Hinderman Brasileira

Autor(a): Oliver K.


Volume 1

Capítulo 15.4: A Libriana Investigadora

 Cheguei no Mapleleaf morrendo de fome, quase oito horas da noite. Encontrei Beth no corredor. Ela também estava chegando.

 — Meg! Estou exausta. Como está?

 — Bem... Na medida do possível. Como foi lá?

 — O trabalho? Foi um caos. Ficamos esperando a palavra do Howard o tempo todo. Não conseguimos progredir em nada... E tivemos que ficar enxotando gente chata que queria entrevist... Quer dizer... Não você, claro.

 Concordei com um risinho disfarçado.

 — E o que nós vamos fazer em seguida?

 — Vamos na casa do Jim, é claro. Hoje não me deixaram ir até lá porque eu estava em horário de trabalho. Mas se nossa suspeita de que algo está sendo escondido está correta, este algo deve ser lá, pois é lá que não deixaram ninguém entrar. Acho que deveríamos ir amanhã. Amanhã você não vai trabalhar o dia todo, vai?

 — Amanhã eu posso ir de manhã.

 — Então assim que acordar, combinamos por mensagem.

 — Ok.

 Ela abriu a maçaneta do apartamento dela. Resolvi contar o que o secretário me disse ali mesmo.

 — Beth. Sabe o que eu descobri?

 — O que?

 — O DCAE acha que os casos são um só! O de McMiller e o de Sanford.

 — Mas está na cara que é um só. Quer dizer... A menos que fosse realmente atropelamento, mas é impossível.

 — Eu sei, mas além disso... Eles citaram outro nome. Um tal de Cooper.

 — Cooper?

 — Vocês do DEA têm alguma ideia do que esteja relacionado? Quer dizer... Além desses dois? Tem mais coisa relacionada à morte de Jim?

 — Bem... Nós nem pudemos começar ainda... Por causa da burocracia de Silverbay... Mas você tem razão, é interessante. Se vamos fazer isso por conta... É melhor uma de nós verificar a casa de Jim e a outra... A casa daquele McMiller. Que tal fazermos ambas ao mesmo tempo? Amanhã de manhã? Cada um faz um pedaço. Quanto antes melhor, pois assim não dá tempo de eles tirarem nenhuma prova. Digo... Se realmente estiverem querendo esconder alguma coisa.

 — Claro. Perfeito.

 — Eu acho melhor eu que sou policial ir até a casa do Jim porque parece mais perigoso. Não estavam fechando cena em Marshmoore, então você podia dar uma olhada lá. Mas vire aquele lugar de cabeça para baixo, Meg. Fuce tudo!

 — Pode deixar. E quanto àquele outro nome?

 — Eu vou procurar esse tal de Cooper amanhã quando estiver trabalhando, porque tenho os dados disponíveis. Vou inventar um pretexto... Se eles dizem ser um caso relacionado deve ser alguma coisa que aconteceu que está nos arquivos.

 — Tudo bem então. Nos falamos amanhã.

 — Nos falamos, tchau!

 Agora estava me sentindo uma detetive particular. Trabalhando juntamente com uma policial daquele jeito. Era uma sensação engraçada.

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 No dia seguinte, conforme o combinado, eu acordei cedo e fui até Marshmoore ver se conseguia uma casa para alugar. Marshmoore era um bairro que ficava perto do centro. A casa onde o assassinato de McMiller aconteceu ficava em um beco, no segundo andar de um prediozinho pequeno. Na verdade tinha acontecido na frente do prédio e não dentro. Claro que eu não queria realmente alugar a casa, estava muito contente com meu agradável apartamento vermelho claro em Mapleleaf, obrigada.

 Mas eu ia dar esta desculpa para o locador para que ele me deixasse entrar. O locador do apartamento na frente de onde ocorreu o assassinato do contador Gerald McMiller.

 Quando eu estava lá dentro eram nove da manhã. Eu havia acordado cedo, me arrumado e pego o ônibus até Marshmoore, o que demorou um pouco. Mas vou dizer para você: a Beth acordou ainda mais cedo. Quando eu saí de casa o carro dela já não estava mais lá.

 — Fique à vontade. — Recomendou o locador, e parou perto da porta. Ele era um baixinho quase careca com um bigodinho estiloso bem preto. Ainda bem que ele não era daqueles que ficava andando junto comigo e fazendo propaganda, ia achar estranho se me visse mexendo em coisas que me chamassem atenção. E eu precisava fazer isso se realmente quisesse “fuçar” como a Beth mencionou.

 Como esperado tudo tinha sido tirado de lá: os móveis, a cama, os eletrodomésticos... Sobraram apenas as lâmpadas e uma mesinha que ficava na cozinha.

 O apartamento em si não era grande coisa, entrávamos na sala que era comprida, mas estreita. O que já era meio estranho. Aí existiam duas entradas que não a da cozinha, cada uma dando para um cômodo de tamanho menor. Acho que o inquilino resolvia se era um quarto ou um estúdio, o que fosse melhor. A cozinha era de lajotas e tinha estrutura para pia, gás e máquina de lavar. Tinha um banheiro só e era só isso. Nada era muito impressionante.

 Um dos dois cômodos com ligação para a sala, aquele quarto/estúdio que eu disse antes, tinha uma janela que dava para o estacionamento do condomínio, a qual ficava do lado de dentro da quadra. Isto é, não era na rua, mas dentro do condomínio. Aquela janela me chamou a atenção. E aquele estúdio também tinha me chamado a atenção. Como se houvesse algo de estranho ali.

 Por que será que tinham tirado os móveis dali? Em geral deixariam alguns para o locatário, não?

 — Ela é toda desmobiliada, não? — Perguntei vagamente, percebendo que o dono estava ali por perto.

 — É... Aconteceram umas coisas, aí tivemos que tirar...

 — Que tipo de coisas?

 — É... A senhorita sabe, é que teve uma vistoria policial... Aí... — Ele se perdia nas palavras.

 — Não tem nada a ver com aquele caso de assassinato da semana passada, tem? — Perguntei com meu mais genuíno interesse banal de garota curiosa.

 — A senhorita ficou sabendo? Sim... Foi um desses casos. Um tipo suspeito acabou se hospedando aqui. A senhorita não é do tipo que se importa, hã?

 — Não, não... É o tipo de coisa que pode acontecer em qualquer lugar, não?

 — Tem razão. Mas é verdade que eu estou com dificuldades para alugar este agora por causa disso. Céus... Que dificuldade.

 — Por isso vai fazer um preço bacana para mim, não? — Pisquei um olho. Ele não reagiu.

 Se ao menos o lugar fosse bem mais barato que Mapleleaf... Podia até pensar em alugar de verdade... Se bem que era longe de tudo. E o condomínio era claustrofóbico e escuro. Pensando melhor, só se fosse menos que a metade do preço. Então não... Impossível. Ele nunca cobraria tão pouco assim. Em todo caso eu só estava ali para investigar mesmo. E nem sabia ao certo o que queria investigar.

 Percebi uma mancha de sangue na parede. Assim que eu cheguei mais perto para vê-la, o dono desculpou-se novamente:

 — É do rapaz que alugou. Não conseguimos tirar de jeito nenhum.

 — O suspeito?

 — Isso.

 — O culpado?

 — Hã?

 — O suspeito foi considerado culpado, não?

 — Isso eu não sei. Não acompanhei a notícia direito, se é que me entende...

 Imaginei que era melhor parar de fazer esse tipo de pergunta ou ele ia perceber que eu não estava ali para alugar coisa nenhuma.

 Era difícil adivinhar a nacionalidade do locador, mas parecia do tipo que ia querer tirar vantagem em tudo. E parecia perspicaz para esse tipo de coisa. O tipo de coisa que envolvia dinheiro. Acho que ele não ia querer fazer mais barato para ninguém por pouca coisa. No máximo ia apenas dizer que estava fazendo mais barato enquanto cobraria o mesmo preço.

“Se esta mancha de sangue está na parede da janela isso significa...” Pensei comigo mesma.

 Fui até a janela e a abri. Ela demorou um pouco a responder. Após chegar a certo ponto o vidro vibrou e balançou horizontalmente. Fiquei com medo que ele fosse cair e que eu tivesse que pagar outro. Soltei o vidro.

 — É... Eu estava pensando em trocar isso... — Desculpou-se o homenzinho de bigodes pretos. Ele estava ciente. Não o estava julgando por esconder, mas estava pensando: se ele estava ciente é porque aquilo tinha sido causado por alguma coisa. Será que no dia do assassinato o culpado do crime, o fugitivo de dois metros de altura que saiu no jornal, esqueci o nome, tentou fugir por ali?

 Por entre o pouco que tinha conseguido abrir da janela pendurei meu pescoço para fora e olhei na direção do estacionamento. Não pude deixar de reparar que estava lá um ferro jogado no chão. Não estava no canto, apoiado na parede... Não... Estava bem à vista. Quase como se fosse um item a ser pego. Sabe... Esses itens de jogos de garotos de computador, que estão bem no meio do cenário.

 — Aquele ferro...

 — Um estranho estava brincando com ele agora há pouco e o deixou aí. É esquisito porque ele não é daqui. Estava aí até agora há pouco. Achei que ele tinha vindo ver um apartamento também, mas...

 Está insinuando que além do apartamento ser claustrofóbico, sua vizinhança ainda por cima atua de modo suspeito? Agora que é eu não saio do Mapleleaf, senhor. Nem pela metade do preço!

 — Um estranho? Como assim alguém “estranho”? — Perguntei.

 — É... Nunca vi ele por aí. Ele era bem gordo. Bem gordo mesmo. E ele andava de um jeito esquisito, sabe... Por causa do peso... Aí estava brincando com esse ferro na mão. Acho que deve ter algum tipo de problema mental, não sei. Entrou aí... Não sei como passou pela portaria...

“Jabes...?”

 Mas o que o Jabes estaria fazendo por ali?

 Eu desci até o estacionamento e ele realmente estava lá. Ele me contou sobre o ferrinho. Não vou relatar o que aconteceu em meu encontro com Jabes. Eu tenho horror ao Jabes. Ele é muito estranho. Detesto dizer isso de qualquer pessoa, mas ele sim tem algo nele que me deixa desconfortável. Sinto como se ele tivesse uma energia negativa vinda dele.

 Mas vou adiantar que achei uma pista. Na verdade foi o Jabes que a achou. E quando era a hora do almoço eu fui direto até a casa de Beth, para contar a ela o resultado de minha aventura.

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 Beth estava fazendo panquecas, acompanhada de bacon e salsicha.

 — Você vai aproveitar para almoçar aqui?

 — Se não for muito incômodo... Acho que vou aproveitar, Beth. Posso? Vai demorar tanto para eu fazer alguma coisa por mim mesma agora... E já está meio tarde...

 — Não é incômodo nenhum. Fique à vontade.

 Durante o almoço eu comecei:

 — Sabe quem eu encontrei no apartamento do suspeito da morte do McMiller? O Jabes.

 — O Jabes?

 — Ele! O seu colega de trabalho. Ele estava lá. O que ele estava fazendo lá?

 — Eu não sei...? Eu nem sabia que ele tinha saído do posto!

 — Ah...

 — Na certa devia estar fazendo o mesmo que você. — Beth parecia despreocupada enquanto comia sua panqueca recheada de forma quase voraz. Pelo menos parecia muito mais despreocupada hoje do que ontem.

 — Do que nós — Corrigi — Você acha que os demais membros da sua equipe tentarão encontrar alguma coisa por conta também?

 — Pode apostar que sim! O DEA não vai desistir. Não “aquele” pessoal. Sabe o Dan? Ele disse que ia tentar arrumar uma visita com aquele que foi considerado culpado pelo primeiro crime... O dono do apartamento que você foi. Por acaso ele tem nome: Jeffrey Sprohic

 — Jeffrey Sprohic... Dan vai conseguir uma visita? O que ele vai perguntar? Ele foi considerado culpado aquele dia, mas e agora que aconteceu o segundo crime o que vai acontecer com ele?

 — Dan vai ‘tentar’ a entrevista... — Ela frisou — Se vai realmente conseguir eu não sei. Teremos que esperar para responder essas perguntas.

 Beth devia estar achando que eu parecia uma criança. Ficando excessivamente entusiasmada daquele jeito por qualquer coisinha. Mas era minha primeira vez como detetive.

 Mas eu tinha um motivo para ficar entusiasmada: a pista do Jabes!

 — Sabe o que eu e o Jabes achamos?

 — O que?

 — Adivinha.

 — Eu não vou conseguir adivinhar, Meg. O que é? — Ela colocou mais uma panqueca no prato.

 — Uma pista! Você sabe como o relato foi que acharam sangue pertencente ao Jeffrey Sprohic na janela do apartamento, o que selou o caso, certo? E de fato, havia sangue quando eu fui lá ver o apartamento.

 — Mesmo...?

 — No estacionamento do mesmo condomínio, tinha um pequeno pedaço de ferro que podia ser usado como pé de cabra. Podia ter sido usado para abrir a janela por fora.

 — Um pé de cabra?

 — E tinha sangue nele também.

 — Onde estava?

 — No estacionamento, uai. A janela da qual Jeffrey Sprohic pulou para escapar da polícia... Dava para o estacionamento. Mas havia também este ferro. E estava lá embaixo.

 — Que estranho...

 — Não é? E ele não teria que ter usado um pé de cabra para abrir a própria janela.

 — O que você fez com o ferro?

 — Err... O Jabes ficou com ele. Na verdade foi o Jabes quem achou. Ele disse que ia levar para a perícia para examinar o sangue.

 — O Jabes? Quer dizer então... Que vocês estão trabalhando juntos agora?

 — Nossa! Não! É que eu não tenho contatos para enviar para análise... Quer dizer, tenho você, mas... Levar para você seria o mesmo que entregar para o Jabes porque ambos trabalham no mesmo lugar, sabe...

 — Fez bem. Você não disse para ele que eu estava também investigando por conta, disse?

 — Não... Eu fingi que era só eu. Por isso entreguei para ele. Se eu tivesse ficado comigo ele ia achar que tinha mais alguém metido...

 — Ótimo. Se todo mundo ficar sabendo que estou investigando por conta própria vai ter um rebuliço no trabalho. De qualquer maneira... — Ela terminou a panqueca e pegou mais uma salgada e uma doce. Beth estava exagerando — Vamos ter que ficar atentas para saber do que se trata essa pista. E o Jabes? Ele te disse alguma coisa?

  — Ele apenas tinha ido lá investigar o apartamento no mesmo momento que eu. Uma coincidência — E infeliz... — Como esperado ele disse para eu ficar longe porque era perigoso.

 É o mesmo que ele diria para Beth.

 — E é, Meg. Se estamos metidas com um serial killer... Esse tipo de gente não gosta muito que descubram sua identidade, sabe...

 — Eu sei, mas...

 — Enfim. — Beth terminou de comer de repente, assim, com muita comida ainda no prato e empurrou o mesmo para a frente. Coisa que eu nunca faria. Detesto deixar comida no prato — E sabe o que eu descobri?

 — O que?

 — Um belo de um “nada!” Não havia nada de interessante na casa do Jim. Até me senti mal “fuçando” nas coisas dele daquele jeito. Se existia alguma coisa importante a ser considerada... Devem ter levado tudo para a perícia. Agora já não tem mais nada.

 — E dava a impressão de eles terem levado alguma coisa importante?

 — Sabe que não, Meg? Não tinha nada indicando que algo foi arrastado ou obviamente retirado do lugar. Eu sou investigadora por isso percebo essas coisas... Mas creio que eles não devem ter encontrado nada também.

 — Nem deveriam... Era o Jim, afinal de contas. Se estamos lidando com um maníaco não teria por que... Quer dizer... Eles escolhem as vítimas de maneira aleatória, não?

 — É... Tem razão.

 Beth fez um momento de silêncio, e depois volveu a relatar suas descobertas:

 — Mas mesmo que eu não tenha achado nada lá, fiquei sabendo que tem uma coisa estranha acontecendo... E eu acho que está relacionada. Quer dizer... Tem que estar relacionada.

 — É mesmo? O que?

 Beth me encarava quase que com uma expressão divertida, dada mediante meu exagerado entusiasmo.

 — Bem... Você vai achar tão esquisito quanto eu... Sabe o Dan? Aquele que trabalha comigo?

 Meneei afirmativa e categoricamente.

— Ele disse que há boatos que tem um lobisomem atacando a cidade.

Foi tão repentino que eu ri e cuspi panqueca na mesa... E na Beth.

 — Meu Deus! Nossa, Beth! Me desculpe!

 — Tudo bem... Deixe que eu pego um pano. Não. Não precisa levantar, deixe que eu limpo isso. — Ela levantou e foi até a pia.

 Não foi exatamente meu momento mais brilhante, mas aquilo tinha me pegado tão de surpresa. Eu estava esperando algo sério... Fiquei sem saber o que dizer.

 — De qualquer modo... Você ouviu isso direito. — Ela deu de ombros — Foi o que o Dan disse: um lobisomem. Lógico que ele também naturalmente estava cético a respeito. Mas bate com o relato de já quatro pessoas. Duas dizem terem sido atacadas por um lobisomem nas noites de segunda e terça feira respectivamente e as outras duas, embora não tenham sido atacadas, teoricamente são testemunhas oculares...

 — E você acha... Sabe... Aquela mordida...

 Não queria ter lembrado da cena que vimos ontem na mesa, mas era inevitável.

 — Por isso que eu digo... Seja lá o que for que está acontecendo... Tem que estar relacionado.

 Meio que perdi a fome após eu fazer menção da mordida...

 — Mas então temos que investigar isso também! Quem está encarregado desse caso do lobisomem? Não é o de vocês, é? Não tem nenhuma droga envolvida... Ou tem?

 — Qual o departamento envolvido? Adivinhe...

“O DCAE...” Concluí. Ela nem precisou dizer.

 Será que eles estavam dando um jeito de ficarem encarregados de todos os casos relacionados à morte de Jim justamente porque queriam esconder alguma coisa que sabiam a respeito? Se queriam fazer algo às escondidas, a essa altura já estavam deixando essa coisa toda muito explícita.

 Beth levantou-se, então a imitei.

 — Pode comer mais um pouco, Meg. Você come muito pouco.

 — Eu... Estou bem, obrigada.

 — Eu tenho que voltar para o DEA, pois fiquei a manhã toda fora, então vou fazer uma hora extra na hora do almoço para compensar.

 — Não... Eu vou indo também. Mas e aí? Qual nosso próximo passo?

 — Nosso próximo passo... É esperar a análise, não? É a única pista que conseguimos, então vamos nos focar nela. Quanto ao caso do lobisomem vamos ter que deixar para depois, quando eles já tiverem progredido no mesmo. Seria ruim ficar pressionando o mesmo departamento por dois casos que a princípio são diferentes.

 — Tem razão.

 Coloquei o meu casaco bege que havia deixado em cima da cadeira quando entrei na calorosa residência de Beth.

 — Não deveríamos tentar contatar o culpado pelo primeiro crime também? O Jeffrey Sprohic?

 — Por quê?

 — Quer dizer... Se o serial killer ainda está agindo, então ele foi preso injustamente não é?

 — Até certo ponto. Foi ele quem roubou as joias, isso é indiscutível, então coisa boa ele não é. Eu acho que vamos deixar isso com o Dan. Seria esquisito se cada agente do DEA aparecesse lá fazendo uma série de perguntas e todas fossem mais ou menos no mesmo sentido.

 — É. Tem razão.

 — Vamos esperar e reunir informações. Depois disso concluímos alguma coisa.

 — Ok. Bem... Eu também vou indo, então.

 — Até logo, Meg. Eu vou ao quarto me arrumar, quando sair encoste a porta.

 — Ok. Obrigada pelo almoço.

 Saí e andei cerca de cinco metros até a minha casa, o apartamento do lado.

 Estava cansada. Cansada por um lado, mas agitada pelo outro. Agitada no sentido de que queria saber a verdade logo. A verdade sobre o sangue no pedaço de ferro. A verdade sobre Jeffrey Sprohic. A verdade sobre o caso do lobisomem. A verdade sobre a morte de Jim.

 Será que o lobisomem era o jeito de vestir-se do serial killer que causou as duas mortes, e ele era um louco que acreditava que era um lobo e mordia as pessoas? Que horror...

 Ou será que estes boatos foram inventados pelo próprio DCAE porque eles querem acobertar alguma coisa da qual sabem sobre o Jim e não querem revelar? Eles estão agindo muito suspeitamente desde o começo de tudo. Desde o caso do roubo da joalheria da semana passada.

 Com a coisa toda em minha mente, fui até meu quarto e por um instante ou dois — ou três — me deitei na cama. Tentei uma mistura de descansar e de acalmar minha cabeça.

 Então lembrei que também ainda tinha que trabalhar àquela tarde.



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