Hinderman Brasileira

Autor(a): Oliver K.


Volume 1

Capítulo 15.3: A Libriana Investigadora

 Subi às pressas até o terceiro. Topei com Larry no elevador.

 — Você de novo? — Ele perguntou surpreso.

 Eu estava ofegante.

 — Cansou?

 — Pois é... Eu estava tão concentrada em chegar aqui logo e... Eu até esqueci de tomar café. Saí de casa sem comer nada.

 — E esqueceu também de lavar o rosto, não?

 Larry! Isso não se diz assim de repente.

 Mas era verdade. Eu saí às seis e meia de manhã, atordoada com a notícia e nem me arrumei direito. Depois que fui ver o corpo da primeira vez eu apenas voltei para a casa e rapidamente troquei de roupa e fui até o jornal. Nem lembrei de maquiagem, de arrumar o cabelo, nada. Credo. Eu devia estar toda desajeitada. Depois daquele comentário eu fiquei me sentindo mal. E nem tinha um espelho naquele maldito elevador...

 — Enfim. Que bom que você está aqui. — Larry prosseguiu, desta vez em tom de seriedade — Acabei de trocar uma ideia com o Howard, do DEA.

 — Você ligou para o DEA?

 — Sim. Eu pedi uma entrevista que eu queria marcar para você assim que você terminasse com o Meadow Park e ele me disse que estará disponível depois das onze, quer dizer... Não ele em pessoa, mas o pessoal do caso.

 — O caso vai ser passado para o DCAE.

 — Eu sei. Foi parte do porquê de eu ligar para ele. Queremos colocar esse tipo de informação na matéria. Será bom ver o que os dois lados tem a dizer.

 — Claro.

 O elevador chegou ao destino.

 Larry e eu olhamos simultaneamente o relógio de ponteiro que fica pendurado na sala onde trabalham Harrison e o resto do pessoal. Eram dez para as dez.

 — Você vai comer alguma coisa? Porque vai ter que esperar até as onze.

 — Acho que é isso que vou fazer. E depois vou direto para lá.

 Comi na cantina que tem parceria com o Inquirer — e que é muito cara, diga-se de passagem. Sabe... Para um estabelecimento que tem parceria. — Depois peguei um ônibus e fui até em casa para me arrumar propriamente. Não fiz muita coisa. Apenas uma escovada, um lápis básico e aproveitei para colocar uma cigarrete social, pois parecia mais apropriado. Quando vi já era quase meio dia! Como o tempo passou assim, tão depressa?

 Peguei novamente o ônibus que passava mais perto do departamento deles e então corri até lá até ficar ofegante novamente. Não queria perder a oportunidade para uma maldita hora de almoço deles ou algo do tipo.

 Foi tudo em vão, entretanto. Quando me apresentei como jornalista do Inquirer para a recepção, a moça me disse para esperar um momento e passou a falar com alguém no telefone, sabe... Indo até o balcão de trás para não ser escutada, e então eu sentei e tive que ficar esperando indefinidamente.

 Após vinte minutos outra menina que trabalhava ali me disse que Howard e o pessoal estavam ocupados e que não tinham tempo para dar entrevista.

 — Isso é ridículo — disse eu — Já tínhamos combinado o horário. O Larry conversou com o próprio Howard no telefone.

 — Não estamos sabendo de nenhum horário marcado, senhora.

 — O quê?

 Só o que faltava. As energias me abandonarem de novo daquele jeito.

 Mas não. Para a minha sorte Howard, o próprio, apareceu caminhando cercado por dois agentes e alguns repórteres de outros jornais que vinham atrás dele com alguma esperança no rosto.

 Eu não escrevi ainda sobre quem o Howard é? É o chefão do departamento do DEA. É um senhor de cabelos grisalhos encaracolados, com uma cara meio antipática. Mas apesar da cara, ele em geral não é antipático, mas ele pode virar um dependendo da situação então a gente nunca sabe... Os outros repórteres eram a Vic do Morning News e um rapaz que eu não conhecia. Acho que era do Sproustime.

 Ignorei a pessoa que estava falando comigo, embora isso fosse rude — mas convenhamos, era necessário — e fui até ele. Os agentes tentaram me separar.

 — Howard? Lembra de mim? Megan Mourne do Daily Inquirer.

 — Oi Megan. Não estou dando entrevista agora. Vou até Silverbay para resolver essa porcaria de burocracia.

 Tudo bem. Não precisava ser exatamente com ele.

 — Quem poderia dar a entrevista no lugar? Eu tenho hora marcada...

 — O pessoal está aí. O Dan... O Jabes... Suba e fale com eles. Pode subir Megan. — Howard dirigiu-se a um dos agentes que estavam ao lado dele: “deixem ela subir”.

 Eu não gostava de falar com o Jabes. Ele nunca falava nada. Ele era um grandalhão de pele escura, careca e com a aparência de uns quarenta anos. Entretanto como “grandalhão” quero dizer... Grande de barriga e não de tamanho. E estou sendo um pouco eufêmica aqui. Sei que não é bonito falar esse tipo de coisa, mas é que não tem como descrevê-lo de outro jeito. É sério... Inclusive ele tem problemas ao andar. Precisa permanecer sentado sempre que for ficar parado por muito tempo, sabe... Não pode ficar de pé. Quando vai viajar compra duas passagens para si mesmo... Esse tipo de coisa. Tudo por causa da gordura.

 E foi justamente ele quem eu vi ali no andar de baixo, assim que eu ia subir a escada. Eu estava subindo e ele estava descendo. Para a minha felicidade o Dan estava junto com ele. A Beth não estava lá naquela hora.

 — Megan? Você está ok? — Perguntou Dan. Ele sabia que eu tinha sido vizinha da vítima.

 — Na medida do possível... — Respondi - E aí? O que está acontecendo?

 — Se está esperando algo oficial, não vai sair nada daqui. — Dan respondia à medida que andávamos os três até a saída — O Howard foi até Silverbay para ver se consegue falar diretamente com o delegado para reivindicar o caso.

 — Eu ficaria feliz apenas em saber o motivo por que o caso foi transferido.

 Jabes ergueu os braços desengonçadamente numa expressão interrogativa, como que dizendo “ninguém sabe ao certo”.

 — Aquela jovem ruiva do DCAE falou sobre a hipótese do serial killer. Mas se fosse isso não deveria ter sido passado para a delegacia de homicídios?

 — Eu não estou sabendo de nada, Megan. Só o que eu espero é que quando vocês forem entrevistar amanhã nós estejamos com o caso nas mãos. Aí sim poderemos responder algo de concreto. — Disse Dan — Enquanto isso... Porque você não pergunta direto para o DCAE, quer dizer... Eles já devem estar menos ocupados agora que Jim já foi encaminhado para os peritos.

 Cruzei os braços e ponderei.

 — É... Eu acho que vou acabar fazendo isso.

 — Quando vai ser o enterro do Jim?

 — Eu... Ainda não sei... Eu te falo.

 — Ok. E boa sorte. Não trabalhe demais.

“Não trabalhe demais”. É um bom conselho. Mas naquele estado... Não tinha como.

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 Já eram mais de meio dia por isso eu almocei ali por perto em um lugar que deveria ser uma lanchonete, mas sinceramente... Só vendiam uns salgados oleosos. Eu comprei primeiro um hot dog prensado. Eu achei que o moço fazia na hora, mas ele simplesmente pegou daqueles prontos... Estava com gosto de velho. Não desceu bem. Eu não sou do tipo que bebe enquanto almoça, mas ali eu tive que pedir um café.

 — Não temos café... Aqui só o que tem na geladeira, dona.

 Na geladeira encontravam-se refrigerante, água pura e cerveja. Tinha que ser cerveja. Água não ia tirar o gosto do dog e eu não vou me envenenar com refrigerante.

 Depois de terminar o hot dog e a cerveja eu vi um salgado de farinha de trigo e recheio de frango no balcão e achei que seria bom pedir um daqueles para retirar de uma vez por todas aquela salsicha rança de minha garganta. Mas foi pior... Para aquele salgado eu precisei de três guardanapos, todos ficaram ensopados em óleo.

 Um dog velho, óleo com salgado e cerveja. Que almoço!

 Após aquele desafortunado episódio de minha manhã fui até o DCAE, que ficava relativamente longe. Entre o centro e Glen Meadow. O lugar ocupava uma quadra toda. Era completamente cercado por um muro alto, e consistia de prédios em formatos de blocos — denominados... “blocos” — o qual cada tinha uma função. O bloco da frente, que tinha cinco ou seis andares, era onde os investigadores faziam o trabalho burocrático deles. Sabe... Depois que os peritos juntam as pistas nas cenas e voltam para analisar, ou pra escrever documentos e coisas assim.

 Uma vez adentrado o portão, fui direto até o prédio principal e me apresentei como jornalista do Daily Inquirer. Conforme esperado, o moço da recepção disse que eles não estavam aceitando entrevistas. Sinceramente... Ser jornalista às vezes é um saco.

 Não desisti. Perguntei quem poderia me fornecer informações sobre por que o caso foi transferido para a divisão de casos especiais. Era o que eu queria saber naquele dia. Não só porque estava curiosa sobre o que estavam acobertando a respeito da morte do Jim — e eles claramente estavam acobertando alguma coisa — mas também porque eu precisava escrever isso na matéria. E ela precisava sair até o fim da tarde. Eu ia dizer ao Larry que ocorreu o assassinato, que o caso foi transferido de um departamento para outro, ia dizer o motivo, e ia dizer o que o departamento que ficou responsável achava sobre o caso e o que estavam fazendo a respeito.

 Seria isso. Depois, as outras atualizações eu planejava escrever na medida que chegassem, nos dias seguintes.

 Seria o suficiente, mas ninguém estava exatamente colaborando naquele dia.

 O moço da recepção me disse para ir até o bloco que ficava no fundo, depois do pátio atrás do prédio que eu estava e falar com um tal de George... Eu fiz exatamente isso e achei o tal George no local indicado.  George era um policial um pouco mais anoso, mas ainda assim não de posto muito elevado, a julgar pela vestimenta. Provavelmente estava encarregado dos veículos. Ele me disse que quem dava a palavra final sobre qual departamento ficava com o que — isto é, nos casos em que houvesse dúvida — era a central da polícia estadual, que ficava em Silverbay. O que era uma surpresa, eu sempre achei que cada distrito era foco da polícia municipal apenas. Será que era por isso que Howard estava indo para Silverbay, então?

 Eu perguntei quem poderia me dizer o que fazia exatamente a divisão de casos especiais, visto que seria necessário pelo menos uma breve explicação para os leitores — e também para mim... Nunca entendei bem o porquê de uma divisão policial a mais — e ele disse que não era autorizado a responder, e que para isso eu tinha que falar com os investigadores.

 Mas acontece que quando eu voltei ao prédio do DCAE, eles não me deram atenção. Não me deixaram nem passar para o elevador, pois o pessoal estava teoricamente ocupado. Disseram que se eu quisesse saber sobre as funcionalidades do DCAE eu deveria falar com a capitã Harmon, a qual adivinhem: disseram que estava também se preparando para viajar a Silverbay no momento.

 Telefonei para Beth para ver se ela já sabia algo sobre o Howard, que tinha ido a Silverbay. Dava cerca de uma hora e meia de carro, e ele tinha ido antes do almoço, então quem sabe ela já soubesse de alguma coisa. Falei com ela no pátio do DCAE, aquele onde ficavam as viaturas e o alto e velho George, que apenas perambulava por lá sem deixar muito clara sua função.

 — O Howard? Não... Ele não disse nada.

 — Ele foi para Silverbay para reivindicar o caso para a central, certo?

 — É o que estamos esperando.

 — Eu não sabia que era a central que mandava nesse tipo de coisa.

 — Aí é que está, Meg. Nem eu. Quer dizer... Até agora.

 — Como? Mas você não trabalha no...

 — Trabalho, mas isso nunca tinha acontecido antes. Por isso que eu acho que está tudo muito estranho. E sabe o que mais é estranho?

 — Hã?

 — Eu queria ir até a casa do Jim hoje, sabe... Para. Bem... Eu sou policial, e era relacionada a ele. Então eu queria ir lá. Aí uns policiais do DCAE estavam fechando a cena, como que de esperado. Mas eu fui uniformizada, de distintivo, e tudo o mais.

 — E eles te chutaram de lá? — Adivinhei.

 — Me chutaram, Meg! E o caso ainda não é deles. Ele “vai” ser transferido, se tudo correr como estão dizendo, mas ainda não foi!

 — Mas e por que o pessoal está todo de espera? Meu Deus, não trabalhavam com o Jim e... Quer dizer... Me desculpe.

 — Eu sei... Eu sei. Você tem razão... Mas o motivo é esse. Eles estão trancando tudo. O departamento não pode fazer nada. Parece que estão atrasando tudo para encobrir alguma coisa e não querem falar o que é.

 — Sabe... Eu estava pensando em colocar isso tudo no jornal.

 — Não, Meg! Vai arrumar ainda mais briga entre o DEA e o DCAE. Melhor não. Melhor... Deixarmos isso na mão de quem...

 — Até você, Beth? Não íamos trabalhar nisso juntas?

 — Claro! E vamos. Mas eu acho melhor deixar isso se resolver sozinho politicamente pelo menos. Digo... Seja qual for o departamento que pegar o caso, nós vamos ter que investigar por conta própria de qualquer modo, não? A ideia era essa a princípio.

 Sim. A ideia era essa desde o princípio.

 — Beth?

 — Diga?

 — Para que serve a divisão de casos especiais?

 — ...

 — Você também não sabe?

 — Eu acho que... Quando os casos são de extensão muito alta, como que um serial killer perigoso, algo que ameaça a cidade toda... Então são casos deles, não?

 — Mas isso não seria do FBI?

 — Eu... Escute... Eu tenho que desligar. Você está no DCAE, não? Por que não pergunta por aí?

 — Eu estou tentando, mas eles não têm ninguém disponível para dar entrevista.

 — Mas que droga! Bem... Continue tentando. Eles devem estar preocupados com o corpo e a perícia. Boa sorte. Eu tenho realmente que desligar. Aqui também está uma baderna. Beijo.

 Beth desligou.

“Ocupados com a perícia” É mesmo, eu podia tentar ver se conseguia alguma coisa na perícia.

 A perícia era também no prédio principal. Comecei a tentar encontrar o médico legista, pois queria ouvir da boca dele que aquela mordida foi atropelamento. Me disseram que o legista estava em um tal de bloco C, que ficava atrás do estacionamento. No caminho encontrei a Vic do Morning News. Não vou transcrever a conversa toda, mas o que a Vic me passou foi:

 — Nem perca seu tempo. Ele está dispensando todos os repórteres e jornalistas e fugindo dos comentários.

 Eu poderia ter perguntado a ela se conseguiu mais alguma coisa, mas não vou basear uma matéria do Inquirer no que um jornal concorrente diz. Prefiro pesquisar eu mesma.

 Estava num impasse. O DEA me transferia para o Howard... O Howard me transferia para o DEA... O DCAE falava para eu contatar a capitã Harmon, e ela não aceitava nem uma ligação... Ninguém do DCAE estava disponível... Eu não podia entrar em nenhuma cena.

 Se eu fosse até a casa do Jim provavelmente aconteceria o mesmo. Eles expulsaram até a Beth, que era da polícia. Imagine alguém como eu.

 Sem ter mais o que fazer, em um último sopro de esperança, eu tomei fôlego e fui decididamente até o terceiro andar do prédio principal, onde ficavam os investigadores. Se ao menos eu desse sorte de encontrar aquela ruiva que me atendeu da primeira vez...

 E você sabe... Como libriana, eu sou uma pessoa de sorte. Não é por acaso que sou jornalista do Daily Inquirer. Quando insisto acabo conseguindo as entrevistas que eu quero.

 De manhã, antes de sair da cena do crime em Meadow Park eu tinha avisado aquela garota ruiva que eu voltaria à tarde, após eles terem lidado com os pormenores para obter informações. Já era de tarde e eu precisava das informações, então fui direto até o terceiro andar.

 Chegando lá, o secretário era um rapaz baixinho e porque não dizer bonitinho, que conversou comigo atenciosamente. Algo nele não aparentava que fosse muito profissional. Provavelmente era um estagiário?

 — Er... Oi?

 Não sou exatamente de comentar sobre o serviço dos outros, mas... “oi?” Sr. estagiário... Você pode fazer melhor que isso.

 — Boa tarde. Sou Megan Mourne do Daily Inquirer, eu tinha combinado uma entrevista com a investigadora... — Eu não lembrava o nome dela de jeito nenhum. Sou péssima com nomes. Mas tinha certeza que ele completaria a lacuna para mim.

 — Ah sim... — Ele não completou... — Mas nós não estamos aceitando entrevistas. Quer dizer... Se é sobre o caso do Sanford, estamos mantendo sigilo temporário.

 — Como?

 — Fomos instruídos a não prestar nenhuma informação. Apenas isso. Então não vamos poder ajudar.

 Como assim não vão poder? Simplesmente porque não querem? E como fica o DEA? E os amigos do Jim? E eu? O que acontece conosco? Até que ponto esses policiais corruptos iam ficar escondendo coisas a respeito do assassinato do Jim? Aquilo era inaceitável. Coloquei uma cara de desafio e passei direto por ele. Fui até a sala da tal capitã Harmon. Estava ouvindo vozes vindas dali então devia ter alguém importante no local. Alguém que soubesse alguma coisa. Não ia tirar o pé daquele prédio enquanto não ficasse sabendo dessa alguma coisa.

 — Que história é essa que não vão informar sobre o...? Ué? Cadê todo mundo aqui?

 A menos de um policial alto e carrancudo com cheiro de cigarro — e bastante cheiro de cigarro — e uma garotinha esquisita que passou por mim apressadamente não tinha mais ninguém ali. Eu percebi porque quando cheguei perto da sala e vi o corredor ao lado, tudo estava apagado e as portas estavam todas fechadas. Então só estávamos eu, o secretário e aquele policial do cigarro no andar inteiro. A capitã Harmon provavelmente estava ausente.

 — Boa tarde... — Eu me apresentei para o policial fumante de aparência tenebrosa — Eu sou Megan Mourne do Daily Inquirer. Eu queria saber se...

 — Você está cega? Estamos fechando tudo aqui. — Ele me cortou rispidamente.

 — Tenente... — O secretário interveio, tentando menear a situação. Aquele policial era o tenente. Pelo seu posto deveria ser o responsável pelo departamento. Ou pelo menos responsável pelo caso.

 — Eu queria... — Eu comecei novamente. O secretário desta vez foi quem me interrompeu:

 — Senhora, nos desculpe. O homem da portaria não deve ter sido avisado, mas como o tenente disse: Não estamos mais em horário de visitação.

 — Eu... Não sou visitação. Eu sou do jornal... Eu avisei que vinha de manhã e tinha hora marcada... — Aquilo tudo estava me deixando com a pele quente. Embora eu não tivesse visão de mim mesma, eu sentia que estava ficando vermelha por fora.

 — Mas estamos fechando. — Aquele policial ríspido falou objetivamente mais uma vez, com um tom de voz como se aquela frase decidisse tudo.

 — Escute... Eu era amiga do Jim Sanford! Ele mantinha contato com todo o pessoal do Daily Inquirer. Eu vim também porque talvez eu possa ajudar com alguma informação importante...

 Ele me olhou no rosto e me disse com o maior desdém:

 — A hora eu quiser alguma informação sua... Eu vou atrás! Por hora deixe seu nome com o meu secretário.

 Veja se pode uma coisa dessas? Que tipo de tenente trata os cidadãos dessa maneira? E alguém que tinha hora marcada? Alguém que está fazendo seu trabalho? Alguém que conhecia a vítima pessoalmente!?

 — Ei. Escute aqui seu... Ogro! Não sei quem você acha que é, mas eu tive que me ferrar para chegar até aqui. Todo mundo fica jogando a responsabilidade nos outros e mandando ir de lá para cá. Até onde eu sei o Jim faz parte do DEA e sei também que de repente vocês aparecem e... “Roubam” o caso, exatamente igual ao que aconteceu com o caso do Gerald McMiller, e ainda por cima vocês simplesmente se recusam a dar qualquer tipo de entrevista... E agora que eu chego está tudo fechado? Eu... Eu exijo uma explicação!

 Ambos me olharam atônitos sem saber o que responder.

 — Digam... O que exatamente está acontecendo aqui?

 — Fale com meu secretário. — Foi só o que o policial ogro conseguiu dizer antes de se retirar da sala e me deixar ali plantada, praticamente sozinha.

 Sozinha com o secretário. Ficamos só eu e o secretário.

 Ele pediu licença e fechou a porta que se encontrava atrás de mim. Mesmo depois daquela franqueza embaraçosa da minha parte. Aquilo ia acabar daquela maneira. Ninguém realmente ia me dizer nada.

 — Err...

 — Como você viu. Estamos fechando. Desculpe o tenente. Ele foi um pouco grosso, é porque tem muita coisa acontecendo hoje... E também no resto da semana. É um daqueles casos onde tudo acontece ao mesmo tempo e ficamos sem saber como tomar providência. Primeiro o McMiller, depois o Cooper... Agora esse tal de Sanford. Er... Desculpe. Era seu amigo, não?

 — Er, sim... Ele era um colega de trabalho.

 — De qualquer forma, como eu disse: o sigilo foi pedido então... Iremos demorar um pouco para soltar as informações para o jornal. Talvez nos dias seguintes.

 Ele foi até sua mesa e começou a guardar uns papeis, preparando-se para sair. Aquela era uma enorme mesa, falando nisso. Uma mesa gigante numa sala de recepção gigante. E que não tinha muita coisa além da mesa.

 Não tive escolha senão sair do local antes dele. E depois voltei ao Inquirer. Praticamente sem nenhuma novidade. A menos daquelas que tinha acabado de ouvir: o secretário mencionou casualmente McMiller, um tal de Cooper e Sanford como se fizessem parte do mesmo caso. Curioso... Eu iria passar essa informação para Beth quando chegasse em casa.

 Fiquei repetindo para mim mesma, para não me embananar com os nomes: McMiller... Cooper... McMiller... Cooper.

 Quanto à matéria do jornal, naquela tarde eu escrevi na matéria apenas como foi encontrado o corpo em Meadow Park e que a polícia estava investigando. Acabamos não colocando a questão da mudança de alocação de departamento porque não tínhamos nem o motivo e nem sabíamos se aquilo ia ser revertido de novo ou não. Como a matéria acabou ficando muito pequena acabamos colocando outra matéria na capa, e essa foi para a sessão de atualidades. Não saiu conforme o esperado, mas terminamos antes do prazo.



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