Hinderman Brasileira

Autor(a): Oliver K.


Volume 1

Capítulo 11.3: Barata Parasita

 Chegando ao aeroporto tentei contatar Chapman novamente, como planejei, mas claro que sem sucesso. Aquele desgraçado...

 Guardei o telefone no bolso e então eu e Joey subimos até o segundo andar, que ficava de frente para os portões de embarque, e avistamos Sarah sozinha em uma mesa do local combinado.

 Vou ser sincero: não sou muito fã do Boutique Lily’s. Acho o menu deles muito limitado, e o pouco que tem é basicamente comida para criança. Os pratos são mal servidos e demoram muito para chegar. Não vejo o que Sarah gosta nesse tipo de lugar. Se bem que, como eu disse, Sarah aparenta ser uma criança por fora, então aquele local combina com sua feição.

 Sentamos os três na mesma mesa redonda e baixa. O ambiente estava do tipo barulhento do lado de fora, mas silencioso do lado de dentro. Uma garçonete simpática anotou nossos pedidos e nos deixou. Após conversa frívola sobre horários de aviões e tudo o mais, começamos a trocar ideias a respeito dos casos.

 — Escutem... — Começou Sarah — vocês têm algo a dizer da casa do Cooper?

 — Um alienígena detectado... Pelo scanner.

 — Então pelo menos sabemos com que raça estamos lidando... Não é surpresa nenhuma que seres paranormais estão envolvidos. O fato de ter sido justamente um ataque a Arthur Cooper já deixava isso claro desde o princípio. O objetivo deles é claro.

 — O objetivo deles é claro? — Interrompeu Joey — Capitã... Eles queriam o envelope ou pegar o Arthur?

 — Quando se leva em conta as possibilidades de finesses com corpos de seres paranormais como aliens, homens-lagarto ou afins... O que menos importa é capturar o dono da assinatura com vida. O papel do convite é de material único e dotado de seriais e senhas espalhadas por toda a parte. As assinaturas são impossíveis de falsificar devidamente. A tinta e o papel só podem ser produzidos em Arena. Entretanto é muito fácil falsificar uma carteira de identidade. Ou pior: a própria cara de Cooper.

 — Hum. — Fez Joey. — Então, como eu imaginava: esse ataque foi dirigido ao verdadeiro Arthur Cooper, o político, mas foi realizado por alguém que não sabia exatamente nada além de seu nome completo, e por isso teve como alvo a pessoa errada.

 — É o mais provável. — Admitiu Sarah.

Que sorte que aquele velho não estava lá na ocasião.

 — Falando em Cooper... — Perguntei, dirigindo-me à Joey — Por que você e a Ewalyn não encontraram esse outro Cooper da primeira vez? Quando procuramos nos arquivos sobre a existência do destinatário do convite aqui em Sproustown? Por que só depois que a identidade foi achada e lá em Rothershore?

 — Esse é um ponto... — Concordou Sarah.

 A garçonete trouxe primeiro o pedido de Sarah e nossas bebidas. Nada alcoólico porque eu tinha que dirigir até a central. Pegamos apenas um suco cada um. Sarah pegou um combo barato que mais parecia comida para formigas. Vinha um sanduichínho miserável e a porção de batatas era ínfima.

 Joey respondeu:

 — Er... Eu não sei... Por que ele é autônomo e assim não estava nos registros? Os órgãos registram só os dados das pessoas importantes. Quer dizer... Importantes para eles.

 — Pode ser... Que coincidência... — Comentou Sarah — Se eu tivesse encontrado o Arthur Cooper B antes talvez estivesse na pista errada? Ou talvez estivesse já na certa e teria prevenido esse último ataque? De qualquer forma não se pode negar que foi uma grande coincidência... Sim... Grande coincidência...

 Queria acender um cigarro, mas vi a plaqueta proibindo pendurada na parede. Sarah mudou de assunto:

 — Vocês chegaram a ter uma impressão de quantos foram os assaltantes? O relato afirmava que eram dois e que assim que entraram na casa a polícia foi avisada, tendo chegado ao local do crime o mais rápido possível. Foi um tempo competente. Treze minutos.

 — Eram dois assaltantes. E sim, isso foi escrito no relato. — Respondi.

 — Eu sei o que foi escrito no relato. Eu quero saber se “vocês” concordam, analisando as pistas, se realmente foram dois. Não teriam sido três? Assim, como em três assaltantes que pegaram o envelope da central há um dia atrás?

 — Não. Definitivamente só dois. Dois tipos de bagunças diferentes dentro da casa, dois locais vasculhados simultaneamente e separadamente.

 Joey acrescentou:

 — Teve também muito pouco tempo para eles vasculharem o local. Tanto que só pegaram os objetos de valor que estavam mais à vista. Com tão pouco tempo, se estivessem em mais gente, assim como o tenente falou, nós teríamos visto mais que duas peças onde tudo se encontrava espalhado.

 Sarah empurrou sua bandeja para o centro da mesa e começou a levantar. Ouvimos a voz eletrônica anunciar a hora de seu voo.

 — Outro ponto a considerar seria... Tudo isso não passa de uma fachada para mascarar o ataque fazendo tanto Cooper quanto o jornal acreditarem que não passa de uma tentativa de roubo. Na verdade isso é quase certo. Aquilo ou foi uma tentativa de assassinato ou de sequestro. O objetivo era obter o próprio falso Cooper e não meros eletrodomésticos.

  Levantou-se e balançou os farelos da roupa.

 — Por que a capitã tem tanta certeza e tanta informação sobre este lance do tipo de papel e coisa e tal? — Perguntou Joey à Sarah — Foi experiência prévia? De quando trabalhava na Arena?

 — Pode-se dizer que sim. Não importa. Continuaremos investigando. Qualquer coisa nova, entrem em contato.

 — Você não vai nem levar o resto para a viagem? — Apontei com a cabeça para o resto do lanche dela.

 — Não estou com muita fome.

 Acompanhamos Sarah até a entrada e nos despedimos. Por hora o departamento dependia apenas de mim.

 — O que você vai fazer agora? — Dirigi-me à Joey — Eu e Ewalyn vamos nos encontrar para visitar Crane... Quer vir junto?

 — Você e Lowe? Não... Eu passo. — Joey apanhou o celular do bolso — Acho que “eu” vou me encontrar com a “minha” garota no lugar.

 — Sua garota? Como era o nome dela mesmo? Brigitt? Brigitte?

 — Você ainda está nessa? Não, tenente. O nome agora é Vanessa.

 — Creio que não vou chegar a aprender mais que o nome dela, mesmo... Bem... Boa sorte, boa noite ou bom do que seja lá que for.

 Foi ali, antes de se despedir, que Joey recitou o ditado de modo curioso, aquele mesmo ditado de mais de doze anos atrás:

 — Eles são pequenos. Eles comem pouco. Eles não falam muito sobre o passado. Hum...

 Foi aquela frase que ficou na minha cabeça durante o resto do dia até o momento que resolvi compartilhar esses acontecimentos. Por isso escolhi as baratas parasitas para apresentar desta vez. Aquela frase foi intrigante. Foi colocada assim, sem mais nem menos. Deslocada. Fora de contexto.

 — ...Mas acima de tudo, comem seres humanos. — Completei. Esse era o ditado. — Por que está dizendo isso? Suspeita que um dos assaltantes seja uma barata parasita? Os resquícios encontrados foram de aliens, e não teve quase nenhuma informação do comparsa.

 — Não... Estava pensando em outra coisa. Esquece...

 — Então ok. Mas o desgraçado é certamente um alien. E digo para você: tomara que seja o mesmo que fez aquilo com a Crane. Quero pegar os dois. O que fez aquilo com a Crane e o que enviou o veneno depois. Esses não me escapam.

 — Você é um policial exemplar, tenente. — Disse em tom de brincadeira. — Não me diga que você ainda está com a ideia do namorado dela na cabeça?

 — E quem mais poderia ter sido se não aquele Galloway? Alguém mais teria enviado chocolates? Ele era o namorado dela.

 E além de tudo era amigo do Chapman.

 — Muita gente poderia ter enviado chocolates. Bastava saber o endereço e o nome do namorado para se fingir de remetente... Bem. Apenas tente não tocar no assunto mais tarde quando vocês dois estiverem na frente da Emma, por favor. Deixe ela descansar. O que eu vou fazer é pegar um ônibus e voltar para casa. Boa sorte com a Lowe.

— Boa sorte?  Por que diz isso?

 Ele me lançou um olhar gracejoso.

— Esquece, tenente... E se quiser, pode fumar aqui, sabe? Agora já saímos da loja.

— Então que seja. Vou aceitar sua sugestão. Até amanhã. Se Deus quiser teremos mais notícias.

— Se Deus quiser. Até amanhã, tenente.

 Aquele dia foi uma merda. Mas pelo menos tinha acabado.

 Depois eu só me encontrei com Ewalyn e fomos visitar Crane na casa dela.

 Naquele dia eu estava estressado por causa do episódio com Crane, então minha cabeça não estava funcionando corretamente. Mal eu sabia que muito daquilo que Joey disse teve sim algum significado. E esse significado... Eu iria compreender apenas depois.



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