Hant! Os Piores Brasileira

Autor(a): Pedro Suzuki


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 36: Reencontro inesperado

— Vocês já fizeram muito por mim, podem ir sem peso na consciência — disse o coveiro, agradecido pelos afazeres domésticos que ajudamos a fazer.

— Eu insisto, pode pegar alguns — respondeu Rafun, oferecendo alguns dos artefatos roubados do colosso, como agradecimento pela estadia. — Se pudesse, entregaria uma quantia direta em dinheiro, mas como não sabemos o que nos espera no caminho, por favor aceite ao menos isso.

— Nesse caso, vou parar de atrasar a sua partida, muito obrigado. — E ele recebeu o presente.

— Estamos indo em cinco minutos! — gritou Prilio, para o alto, onde o monge meditava levitando, rodeado por borboletas, com um pássaro em cada ombro e um no topo da sua cabeça.

Ouvindo isso, ele caiu em alta velocidade, dispersando os animais que o faziam companhia, mas pousou lentamente.

O coveiro e o monge se despediram como velhos amigos, se abraçando firmemente.

— Enquanto eu estiver vivo, está convidado a retornar quando quiser — disse o coveiro.

— Digo o mesmo! Assim que encontrar o paradeiro do meu monastério, enviarei uma carta para cá, com o meu novo endereço. Espero que nosso próximo encontro venha sem demora e sem obstáculos.

— Que assim seja.

Do outro lado, um dos cavaleiros que calibrava um artefato em formato de bússola, junto de um arqueiro aventureiro que segurava um mapa, discutiam fervorosamente:

— As leis é que são absurdas em proibir o que os aventureiros fazem. Muitas delas só foram criadas para que os nobres mantivessem o monopólio de certos produtos e até sobre essas, a maioria dos aventureiros segue à risca! — argumentou o arqueiro. — Os exemplos que você me contou, são apenas uma pequena minoria que não representa o todo, assim como os recentes infames cavaleiros do Condado de Pivront, presos por abuso de poder, notícia que espalhou por todo império! Deveria assumir que todos os cavaleiros são corruptos como eles, apenas porque atualmente são os mais conhecidos?

 — Os números não mentem. Usando os mesmos cavaleiros, como você usou de exemplo, no mesmo Condado de Pivront, qual a proporção entre cavaleiros e aventureiros presos?

— Porque é muito mais fácil prender um aventureiro, sem título nobre, que um cavaleiro.

— Mesmo que seja, a proporção é de cem para um! Crimes cometidos por aventureiros aceitando missões ilegais estão em oitavo na lista de crimes mais comuns no império. Mesmo que metade desses julgamentos fossem injustos, a proporção ainda se manteria extremamente desfavorável para o lado dos aventureiros!

— Esses números certamente foram inflados.

— Qual a sua evidência?

— Você mesmo, não trabalhou como guarda civil, antes de se unir a escolta do Barão?

 

— Sim, mas o que isso tem a ver?

— Quantos aventureiros prendeu em todo seu serviço?

— Trabalhei por pouquíssimo tempo, não conta.

— Viu só? Sua visão dos aventureiros é baseada no que os outros dizem, não na realidade.

— Está afirmando que não podemos confiar em nenhum recenseamento criminal, porque são todos manipulados?

— Só estou dizendo que nem sempre são tão precisos assim.

— Ouça a si mesmo! Que absurdos está dizendo?

— Vocês dois! — gritou Rafun. — Podem continuar discutindo, mas façam isso sem tirar os olhos do artefato! Querem nos mandar para o meio do continente demoníaco?

— Foi mal, vou prestar mais atenção.

— Perdão, não ocorrerá novamente.

Com o fim da discussão, voltei minha atenção para o monge, que continuava divagando em suas respostas que deveriam ser simples:

— De onde você veio? Antes de se tornar um monge e tal — perguntou outro aventureiro.

— Certamente uma grande questão. Somos como tripulantes sequestrados por um navio de piratas. Certo dia acordamos em um barco em movimento, em meio a outros tão confusos como nós. Pensamos que sabemos onde estamos, conversando com outros, que acordaram antes de nós, porém, a verdade é que ninguém sabe ao certo de onde viemos, nem para onde estamos indo.  

— Só diga que esqueceu... Tem alguma ideia de como pode ter perdido a memória? 

— Outra grande pergunta. Nesse ciclo quase infinito de mortes e nascimentos, como posso ter perdido a minha memória de minhas vidas passadas? Um dia, enquanto aprendiz tolo, passei uma tarde inteira tentando me relembrar do que esqueci, só para descobrir que esqueci do que importava, no presente. Certo dia, pensei ter ouvido sussurros de lembranças de minhas vidas passadas, só para perceber que eram apenas dois colegas conversando do outro lado da parede fina de madeira do meu quarto, no horário que não deviam. 

 — Desisto...

Nesse tempo de preparação, percebi que algumas das montarias dos cavaleiros vieram até eles por conta própria, enquanto descansávamos.

Entre elas, a serpe do Prilio, que com o meu novo conhecimento, tentei encontrar diferenças visíveis que apontavam ser serpe, não dragão. 

“Apesar de correr em quatro patas, em certos momentos, como quando está parado ou descansando, ele fica sobre suas duas pernas traseiras, usando suas duas asas para manusear objetos, gesticular ou tocar no que deseja, semelhante a um bípede. 

Suas patas dianteiras são um pouco esquisitas, com o formato de asa, mas sem a função de uma asa.

Petrificada, afiada e pontuda, parecia até uma decoração ao invés de uma asa funcional quando corria.

Mas relaxando seus músculos, a asa se tornava mais como uma asa.

Será que consegue planar? 

Suas pernas também são um pouco diferentes da imagem estereotípica de um dragão, com uma base maior e achatada nas partes de trás, quase nem parecendo dedos, porém ainda diferente demais dos cavalos, para colocar uma ferradura.

Ao invés disso, a serpe usa uma luva de um brilho metálico, resistente, mas ainda levemente maleável, o que me faz pensar que não é um metal comum.

Sua maior semelhança, sem dúvidas é o rosto, mas até nisso, seus chifres se aparentavam mais com o de um bode do que com um dragão e seus olhos sem propósito, realmente pareciam carecer da astúcia de um dragão.”

No fim, não encontrei nada demais.

Caso o Prilio não me contasse, mesmo que olhasse por um longo tempo, provavelmente ainda acharia que é um dragão.

Todas essas diferenças, de alguma forma, ainda encontram um jeito de parecerem com um dragão. Sobre o mesmo tom marrom, a silhueta que se forma quando correndo, é inegavelmente a de um dragão. 

Demoramos cinco minutos extras, mas finalmente partimos rumo ao Viscondado do Rio Cieno, casa daquele homem maluco.

Aqueles com montaria andavam bem na frente, para avistar qualquer perigo e aqueles a pé, como eu, suávamos para manter um ritmo apressado.

Se com uma roupa leve, já me cansei em vinte minutos, nem imagino como os cavaleiros e guerreiros carregando armas e armaduras tão pesadas, mantinham o ritmo, com uma expressão plena no rosto.

Ao menos, conseguia ver ainda mais de perto, toda beleza da vida local e descobrir detalhes que passariam batido, como os padrões exóticos de algumas flores baixas que encontrei no caminho e consegui colher, ou a textura de algumas pequenas pedras elementais, escondidas no interior do tronco de algumas árvores.

Coletando uma delas e a quebrando com a mão, para ver o que aconteceria, um brilho sutil apareceu e logo se dissipou, deixando um calor residual e um fio de madeira que começou a se expandir, mas logo se retraiu e desapareceu.

 — Tem certeza de que estamos no caminho certo?  — perguntei, sentindo que já havia passado bem mais de uma hora.  — A esse ponto, não deveríamos estar vendo pelo menos algum resquício de civilização?

 — O artefato traça uma linha reta até o objetivo marcado, então apesar de estarmos tomando o caminho mais curto, provavelmente está longe de ser o mais eficiente — respondeu um aventureiro.  — Bom, é o que temos.

Olhei pelo menos três vezes para o céu, na esperança de uma confirmação, mas o Sol não se movia de jeito nenhum.

“Será que estou tão sedentário assim, perto dos outros?”

Parei de reclamar e continuei caminhando.

...

— O que aconteceu ali?

— Parece que uma das rodas da carroça daquele comerciante ficou presa em um buraco.

No meio do caminho, acabamos encontrando uma estrada que seguia para a direção que estávamos indo.

Antes dessa longa caminhada, nem imaginava o quanto um chão plano fazia a diferença. A dor nos meus pés até se cessou por um tempo.

— Aquela carroça não parece atolada.

— Os grão-mestres já devem ter ajudado.

— A roda quebrou — disse Rafun. — Estamos tentando arrumar uma solução provisória para ele conseguir chegar até uma vila próxima.

Chegando mais perto e vendo a logo de framboesa na carroça, procurei o comerciante e corri até ele.

— Não acredito que te encontrei desse jeito...

— Lucca!? Quanto tempo!

O comerciante que paramos para ajudar, era um dos dois irmãos framboesa, que tentaram me socorrer na ilha.

— O que aconteceu com o outro? 

— Uma grande felicidade, foi aprovado na escola de medicina da torre médica da capital do império! Sempre foi seu sonho e finalmente conseguiu.

— Vocês se conhecem? — perguntou Rafun.

— Claro! Nos conhecemos lá na... — Me apressei para tapar a boca dele com as minhas mãos, o impedindo de continuar.

— Por favor, não conte sobre aquilo... Isso ainda pode me dar problemas.

— Na guerra, um genocida se torna herói, se for causar alguma consequência, só deve ser positiva!

— Ainda prefiro manter minha imagem como um herói regular, antes do julgamento.

— Julgamento? O que você fez?

Depois de pedir para o Rafun nos deixar a sós, contei um resumo de tudo que aconteceu de lá até agora.

— Entendi. É uma pena que um herói tão benéfico para o Ducado esteja passando por isso, mas se sobreviveu naquela ilha sozinho, o julgamento deve ser moleza para você!

— Obrigado pela motivação, mas acho que não será tão fácil. O Duque que decidirá o meu destino, não é conhecido por ser terrível em casos como esse?

— Se for necessário, conte comigo para testemunhar ao seu favor.

— Ainda nem retribuí o favor anterior...

— Você já comprovou suas capacidades e por muito. Mesmo que haja risco, esse é um investimento com um potencial de retorno incrível! Só lembre de mim no futuro.

— Falou que nem os prisioneiros que conheci.

— Então tenho certeza de que também passou com facilidade pelo seu tempo na prisão, visto que haviam pessoas com uma visão tão boa como a minha! Se bem que não é tão difícil chegar a essa conclusão.

— Por que?

— Só de olhar para você, já me vem à mente uma grande heroína do passado.

— Quem?

— A santa Luchiena, é claro.

— Vira essa boca para lá...

— Não gosta da santa?

— Quem iria gostar, depois dela quase me matar? Enfim, chega de falar de mim. Teve sucesso na sua viagem?

— Estou com os produtos exóticos do Norte bem aqui. — E deu duas batidas em uma caixa com o selo de framboesa. — Foi bem divertido andar ao lado de tantos marcados.

— Então eles existem!? — disse um dos aventureiros intrometidos, que estavam ouvindo sem permissão.

— Claro que existem, vi até um de duas marcas com meus próprios olhos. O continente da união realmente é um lugar sem igual.

— Vai revender esses produtos na capital do império?

— Bem mais próximo, no festival do banquete.

— Pensei que o banquete se limitava apenas as famílias nobres.

— O festival anterior ao banquete, onde um novo general será promovido, será até aberto ao público, na parte externa da mansão. E o encontro da aliança dos comerciantes, que ocorre após o banquete, também costuma ter algo especial para as pessoas comuns. Varia entre testes grátis de novos produtos exóticos ou invenções revolucionárias, para mostrar que a aliança continua à frente da companhia do Oriente. Mas sempre tem algo de graça.

Seguimos andando e conversando juntos, até chegarmos a uma pequena vila que possuía um carpinteiro para concertar a carroça.

— Te vejo no Banquete! Procure entre as barracas de comerciantes autônomos! 

— Se não for executado, certamente irei!

Hahaha! É mesmo, boa sorte!

Nos despedimos e após uma pequena pausa para nos hidratar, seguimos andando.

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