Volume 1 – Arco 1
Capítulo 16: Quatro detetives
Rasmanov Galante
Tudo começou com uma coincidência incomum.
Naquela época, já faziam cerca de três anos desde que comecei a trabalhar em uma agência de detetives particulares e em todo esse tempo, nunca havia recebido nem sequer um caso difícil de se solucionar.
A maior parte de meus clientes vinham com pedidos para investigar e provar adultérios, buscar mais provas para ajudar em casos judiciais e encontrar defeitos em concorrentes de herança, mas havia dias em que simplesmente não havia cliente algum.
Isso era de se esperar, visto que, no dia da minha entrevista de emprego, os três únicos membros dessa agência, descobriram que sou um nobre — ao menos de nome — e me recrutaram imediatamente, sem mais nenhuma pergunta.
Acho que deu para entender.
Enfim, por isso foi tão surpreendente que naquele dia, recebemos dois pedidos de casos verdadeiramente sérios. Mais ainda, quando descobrimos através de uma mínima investigação, que nos dois casos, o culpado por ambos os crimes era a mesma pessoa.
Conseguimos as informações pedidas, recebemos um pagamento extra pelo risco e pensamos que acabaria aí, porém, com o passar das semanas, uma série de incidentes hediondos demais para uma cidade pequena como a nossa, resultaram em mais pedidos complicados, até surgir uma proposta de vingança.
Tentei recusar, mas meus colegas de trabalho se simpatizaram pela história do homem e se ofereceram para buscar justiça, onde quer que esse malfeitor estivesse.
A parte mais difícil acabou sobrando para mim, que tive que esgotar meu estoque inteiro de cartas, para reestabelecer uma conexão antiga que meu pai possuía com um homem de alto cargo na prisão nacional, que eventualmente permitiu nossa busca pelo criminoso que aterrorizou nossa cidade inteira.
Compramos artefatos, armaduras e armas de alta qualidade com o pagamento adiantado do cliente, mas ainda estávamos claramente despreparados para o serviço.
— O aroma está ficando mais fraco... Temos mais quanto tempo? — perguntou Lyanna, nossa especialista em interrogações.
— Deixa eu ver... — Bernardo, o nosso especialista em espionagem, pegou o manual do perfume rastreador e respondeu sem confiança alguma: — Seis horas?
— Esse é o tempo que éramos para ter caso você tivesse aplicado a quantidade certa. — Recebi deles o título de especialista em contatos.
— Aquele loiro não parava de ficar olhando para trás! Como que eu ia colocar meio frasco sem que eles percebessem?
— Se acalmem pessoal, vai dar tudo certo! — disse Mraven, o especialista em combate, proficiente em luta corpo a corpo. — De acordo com o rastreador, eles passaram por aqui... Olha, acho que tem uma testemunha bem ali!
— Ele está bem?
Conforme nos aproximamos, fomos percebendo que a situação era mais grave que parecia.
— Parece um choque anafilático... O kit básico da torre médica vinha com medicinas para isso?
Corremos em direção aos dois homens e o Bernardo pegou sua mochila de primeiros socorros pessoal.
— Q-quem são vocês? — O guarda que tentava socorrer seu companheiro também espirrava e tossia, mas não parecia estar em risco de vida.
Mostramos nosso documento de permissão para investigação e o Bernardo começou o procedimento padrão:
— Você sabe o que pode ter causado essa reação?
— A-alguns prisioneiros jogaram umas flores estranhas... Quando passei água no meu rosto, os sintomas aliviaram, mas nele não adiantou nada!
— Procurem algum resquício dessa flor no chão!
Alguns remédios aliviaram a inflamação, porém, sabendo que essa não era uma simples alergia e sem ter uma especialização nessa área, ele decidiu apenas manter os cuidados para garantir que o guarda não morresse até que uma ajuda médica profissional chegasse.
— Atchim! Acho que encontrei...
O tempo de espera foi extremamente estressante, mas a ajuda finalmente chegou e entregamos a flor para os médicos, que conseguiram salvar o guarda.
— Obrigado, muito obrigado! — O outro se ajoelhou e nos agradeceu em prantos.
— Ah, se demorarmos muito vamos perder o alvo. — Ajudamos ele a se levantar, aconselhamos ele a também ir fazer uma consulta e corremos em direção aonde o artefato detector apontava.
— Usar armas biológicas não é um crime de guerra? Eles são piores que imaginávamos... Será que não é melhor terceirizarmos esse caso para uma guilda mais apropriada?
— Está sugerindo que enganemos o pobre coitado que veio nos implorar por ajuda?
— Animo gente! Não tem motivo para temer criminosos que se escoram em truques sujos para vencer — disse Mraven.
— Isso aí! Já fomos longe demais para desistirmos!
Enquanto os três se animavam, eles nem perceberam a cena terrível a nossa frente.
— Monstros, eles são monstros disfarçados na pele de humanos...
— O que foi?
— Olhe ali.
Lyanna cobriu sua boca e Mraven vomitou no chão.
Minha consciência se recusava a acreditar que essa cena era real. O nível de violência e os tipos de ferimentos, o vermelho vibrante em toda parte, os grunhidos e gritos que se amontoavam em meus ouvidos, o cheiro repugnante, tudo parecia ter vindo direto de um pesadelo.
Logo me veio à memória uma antiga aula de filosofia, a respeito da natureza humana.
Folha em branco? Nascidos bons e corrompidos pelo ambiente?
Certamente os criadores dessas afirmações nunca se depararam com tamanha atrocidade! Como alguém bom se degradaria a tal ponto?
Cruelmente, eles haviam deixado todos os guardas à beira da morte, apenas para prolongar seu sofrimento e suas eventuais mortes por hemorragia, já que não havia como pedirem ajuda, com todos os artefatos de comunicação quebrados.
Esse tipo de sadismo nojento é impossível de ser ensinado. Não deveria existir em lugar nenhum!
— Me ajudem aqui! Eles precisam de cuidado médico urgente! — gritou Bernardo, o único que conseguiu agir de imediato.
— Desculpe, estou indo!
Enfaixamos e tentamos tratar os feridos, mas toda bandagem acabou, antes mesmo de conseguirmos cuidar da metade.
— Já chamou os médicos?
— O artefato perdeu o sinal!
Desativado por um incidente terrorista. Eles haviam planejado até isso?
— Vou correr de volta para o parque, para ver se encontro os médicos de antes!
Minha cabeça começou a doer e o medo tomou conta do meu coração.
“Teremos que enfrentar psicopatas desse nível!?”
Um toque suave em minha perna, me interrompeu pouco antes de entrar em pânico. Era o ferido azarado, traído pela bandagem, que se encerrou antes de completar uma mísera volta.
— Precisa de algo?
— Poderia tirar meu capacete?
Por baixo de seu elmo, havia o rosto de um homem com idade suficiente para ser meu avô, com uma profunda expressão amarga, lutando contra a dor, pressionando seus dentes contra seus lábios e cerrando seus olhos.
— Obrigado, estava difícil de respirar antes. — Após um suspiro profundo, ele continuou: — É uma pena... Queria estar presente no nascimento da minha neta para acalmar o meu filho covarde. Hahaha... Sabe, em mais um mês eu iria finalmente me aposentar e retornar para minha cidade natal. Um mês...
— Por favor, não diga isso... Você vai viver!
— Conheço bem o meu corpo, haha... Sabe, tive inúmeras chances de retornar para lá, mas fiquei criando desculpas. Tudo por uma briga idiota de anos atrás...
Ele sorriu, fechou seus olhos e abraçou o colar, contendo uma fotografia antiga de sua família.
— Isso é nossa culpa... — Não havia notado, mas em algum momento, a Lyanna se esgueirou ao meu lado. — Não temos o direito de buscar as condições perfeitas. Se tivéssemos agido antes, nada disso teria acontecido! Temos que parar eles agora!
Ela chorava, mas sua expressão fervia de ódio.
“Família...”
Dentre meus três irmãos, fui o único que consegui me manter onde nasci, após a queda. Algumas ruas abaixo de nossa mansão antiga, em um pequeno apartamento desvalorizado por ter a fama de amaldiçoado, mas ainda caro, por estar em um bairro considerado de alto padrão.
Meu irmão mais velho, treinado para ser o sucessor da nossa família, era tão orgulhoso de seu título inexistente, que recusou propostas de trabalho em empresas renomadas e preferiu um casamento com uma mulher vinte anos mais velha, em uma terra distante, fora de Fortuna, tudo para retomar o menor dos títulos nobres. Nunca mais ouvi falar dele.
Minha irmã mais velha, mimada desde o nascimento, era incompetente demais para qualquer trabalho real, então partiu para viver na casa de uma amiga, mas foi enganada e acabou em uma dívida enorme. Ouvi dizer que ela fugiu para uma das cidades humanas no continente demoníaco.
Meu irmão mais novo, por ainda ser menor de idade, foi levado junto da minha mãe, para morar com os avós. Dentre todos, talvez esse seja o único que consiga visitar atualmente.
E meu pai... Ele é o único que vive bem, graças a seus crimes que destruíram nossa casa.
Será que a beira de morte, irei me arrepender por não ter buscado mais por eles? Por não oferecer ajuda a eles, quando podia?
Sorri de volta para Lyanna e enxuguei suas lágrimas com um lenço que sempre carrego em meu bolso.
— Assim que cuidarmos de todos os feridos, vou tentar convencer o Mraven.
Lucca, campo aberto, setor de caça.
Com um golpe certeiro na nuca do monstro raposa, o Brutamonte derrotou o último que se colocou no caminho e chegamos ao vestiário.
Até aqui, passamos por alguns monstros medrosos, que nos observaram de longe, alguns simpáticos que nos deixaram fazer carinho, alguns hostis que ameaçaram uma briga e poucos realmente violentos.
Como esse lugar é usado para caçar faz um bom tempo, os animais sabem que não podem se aproximar dos humanos. Por isso, quando vão trabalhar, os funcionários desse setor usam um colar com um perfume que disfarça o cheiro humano.
Nesse lugar, que considerei ideal para um combate contra um provável assassino, por ser tão aberto, experimentei usar esse colar para tentar enfraquecer o perfume rastreador; mas por causa disso, tivemos que lidar com esse efeito indesejado, que nos atrasou consideravelmente.
— A chave mestra não vai funcionar... — disse Vibogo. — Vamos ter que arrombar a porta.
O vestiário era uma cabana solitária, cercada por altas árvores, por isso, totalmente sombria, coberta por folhas e insetos grandes, que não via nos outros cantos da prisão.
Enquanto as outras portas usavam o sistema de fechaduras mágicas com o cartão, aqui eles mantinham a boa e velha fechadura comum.
Com duas ombradas do Saturno, a porta se rachou e caiu.
— Pode usar aquela magia de luz Vibogo? — O interior era ainda mais escuro, então o Vibogo invocou uma esfera de luz e a separou em bolinhas menores, para cada um de nós, como antes, na biblioteca.
Nas duas paredes laterais, acompanhados de um banquinho, haviam diversos armários destrancados, que vasculhamos até encontrar um uniforme com o tamanho adequado para cada um de nós.
Depois de passar o perfume e vestir as roupas: calças, meias, luvas e sapatos, antes de colocarmos os icônicos chapéus felpudos, pegamos as máscaras de pele que o Vibogo fez, usando os materiais que conseguiu no laboratório.
Ele as fez no caminho, trocando de lugar com o Brutamonte e andando na parte de trás da bicicleta de casal, em uma velocidade e precisão impressionante, enquanto pedalava.
Quando perguntamos sobre onde ele havia aprendido isso, ele respondeu que já trabalhou fazendo máscaras para teatros. Era impossível confirmar ou desmentir isso, então aceitamos como verdade.
Depois de disfarçados, olhamos e rimos da cara uns dos outros:
— Que pele delicada Brutamonte, qual o segredo do seu skincare? — perguntou o Poeta.
— Eu que te pergunto, como conseguiu uma barba tão charmosa?
E os dois caíram na gargalhada depois de me ver.
— Alguém sabe para onde foi o Vibogo? — perguntei.
— Voltei! — Obviamente, ele deixou a máscara com o rosto mais bonito, para si mesmo.
— De onde tirou esse outro olho? — No lugar de seu tapa olho característico, o Vibogo voltou com um olho verde esmeralda.
— Por algum motivo, no balcão daquela loja, havia uma jarra de olhos de vidro, escondida atrás de um pote de fios de linha
— Quero ver um guarda te identificar agora, mandou bem!
Com tudo pronto, saímos do vestiário e nos despedimos dos nossos veículos estranhos, que escondemos atrás de um arbusto, no fundo da floresta, para não sermos identificados.
“Justo quando eu estava começando a ficar bom no esqui terrestre...”
O perfume dos guardas era forte o suficiente para apagar o aroma rastreador, então deixamos os colares no vestiário e voltamos sem ver quase nenhum animal.
— Ih, tem um guarda a frente, arrumem suas posturas e façam cara de sério.
Para nosso azar, não era qualquer guarda.
— Tá brincando... — Seu chapéu dourado brilhava mais que o comum, refletindo a luz do Sol.
Ele mastigava alguma coisa e girava sua espada em seu dedo, despreocupadamente.
— Bom dia.
— Bom dia! — respondemos, completamente sincronizados.
E passou direto por nós.
“Fácil assim?”
— Ah, 283, o novato, vem aqui rapidinho. — Todos olhamos para nossos crachás de metal, com o coração a mil. Estranhamente, ninguém tinha esse número. — Ou era 238?
O olhar de todos se voltou para mim.
Apertei meu crachá, respirei fundo e me virei:
— Sim senhor!
— Fica de boa, é só sobre aquela rodada de bebidas que fiquei te devendo, vem aqui.
Olhei em seus olhos, impossíveis de decifrar, assim como antes e senti o braço dele envolver meu pescoço.
— Eu simpatizo com vocês, sabe por que? — sussurrou. — Um dia, eu tentei colocar meus pés fora do meu pequeno poço, me arrisquei entrar no reino dos transcendentes e fui completamente esmagado. No fim, somos companheiros na fraqueza, nossa distância é mínima diante dos seres assustadores demais para gente como a gente, sim, somos todos iguais. Esse título de grão-mestre não significa nada, legalmente eu não posso fazer nada contra herói algum, meus privilégios não são maiores que um policial qualquer. Por isso, se renda enquanto esse assunto não chegar em alguém de fora, que eu serei gentil com meus caros colegas fracos.
— O general é tão assustador assim?
Aguilar apertou meu ombro, até que eu fosse forçado a me ajoelhar. Os fujões se prepararam para lutar, mas eu levantei minha mão, fazendo um sinal para que parassem.
— No fim, não posso escolher o que é melhor para vocês, se quiserem tanto morrer, fiquem à vontade. Vou confirmar pela última vez, vocês têm certeza?
— Solte ele!
— Esperem! Se ele quisesse me matar, já teria feito antes. — Levantei meu olhar e encarei o Grão-mestre. — Acabar aqui não seria decepcionante? Não está curioso para ver o confronto de um herói contra um general?
Aguilar retirou um relógio de bolso, com um clique, abriu e me mostrou:
— Até que esse ponteiro chegue ao topo. Esse é o máximo que consigo atrasar o general. Corram o máximo que puderem. — Ele se aproximou do meu ouvido e concluiu: — Desde criança, sempre admirei o seu tipo. Mas crescendo, percebi que a era dos heróis já acabou faz séculos. Espero que me prove o contrário.
Então me largou e seguiu seu caminho.
— O que ele disse? — perguntou o Poeta.
— Nada demais.
“De alguma forma, conseguimos o suporte do Grão-mestre? Não, sinto que ele só está me dando uma falsa esperança, ainda não posso confiar nele.”
Evitamos o mesmo caminho que usamos para vir até o setor de caça, o que acrescentou cinco minutos extras de caminhada, totalizando quinze minutos até os portões das salas de reeducação.
— Bom dia, viemos buscar um prisioneiro que cumpriu sua punição.
— Podem passar, o Aguilar já cumpriu a papelada.
Um sentimento estranho começou a percorrer pelo meu corpo.
O primeiro nível da sala de reeducação, no térreo, era totalmente colorido por uma única cor: rosa choque. Fora isso, não havia tantas diferenças.
Todo ambiente era bem cuidado e limpo, as celas dos prisioneiros eram idênticas a dos prédios e os próprios prisioneiros agiam de forma amistosa, como os de fora desse lugar.
Como punição pelos infringimentos leves, como os repetidos atrasos nas chamadas — que o Poeta mencionou antes — na manhã os prisioneiros tinham que cumprir uma série de trabalhos leves, mas sem pagamento e a noite eram obrigados a participar de uma sessão de estudo.
Passando pela última sala de aula, chegamos as escadas, protegidas por uma porta, aberta com a chave mestra pelo Vibogo.
Descemos dois lances de escadas e chegamos em um lugar úmido e frio.
No fim de um corredor de pedra, decorado apenas pelas pedras elementais iluminando o caminho, chegamos a um espaço apertado, repleto de celas insalubres.
Fomos recepcionados calorosamente por xingamentos, cuspes e prisioneiros batendo a cabeça em suas grades. Aqui eles eram proibidos de vagarem livremente e a punição especial ficava nas mãos dos guardas, que possuíam uma ampla variedade de opções.
A que eles escolheram, para acalmar os prisioneiros quando chegamos, foi um jato de água fria, disparada em todas as celas, com um só botão. Mas pelas marcas e cicatrizes que vi nos prisioneiros, estava longe de ser a pior.
Cumprimentamos os guardas com um aperto de mão, seguimos andando e observando a energia dos prisioneiros diminuir, conforme avançávamos.
“Os que se comportam melhor vão sendo jogados para frente? Ou é por ordem de chegada?”, também poderia ser por força, assim como a organização dos dormitórios.
Perto do fim das celas, encontramos uma figura familiar: o prisioneiro das pernas decepadas pelo grão-mestre, usando uma cadeira de rodas.
— Ele ainda está vivo...
— Claro que estou vivo — respondeu o prisioneiro.
— Como ouviu isso?
— Tenho uma audição boa desde que nasci.
— Me mandaram para cá por falta de gente, não tinha como eu saber que você estava vivo.
— É uma ocorrência comum, nunca duvidei de você.
— Agora ficou suspeito...
— Suspeito por que?
— Cala a boca e para de se complicar herói... — disse Saturno.
— Herói?
— Boa, só faltava essa — disse o Poeta.
— Herói... — O prisioneiro apontou seu dedo e começou a contar: — Um, dois, três, quatro. Como o Corvo foi hospitalizado... Vocês são os fujões?
— Fala baixo!
“Por que ele foi sair justo agora?”, se bem que, um a mais ou a menos, não faria tanta diferença na suspeita dele.
— Quanto você quer? — perguntou Saturno.
— Quero o que?
— Créditos, quanto você quer para fechar o bico?
— Eu estava certo?
— Não é possível... — disse o Poeta, segurando ao máximo seu riso. — Espera, quatro? Para onde que o Vibogo foi?
Terceiro andar, sala de tortura.
— Seu ciclope maldito! Finalmente nos encontramos cara a cara — disse Rasmanov, o detetive especialista em contatos.
— Já vai começar me ofendendo assim? Isso machuca viu. Capacitismo em pleno século 14, onde esse mundo vai parar...
— Ative o círculo!
Vibogo olhou para o chão e viu um brilho surgir debaixo de seus pés.
— Agora! — Então os outros três detetives lançaram laços mágicos, que se prenderam nas duas pernas e no pescoço, derrubando o Vibogo.
— Que estresse é esse? Que tal [fechar os olhos] um pouquinho? Piscar [faz bem] viu?
Gravidade quadruplicada e laços paralisantes. Eles usaram todas as suas melhores — e mais caras — cartas desde o começo.
— Últimas palavras? — perguntou Mraven, apontando uma espada no pescoço.
— Que olheira enorme, não conseguiu [dormir] hoje é?
— Tsc, que resto de chorume humano. Até à beira da morte, não dá nem sinal de arrependimento. Como as almas que ele matou vão descansar?
— Isso mesmo [sem pressa].
Lyanna perfurou quatro venenos na perna do Vibogo e forçou as flores que o Poeta usou, dentro do nariz dele.
— Quando vai assumir sua culpa? Quando vai contar para seu “amigo” que você é o responsável por tudo aquilo!? Quando...
— Já chega, isso não adianta nele — disse Rasmanov.
— Que [mente limpa] do seu amigo, realmente consegue ver a verdade com [claridade]. [Calma] faz bem para o ser humano.
— O que ele está murmurando?
— Ele pode esconder bem, mas ninguém fica tranquilo diante da morte. Isso tudo é uma atuação barata, que está quebrando aos poucos. Tudo que resta são delírios sem sentido.
— Talvez o filme de sua vida esteja passando pelos seus olhos? Tanta maldade deve estar afetando-o, talvez esteja se arrependendo?
— Se existe justiça nesse universo, o céu nunca se abrirá para ele, não importa o quanto implore agora — disse Bernardo,
Os quatro ficaram encarando o Vibogo no chão, mas contra suas expectativas, ele parecia perfeitamente bem. Vendo suas expressões confusas, começou a rir freneticamente e prometeu vingança, então anunciou:
— Deveriam ter me matado quando tiveram a chance! [Sono profundo].
Todos imediatamente caíram no chão e Vibogo facilmente se livrou dos artefatos.
O fator que eles desconsideraram, o único aspecto que eles esqueceram de se prevenir, era o mais óbvio.
— A magia mais forte que ele consegue usar sobre a restrição mágica é a [divisão de luz]. Ele ser um mago não muda nada.
Mas as diversas situações urgentes que o Vibogo deveria ter se revelado, as constantes negações, até quando não estava sendo espionado, verificado por testemunhas que confirmaram que ele não podia usar magias acima do nível intermediário.
Ele só poderia sustentar essa mentira por tanto tempo, se soubesse que estava sendo seguido, mas negou essa teoria com a própria boca.
Sem limitações, poderia ter fugido em dezenas de ocasiões anteriores, mas se recusou.
O que os quatro detetives falharam em perceber foi a verdadeira motivação do Vibogo.
Dez minutos depois
— Onde estou, o que aconteceu? Vocês estão bem!?
Assim que o último dos quatro acordou, uma pedra elemental se acendeu.
— AH! — Se acendeu, acima de uma vela, a poucos centímetros do olho direito de Rasmanov.
Ele tentou mover seus braços, mas estavam presos, assim como sua perna e seu tronco. Então, tentou mover seu rosto, mas sentiu algo perfurar a sua pele, cada vez que se movia.
Olhando em direção a chama, havia um espelho. Conseguiu ver a si mesmo e como foi preso e as dez lâminas apontadas em seu rosto, para impedir que se movesse demais.
Analisando tudo que conseguia através do pequeno espelho, descobriu um mecanismo ligado a pedra elemental, com uma nota:
— Para soltar seu amigo boca suja, aperte o botão vermelho.
“Botão? Que botão?”
Infelizmente, essa escolha estava nas mãos de outro.
— Minha barriga... Apaga esse fogo! — Para Lyanna, que perfurou agulhas e colocou uma flor, sementes de uma flor germinariam em sua barriga e pulmão, rasgaria seu interior.
Ela descobriu isso através das onze agulhas em seu braço, único membro livre em seu corpo.
— Argh, o que houve? — Mraven lutava contra quatro cordas amarradas em um peso, que o empurrava em direção a uma espada apontada em seu queixo, o forçando a olhar para o teto e ficar na ponta dos pés.
Espada que surgiu, assim que a luz se acendeu.
— Bernardo? Está aí? Diz alguma coisa!
Para aquele que desejou que os céus o recusassem, sua punição era a menos dolorosa.
Dentre todos, ele era o único completamente livre.
A sua frente, havia um painel com três botões e um papel colado. Um vidro o separava de seus colegas, que dependiam de sua decisão.
“Escolha dois, ao custo de um. Caso fique indeciso por tempo demais, os três vão morrer.”
— M-me desculpe.
Com o primeiro botão, Lyanna foi liberta e uma pílula caiu ao seu lado. A tomando, a dor desapareceu.
E a luz brilhou mais intensamente.
Com o segundo botão, Mraven foi liberto das cordas e a espada retornou ao chão.
Então a vela começou a se aproximar, derramando gotas ardentes em seu rosto.
As escolhas foram feitas e Bernardo desviou seu olhar e tampou seus ouvidos.
Naturalmente, tentou fechar seus olhos, mas algo o tocou e o forçou a ver.
Para aquele que foi traído, o calor começou a se tornar insuportável. Uma chama consumiu completamente o papel e se espalhou para a vela.
A cera escorreu e serviu de combustível para o fogo, que cobriu metade de seu rosto.
Nesse momento, sem o peso da vela, parte do espelho se levantou, permitindo encarar diretamente aquele do outro lado do vidro.
Pouco antes de perder a visão, escutou um riso.
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