Hant! Os Piores Brasileira

Autor(a): Pedro Suzuki


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 37: O incêndio na mansão Holt

Galiano, filho de Hans, 1338 D.M

Quatro prisões locais diferentes e sete multas, variando entre leves e graves.

Deveria tentar fugir ao invés de sempre me entregar?

Quem diria que seria tão difícil ser preso na prisão central.

Não queria depender de um plano tão arriscado, mas a esse ponto, parece ser a única solução.

Eu tenho que ser acusado de algum crime contra um nobre.

Se há algum padrão entre os pequenos crimes que resultaram em uma sentença desse nível, é que grande parte deles envolviam nobres.

O risco que me impediu de ter feito isso até agora, é que na mesma proporção, os julgamentos desse tipo acabavam em uma sentença drástica, como pena de morte ou exílio, onde ambos os casos encerrariam minha vingança como um fracasso.

Primeiro, por meio de jornais e algumas visitas a guildas dos informantes, encontrei o nobre mais odiado, com menos poder e menos conexões, o quinto filho do Barão Holt, de uma linhagem tão distante que mal poderiam se chamar de Fortuna.

Com meu alvo decidido, vendi tudo que possuía para comprar, por meio de um amigo, uma propriedade vizinha a sua mansão decadente, compartilhada entre suas duas irmãs, que também não possuíam chance alguma na guerra de sucessão.

E me preparei silenciosamente por dois meses, para sumir com qualquer suspeita que eles poderiam ter.

O dia chegou e já infiltrado como um funcionário independente da companhia de limpeza que eles chamavam semanalmente, me certifiquei que o nobre estava dormindo e o mínimo de funcionários estavam no local, então liguei todos os equipamentos a gás e fiz pequenos furos nos canos de metal que percorriam o subterrâneo da mansão.

Por fim, coloquei um encantamento de fagulha, ativável a distância, que comprei por um preço exorbitante, tranquei todas as portas e selei todas as janelas com um material mais grudento que a cola comum.

Sai da mansão, coloquei fogo no terreno vizinho que comprei e após a chama crescer consideravelmente, ativei o encantamento.

A mansão explodiu e pela falta de provas, fui preso apenas pelo crime de causar um incêndio culposo na casa de meu amigo e por danificar a propriedade de um nobre.

Ninguém se importava o suficiente para fazer uma grande investigação e me acusar do sério crime de assassinato ou melhor, um de seus irmãos devem ter até interferido para que não fosse investigado nem acusado por isso, como agradecimento por ter me livrado dele.

Confirmei isso após o segundo filho vir pessoalmente pedir desculpas por não ter conseguido me livrar da sentença que desejava desde o início.

E após três dias confinado na prisão local dos Holt, a carruagem que me levaria até a prisão central chegou.

Segurei firmemente a presilha favorita da minha filha, talvez pela última vez, então guardei em uma caixa de madeira e devolvi ao meu amigo e colega da escola das barreiras, que colaborou com meu plano.

Me despedi dele e parti, sem saber ao certo qual seria o próximo passo.

Robin Narak

O retorno da escola informal de cavalaria, sempre vinha junto da expectativa de uma longa noite solitária.

Caso não houvessem imprevistos ou horas extras, seus pais estariam o esperando, mas isso raramente acontecia.

Como previsto, a fechadura da casa estava trancada e as luzes apagadas.

Entrando e esquentando o jantar da forma mais fácil possível, logo chegava um terrível tédio.

Para passar o tempo, ele ia a pequena estante de livros, que seus pais compraram em seu aniversário de cinco anos e escolhia um para reler — já que havia lido todos — ou se aventurava experimentando um dos livros de palavras difíceis dos adultos, quando desejava uma nova aventura.

Nesse dia, ele optou pela segunda opção.

Navegando pelas capas, ele procurou por uma comédia ou biografia, seus dois gêneros favoritos, mas percebeu que também já havia lido todos.

Mesmo odiando os outros gêneros, decidiu ler um épico e subindo as escadas, pegou um livro enorme, de uma coletânea famosa.

Foleando as primeiras páginas, encontrou o sumário e decidiu escolher a história com o título mais idiota.

Começando a ler, logo teve que correr para buscar um dicionário.

E em um ritmo lento, leu do início ao fim, sem pausas.

Estranhamente, seus pais ainda não haviam chegado.

Com o sono começando a pesar, decidiu escolher uma história mais emocionante.

Não adiantou muito, já que essa vinha carregada de palavras ainda mais difíceis.

Olhando para trás, subiu no sofá para ter uma visão da janela e acompanhando os pedestres com os olhos, não viu ninguém com a aparência que esperava, mesmo esperando muito.

Desceu do sofá com um salto e decidiu retornar a sua zona de conforto, com uma boa e velha comédia, um livro infantil de aventura e trapalhadas de um animal falante, um clássico remodelado para ser compreensível as crianças.

Dessa vez não havia dúvidas, certamente algo estava errado.

Terminando sua terceira história da noite, seus pais ainda não haviam chegado.

Mas que escolha tinha? Decidiu esperar ainda mais.

Na quinta história, foi vencido pelo sono.

Teve um sonho agradável e o melhor de tudo, engraçado.

Recuperando a consciência, a primeira coisa que fez foi chegar para ver se não havia dormido demais, então correu para o quarto de seus pais.

Parecia vazio, mas como a cama era alta, não tinha como ter certeza.

Com muito esforço, escalou e saltou em cima das cobertas.

Mas não encontrou ninguém.

Como já era manhã, saiu pela porta da frente e foi cumprimentar os vizinhos e perguntar sobre o paradeiro de seus pais.

Eles sabiam tanto quanto ele, nada, mas afirmaram que logo seus pais viriam.

— Não há nada com o que se preocupar. Dias difíceis acontecem com todos, esse é só mais um deles.

Voltando a sua casa, esperou até ser levado para suas aulas matinais, onde tudo ocorreu como de costume.

Mas retornando, antes que conseguisse destrancar sua casa, foi interrompido por seus vizinhos, que o convidaram para passar essa noite com eles.

Uma noite se tornou duas e os dias se tornaram semanas.

Certo dia, um homem de vestimentas que só via em igrejas, veio a porta da casa e conversou com seus vizinhos.

Com um grande sorriso, tomou sua mão e o levou a uma grande casa, cheia de outras crianças.

Ali viveu somente por dois dias.

Enquanto caminhava pelas ruas, a procura de uma livraria para comprar mais distrações, escutou uma conversa entre dois adultos:

— Talvez tenha sido punição divina, isso que ele recebe por ser tão cruel com seu próprio povo.

— Finalmente teremos um pouco de paz nessa cidade.

No caminho de volta, através de diversos fragmentos de informação, já que esse assunto estava na boca de todos, tomou coragem para comprar um jornal e verificar o que havia acontecido.

Um sentimento desesperador tomou conta de seu corpo.

Lucca, 1340 D.M

Dessa vez, a bússola apontou para uma direção sem estrada.

Além da intensa variação de altura, raízes, galhos, troncos e folhas preenchiam todo nosso campo de visão.

Até os grão-mestres tiveram que desacelerar e empunhar suas espadas para abrir caminho, cortando o que viesse pela frente.

— Não tem como andar nesse lugar, vamos voltar e ir pela estrada — sugeriu um cavaleiro.

— Tinha que ter dito isso antes, agora já devemos estar mais perto do Rio Cieno que daquela estrada — disse Rafun.

— Mas na velocidade que estamos indo, voltar e dar a volta inteira ainda deve ser mais rápido que seguirmos em frente.

E como se a natureza quisesse o provar errado, logo depois dele falar isso, passamos por uma grande descida que nos levou a uma planície enorme, sem árvore alguma.

— Cuidado com esses buracos no chão!

Sem árvore, porém com uma grande variedade de cogumelos, plantas e arbustos, atrativos demais para aventureiros que escavavam todo terreno, checando ocasionalmente um caderno com a logo da guilda dos aventureiros, que provavelmente detalhava o tipo de planta que estavam procurando.

— Manuseio ilegal de produtos altamente venenosos, caça de animais exóticos, protegidos pelo Ducado e incêndio criminoso para aumentar a efetividade na caça de animais subterrâneos... Parece que todos os casos que deveria encontrar enquanto trabalhava como guarda civil se reuniram para aparecerem todos juntos hoje! — E o cavaleiro deu um meio sorriso e duas batidas no arqueiro aventureiro, que discutiu com ele enquanto arrumavam a bússola.

Diante de uma situação impossível de se justificar, com aventureiros até roubando as coletas uns dos outros, o arqueiro aceitou sua derrota quieto.

Já os grão-mestres, desceram de suas montarias e foram interrogar os aventureiros mais próximos.

— Você sequer sabe quantas infrações está cometendo? — perguntou Prilio.

— Só estou cumprindo uma missão básica da guilda, não estou cometendo crime nenhum!

— Esse terreno ao menos foi comprado pela sua organização?

— Ninguém afirma ser o dono desse lugar, então pensei que era permitido caçar aqui.

— Não é permitido caçar os animais que vocês estão buscando em lugar nenhum dentro do Ducado...

— Mas esse lugar já é usado há anos! Está até no mapa para iniciantes que comprei na filial principal da cidade.

— Por acaso você vem da cidade do Rio Cieno?

— Sim?

— Parece que estamos perto! — gritou Prilio, que voltou a conversar com o aventureiro em um tom baixo. — Isso facilita as coisas, você está...

— Quem vocês pensam que são!? — gritou um aventureiro sem apreço pela vida, se intrometendo na conversa. — Pretendem desafiar a autoridade da guilda dos aventureiros?  

— Que autoridade? — perguntou Rafun. 

— Eu paguei um seguro caríssimo para que fosse protegido em casos como esse! 

— Deixa eu ver. — O aventureiro hesitou em entregar o papel que provava seu seguro, mas com Rafun puxando tão forte ao ponto de rasgar caso segurasse por mais tempo, ele cedeu e entregou o seguro. — Esse pedaço de papel não vale de nada.  

— Típico argumento de um ladrão de espaços de caça. Você vai ver só! Como ousa roubar meu campo de coleta? Os superiores vão ouvir isso! 

— O seu campo de coleta? Comprou toda essa propriedade? 

— Caço e coleto aqui todos os finais de semana, todos sabem disso! 

— Todos sabem disso? Que ótimo, quanto mais testemunhas, melhor. 

— Já expliquei de onde vim e por quem vim, agora é sua vez, quem sustenta essa confiança sua toda? Consigo contar nos dedos as organizações que conseguem bater de frente com a guilda nessa região!

— Cavaleiro da ordem de Modros, atualmente sobre serviço da cavalaria Ducal. Sobre a autoridade que me foi concedida, você está preso. Por favor, não resista. 

Ouvindo isso, a cara do aventureiro ficou pálida. Ele começou a gaguejar, tomou o seu contrato de seguro de volta, então apontou como se tivesse descoberto alguma saída: 

— Eu só falarei na presença dos meus advogados, providos pela guilda dos aventureiros!  

— Tudo bem, depois que for detido e interrogado, após três dias úteis na cadeia preventiva, será oferecida a oportunidade de se defender. 

— C-cadeia? Sou um cidadão de nascimento do império! Você não pode fazer isso! 

— Império que autorizou faz cem anos a completa independência jurídica ao Duque? Talvez se tivesse nascido naquela época, realmente, seria uma boa saída temporária. 

— Não acredito... Meu sonho de me tornar um grão-mestre... Espere! O que prova que é um verdadeiro cavaleiro da ordem de Modros e não um farsante?

Rafun mostrou uma insígnia de platina com o brasão de Modros e o aventureiro desistiu.

— Por favor, ignore o que disse antes, viu? — implorou o aventureiro.

— Mesmo que eu faça isso, não mudará tanto a sua sentença.

— A guilda até cobre por casos como esse, mas não com um agravante escrito pessoalmente por um funcionário oficial do Ducado...

— Eu já te disse que esse seguro não funciona.

— Se não funcionar, ao menos posso processar a guilda por propaganda enganosa.

— Pensarei no seu caso.

Inicialmente, os aventureiros cooperaram, mas quando ficaram sabendo que poderiam ser presos, alguns decidiram lutar.

Um grupo se uniu em uma pequena formação de um tanque, dois arqueiros e um mago, para atacarem o Rafun, que achou graça na situação.

As flechas do arqueiro rebateram da cabeça do Rafun e caíram no chão, como se fossem de borracha, a batida de frente do escudo do tanque, não faz ele dar nem um passo e o mago parecia estar tendo dificuldades para reunir uma magia sequer.

Vendo esses resultados desastrosos, como bons aventureiros, decidiram seguir lutando.

Mas Rafun se cansou e com um chute, arremessou uma pilha de terra nos olhos dos aventureiros e os prendeu com uma corda.

— Eles estão partindo para a violência! — gritou um aventureiro distante.

Isso fez com que um grupo maior e mais competente viesse.

— Isso pode ficar problemático... — disse Edwin. — Devemos fazer igual o Barão naquela hora?

— Nem tem tantos assim, eu cuido disso. — E Prilio montou em sua serpe terrestre e avançou contra o grupo.

Os dois tanques se mantiveram firmes, o segurando por alguns segundos, permitindo com que as flechas com encantamentos em papeis, amarrados nas pontas, conectassem e causassem uma pequena explosão.

Avançando do meio da fumaça que se formou, Prilio surgiu carregando os dois tanques e arremessou ambos na direção da retaguarda.

Os aventureiros foram forçados a guardarem suas armas ou as jogarem no chão, para que os tanques não se ferissem no impacto, o que deu tempo para ele capturar mais três, deixando apenas dois restantes.

— Droga, vamos ter que usar aquele artefato. — Retirando um espelho do bolso, prestes a quebra-lo e ativar sua habilidade especial, o aventureiro foi impedido pelo outro.

— Está querendo nos matar? Ainda não percebeu aqueles aventureiros no canto, só observando tudo isso?

— O que tem eles?

— Olhe bem o brasão que carregam no colar!

Reconhecendo a logo do melhor grupo de aventureiros da cidade, os Lunares, o aventureiro perdeu sua vontade de lutar.

— Será que esses são aprendizes dos Lunares?

— Definitivamente! Eles criaram essa confusão para testarem novos membros. Sabia que aquele papo furado de cavaleiro de Modros era mentira... Se a gente ferisse um deles com nosso artefato de emergência, estaríamos em sérios problemas.

— Bem que eu ouvi que eles estavam recrutando para a expedição contra o colosso, deve ser isso.

Eles se curvaram e vieram cumprimentar os aventureiros que nos acompanhavam.

— Vocês são tão famosos assim? — perguntei.

— Claro que são! — respondeu com entusiasmo o aventureiro inimigo. — Invencíveis e infalíveis, só um grupo carrega esses títulos em toda cidade!

— Segura um pouco essa explicação... Está bem Rafun!?

Do outro lado, outro grupo de aventureiros lutavam com ataques coordenados, truques, armadilhas e alguns golpes perigosos, usando dos materiais venenosos que colheram para conseguir alguma vantagem, batendo nos fungos que colheram para espalhar o polem e atrapalhar os sentidos do Rafun.

— Será que eles vencem? — perguntei.

— São bem melhores que esses, mas ainda longe do nosso nível — respondeu Prilio.

— Do nível de vocês, isso sim.

— Você também não derrotou uma das toupeiras? E sozinho ainda.

— Mas não significa que sou tão forte quanto vocês.

— Que humildade, nobre herói...

— Estou falando sério!

O que os aventureiros não contavam era que o Rafun havia sido blindado contra todos os tipos de venenos da região, por uma panaceia que a Ampom nos alimentava diariamente, em formato de bolinhos.

Mas essa luta também se encerrou de maneira inconvencional.

— Olhem aqui! — gritou o aventureiro derrotado.

E a luta se encerrou com um deles olhando para o brasão dos Lunares e correndo para pedir um autógrafo.

No fim, todos foram detidos e levados para a cela mais próxima, em uma vila a caminho da cidade, onde ficariam por alguns dias e pagariam uma multa simbólica.

De fato, nisso a guilda dos aventureiros cobriu fielmente, como o aventureiro inimigo disse antes.

Mas para o azar de alguns, isso não se aplicava com os que atacaram os cavaleiros e causaram danos reais. Esses teriam que pagar uma multa bem mais significativa ou cumprir uma pena real na prisão central.

Com as finanças dignas de um aventureiro, boa parte decidiu passar um tempo preso que pagar a fiança.

— Deem meus cumprimentos ao Poeta, caso o encontrem!

Assim, seguimos andando, com a cidade do Rio Cieno a vista.

(Em destaque: Robin Narak)

Apoie a Novel Mania

Chega de anúncios irritantes, agora a Novel Mania será mantida exclusivamente pelos leitores, ou seja, sem anúncios ou assinaturas pagas. Para continuarmos online e sem interrupções, precisamos do seu apoio! Sua contribuição nos ajuda a manter a qualidade e incentivar a equipe a continuar trazendos mais conteúdos.

Novas traduções

Novels originais

Experiência sem anúncios

Doar agora