Hant! Os Piores Brasileira

Autor(a): Pedro Suzuki


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 25: Conversa de bar

Na frente do lugar onde fomos emboscados, chegamos a um bar que estava vazio por conta desse incidente. E pedimos duas porções de mais uma comida sem gosto e duas bebidas fracas.

De início, só ficamos sentados, olhando para o céu, sem dizer uma palavra.

— Mais dois, por favor.

O Barão quebrou o gelo, falando sobre mais algumas descobertas sobre a estátua no segundo andar cheio de bananas e como ela se despedaçou quando os magos dele tentaram investigá-la direito e que cada fragmento dela continha tanta mana quanto uma pedra elemental.

— Como que ladrões de uma cidade pequena como essa conseguiram colocar suas mãos em algo tão valioso?  — perguntei.

— Às vezes tem como encontrar algo assim em uma masmorra desconhecida ou uma loja de antiguidades. Se for um artefato amaldiçoado com alguma mágoa em relação a bananas, as ações deles fariam mais sentido.

— Vai procurar por lojas desse tipo amanhã?

— Seguiremos viagem assim que todos acordarem, mas vou deixar alguns mestres para investigar tudo com mais calma.

— Posso estar errado por não ter familiaridade com objetos desse tipo, mas não me parece que isso é algo que tenha sido encontrado por sorte. As operações deles não eram grandes demais?

— Você não percebeu quando invadiu a casa dele?

— O que?

— Que tipo de criminoso cairia em um truque barato do Rafun? Ou que tipo de guarda seria pego por uma armadilha de rato modificada?

— Está dizendo que...

— Mesmo com centenas de pessoas com uma força física comparável aos melhores soldados excluindo os grão-mestres, eles não conseguiram ferir gravemente nenhum de nós. Conforme os números deles foram diminuindo, começamos a perceber que eles não tinham critério algum para recrutamento. Havia até crianças lutando.

— Então não foi mérito dele ou de alguma organização maior, é só que ele conseguiu um artefato apelão?

— É o que eu penso sobre esse caso... Seu copo já está vazio? Mais dois aqui.

Talvez pelas bebidas, a conversa começou a fluir melhor e nós começamos a dar as primeiras risadas.

— Já falamos demais sobre mim! O Khajilamiv contou que você se casou com a sua esposa para se tornar um Fortuna, como isso aconteceu hein?

A face do Barão se enrijeceu e eu pensei ter estragado a noite com essa pergunta idiota, que ele já tinha mostrado claramente que se sentia desconfortável.

— Tem certeza de que quer ouvir essa história hoje? Vai azedar a bebida. 

Eu dei uma tossida falsa, que quase me fez engasgar de verdade na comida e mudei de assunto:

— Sabe o motivo do Khajilamiv querer tanto ir com você?

— Porque ele é uma criança.

— Além disso!

Ele começou a bater seu dedo na mesa, mexer em suas pulseiras e depois de virar o seu copo, respondeu:

— A tia dele mentiu sobre alguma história mirabolante que fez ele ficar assim?

— Tia?

— A princesa sobrevivente de Fortuna, Esfayl. Ela já fez o Khajilamiv querer ser um cavaleiro, cientista e agora o recente interesse dele na magia deve ser culpa dela também.

— Antes de eu responder, fiquei curioso agora, como um filho de um Barão é próximo de uma princesa?

— Principalmente na linhagem central e ainda mais nessa geração, os herdeiros sempre têm que desconfiar uns dos outros. Como aquele maníaco já matou todos seus irmãos e vendeu todas as suas irmãs para outras famílias, a princesa que restou só podia ser próxima do filho de uma princesa que já perdeu sua autoridade.

Diversas dúvidas surgiram junto da tremenda vontade de ouvir o resto da história de como isso aconteceu, mas como não sou idiota de cometer o mesmo erro duas vezes em tão pouco tempo, deixei de lado.

“Mais assustador que os criminosos.”

— Discípulo do Gamaliel. Ele está fazendo isso para tentar conseguir um feito grande o suficiente para ser chamado para a capital e ter uma chance de pedir para ser discípulo dele.

O Barão levantou uma de suas sobrancelhas e ficou perplexo por um tempo.

— Olha, dessa vez ela se superou mesmo.

— Já ouvi tanto sobre ele que tenho uma noção do quão difícil é esse objetivo, mas se eu usar minha influência como herói, não existe uma possibilidade?

O Barão tentou agradecer a proposta com uma expressão séria, mas o sorriso e depois a risada tomou conta dele.

— Você sabe quantos heróis já tentaram recrutar ele?

— Quantos?

— Mais do que podem ser contados nos dedos das mãos e dos pés.

— O chamado de um herói não é obrigatório?

— E quem criou essa regra?

— O imperador?

— Salvar o mundo é menos importante para aquele homem que manter o Gamaliel em sua asa. Se foi um imperador que criou essa regra, outro pode mudá-la conforme a sua vontade.

— Como que se mantém um mago que invoca um meteoro por diversão? 

— A biblioteca imperial. Os artigos do primeiro imperador de Kalogakathia e seus descendentes são ímpares em todo mundo.

— Alguns livros são o suficiente para manter alguém do calibre dele?

[Aviso: Se fizer descaso com as magnânimas obras literárias do grandissíssimo imperador, está sujeito a punição temporária de dano físico]

“Mas que...”, quando fechei o aviso, o Barão tinha uma expressão tão confusa quanto a minha no rosto.

— Seu olho... Que movimento foi esse?

— Coisas de herói.

— Sua inata?

— Não, minha habilidade apenas serve para prever o tempo, isso foi uma mensagem do sistema.

— Sistema...

— Aproveitando a situação, queria tirar uma dúvida.

— Diga.

— Ouvi que os alimentos dessa terra são como veneno para nós porque foram amaldiçoados, mas quem ou o que causou essa maldição?

— Isso foi culpa dos antigos proprietários dessas terras. Aqueles incompetentes que nem faziam fronteira com o conflito se dispuseram a ajudar para ganhar um favor do imperador, para resolver o problema de falta de dinheiro deles. E a solução genial que eles pensaram foi sequestrar o príncipe do reino demoníaco que estamos até hoje guerreando no Leste.

— O rei ficou irritado e usou seus magos para lançar uma maldição?

— Não, ele pediu ajuda para o império dos filhos do meteoro. O imperador enviou um de seus doze generais, tentando negociar, mas o Duque matou o príncipe sem querer e disse que não negociaria com demônios.

— Sem querer?

— Foi um vexame tão grande que eles usaram tudo para ocultar como isso aconteceu. Enfim, depois disso o general que tinha o motivo para interferir, lançou uma maldição nessa terra e foi embora. Mas o rei, ainda não satisfeito, aumentou ainda mais a intensidade de seus ataques e desde então os baronatos que não tinham nada com isso têm perdido mais e mais terra.

— Se essa maldição foi causada por só uma pessoa, alguém como o Gamaliel não era para conseguir solucionar esse problema?

— É como tentar combater um espírito com uma espada, são áreas diferentes.

— Por que não pediram ajuda para aquela organização da santa ajudar?

— Eles pediram, mas era algo problemático demais para lidar. Até hoje, mesmo com todos os recursos que Fortuna tem, eles ainda mantiveram a declaração que apenas o Labra conseguiria lidar com algo assim.

— Aquele homem assustador!?

— Se encontrou com ele?

— Ele me visitou quando estava na prisão.

— Então como o juiz não te absolveu na mesma hora?

— Aquele homem fez alguma coisa bizarra que voltou no tempo ou algo assim.

— Que azar. — Ele levantou a mão para pedir mais bebidas e prosseguiu: — Isso responde as suas dúvidas?

“Então de onde que os fujões tiraram aquela história da origem da maldição, tão diferente?”, provavelmente o Duque anterior ocultou até isso do público.

— Só não entendi como que a transição entre a família anterior e a atual aconteceu.

— Com uma maldição desse tipo eles se afundaram em ainda mais dívidas e eventualmente venderam seu título e terras para Fortuna, que ainda permitiu eles viverem como nobres não oficiais em uma terra pouco valiosa.

Depois de mais duas bebidas, minhas memórias se tornaram confusas e prefiro continuar sem saber o que aconteceu no resto daquela noite.

...

Na manhã seguinte, eu acordei em uma pousada sem saber como tinha chegado, me levantei com uma terrível dor de cabeça e um pouco de enjoo, lavei meu rosto e desci para seguirmos viagem.

— Como consertaram a carruagem tão rápido? — perguntei.

Naquela hora em que o Rafun soltou as cordas, a carruagem bateu com tudo na barricada, o que pensei ter sido perda total.

— Para isso que trazemos marceneiros, mecânicos e inventores — respondeu Khajilamiv.

— Só olhar para as olheiras daqueles coitados — disse Selena. — Malditos nobres exploradores dos trabalhadores honestos.

— Pagamos hora extra em dobro — disse Khajilamiv.

— Acabamos passando tempo demais aqui, não percam mais tempo! — gritou Trakov, que descobri ser o nome do líder da expedição.

— Para isso que saímos mais cedo — Contra-argumentou o Barão. — Contratempos como esse são de se esperar.

— É melhor chegar com folga que atrasados — disse Trakov. — O primeiro imprevisto abre a possibilidade que todos os outros venham também.

— De onde tirou isso?

— Experiência própria.

— Eu preciso de mais armas — disse Selena.

— Podemos comprar na próxima parada — disse Khajilamiv.

— E se encontrarmos mais um maluco no caminho?

— Já estamos prestes a partir e você não é o Lírio para conseguir nos alcançar a pé.

Subimos na carruagem e mesmo de dentro dela consegui escutar o fervoroso discurso do líder:

— Partiremos para o percurso mais longo dessa viagem! Nosso próximo destino é dentro do domínio do Grão-Duque, a cidade Sétima! A previsão é de dez dias, mas como atravessaremos a floresta por grande parte do percurso, ela pode ser estendida em mais cinco dias!

A maior viagem que já fiz foi para Foz de carro, mas até contando com as paradas demorou menos que dois dias e já pareceu uma eternidade. Agora dez dias para nem chegarmos ao Ducado... Eu deveria ter me preparado melhor.

“Se vai ser difícil para mim, imagine os grão-mestres.”

— Aliás, o que eles estão fazendo lá fora? — perguntei.

— Colocando as roupas e perfume para lidarem com veneno — respondeu Khajilamiv.

— Tem um perfume especial para lidar com venenos?

— Não, é só o perfume comum. Quando o primeiro Grão-Duque chegou em Fortuna, ele estabeleceu e democratizou a cultura de todos usarem o perfume criado em fabricas regionais, onde é adicionado a mesma fórmula para desintoxicar a comida.

— Então por isso que todos usam tanto?

 Para não morrerem para a maldição?

— O que protege as cidades da maldição é um sistema complexo no subterrâneo, o perfume só ajuda com o resíduo que fica, que de vez em quando pode causar efeitos colaterais.

Ouvindo isso, peguei os perfumes que o Khajilamiv me entregou e dei cinco borrifadas: no pescoço, axilas, na barriga, braços e pernas.

— Além da barreira em cima de nós que protege dos venenos, dentro dessa carruagem tem dois filtros de ar, pode ficar tranquilo.

— Isso é normal? Por que o meu corpo está brilhando? — Nas áreas em que eu passei o perfume, sugiram diversos pontinhos brilhantes como glitter.

— Eles apagam quando o perfume perde o efeito, para você saber quando repassar.

— Todos prontos? — gritou Trakov. — Vamos!

Depois dos cavaleiros de fora da barreira colocarem máscaras surpreendentemente estilizadas com os gostos deles e mais uma camada de uma roupa especial, eles partiram na frente, então a carruagem começou a andar.

— E os monstros? Por que não colocam alguma proteção para o veneno?

— Por causa da maldição, o veneno é apenas letal para os humanos. Os animais apenas recebem algumas modificações e adaptações, se tornando monstros. E os monstros já se adaptaram de acordo.

Eu já conseguia presumir que os animais e monstros atuais eram imunes a maldição e o veneno, mas não tinha recebido essa confirmação com palavras diretas.

Como de costume, o início da viagem foi pacífico em relação aos monstros, mas antes de saímos da barreira que protege a cidade da maldição, um dos cavaleiros deu duas batidas no vidro.

Prykavyk girou uma manivela e a janela desceu como em um carro.

— O que houve? — perguntou o Barão.

— Acabei de receber um relatório do grupo de investigação e achei o conteúdo importante o suficiente para repassar a você: “Os dois cavaleiros enviados para coletar os fragmentos da estátua desapareceram junto de todas as frutas e todos os vestígios da estátua.”

— Qual a chance deles terem roubado tudo e fugido?

— Suspeitei disso, mas não é o caso. Encontramos evidências de que houve um conflito no primeiro andar daquela mansão.

— Então foram os criminosos que fugiram da emboscada?

— Existe essa possibilidade.

— Contate o secretário do Visconde e diga para ele investigar isso.

— Mas e os dois que desapareceram?

O Barão ignorou essa pergunta.

— Perdão, partirei imediatamente.

— Diga para ele contatar os especialistas da família imediatamente se as coisas piorarem.

— Entendido.

O Barão fechou o vidro e o cavaleiro deu meia volta e partiu para cidade a toda velocidade.

— Vai deixar outra pessoa ficar com os méritos pelo que nós fizemos? — perguntou Khajilamiv.

— Não vale a pena — disse Selena. — Desde o início isso não era nem nossa responsabilidade. Derrotar alguns bandidos de rua não trazem mérito algum.

— Pelo jeito isso vai escalar para uma dor de cabeça terrível para o Visconde — disse Prykavyk.

— Mudou sua opinião? — perguntei.

— Ainda acho difícil ter uma grande organização orquestrando isso tão desordenadamente, mas se eles conseguirem restaurar aquela estátua, vão voltar ainda piores que antes.

— Por isso devíamos atacar enquanto estão fracos! — disse Khajilamiv.

Eles continuaram discutindo, mas suas vozes se tornaram um ruído na minha cabeça e eu caí no sono.

— ...! — Acordei com a carruagem balançando, tentando se locomover pela estrada precária de terra. — Dormi por quanto tempo? — perguntei.

— Pouco menos que uma hora e meia — respondeu Khajilamiv. — Estamos perto da floresta.

Esfreguei meus olhos e me ajeitei no banco, então olhei pela janela.

Dos meus dois lados havia uma planície sem fim, cheia de vegetações baixas e pequenos montes irregulares até o fim do horizonte.

Na minha memória, lugares como esse eram dominados pela plantação de um só produto como cana de açúcar ou eucalipto, eventualmente dando espaço para uma vaca ou cavalo.

Isso, somado as diversas placas de trânsito a beira da estrada e grandes outdoors cheios de propagandas formavam um cenário entediante que eu não suportava olhar.

Mas esse lugar era diferente: O raro era encontrar dois lugares parecidos, as cores eram incrivelmente variadas, as plantas possuíam formatos diferentes e os animais, voadores e terrestres, andando juntos ou separados, vagavam por onde queriam, incluindo a estrada em que andávamos; causando algumas paradas ocasionais ou a necessidade da intervenção dos cavaleiros.

Imprevisível. Até a falta de segurança, em moderação, deixava a viagem mais divertida. Diferente das minhas outras viagens, dessa vez consegui aproveitar verdadeiramente apenas observar meus arredores.

E assim seguimos por mais meia hora.

Até que a atmosfera tranquila subitamente mudou, no instante em que adentramos na floresta.

Era difícil apontar exatamente o que tinha mudado, mas definitivamente todos sentiram isso.

Era por estar longe da sociedade, mergulhando no desconhecido, se expondo ao perigo? Eu não havia percebido, mas todos já estavam assim faz tempo? Não, a expressão de todos definitivamente mudou. Até a frequência dos papos furados diminuiu.

Não tinha como ser a presença de algum monstro perigoso. Já tínhamos passado algumas vezes pela mesma situação e ninguém parecia tão tenso como agora

Buscando por esse sentimento, me lembrei de quando o GPS indicou um caminho mais curto que levava para um bairro perigoso em uma das minhas viagens em família.

Quem andava ansioso estava mais ainda, quem andava com medo estava completamente aterrorizado e quem andava tranquilo estava atento aos arredores, era como se todos desejassem sair desse lugar o mais rápido possível.

Ah, acho que descobri

Seres humanos foram criados para serem sociais e acho que acabei sendo influenciado pelo sentimento dos outros. Absorvi o medo e a ansiedade como uma esponja, mesmo sem saber o motivo.

Não sei o que, mas havia algo a ser temido.

Um longo tempo se passou — ao menos aparentou ser — e quando finalmente havia me acostumado com essa atmosfera estranha, esse sentimento se intensificou ainda mais.

Dessa vez não suportei e perguntei qual o motivo de todos estarem agindo assim.

E o que pude interpretar da explicação cheia de referências que não conhecia do Khajilamiv, foi: “como andar de avião”. Todos confiam na tecnologia, mas ainda existe o medo de que a menor falha pode causar a morte certa de todos.

Visualmente pouca coisa havia mudado, mas a maldição nesse lugar era intensa o suficiente para matar instantaneamente qualquer um que não estivesse devidamente equipado.

Olhando mais atentamente, acima de nós, fora da barreira, uma leve neblina que se intensificava mais a frente, havia surgido.

— E essa ainda é a área segura — disse Selena. — Em breve os Grão-mestres vão ter que fazer valer o preço do serviço deles.

— Se essa é a segura, o que tem na área perigosa? — perguntei.

— Vai ser mais divertido ver com os próprios olhos que se eu disser agora — disse o Barão.

A carruagem parou e eu virei meu olhar novamente para o vidro.

Estávamos diante de um portão de centenas de metros de altura e uma muralha que se estendia para além de onde a neblina permitia ver.

— Quem nesse mundo precisaria de um portão desse tamanho? — perguntei.

Um barulho metálico estrondoso ressoou pela floresta, as correntes começaram a se mover e o portão começou a subir.

— Um dos tesouros de Fortuna.

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