Hant! Os Piores Brasileira

Autor(a): Pedro Suzuki


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 2: Livro do futuro

 

                                                                                                                        Nilo Fontes

— Que dor de cabeça... Eu exagerei ontem.

Como de costume, liguei meu celular e vi o horário.

— Hoje é feriado?...

Sem nenhum compromisso em especial, passei um bom tempo pulando de uma rede social para outra, checando as mais novas informações que não vão fazer diferença nenhuma na minha vida, até começar a sentir fome.

Terminado esse desperdício matinal, eu abri as cortinas e fui em direção ao banheiro.

— Ué? Está trancado? Não, a maçaneta nem está se mexendo, acho que emperrou.

Com a minha visão ainda embaçada, tentando se acostumar a luz, peguei meus óculos caído no chão e quando olhei novamente para a porta, eu percebi que ela tinha mudado.

Justo quando abandonei as esperanças, essa bendita porta surge.

Respirei fundo e comecei a analisar o que já tinha estudado muitas vezes.

Civilizações mais avançadas e consequentemente mais perigosas possuem portas com componentes elétricos, mesmo que seja de decoração.

— É toda feita de madeira e metal?

Ela possuía um bom acabamento e decorações complexas, então provavelmente estava em um meio termo.

A primeira pessoa a encontrar a porta e pegar a chave que estará caída na frente dela se torna o proprietário e inicia uma contagem até que ela possa ser usada, mas se ela não estiver ali a contagem...

— Droga, eu sabia que devia ter voltado para casa.

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— Um golem de metal?

Uma armadura preta imensa se abaixou, revelando uma máscara de um crânio de demônio, então se espremeu e passou pela porta, quase destruindo minha parede.

Nesse meio tempo até considerei correr para a sala para pegar os meus equipamentos, mas pensando racionalmente, era impossível vencer uma luta um contra um enfrentando um monstro desse tamanho.

Olhei para cima e vi que por trás da máscara havia um olho azul, muito provavelmente humano.

Ele acenou para mim e eu acenei de volta.

— O teto da sala é maior... Se estiver apertado para você.

— Obrigado — respondeu a voz grave e metálica enquanto se sentava no chão. — Mas vou esperar pelos outros aqui. Ah, meu nome é Einar.

— Outros?

Logo em seguida uma figura completamente oposta chegou: um pequeno jovem de mais ou menos 1,60m também vestindo uma máscara de esqueleto, mas que só cobria os seus olhos e nariz. Seu cabelo era curto, preto e dividido em dois com bastante gel de cabelo, seu sorriso estava estampado em seu rosto e suas roupas: um terno, uma calça formal e um sapato social, junto de uma espécie de varinha davam a sensação de um maestro se apresentando.

— Que alegria é chegar inteiro nesse adorável mundo, prazer em conhecer um caro humano do mundo do chefe! Sou Henry!

— O prazer é todo meu — respondi forçando um sorriso.

Ele se sentou ao lado do gigante de armadura, também esperando atentamente.

Um intervalo maior passou e depois de dois minutos uma terceira pessoa apareceu.

Ela vestia um longo vestido preto, saltos altos retangulares, luvas brancas, um chapéu longo com um véu amarrado que cobria todo o seu rosto e vinhas e plantas de todos os tipos saiam de seus bolsos.

— O ar é respirável, que surpresa — disse ela, tirando uma máscara de baixo de seu véu. — Perdão pela intromissão.

— Fique tranquila, sinta-se em casa. Tem um lixo ali no canto caso queira jogar a máscara.

— Obrigada.

— Que sensação estranha é passar por aquela porta, não é Katarina? — disse Henry.

Vendo que os dois das máscaras de esqueleto ainda estavam sentados no chão, continuei observando a porta.

— Eu poderia me sentar aqui? — perguntou ela, apontando para a minha cama.

— Claro, fique à vontade... Ei! Não mexam nisso! — Os dois começaram a revirar todos os meus armários, jogando minhas roupas no chão.

— Felizmente, parece que não é tão diferente do nosso mundo — disse Einar.

— Só está dizendo isso porque as roupas dele cabem em você... Eu fico ridículo nisso! Todas as pessoas desse mundo são tão grandes igual você?

E a Katarina retirou um leque do seu bolso e deu uma batida na cabeça dele.

— Por isso você sempre arranja problemas com as outras pessoas! Desculpe pela inconsideração dele.

— Tudo bem, não acho que ele fez por mau. — Comparado aos comentários que tinha que lidar no dia a dia, isso nem me incomodava.

Outra mulher apareceu na sequência, quebrando a série de máscaras.

Ela possuía uma beleza estonteante, capaz de competir com as melhores atrizes do mundo, longos cabelos loiros, olhos laranjas que depois mudaram para verde, uma combinação de várias roupas brancas, segurava um longo cachimbo que emitia uma fumaça com um cheiro bastante agradável e em seu ombro descansava um gato branco, que vestia um tapa olho de pirata, roupas de tigre e um chapéu laranja.

— Oi, sou Esfayl. — Sua voz era baixa e suave, agradável de se ouvir

— Oi, sou Nilo.

Dessa vez dois entraram juntos: homem velho com cabelos brancos, vestindo um chapéu triangular pontudo e uma criança flutuando.

Ele apenas me olhou de cima para baixo e acenou com a cabeça e a criança fez exatamente o mesmo. Fiquei sabendo depois que o nome do velho era Gamaliel e da criança era Karim.

Algo neles me causou um profundo medo.

Depois deles, veio uma mulher de cabelo marrom longo, amarrado em um coque, com orelhas pontudas, um corpo bem treinado e o mais chamativo, dois chifres de dragão. Ela vestia um longo vestido com bordados de flores, decoradas com vários ornamentos e saltos altos pontudos combinando com o vestido.

Contrário à sua aparência forte e um pouco intimidadora, sua expressão era reluzente e sua atitude era como a de uma mulher nobre da antiguidade, com movimentos bem pensados, elegantes. 

Diferente do que eu esperava, ela fez uma apresentação completa empolgadamente, maior que todos os outros, revelando seu nome: Ágata.

— Tem mais quantos? — perguntei.

— O próximo é o penúltimo.

Entre todos, esse parecia o mais maluco.

Ele tinha um cabelo branco espetado, andava só com uma calça e um avental com uma pequena placa retangular metálica escrita “Dr.Wade” e cheio de equipamentos de cirurgia em seus bolsos, deixando bem visível todas as suas várias cicatrizes. Ele usava um chinelo e levava um peixe bolha com pernas na coleira como se fosse um cachorro.

Fui ignorado completamente e ele foi direto conversar com os outros. Estranhamente foi até aliviante não ter que conversar com mais um.

— O meu quarto já está bastante cheio, não querem mesmo ir para a sala?

Todos negaram.

E após cinco minutos o último deles saiu.

Um homem de cabelo preto e curto, vestindo uma camiseta branca com um pequeno desenho de uma tempestade, óculos escuros e uma bermuda preta.

Quando ele saiu a porta desapareceu.

                                                                                                       França, 2003 D.C.

Em poucos minutos, um evento bizarro capturou a atenção de todo o mundo.

Criaturas enormes, de aparências alienígenas, do pior tipo, surgiam do arco e logo subiam, em pouco tempo dominando todo o céu.

— É o fim do mundo!

Os policiais que estavam na região e pouco depois a aeronáutica francesa, atiravam tudo o que tinham neles, mas em pouco tempo, para o horror de todo o mundo, estava evidente que aquilo tinha sido em vão.

Junto do caos incontrolável que se instaurou na cidade, causado por pessoas cometendo todos os tipos de crimes, agora que nada importava mais, reuniões de emergências foram prontamente criadas, cientistas embaixadores e intérpretes tentavam entrar em contato, mas não havia resposta alguma.

— Estão loucos!? Como podem cogitar o uso da bomba nuclear? E os moradores!?

— O mundo vai ser destruído se essas coisas se espalharem livremente por aí. Está autorizado!

— Espere!

Ao exato meio-dia, uma das criaturas finalmente disse algo:

— Não temam, viemos em paz!

— O que está esperando?

— Não vai nem ouvir o que eles têm a dizer?

— Essa pode ser nossa única e última chance, vai logo!

As palavras dele trouxeram uma calma anormal aos que ouviram, como se sua voz fosse hipnótica, mas isso só durou até os novos ataques, que interromperam o discurso.

— Como alguém consegue ser tão idiota!?

Ironicamente, aqueles monstros de aparências dignas de um pesadelo foram quem protegeram e ajudaram todos os moradores e os turistas, do exército que deveria os proteger.

Vendo que seus últimos ataques falharam, os líderes mundiais finalmente desistiram e deixaram o monstro terminar o seu discurso, passando a se ocupar com os foguetes que pegaram para fugir desse planeta.

Com o cenário de Paris arrasado pelos ataques do exército, um milagre aconteceu e os que estavam lá presenciaram a cidade inteira ser reconstruída em questão de minutos.

— Então eles realmente vieram em paz?

Antes que pudessem tirar suas conclusões sobre o que tinha acabado de acontecer, um novo movimento começou.

Os seres no céu inicialmente parados, apenas observando, começaram a se mover em direção aos civis.

E eu, assim como os poucos sortudos, tive a sorte de me encontrar com um dos seres que desceram do céu.

Um monstro do tamanho de um prédio, com diversas cabeças, olhos de animais e criaturas mitológicas, como uma de suas cabeças frontais que parecia com um dragão ocidental em chamas como a mula sem cabeça, voou em minha direção atravessando sobre todas as construções como um fantasma e parou a poucos metros de mim.

— Pela sua porta um grande herói vai surgir. Infelizmente a chave que iria lhe entregar já foi tomada, então no lugar dela te entregarei outra prova para que saiba que o que eu disse é verdade.

Então abriu uma de suas bocas e sua língua de serpente me ofereceu um pergaminho.

Minha mão tremia como meu celular em meu bolso que estava sendo bombardeado de ligações de parentes e amigos próximos que viam tudo pelos noticiários, mas de alguma forma consegui reunir um punhado de coragem e peguei o pergaminho banhado pela saliva do monstro.

— Rasgue-o

Eu o obedeci e assim eu me tornei o que ficou posteriormente conhecido como a primeira geração de guardiões da Terra.

Alguns dias depois todos os canais de Tv e da internet de todo o mundo só falavam desse acontecimento. Alguns com debates de teólogos e figuras religiosas argumentando sobre o apocalipse, outros sobre as tensões mundiais e a enorme crise econômica que estava por vir. Mas o que eu estava vendo falava de outro assunto, um com bem menos atenção de todos.

O primeiro caso de um humano com habilidades extraordinárias.

— É isso!

Eu pensava que finalmente minha sorte havia mudado, afinal, assim como ele eu tinha uma habilidade entregue pelos monstros que se revelaram como ajudantes da humanidade e não inimigos apesar de suas aparências assustadoras.

Com esse novo recurso eu rapidamente ganharia uma fortuna e ficaria mais famoso que os atores de novela. Meu azar finalmente havia acabado, meu avô não teria escolha senão deixar sua empresa para mim e meus tios e primos gananciosos só poderiam ficar se remoendo de inveja.

                                                                                                          

— Então o tempo passou e cá estamos.

— Ué? Acabou assim? — perguntou Karim, o pequeno discípulo.

— É um pouco vergonhoso contar o resto.

— Começou tem que terminar!

— Tudo bem... Aquele monstro me enganou e me entregou a pior habilidade de todas, então só pude ver a humanidade sendo salva pelas telas. Agora eu trabalho protegendo os trabalhadores que recolhem e dissecam os monstros depois de tudo acabar, para caso tenha algum monstro pequeno vivo escondido eu cuide disso.

— Que criança ingrata, deveria agradecer por ter nascido em uma família mais favorecida ao invés de maquinar contra seu próprio sangue — disse Gamaliel.

— Não precisa pegar tão pesado com ele, que culpa ele tem por nascer rico? Falando nisso... Uau, um cartão preto bonito! Olha, sem limite... Sempre achei que fosse uma lenda. — Lucca pegou o cartão e partiu para fora do prédio pela janela. — Vamos para o shopping! Vou mostrar o que é comida de verdade!

— Me desculpe por eles... Certamente farei questão de pagar essa dívida no futuro — disse a heroína da Fortuna, antes de repreender o herói, trazido pelo arquimago.

— Eu não ia roubar! Só pegar emprestado — disse Lucca.

— Por que não usa um dos tesouros ou joias que guardamos no inventário? — perguntou Wade, o criador de quimeras.

— Você sabe o que acontece se cem toneladas de ouro puro subitamente aparecer do nada na Terra? O ouro vai perder o valor e a gente vai sofrer umas trinta mil tentativas de assassinato pelos ricaços. Só usem o tesouro quando for uma mega emergência.

— Eu aceito o ouro! — gritei e todos me olharam decepcionados.

— Não acabou de me ouvir?

— É só me dar... um quilo! Não precisa ser mais que isso.

— Cem quilos ou um grama, o resultado vai acabar na mesma. Se eu deixar você pegar um fio de ouro que seja esses outros vão querer pegar tudo. — Lucca se pendurou, deixando quase todo seu corpo para fora da janela e olhou os arredores, então voltou com uma expressão confusa. — Estamos na Terra mesmo, né? Brasil e tal...

— Isso mesmo, no centro de São Paulo, na base da guilda da minha madrasta, Drumont.

— Então por que diabos estamos flutuando em cima das nuvens?

— Acho que a explicação vai ser longa demais pela pressa que você está em fugir daqui. Tem um celular?

— Eu perdi quando fui para o outro mundo.

— Aqui, pode pegar o meu do trabalho.

— Que estranho, ele está mais manso, não é? — disse Katarina, a heroína dos venenos e remédios.

— Isso é um celular? Como funciona sem o teclado? — perguntou Lucca.

— É assim... — Enquanto ensinava ele a usar um smartphone, me lembrei de um vídeo antigo sobre casos como o dele.

Os mais sortudos entre os sortudos são enviados para outro mundo e encarregados de uma missão, o que serviu para capacitar os primeiros guardiões que não tinham treinamento algum para lidar com os invasores.

Quanto mais tempo eles ficaram mais fortes costumam voltar, a não ser que aceitem a janela de desistência varia de cinco a sessenta dias.

Isso significa que ele completou uma missão insanamente difícil.

O caso mais longo de um herói que retornou vivo depois de completar a missão foi de dois anos. Mas se ele não conhece o celular moderno, que foi popularizado em 2007 e já estamos em 2017, no mínimo ele passou dez anos em outro mundo?

Parando para pensar, eu não estou lidando com alguém perigoso demais?

— Entendi, obrigado! — disse Lucca.

— Antes de irmos, fiquei curioso sobre o que aquele monstro enorme falou — disse Karim.

— Ele repetiu que mesmo depois dos ataques ainda vinha em paz, alertou sobre as futuras mudanças que a Terra iria sofrer e os inimigos reais que teria que enfrentar em ondas de dificuldade crescente, algo que somente foi possível graças a eles, senão todos atacariam de uma só vez e tudo explodiria.

— Se passaram quantas ondas? — perguntou Katarina.

— Estamos no meio para o fim da terceira, mas não é garantido. Mais alguma dúvida? — Sem resposta, continuei. — Já que vocês estão nesse tanto de gente não dá para pedir um motorista de aplicativo, mas não saiam pulando do prédio desse jeito que é estritamente proibido usar suas habilidades dentro da ilha voadora.

— Obrigado pelo aviso, vamos andando normalmente então, usando esse mapa portátil! — disse Lucca.

— Vão pela sombra...

— Até mais!

— Que bom que ele não era um psicopata igual aqueles outros guardiões...

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