Volume 1 – Arco 1
Capítulo 47: Atração principal
Área restrita do Circo Formosa, 1340 D.M.
Teste de sucessão da guilda Glance, 133X D.M.
— Você mentiu para nós!
Os assassinos descartados, que tiveram seus nomes roubados, agora chamados coletivamente de peões, membros da família Glance que receberam a oportunidade de continuarem concorrendo pela vaga de sucessor da guilda, desde que matassem Selena, protestavam contra os seus aliados externos, que esconderam o verdadeiro propósito dos trabalhos que haviam pedido.
— Por que traiu nossa rebelião, só para nos poupar depois?
Roubar uma água especial, destinada a catedral, escoltar caixas de bananas e trazerem um líquido estranho de um poço exageradamente profundo.
— Eu não poupei vocês, por enquanto. O líder ainda tem uso para vocês.
Trazer cem encantamentos de luz e duzentos papeis mágicos, em branco.
Todos esses materiais e pedidos pareciam tão inúteis, que eles acreditaram que só serviriam para uma peça extravagante de um escritor conhecido, que eles nunca conseguiram colocar em ação.
Os peões discutem, quando descobrem que a Selena estaria entre os assassinados.
— ...Foi enviada a solitária por trinta dias. Ele deve ter um bom motivo para tudo isso. Está com pena dos moradores?
Alguns aprovam, outros negam.
Os que não concordam são presos em cordas e jogados no subterrâneo da tenda principal, por onde os artistas entravam, deixados ao lado de um circo gigante, feito de sangue.
Os que concordam seguiram com o plano. E cada um recebeu uma arma para comprar tempo.
— Isso é loucura! Uma segunda punição?
Alguns verdadeiramente queriam matar ela, outros só queriam dar o troco e superá-la por uma última vez, em uma última chance.
Lucca, tenda principal, 1340 D.M
Ao entrar na tenda, subir as escadas e sentar em uma das fileiras, todos tiveram sua atenção levada a uma trava de madeira nos bancos, com um formato e movimento semelhante a trava de uma montanha russa.
— Essa armadilha não é descarada demais? — perguntei.
— Faz parte de um acordo que ela fez com eles — respondeu Khajilamiv. — Para poupar os preciosos recursos da guilda, a Selena aceitou receber todas as armadilhas de braços abertos, caso eles não usem os materiais caros de camuflagem do setor de pesquisa.
— E na loja de chá?
— Como eles mesmos disseram, era só parte de uma recepção de mau gosto. Nenhuma das armadilhas tinha a menor possibilidade de ser letal contra ela.
— Isso significa que esse pedaço de madeira tem o potencial de matar todos nós?
— Outra regra é não envolver pessoas de fora.
— Mas essa foi suspendida pela modificação desse ano — disse Selena.
— O que foi permitido é ajuda externa, não envolver inocentes nessa disputa — retrucou Khajilamiv.
— Esses dois casos são cobertos pela mesma regra, que foi suspensa. Mesmo que a intenção do líder fosse interromper apenas a primeira parte, os peões podem quebrar a segunda parte e justificar que se confundiram. É uma desculpa razoável.
— Silêncio — disse o Barão. — Está começando.
Assim que todos os lugares foram preenchidos, o palhaço, que entretinha o público nesse tempo de espera, se despediu e saiu do palco.
As portas foram fechadas e todas as luzes se apagaram.
Me preparei para um ataque, mas foi difícil manter a concentração por tanto tempo. Depois de cinco minutos de espera, uma contagem surgiu da voz do narrador.
— Cinco, quatro, três, dois, um...
Um holofote amarelo se acendeu e foi direcionado ao centro do lugar onde o palco ficava.
Agora substituído por um chão plano, que se abriu onde todos olhavam e emitiu um vapor que cobriu a visão de todos.
Assim que a fumaça se dissipou, sobre uma nova camada de gelo, surgiu uma rosa vermelha e reluzente, que lançava o brilho por toda parte.
As pétalas se abriram e dentro de lá foi possível ver uma mulher encolhida, vestida com uma roupa ainda mais brilhante.
Desabrochando como a flor, quando ela ficou completamente de pé, revelando sua expressão desolada, coberta por uma maquiagem vermelha e verde, uma mola a lançou para cima.
Voando pelo céu, ela performou diversos movimentos que associei ao balé e prestes a cair, um homem balançando em um trapézio circense a agarrou pelos pés e começou a girar em alta velocidade, passando perto da plateia.
No meio da segunda volta, os dois foram gradativamente subindo, enquanto o holofote se virou para o chão.
Voltando minha atenção para o centro, vi uma multidão de patinadores vestidos com trajes rondando o tema de flores, vagando em círculos, perdendo velocidade, até pararem em uma pose dramática, formando a silhueta de uma rosa.
Com o ciclo de um suspiro, a música se iniciou.
Todos se dispersaram e começaram a patinar por um cenário de gelo, que se formou enquanto olhávamos para cima.
Então eles começaram a saltar, dançar e cantar, acompanhando a orquestra escondida no alto.
O gelo se rachou, um dos patinadores caiu, a orquestra fez uma pausa perfeita e a plateia deixou escapar um som preocupado.
Mas montado em um peixe gigante, o patinador retornou com um novo figurino.
Em um salto enorme, que pareceu durar minutos no ar, o monstro caiu na parte ainda intacta do gelo e quebrou de vez o cenário, derrubando todos os patinadores que restavam, dentro da água.
A música mudou para um tema animado, os patinadores emergiram com novas roupas de nado e começaram a fazer truques na água: manipulando jatos com magia, submergindo e saltando alturas impressionantes, criando redemoinhos e dando as mãos, formando uma imagem de uma picareta.
As luzes se apagaram completamente e quando retornaram, o gelo havia voltado em um novo formato.
Desse cenário, um novo personagem surgiu: vestindo uma mochila grande demais para seu corpo aguentar, um casaco de inverno, cordas e duas picaretas, acompanhado por fileiras de equipamentos de escalada sendo jogados por cima de seu corpo, por malabaristas esquiando na neve falsa, sendo despejada por pessoas na plataforma da orquestra. Um palpite intuitivo, pela maquiagem complementar a contorcionista do início, o herói.
Os equipamentos de escalada foram substituídos por pinos de gelo mágico, que deixaram a neve mais densa e criaram uma ventania, simulando uma nevasca.
Em meio a esse clima adverso, chegando ao topo, ele retirou uma bandeira de sua mochila, balançou três vezes e cravou no chão, estilhaçando o gelo e retornando a dominância da água.
Monstros marinhos surgiram, começando um espetáculo próprio.
Equilibrando cadeiras e saltando em grandes arcos, eles revelaram uma porção pequena de gelo, boiando na superfície.
Um trono, ocupado por um homem de rosto oculto por uma máscara e um capuz.
Com a música se intensificando, ele riu e retirou essas peças, revelando uma grande e bela coroa dourada. Mas seu rosto é o que mais chamou a atenção: uma cabeça de polvo, com a boca coberta por tentáculos.
As crianças da plateia o vaiaram.
Sem reação, ele levantou seu braço e apontou seu cetro de gelo à direita, fazendo surgir mais uma ilha de gelo, ocupada pela segunda abominação: uma mulher com braços de enguia, demonstrando suas habilidades elétricas.
Apontando seu cetro para a esquerda, um homem com cauda de camarão surgiu, dando uma cambalhota e olhando para frente.
A última ilha surgiu, porém nessa só havia uma ostra gigante.
Se abrindo lentamente, foi revelado o rosto de uma mulher humana, segurando uma pérola branca em sua boca.
Depois de abrir completamente, surgiram braços, que levantaram o resto do corpo, iguais a de uma mulher comum.
Ela cuspiu a pérola para o alto e fogo saiu de sua boca.
A luz se apagou e uma narração se iniciou.
— Após reunir guerreiros, magos e sábios de todos os cantos do continente, o herói Alessandro, antes conhecido como escalador, partiu para o reino dos homens peixe, buscando além da reconquista das ilhas centrais, o resgate da princesa de Éden, chamada de Rosa.
“Alessandro?”, que coincidência.
Uma batalha épica se iniciou.
Cada grupo de três malabaristas atiravam pinos de efeitos variados como: uma grande nuvem de fumaça, simbolizando uma explosão, estilhaços de rocha, luzes ofuscantes e sombras desnorteantes, contra cada um dos reis demoníacos.
Após uma sequência de grandes truques sincronizados com a batida da música, todas as aberrações foram derrotadas e o caminho foi aberto, para o confronto final, do herói contra o rei polvo.
Com um monólogo clichê de vilão, ele afundou e revelou enormes tentáculos de pano, movidos por dezenas de nadadores.
O escalador desviou até se cansar e ser acertado, mas ressurgiu e cortou os tentáculos com suas picaretas.
Um algodão tingido de vermelho foi despejado nas águas e logo dissolvido.
Com um salto de quatro voltas no ar, auxiliado por cordas e acrobatas disfarçados de gaivotas, ele deu o golpe fatal, atingindo o coração do rei polvo e resgatando a mulher rosa.
O gelo retornou, em um último movimento com todos os malabaristas, todos deram suas últimas despedidas e em três grandes linhas, se curvaram e foram aplaudidos energeticamente pelas crianças.
Os adultos, porém, riam com sorrisos maléficos e lamentavam pelo que elas passariam a seguir.
No meio do que parecia o fim da peça, a mulher rosa congelou e se despedaçou, revelando ser apenas uma cópia, criada a base de um golem.
Os reis dos mares retornaram e emboscaram os malabaristas, matando todos e o herói saiu se arrastando pelo chão, desmaiando e caindo dentro do mar.
Uma cortina caiu do céu e as luzes se acenderam.
Sobre o amargo som de choro das crianças, a peça se encerrou.
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