aos acontecimentos recentes, suspeitamos que esse grande demônio tenha alguma ligação com o Mártir.

A plateia ficou em um misto de choque e surpresa. Frederico, por outro lado, teve uma recaída. Seu coração começou a bater mais rápido, um suor frio escorria de sua testa e em sua cabeça um único pensamento:

“Ó, Deus, por que permitistes que fizessem isso comigo? Já não sabes que estou ao teu lado, que tudo que faço é por ti?”

Ele se forçou ao máximo para não deixar transparecer o seu estado interior, mas não conseguia fazer com que sua perna parasse de tremer.

— Mas acalmem-se, que não é só isso — declarou o padre. — Antes de partir, o anjo disse algo para Sua Santidade: “Cuidado com o lobo na pele de cordeiro, pois foi este quem liberou esse grande demônio no mundo”. Então, levando em conta essa afirmação e ao discurso realizado no Incidente do Mundo Novo, faz sentido acharmos que o Mártir é um líder religioso que trabalha na casa de Deus. Ou seja, é possível que um dos senhores presentes aqui hoje seja ele.

O público ficou indignado. Elevaram a voz e se rebelaram.

— Peço desculpas se a nossa dedução ofendeu vocês. De verdade, essa não é a minha intenção. Porém devo ressaltar que eu não afirmei, acusei ou culpei alguém. Disse que há a possibilidade. E, por ela existir, gostaria de visitar, com a minha equipe, as igrejas dos senhores.

A revolta dos participantes continuou e os gritos de protesto se intensificaram.

— Isso é um absurdo! — declarou um velho padre em pé, que se apoiava sobre uma bengala. — Estou há anos a serviço do Senhor, e nunca vi uma atitude tão antiética quanto essa. Vão mesmo criar esse clima de desconfiança em nós?!

A plateia concordou com ele, e o bispo logo teve que se explicar: — Jamais. Tanto é que nós apenas iremos às igrejas em que o líder pároco permita a nossa visita. Essa é uma decisão de vocês, logo quem se voluntaria para ter a sua paróquia sendo visitada por mim e minha equipe?

Os ânimos do público se acalmaram. Entretanto ninguém dizia nada, apenas olhavam um para o outro.

— Vamos lá, eu preciso de voluntários…

Um silêncio ensurdecedor havia se instaurado. Um onde podia-se ouvir tossidas e pessoas se coçando.

— Pelo menos uma pessoa…

— Eu me ofereço! 

Para a surpresa de todos, um homem na última fileira de assentos havia ficado de pé e levantado a mão. Até mesmo o padre ao seu lado não parecia acreditar no que acabara ocorrer.

— Ah, maravilha! Obrigado. — O Bispo pôs a mão em cima dos olhos, para conseguir enxergar melhor aquele que havia se voluntariado. — Nossa, como é jovem! Poderia me dizer seu nome, por gentileza?

— Mas é claro. — Ele colocou a mão em seu peito, em seu coração. — Me chamo Frederico de Melo.

— Ah, sim. Prazer em conhecê-lo.

 

***

 

Após se oferecer para a visita do bispo e de sua equipe, nosso protagonista provocou um efeito manada onde padres e mais padres criavam coragem e se voluntariavam.

No fim, Agostinho acabou com uma looooonga fila de visita. Porém, para ser justo, comentou que faria as realizaria de acordo com a ordem que os religiosos se voluntariaram. Logo Frederico seria o primeiro.

Quando a data marcada para a visita do bispo e de sua equipe chegou, surgi ao de nosso protagonista. Estava curioso acerca da decisão tomada por ele e de suas intenções ocultas por trás dela.

— Olá, Frederico, há quanto tempo…

— Narrador? — Ele me olhou surpreso, enquanto arrumava sua igreja. — O que faz aqui? Achei que demônios não podiam entrar na casa de Deus.

— Ah, isso? Não se preocupe. Desde que eu esteja ao seu lado, nada me fará mal. Além do mais… conquanto você for o líder deste lugar, ela jamais poderá ser chamada de “casa de Deus”... kikiki.

— Hmpf, besteira! Não sei do que você está falando. — Irritado, preferiu desconversar e se fazer de desentendido. — Mas então, o que veio fazer aqui?

— Soube que você iria receber uma visita importante hoje, um grupo investigando o Mártir. Você sabe que religiosos têm mais chances de te capturar, por saber sobre a existência de demônios e afins, não é mesmo? Então me pergunto o motivo de você ter se voluntariado a ser investigado. Não era melhor ter ficado calado?

— Mas é óbvio que eu sei. E a resposta para eu não ter ficado quieto é bem simples e óbvia, na verdade. Meu objetivo é tirar as suspeitas de cima de mim. Então, de antemão, me ofereci à visita, para demonstrar que apoio a causa e que não tenho nada a esconder. Tudo que farei hoje é “vestir uma máscara”, serei o mais agradável possível para não acharem que eu sou o Mártir. Daí, quando não encontrarem nada aqui, vão simplesmente ir embora, não encontrar nada nas outras paróquias e vai ficar por isso mesmo.

— Ué, não irá arrastá-los para o inferno?

— Claro que não. Apenas faço isso com os religiosos corruptos que desvirtuaram do caminho de Deus. Pesquisei um pouco a respeito do bispo Agostinho e seu grupo, e não achei nenhum envolvimento deles em qualquer polêmica. Parecem sujeitos decentes e honestos. Irei fazer nada contra, são exemplos a serem seguidos.

— Mas… e se eles vierem a se tornar um problema para você?

— Hahaha! — Frederico soltou um riso arrogante. — Duvido muito. Caso isso aconteça, já tenho o nome completo deles mesmo. Foi um erro os terem apresentado para mim. — De fato. — No entanto…

— “No entanto”...?

— Seria um tiro no pé arrastá-los para o inferno. Se tivesse feito isso antes, até mesmo se fizer isso durante ou após a visita deles, duas coisas ficariam claras: o Mártir habita esta cidade e é, de fato, o líder religioso de uma das paróquias, tendo em vista que somente nós sabíamos dessa investigação. 

— Então… você precisaria eliminá-los de uma forma que não levantasse suspeitas e parecesse que a morte deles não teve ligação com a região e com as pessoas que eles estavam investigando?

— Precisamente. E já digo que, apesar dessa situação ser hipotética, o seu poder já está me causando problemas parecidos.

— Tipo o quê? — Como se eu já não soubesse…

— Agora, como estou ganhando salário de padre, me encontro em uma posição na Hierarquia Social diferente de antes. Preciso pensar em um jeito de arrastar os pecadores das classes sociais abaixo da minha, pois não estou mais conseguindo…

Ah, sim, era sempre a mesma coisa. Chegava um ponto em que meu poder se tornava inútil, porque meus contratantes subiam tanto de cargo que havia mais ninguém acima deles para arrastar. E era nessas horas que eu brilhava.

— Olha, você sabe que faço qualquer coisa pelo precinho certo, não é mesmo? Kikiki…

— Negativo. — Frederico cortou a minha empolgação. — Anteriormente, disse que não precisaria mais dos seus serviços, e assim será. Encontrarei uma outra solução para conseguir aquilo que eu quero. Além do mais, você omite muita coisa. Recentemente, andei fazendo alguns testes e descobri que não era necessário queimar a pluma para ativar a magia. Por que você não me disse nada antes, Narrador!?

— Porque você nunca me pagou para eu te dizer isso, oras!

— Sério que essa foi a sua forma de retaliação por eu ter descoberto a forma como seu poder funciona, sem nunca ter pedido uma explicação mais detalhada sobre ele?

ESSE DESGRAÇADO! — Hmpf. — Vou falar com ele mais não.

— Tá bem, se é assim que você vai me responder… — Frederico se virou e continuou fazendo suas coisas.

Gostaria de dizer que ignorei nosso protagonista da mesma forma que ele me ignorou, mas não foi esse o caso. 

Conforme ele ajeitava a igreja, eu o acompanhava. Segui-o até um cômodo e, então, alguém gritou: — Ô de casa! Tem alguém aqui?

Por uma fresta, Frederico pôde ver que, parado na porta de entrada, estava o bispo e sua equipe.

— Droga, eles chegaram! — Nosso protagonista, então, finalmente voltou-se a mim. — Anda logo, Narrador, vá embora!

Não via necessidade de tanta preocupação. Estávamos em um local em que não podíamos ser vistos por eles e… Peraí, Frederico não queria mais a minha presença aqui, é?

Soltei um sorriso maléfico. — Nossa, que grosseria! É assim que você trata os seus hóspedes? Aposto que, se falares assim com aquelas pessoas lá fora, claramente levantará suspeitas… — Era agora que ele me pagaria pelo diálogo anterior!

— Ah, me poupe! Pare de fazer birra e vá logo! Você sabe que os religiosos lá fora não só conseguem te ver, como também te exorcizar!

Claro que sabia disso! Aquelas pessoas na entrada eram a elite, principalmente aquele bispo. Nunca vi alguém como ele. Tinha um cheiro doce e tão enjoativo… parecia amaciante de lavanda. Só de inalar esse cheiro me dava vontade de vomitar.

Agostinho poderia facilmente acabar com esta história que estou escrevendo, bem como a história da minha existência.

Porém provocar o insolente do meu protagonista e botar ele no seu devido lugar…

— Mas você também iria se dar mal, não é mesmo?

— Você não pode estar falando sério!? Chega! Não tenho mais paciência para isso.

Frederico pegou o objeto mais próximo dele no momento e murmurou alguns cânticos. O desgraçado ia tentar me prender de novo! Mas dessa vez eu estava esperto, não ia cair no mesmo truque duas vezes.

— Nada disso, irei ficar! — Saltei em direção ao padre e o possuí.

— Ah, o que você está fazendo?! — Ele havia soltado o objeto no chão e interrompido seu feitiço.

Garantindo que eu veja tudo de camarote, disse diretamente dentro de sua mente. Agora, vá!

Eu movi suas pernas. A princípio, ele fez resistência. Mas vendo que era inútil, apenas seguiu até os homens à porta de entrada, sem a necessidade de eu forçá-lo a ir até eles. A partir de agora, não iria interferir mais em suas ações.

— Me desculpe por fazê-los esperar, estava arrumando algumas coisas e acabei não os escutando. Acabei de vê-los, peço desculpas. Por favor, entrem.

— Ah, não precisa se preocupar. Chegamos recentemente. — Olha só, parecia que o bispo era capaz de mentir, se isso faria a pessoa se sentir bem… — Com licen…

Assim que Agostinho pôs os pés na igreja, imediatamente fez uma careta. Então, começou a fungar o ar, suas axilas. Olhou para as solas de seu sapato.

— Algum problema, Vossa Excelência Reverendíssima? — Frederico legitimamente não entendia o que estava acontecendo.

— Ah… não, nenhum. — Ele se virou para sua equipe. — Mais alguém está sentindo um cheiro desagradável?

O grupo se entreolhou. — É, ‘tá um cheirinha estranho mesmo. — um deles disse.

— Hm, que estranho, eu não estou sentindo nada.

— Certo… — O bispo lançou um olhar para a sua equipe, que congelou a espinha de Frederico. — Podemos iniciar a visita?

— Ah, mas é claro! Por aqui, por favor.

Logo, um tour pela igreja havia se iniciado. Ao longo do percurso, algumas perguntas no mínimo curiosas foram feitas, mas Frederico soube as responder com maestria.

No fim, após conclusão da visita, nosso protagonista acompanhou o bispo e sua equipe de volta à entrada por onde haviam vindo. 

— Bom, acredito que vimos tudo que tinha para ver — concluiu Agostinho.

— Receio que sim. Agradeço imensamente pela visita dos senhores.

— Imagina, eu quem agradeço. Aliás, antes de ir, poderia ter uma palavrinha com Vossa Reverendíssima?

— Mas é claro! O que seria?

— Bom… atualmente eu e minha equipe estamos alojados na sede da diocese, um lugar muito afastado da cidade. Devido a alta demanda de visitas que nós teremos que fazer, isso acabará se tornando um problema para gente. Então, por acaso, seria possível nos hospedarmos na sua igreja por alguns dias? É só até terminarmos todas as visitas. Após, iremos nos retirar.

Frederico foi pego de surpresa por essa pergunta. Os religiosos atrás do bispo, por outro lado, pareciam confusos, como se não tivessem combinado isso com o líder de sua equipe antes.

— Hã… bem, aí… — Nosso protagonista pensou em algumas desculpas para dar e recuperou a postura. — Teria que pedir permissão para o irmão responsável por esta igreja. Ele ainda está me treinando para um dia poder substituí-lo.

— Ah, sim, entendo. E onde ele estaria no momento? Não lembro de tê-lo visto durante o tour por aqui.

— É que o irmão acabou precisando sair pra cidade e me deixou encarregado de apresentar as coisas para vocês.

— Então pronto. Se ele te confiou uma responsabilidade tão grande quanto essa, certamente aceitará qualquer decisão que você tomar a respeito do meu pedido. Afinal, esta igreja será sua algum dia, e ao administrá-la, terá que fazer grandes escolhas como esta.

— Eu… eu não sei, não… Por que ficar aqui em específico?

— Ora, a estrutura daqui é perfeita para todos nós! E a localização… é magnífica. Por ficar no centro da cidade, teríamos facilidade de locomoção, já que boa parte das igrejas do município ficam concentradas nesta região, e economia de recursos, como gasolina, alimentação… Enfim, um serviço que lá levaríamos semanas para realizar, aqui, seria feito em uma semana ou menos. Então, o que me diz?

— Olha…

As desculpas de Frederico já haviam acabado. Ele adoraria negar, mas o feitiço acabou virando contra o feiticeiro. Precisava seguir seu plano original e continuar usando sua máscara de “bom samaritano”. Caso contrário…

— Combinado. Se isso ajuda na investigação, então ficarei feliz em ceder um espaço na minha igreja para o senhores.

— Maravilha! Muito obrigado, de verdade! — O bispo agradeceu e então se virou para sua equipe. Ordenou: — Dimitri! Soryu! Por favor, vão até a sede, peguem nossas coisas e as tragam para cá. Os demais, continuemos nossas visitas.

— Sim, Reverendíssimo Senhor D. Agostinho! — assentiram em uníssono.

— Volto pra cá por volta do fim da tarde, tudo bem? — ele perguntou para Frederico.

— Claro, sem problema. Estarei lhes esperando.

— Ótimo! Bom, creio que seja isso. Obrigado pela gentileza e por nos apresentar o local. Iremos nos retirar por agora. Até logo!

Agostinho acenou e foi embora com sua equipe, deixando para trás um Frederico frustrado. Afinal, precisaria ser beeeeem paciente se quisesse ver seu plano concluído, kikiki.

Nosso protagonista deu meia-volta e suspirou, pensando no esforço que agora teria para trocar os produtos de limpeza que possuía. 

Aparentemente, pelo que deu a entender durante o tour pela igreja, Agostinho tinha um nariz muito sensível para cheiros…


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