Volume 1 – Arco 1
Capítulo 43: Treinamento especial contra assassinos de baixa categoria
Robin Narak
A fuligem demarcava uma linha perfeita entre mim e a mansão, que agora, não passava de um buraco no chão, um recipiente cheio de lixo, uma tragédia antiga.
Quando cheguei, até as cinzas haviam esfriado.
Com o tempo, a curiosidade dos moradores se cessou e todos seguiram com as suas vidas.
Depois deles, os investigadores, que tomaram suas conclusões e decretaram o caso como encerrado, antes do esperado, por terem encontrado o piromaníaco, que se entregou.
Após até dos catadores, que vasculharam e tomaram tudo de valioso que restou, dei um passo e atravessei essa linha.
Ao perceber que eu estava diante dos corpos dos meus pais, uma fúria incontrolável dominou o meu ser, porém, deixei o tempo gradativamente roubar esse calor e as lágrimas, minha força.
Não intencionalmente. Caso tivesse a oportunidade, provavelmente desmembraria o culpado com minhas próprias mãos. Mas por ser impossível de tomar qualquer ação, já que o culpado estava longe do meu alcance.
Como seria o meu destino, caso visse com meus olhos chamas, ao invés de resquícios de madeira queimada? Como viveria, caso o culpado decidisse fugir?
Tive sorte. Assim decidi interpretar o que vi e o que passei. Avistando de longe todos os possíveis mundos piores que o meu, percebi meu privilégio.
— Como pode pôde perdoar o homem desprezível que te vendeu por míseras frações?
Até se ele fosse verdadeiro responsável, de que crime o acusaria? Na verdade, fui salvo de morrer de fome, tive sorte.
— Aqui estou, deixe me ver suas feridas.
Desde aquele dia, quatro anos se passaram.
— Você é um pequeno anjinho na Terra. Ele não merece ser cuidado por alguém tão bom. Estou bem, obrigado. Pode ir ver os outros.
Minha vingança contra aquele que cometeu o pior dos pecados, é viver uma vida feliz e fazer duas vezes o bem, para todo mal que ele causou. Não vejo o que me foi tirado, mas agradeço pelo que tenho.
...
Se pela competência, trabalho duro e bom caráter, ele alcançou o favor de todos.
Pelos abusos exagerados do supervisor do circo, uma rebelião começou a se formar.
Nesse dia, porém, nunca foi relatado coisa alguma.
No centro de vinte e sete homens adultos, uma criança os acalmou.
Antes mesmo que começasse, a rebelião foi contida.
Esse era o seu trabalho. Uma função estranha, tão ocasional, que permitia seu segundo trabalho, no bar do outro lado do rio.
Testado por imensas provações, o prodígio de coração puro, caridoso com os necessitados, pacífico em suas soluções, sonhava em se juntar a um herói sanguinário, em busca de alcançar o outro lado do mar.
“Comédia é uma arma elegante.
Uma anestesia antes de um corte sutil, que mata por hemorragia.
Publicamente, eternamente, posso desprezar daquele que jurei vingança e receber sozinho todas as glórias.
Tudo que me irrita, tudo que odeio, tudo que desejo que se destrua.
Em espetáculo, sobre a máscara da arte, posso humilhar e manchar na mente de milhares.
Por isso, me acalmo. Desconto minha energia no que vale a pena, canso minha raiva, por aquilo que não traz punição.
Tive sorte em descobrir essa forma de viver.”
Lucca, Mansão do Visconde Laika.
Acordei cedo, completamente disposto a começar um novo dia, pelo maravilhoso sono, talvez pela primeira vez, em uma cama de verdade, desde que cheguei nesse mundo.
Tomei um bom banho refrescante, abri as cortinas e dei bom dia aos pássaros.
Mas logo minha animação foi contida, pela decepção que nunca deixava de esquecer.
O irritante exagero no uso dos perfumes, se torna suportável perto do sofrimento de um estômago vazio. Aqui também, eles não servem um café da manhã.
Tive que me contentar com um copo de água, então comecei a planejar o que faria nesse dia livre.
“Preciso de novas roupas...”, se já tinha poucas trocas, desde minha batalha contra as toupeiras, tive até que emprestar algumas roupas de uns cavaleiros.
— Com quem eu falo para solicitar uma saída? — perguntei para a empregada do turno da manhã, uma das três, que rotacionavam para me vigiarem a todo momento.
— Depende, qual o propósito?
— Gostaria de comprar algumas roupas.
— Se for isso, posso eu mesma chamar o alfaiate da família.
— O que for mais conveniente.
— Com licença.
Esperei quinze minutos até a porta se abrir novamente. Porém, ela retornou sozinha.
— Infelizmente, ele está fora pelo período da manhã e da tarde, pois foi a procura de alguns tecidos e botões em falta. Prefere esperar até ele chegar ou sair para fazer compras, como inicialmente desejava?
— Se ele chega hoje, posso esperar.
Com esse problema facilmente resolvido, pensei em outras necessidades. Todas resolvidas na mesma agilidade.
Em menos de duas horas, resolvi todos os meus afazeres do dia.
“Quantos trabalhadores integrais moram nessa mansão? E ela também... É competente demais!”
— Vou a biblioteca.
Ela acenou com a cabeça, trouxe um novo calçado de caminhada e abriu a porta para mim.
— Irei buscar a chave, espere um pouco.
Com o retorno dela, caminhamos pelo corredor, encontrando alguns rostos conhecidos. Ela destrancou e abriu a porta, então entrei na biblioteca.
— Droga...
— Qual o problema?
— Não foi nada.
Abrindo o primeiro livro que achei interessante, fui relembrado de que não conseguia ler a escrita desse país.
“Outro plano frustrado?”
Resolvi continuar procurando em prateleiras mais esquecidas, negligenciadas pela falta de uso, até encontrar um livro em uma língua que entendia, um livro de filosofia, da terra da abominável Santa.
Em circunstâncias melhores, seria mais seletivo, mas a esse ponto, estava disposto a aceitar até um livro de culinária, nesse lugar onde cozinhar é quase impossível.
Peguei o livro, coloquei sobre uma das mesas de madeira e comecei foleando, sem nenhum propósito em mente.
Terminando de olhar dessa forma, duas vezes, passei para o sumário, li todos os títulos, então comecei pelo prefácio, que geralmente pulava.
Conhecendo a história e motivações do autor, continuei para o primeiro capítulo, então para o segundo, e segui até esgotar as páginas.
— Que perda de tempo.
O assunto era desinteressante, por se tratar de um tema já dominado pelos estudiosos da Terra, não aprendi quase nada de novo sobre esse mundo e por ser um artigo acadêmico, não foi nada divertido.
— Poderia me guiar para o centro de treinamento dos cavaleiros?
— Deveria buscar uma espada, também?
“Estou indo apenas para assistir os dois grupos de cavaleiros se digladiando, antes que o tédio me mate.”
— Não, só quero encontrar alguns amigos.
Andando até lá, encontrei a Selena treinando sozinha.
— Onde estão os outros? — perguntei.
— Foram caçar juntos nas montanhas, por causa de uma disputa boba.
“Droga, deveria ter vindo para cá direto.”
Me sentando no canto e lamentando pela perda dessa oportunidade, percebi que essa situação também poderia ser útil.
— Como o confronto contra os assassinos é inevitável... Poderia me treinar? — pedi para a Selena.
— Em que área? Nos quatro caminhos, nas escolas ou em técnicas gerais?
— No que for útil e possível de aprender, no curto tempo que temos.
— Hm...
— Aliás, enquanto reflete sobre isso, o que são esses caminhos, que já ouvi falar mais de uma vez?
— Os quatro caminhos dos magos?
— Explique primeiro, para ver se é.
— São os quatro descendentes diretos das quatro magias ancestrais que os grandes imperadores da era de paz usaram para dominar o mundo, chamados de: caminho da borboleta, da aranha, da cigarra e da formiga. Ou canto dos espíritos, encantamento das palavras, conjuração da música e criação das divindades.
— Deveria trazer o Khajilamiv pela explicação longa? Eu entendo essas palavras, mas não significam nada em específico.
— Para que você quer saber isso? Você nem tem mana. As escolas marciais são bem mais úteis para alguém no seu estado.
— Essas também têm um número específico? Acho que sei de uma, a escola das barreiras... Um prisioneiro que conheci, foi um aluno. Os monges dos montes de nome estranho também contam?
— Se fosse listar todas, passaria o dia inteiro falando. Diferente da magia, artes marciais são bem mais acessíveis e é bem mais fácil fundar um estilo e uma escola nova.
— Mas qual a mais famosa?
— Se perguntar para mim, obviamente responderei que o estilo da guilda Lance é o melhor. Mas chega de papo furado, já decidi o que te ensinar. — Ela correu para pegar alguns materiais e voltou explicando: — Pela sua condição te impedir de praticar quase todas as artes das escolas principais, o mais realista é imaginar que você vai perder todas as suas batalhas. Com isso em mente, o que posso é te ensinar a fugir e desviar.
Diferente do seu caso, mas com o mesmo efeito de anular a magia, por meio de um artefato que encontrou em uma masmorra, um homem criou uma técnica curiosa.
Pelas propriedades da anulação serem estranhas, seguindo um método muito específico, é possível criar um vácuo e puxar artefatos mágicos ou pessoas com uma grande reserva para perto, em baixa velocidade e encostando, lançar e ser lançado para trás.
Não serve exatamente para ganhar um duelo, mas é bom para fugir.
Para isso, é necessária uma pedra de mana cheia e uma esgotada.
Então coloque a pedra vazia, sobre a sua mão fechada.
Aperte bem a pedra de mana cheia, até se dissipar.
Pegue essa pedra com a outra mão e rapidamente esfregue as duas mãos fechadas, sem encostar as pedras de mana.
Assim, a próxima pessoa ou objeto que encostar, com um tempo limite de vinte segundos, causará o impacto.
— Não tem algo mais útil? — perguntei. — Acho melhor focar no básico que depender de um truque específico assim.
— Em um dia, é difícil ensinar muito além de um truque. Mas contra eles, treinar a audição e reflexo geral, pode ser útil. Eles conseguem esconder o som dos passos, mas o lançamento das adagas ainda emite um farfalho.
— No tempo em que escutar, já não vou ter morrido?
— Por isso que vamos treinar. Como eu sei o tipo de lançamento deles, consigo imitar o som exato, a trajetória e velocidade.
— Quer mesmo ensinar a como se defender de uma técnica secreta da sua família? E se um dia formos inimigos?
— A técnica ensinada a eles é mil vezes inferior à minha. E no seu estado atual, é ousado assumir que pode ser uma ameaça a minha família. Mas pensando bem, mesmo se for, não me importo. Olha a cabeça!
Com esse anúncio, fui atingido por uma sequência de placas de madeira, moldadas no formato de adagas.
Sem tempo para respirar e sem conseguir nem reagir, continuei sendo espancado por meia hora.
Até que, por sorte, de tanto apanhar, meu corpo se moveu instintivamente e consegui desviar de uma adaga.
— Agora você está pronto, toma.
E ela entregou um artefato de barreira.
— Como é impossível aprender a desviar em um dia, você só precisa do reflexo para ativar esse artefato.
— Para ativar, não é necessário mana?
— É verdade, bem lembrado. Peça para o Visconde ou Barão por um isqueiro que acende a base de mana, eu posso modificar a pedra de mana que alimenta a fagulha para emitir uma onda forte o suficiente para ativar o artefato. Então eu passo uma fita nos dois e deve funcionar.
— Obrigado pelo treinamento...
— Esperem, não parem ainda! — E o Voyro surgiu de uma das árvores. — Me deixem brincar também!
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