Volume 1 – Arco 1
Capítulo 45: Um restaurante no Tibete
Acompanhado pelos olhos da multidão desde suas espiadas pela cortina, o comediante subiu ao palco, vestindo suas roupas de sempre: um grande chapéu de bobo da corte, sapatos comicamente alongados, com bolinhas brancas e felpudas nas pontas e uma maquiagem pesada, alternada de branco e vermelho, com listras, estrelas e formas geométricas.
Se curvando e devolvendo a recepção calorosa com um lançamento de beijos ao ar, ele começou seu espetáculo:
— Sabe, tem dias que a vida faz um papel tão bom em criar cenas divertidas, que mal tenho que me esforçar para fazer meu trabalho. De verdade, a história de hoje os fará rir, mesmo que apenas narre o que aconteceu, sem acrescentar nem uma vírgula!
Agente do departamento federal de investigação dos Estados Unidos.
Em meio ao grande caos que se instaurou, com a chegada de monstros dignos dos piores terrores cósmicos pelo arco do triunfo e pelo que se seguiu, com o surgimento de inúmeros portais ao redor do mundo; todos os países tiveram que mobilizar esforços hercúleos em se informar sobre a nova ameaça, reunir soldados valentes para enfrentar inimigos desconhecidos e inventar formas urgentes de proteção a seus cidadãos.
Nesse curto período de confusão total, todos os países se reuniram, todas as guerras foram cessadas e todos voltaram seus esforços integrais para a defesa do planeta Terra.
Mas mesmo investindo recursos, muitas vezes além dos fundos disponíveis, quase nenhum país foi poupado do massacre que se sucedeu.
E só podemos empregar a palavra “quase”, pois houve uma única e bizarra exceção: o Tibete.
Após uma enorme investigação, criada pelo surgimento do relatório Chinês de zero casualidades, a suspeita de que esse número era forjado, para fins de propaganda, caiu por terra.
De alguma forma, todos os cidadãos daquela região, seguiram suas vidas, na tragédia em que as maiores potências falharam em prevenir.
E pela pilha de relatórios em minhas mãos, o responsável não era segredo algum, para ninguém da vila em que ele habitava.
Todos apontavam para uma padaria, onde 22 dos meus colegas desapareceram, sem conseguir adicionar informação alguma sobre a anomalia que vivia ali.
Um monstro comparável aos guardiões do primeiro dia de caos, aquele que dizimou todos os invasores que ousaram cruzar as fronteiras de sua casa.
Eu, sozinho, fui designado para seguir na busca do reconhecimento e da avaliação do seu risco ao governo Americano, mesmo ao custo da minha vida.
— Será que errei o endereço?
Estava diante de uma padaria, como mencionado, mas centenas de pessoas riam e almoçavam tranquilamente.
Segui olhando de longe, por mais dois dias, antes de realizar um avanço mais direto.
Pela manhã, por preços incrivelmente acessíveis, a padaria vendia pães de alta qualidade e doces comparáveis aos melhores hotéis cinco estrela.
Com o importante propósito de me misturar na multidão e não atrair atenção, comprei alguns e os experimentei.
— Terrific! — Após instintivamente emitir esse elogio, cobri minha boca e abaixei meu rosto, de vergonha.
Então dois habitantes locais se aproximaram, deram duas batidas nas minhas costas e em com um inglês quase impossível de entender, disseram:
— Não precisa esconder! Todo mundo, primeira vez, mesma reação! Bom, bom! — E foram embora, com uma sacola para a viagem, em uma bela embalagem branca e dourada, sem dizer mais nada.
Um deslize benéfico, visto que estavam acostumados com essa reação de turistas, que por sinal, vinham aos montes.
Meu plano ainda seguia.
Das onze da manhã até as uma da tarde, o restaurante fechava para uma pequena pausa, então reabria para um self-service, que sempre continha um prato da culinária japonesa, um prato da culinária russa e uma mistura que variava de acordo com os ingredientes disponíveis.
Sobre essa mistura, nunca vi algo parecido, não parece ter vindo de país algum, talvez uma invenção do chef?
Falando nele, nunca o vi pessoalmente e quando perguntei sobre ele, sempre recebi uma resposta parecida:
— Agradeça pela comida e vá sem causar problemas. Até saber o nome daquele homem, para estrangeiros com má intenção, é uma sentença de morte.
Oficialmente, a padaria fechava de vez às quatro horas da tarde, porém, a atendente e o cozinheiro auxiliar, que garantia que a comida nunca faltasse nos recipientes de metal, esperavam até que o último cliente terminasse de comer.
Mas se alguém tentasse entrar após esse horário, era barrado por uma barreira invisível, o primeiro elemento digno de nota, desde que cheguei aqui.
Para o público geral, o expediente desse restaurante levemente estranho, mas muito barato, terminava aqui.
Só que todos sabiam que um último turno, secreto e exclusivíssimo, se iniciava, para o seleto grupo escolhido.
— Como reservo esse jantar secreto? — perguntei a uma espiã da Inglaterra, enquanto compartilhava um bolo de cenoura.
— Há duas formas, que aprendi com um agente da Coreia do Sul: Vencendo um leilão, que ocorre toda semana, na praça próxima ao templo e recebendo uma indicação de alguém que já recebeu um convite. O convite do leilão, porém, não recebe o direito de indicação, apenas acompanhante e o convite por indicação, não pode ser leiloado.
Espiões e agentes, eram outro tipo comum nesse lugar.
E como todos os outros países estavam tão estagnados quanto o meu, de vez em quando, era possível ver países aliados discutindo abertamente sobre como conhecer o dono desse lugar.
— O leilão parece a medida mais fácil.
— Quero ver tentar convencer o seu superior. Já vi desde príncipes, até donos de guildas, se matando por um.
— Se conseguir um convite é impossível, podemos capturar um dos convidados.
— Que ideia original. Vá em frente — respondeu ela, em um tom irônico.
Tão perto, mas tão longe. Uma figura que parece acessível, é amplamente conhecida por muitos, mas que tem força suficiente para se manter anônimo.
— Bom, vim aqui apesar de saber o quão impossível essa missão seria. Obrigado pela ajuda, estou te devendo um favor. Hoje, tentarei invadir o jantar secreto e desmascarar esse homem misterioso — Me ofereci para pagar a conta, mas ela impediu. — O que foi?
— Retire o que disse, agora.
— Tenho minhas convicções firmes como uma rocha, o medo não irá...
Senti meu corpo enfraquecer, então caí no chão.
Sala de jantar.
Cansado da escolha de sempre do chefe, o auxiliar de cozinha colocou um VPN e começou a passear pela tela inicial de sua TV inteligente.
— Música Brasileira?... Talvez um jogo de futebol? Já que o ministro do esporte virá junto. Talvez seja ofensivo, tanto quanto os estereótipos russos?
Passeando na página de vídeos em alta, o cozinheiro se espantou em ver uma longa composição de música clássica.
Clicando e passando pelos anúncios, foi surpreendido por um forte rugido de trombeta, seguido por um solo de violino, que o forçou a abaixar o volume rapidamente.
— Desculpe, vou tirar imediatamente... Já coloco o de sempre.
— Espere. — O barulho alto atraiu Hiroshi, mas ao invés de repreender Boris como sempre, ele fechou os olhos e apreciou a música. — Ele é bom, qual o nome?
— É um compositor brasileiro, deixa eu ver... Ih, parece que é um canal com o nome automático? Usuário_9342? Será que é um repost?
— Não, é o canal dele mesmo. Li algumas matérias sobre esse compositor misterioso — disse Hannya — Reencarnação do Beethoven, futuro da música... Não estão poupando elogios...
No meio dessa discussão, os estrondosos passos do presidente, alertaram sua chegada.
Imediatamente, todos mudaram suas expressões e voltaram a trabalhar.
— Seja bem-vindo ao meu humilde restaurante — disse Hiroshi. — O menu de hoje consiste em quinze pratos e como o senhor pediu, conterá grandes porções de carnes da melhor qualidade.
— É disso que estou falando! Hahaha! Sem se segurar no tamanho dos pratos, viu?
— Não esquenta, pode repetir à vontade! — disse Boris.
— Gostei desse cara! — Dando uma olhada para os lados e mexendo seu nariz, o presidente perguntou: — Estão sentindo esse cheiro de sangue?
— Peço que ignore. Eram só alguns intrometidos, que tentaram arruinar sua noite.
— Essas potências arrogantes... Não conseguem se contentar com um bom prato de comida, não é? Se quiser, posso dar uma dura neles!
— Fique tranquilo, já preparamos um presentinho para eles — disse Hannya.
Robin Narak
— Que história absurda, não é? E pensar que tantas figuras históricas se encontraram em um só lugar.
— Robin... — disse uma voz, por trás do palco. — Eles começaram.
— Droga. Enfim gente, por hoje é só! Obrigado por virem!
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