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Capítulo 53: A Guerra de Subjugação de Glast (2)
Este conclui meus apontamentos mágicos, sobre minhas experiências durante a visita ao continente sul.
Após percorrer o mundo, percebi quantas verdades sobre magia eu ainda desconhecia. Meu título de “arqui-mago” não passa de uma vergonha.
Como esperado, o estudo da magia é tão vasto e profundo quanto o oceano. E agora, com esses olhos velhos e embaçados, se tornou difícil até mesmo traçar um contorno de tudo isso.
Lembro-me do ensinamento de Silvenia: nunca tire conclusões apressadas sobre a profundidade do conhecimento.
Parece que este será o último livro que escreverei. É uma pena que o tempo continue a passar.
Antigamente, minhas mãos eram fortes o bastante para quebrar até mesmo aço, mas agora há rugas entre cada um dos meus dedos.
Tenho certeza de que, se a Grande Sábia Silvenia, a maior professora e ídolo de todos os estudiosos, me visse agora… cairia na gargalhada.
Silvenia, que morreu tão jovem, ainda permanece como uma bela mulher em minhas memórias.
Foi por causa de sua morte que decidi dedicar minha vida à academia. Olhando para trás, minha vida parece ter passado num piscar de olhos.
Na época, não parecia algo tão grandioso, mas agora que estou nos meus anos finais, vejo que minha vida foi, de fato, bastante marcante.
A tristeza que devorou meu coração no dia em que minha mestra morreu agora não passa de uma velha lembrança.
Ainda assim, ao viver uma vida longa, é inevitável que às vezes você enfrente um sentimento de saudade.
Ao observar o brilho das estrelas na madrugada, ou o sol se pondo lentamente no horizonte, tais emoções me tomam de surpresa.
A saudade é, inevitavelmente, acompanhada por uma solidão amarga.
A tristeza de perder alguém às vezes é tão intensa que chega a obscurecer a razão.
Houve momentos em que, de súbito, me vi desejando quebrar a ordem natural das coisas, distorcer a verdade do mundo, apenas para ver o rosto de Silvenia mais uma vez.
Mas os que se foram, se foram.
E os que ficaram, precisam se tornar mais fortes. Tristemente, essa é a realidade da vida.
E é por isso que você deve ser forte.
Dedico a última frase deste livro a você, que foi o ponto final da minha vida.
Lucy.
— 『Texto de Encerramento』Apontamentos mágicos sobre as experiências durante a visita ao continente sul (Escrito por Glockt).
Às vezes, uma sensação ruim aparece do nada. Quando isso acontece, é preciso organizar bem os pensamentos.
Quando seu instinto começa a gritar, sempre há um motivo para isso.
E minha situação atual era um exemplo perfeito.
— P-Por que você tá aqui…?
A garota que entrou no laboratório vazio, com a porta aberta, era alguém extremamente familiar.
O cabelo castanho curto e ondulado, caindo sobre um rosto inocente… Era um rosto que eu conhecia bem. Para quem jogou O Espadachim Fracassado de Silvenia, ela era uma personagem impossível de esquecer.
A garota que sempre esteve ao lado do protagonista Taylee, apoiando-o enquanto cresciam juntos. Uma das personagens mais importantes da trama. Independentemente da rota que você escolhesse, ela era uma presença que jamais desaparecia. A heroína principal.
No momento em que dei de cara com Ayla Triss na sala de conferências do distrito dos professores, pensamentos diversos tomaram conta da minha mente.
— Por que você tava me esperando aqui…? N-Não chega perto de mim…! H-Heeek…!
Quanto a mim, fui chamado pelo Professor Glast, então fui ao laboratório pessoal dele. Como não havia nenhum assento, decidi esperar no sofá da sala de recepção. Ayla pensar que eu estava ali esperando por ela era só um mal-entendido.
Fiquei sentado em silêncio no sofá, apenas voltando meus olhos para Ayla, que se encolheu e correu até uma parede no canto do laboratório.
— ……
Ela reagiu como se tivesse encontrado alguém suspeito. Eu não estava fazendo nada… então não era um pouco exagerado da parte dela?
Bom… Mesmo que eu achasse que minha reputação entre os alunos havia melhorado ultimamente, não havia chance alguma de Ayla algum dia ter uma boa impressão de mim.
O motivo mais básico para ela me odiar tanto era o incidente no exame de admissão. Já fazia mais de dez meses desde então, e talvez sua raiva tenha diminuído um pouco… mas não era como se não tivéssemos nos encontrado de novo nesse tempo.
Acima de tudo, fui eu quem ficou atacando a Ayla de forma persistente durante a ocupação do Salão Ophelis, justamente ela, que era fraca em combates práticos. Mesmo sendo terrível da minha parte, usei ela como ponto fraco deles, atingindo-a com uma flecha.
Não dava pra dizer algo do tipo “Ah, mas eu enfraqueci a flecha antes, enrolando ela com tecido”… De qualquer forma, sob o ponto de vista da Ayla, não havia como me ver com bons olhos.
Mas a atitude dela não era o motivo de tantos pensamentos passarem pela minha cabeça.
Era a questão do momento.
A Transferência de Ressonância do Selo estava prestes a acontecer. Era, com certeza, um evento que sinalizava o início do capítulo final do Ato 2.
No momento em que a transferência de ressonância acontecesse, Ayla já estaria subjugada por Glast.
Vasculhei minhas memórias. Antes e depois do evento... o que exatamente Ayla estava fazendo?
Claro, era extremamente difícil tentar lembrar um momento tão específico... Mas consegui visualizar com clareza uma cena dela, exatamente por volta da transferência.
No saguão principal do Salão Trix, o centro da administração da escola, ocorria a Transferência de Ressonância do Selo do Sábio.
Enquanto representantes da escola e da companhia se sentavam lado a lado, o selo seria removido pelo Professor Glast.
O atual detentor da ressonância, o Diretor Obel, liberaria sua autoridade sobre o selo, deixando o palco para que Lortel assumisse sua posse.
Logo depois, uma explosão ocorreria. Todos os Círculos Mágicos pré-inscritos ao redor do Salão Trix e da prateleira de exibição do selo seriam ativados pela liberação de poder mágico, mergulhando o saguão em caos.
Durante isso, Glast roubaria o selo, que naquele momento não estaria sob autoridade de ninguém, e correria até Ayla, que ele teria subjugado com a magia Prisão Temporal, lá no laboratório pessoal dele, dentro do Salão Trix. De lá, ele escaparia pelos canais subterrâneos.
— Ei.
Enquanto refletia sobre tudo isso, uma pequena dúvida me surgiu sobre Ayla e suas ações.
No momento da Transferência de Ressonância, Ayla já deveria estar subjugada por Glast e presa em seu laboratório pessoal dentro do Salão Trix.
— Por que você tá aqui?
— Eu… só… O Professor Glast me chamou… Ah, esquece, isso não é da sua conta.
Comecei a perceber que aquela sensação ruim no estômago estava se tornando realidade, pouco a pouco.
Minha mente disparou.
A reunião estava prestes a acontecer. Isso significava que o Professor Glast logo retornaria ao seu laboratório pessoal.
Se me concentrasse, dava pra ouvir passos fracos vindo do fim do corredor. Era bem provável que fossem dele, voltando do trabalho na escola. Correr por aquele corredor não seria uma boa ideia, pois havia uma grande chance de dar de cara com ele sozinho. E, num corredor isolado como aquele, não haveria testemunhas.
Levantei-me rapidamente do sofá e fui até Ayla, que estava perto da entrada. Tirei a adaga presa à minha coxa, fazendo Ayla se encolher em choque.
— Kyaaaaaghk! O-O que você tá fazendo?!
Ignorei completamente a reação dela. Enfiei a lâmina na borda da parede próxima à entrada e me virei, olhando para o laboratório vazio.
O laboratório particular do Professor Glast, com mais de quarenta metros quadrados, estava abarrotado de pilhas de livros e documentos.
Havia todo tipo de papelada administrativa da escola, livros acadêmicos, diários de pesquisa pessoal, grimórios básicos… todos empilhados e ocupando cada canto do espaçoso laboratório.
Revirei rapidamente os armários, um a um, assim como os documentos acumulados sobre a mesa.
Folheei as páginas de um diário pessoal encontrado em uma das gavetas, lendo às pressas as anotações e lembretes escritos por ele.
A maior parte do conteúdo era algo que eu já conhecia, então pude passar rápido pelas páginas. Eu já tinha compreendido cerca de 90% da situação. Aquilo não passava de um hábito meu, confirmar se existia qualquer possibilidade de que o futuro que eu conhecia tivesse sido alterado.
Apesar disso, não parecia haver nenhuma variável significativa que tivesse mudado algo.
Então por que, afinal, o Professor Glast me chamaria pessoalmente até o laboratório dele? Entender o motivo disso era urgente. Mas, por mais que eu investigasse, parecia que a linha do tempo ainda estava seguindo como deveria.
Pelo ritmo atual, sem nenhuma mudança, não era difícil visualizar a cena final onde Taylee derrotava Glast.
No entanto, se houvesse qualquer desvio, mesmo pequeno, eu precisava confirmar e corrigir.
Diante das circunstâncias, depois de fazer rapidamente os cálculos mentais para entender o que estava acontecendo, parecia que Glast havia chamado Ayla até o laboratório com o propósito de sequestrá-la.
Isso não era difícil de prever. Afinal, com tão pouco tempo até a Transferência de Ressonância, ele precisaria começar a agir imediatamente.
A questão era: por que ele também me chamou?
De forma muito sutil, meu instinto começou a gritar.
Eu também não estava seguro.
Thump. Thump. Thump.
O som dos passos do Professor Glast se aproximava, avançando lentamente pelo corredor rumo ao laboratório.
— Heeeeeghk…! Heeeeghk… Alguém... me ajuda...
‘Só saquei uma adaga e me aproximei dela. Será que foi realmente tão assustador assim…?’
Mas, pensando melhor, tive que mudar de ideia. Sim, deve ter sido assustador o suficiente para ela.
Senti muito por isso… mas eu também estava com pressa.
Fuçando rapidamente pela mesa do Professor Glast, abri todas as gavetas. Desdobrei todos os documentos que consegui encontrar, lendo-os rapidamente antes de jogá-los de lado. Em seguida, abri todos os grimórios, tentando descobrir do que tratavam.
Abri os armários, deixando cair o que havia dentro, e vasculhei todas as pastas já arquivadas, passando os olhos por toda a papelada oficial que ele havia guardado.
A maioria das informações que encontrei eram coisas que eu já sabia, irrelevantes ou sem qualquer relação com o incidente. Enquanto vasculhava os papéis como um ladrão à procura de joias, encontrei um arquivo no canto de um dos armários.
“Registro da investigação sobre a Ocupação do Salão Ophelis e o status atual da apuração.”
Ao abrir os documentos, havia também uma grande esfera de cristal. Entre os papéis, estavam evidências da investigação sobre o que eu havia feito no Salão Ophelis.
Nada daquilo era obra do Professor Glast. Olhando quem, dentro da escola, estava encarregado daquele documento, vi um nome que me era familiar.
— Ouvi dizer que a professora assistente Cleoh entrou na floresta norte ontem. Você a viu, Ed?
De repente, aquela informação que Yennekar havia me dito ressurgiu na memória, e agora fazia todo sentido.
Olhando para a esfera de cristal entre os documentos, era, sem dúvida, uma esfera de fotopensamento usada pela escola. Mesmo que a energia mágica nela infundida ainda não revelasse nada, não era difícil deduzir qual cena havia sido capturada ali.
Naquele instante, percebi que precisava descobrir o que estava acontecendo, e rápido.
Thud!
O Professor Glast abriu a porta, entrando na sala.
Usava o uniforme de professor, impecável, com um manto branco de mago. Seu corpo magro e os cabelos desgrenhados, espetados para todos os lados, eram exatamente como sempre.
— P-Professor Glast!
Assustada, Ayla se levantou num pulo.
Correu e se escondeu atrás dele, tremendo de medo.
— P-Por favor, me ajude! Aquele cara tá com uma adaga…!
Heeeeeeeeeeghk!
Hwaaaghk!
A energia mágica começou a preencher o laboratório inteiro. A gola do Professor Glast começou a flutuar, como se ele estivesse no vácuo do espaço, e por um breve instante meu corpo foi atingido por uma pressão imensa.
— Kyaaaghk!
Glast estendeu a mão para Ayla, que havia caído no chão.
Diferente da mana comum, naturalmente incolor, o poder mágico da Magia Celestial possuía um tom avermelhado.
Uma energia mágica espessa como lama começou a envolver Ayla. Logo depois, o poder da Magia Celestial passou a restringi-la por completo.
A magia celestial "Prisão Temporal".
Uma vez subjugada por Prisão Temporal, ela endureceu como pedra, completamente imobilizada.
Curiosamente, enquanto a magia durasse, ela não poderia ser afetada de forma alguma por influências externas.
Empurrar, arranhar, jogar uma pedra, ou mesmo cortá-la com uma lâmina, nada surtiria efeito em Ayla.
— ……
A expressão do Professor Glast não mudou nem um pouco.
Como se apenas estivesse cumprindo sua função, estendeu a mão em minha direção sem sequer anunciar que eu era o próximo. Uma energia mágica vermelho-escura começou a subir de seu corpo, vindo diretamente para cima de mim.
— Mugg!
Levei menos de um segundo para decidir.
A magia elemental Explosão que eu havia imbuído na adaga presa na parede junto à entrada foi ativada.
Por natureza, Explosão exigia um tempo de conjuração relativamente longo. Mas ao tê-la embutida previamente no encantamento da lâmina, todo o processo foi ignorado, restando apenas o resultado.
Boom!
— Keughh!
Pego de surpresa pela explosão, o Professor Glast desapareceu em meio à fumaça.
Vi que ele havia assumido uma postura defensiva no exato momento em que sumiu. Não seria derrotado só com aquele ataque.
No início da explosão, ele já havia conjurado instantaneamente uma magia de supressão sonora para evitar que o tumulto ficasse maior. Um reflexo e agilidade incríveis, ao ponto de me causar arrepios.
De qualquer forma, a entrada daquele lado estava bloqueada, então eu não podia fugir apressadamente. Saltei para o lado e me empurrei para debaixo da mesa do Professor Glast.
Prisão Temporal só funcionava se houvesse contato direto com a magia celestial.
Basicamente, aquela mana vermelho-escura era extremamente difícil de manipular. Se perdesse o foco por um instante, ela se dissipava. Desde que eu conseguisse evitá-la, não deveria me machucar.
— Você é bem rápido em entender a situação, Ed Rothstaylor. Seus movimentos são extremamente ágeis.
No meio da fumaça que subia, os olhos dele começaram a brilhar.
— Nesse curto intervalo de tempo… Você realmente conseguiu examinar todos os meus documentos de pesquisa e relatórios acadêmicos?
Ele parecia acreditar que eu havia descoberto suas verdadeiras intenções lendo aqueles documentos.
Mas não havia necessidade disso. Desde o começo eu já sabia exatamente quais ações o Professor Glast pretendia tomar.
No entanto, não esperava ser envolvido diretamente nelas.
— Percebo pela forma como se movimentou e lidou com a situação que você já esperava pelo meu ataque. Mas é estranho. Não há como descobrir minhas verdadeiras intenções só lendo esses papéis.
— Professor Glast, há mesmo necessidade de me subjugar?
Com a mesa entre nós, comecei a conjurar Ignição na ponta do dedo.
Antes de Glast chegar ao laboratório, eu havia reunido todos os documentos e empilhado ao lado da mesa.
Naquele ponto, era impossível distinguir o que era importante e o que não era.
Mas se eu queimasse toda a pilha de documentos, certamente causaria um grande problema.
Na verdade, perder alguns daqueles papéis não seria o fim do mundo.
Não era como se todo o plano dele fosse desmoronar com a perda de parte dos documentos, mas eu tinha quase certeza de que isso atrasaria as coisas.
A Transferência de Ressonância estava marcada para aquele dia ou o seguinte, então qualquer contratempo seria desastroso.
Por isso, eu podia usar aqueles documentos como reféns, pelo menos até certo ponto.
Claro, era uma tentativa fraca.
Se eu errasse, ele sacrificaria os papéis e me subjugaria sem hesitar. Porém, Glast preferiria me neutralizar usando magia celestial, silenciosamente, tentando evitar qualquer dano aos documentos.
Aproveitando qualquer brecha em seu julgamento, se houvesse a menor hesitação, uma oportunidade para negociação poderia surgir.
— Professor Glast. Isso é apenas uma suposição infundada, mas… o motivo de precisar da Ayla… é porque ela possui uma ressonância incomum com a Magia Celestial? Se for esse o caso, você já a subjugou, seu objetivo foi alcançado. Não há motivo para me subjugar também. Minha boca está fechada, então não precisa se preocupar com isso.
— Se fosse esse o caso, eu não teria chamado você até o meu laboratório, teria?
Se ele já tinha Ayla, tudo deveria estar indo conforme o plano.
Não conseguia entender por que ele teria ido tão longe a ponto de me convocar e tentar me subjulgar.
— Há um motivo para você estar aqui. Por causa disso… espero que não pense mal de mim.
Falar algo tão vago… Era demais, não? Ele não podia simplesmente explicar?
Bem, para ser justo, ele nem sequer falou uma palavra quando subjugou Ayla. Talvez fosse natural me tratar do mesmo jeito.
Do jeito que as coisas estavam indo, se eu fosse subjugado, seria arrastado até o laboratório secreto dele junto com Ayla.
Um laboratório escondido no meio do Salão Trix. Não seria bom se aquilo se tornasse um escândalo, então ele provavelmente tentaria me subjugar usando o mínimo de magia possível, evitando atrair atenção.
Com isso em mente, pensei em formas de derrotar Glast e escapar do Salão Trix. Mas enquanto considerava apenas abrir um buraco na parede e fugir, uma nova possibilidade me veio à cabeça.
‘E se eu simplesmente me deixar ser sequestrado…?’
Foi esse tipo de raciocínio reverso que surgiu.
Como Prisão Temporal consumia uma enorme quantidade de energia mágica, havia claramente um limite de tempo. Se ele nos subjugasse, provavelmente ficaria sem mana dentro de poucos dias.
Assim como na linha do tempo original, ele roubaria o Selo do Sábio e nos trancaria, eu e Ayla, em seu laboratório secreto. Eventualmente, nos libertaria da Prisão Temporal.
Mesmo que algo desse errado, o grupo do Taylee invadiria o laboratório e causaria um grande alvoroço. Naquele momento, não seria melhor apenas pegar o que eu precisava e fugir?
Eu conhecia tão bem a estrutura daquele laboratório secreto que até me cansava só de pensar. Não teria que lidar com os canais subterrâneos nem colocar a Yennekar em risco desnecessário.
Além disso, Taylee tinha atributos mais do que suficientes. E os outros membros do grupo de subjugação não eram fracos, de forma alguma.
Então… será que eu deveria simplesmente me deixar sequestrar?
— Hmm…
Minha mente voltou a girar.
Mesmo que eu conseguisse escapar, o Professor Glast não ficaria de braços cruzados. Pelo contrário, era mais provável que ele adiasse toda a programação da Transferência de Ressonância, tentando me capturar após eu ter descoberto seus segredos.
Por outro lado, me deixar capturar deliberadamente também era arriscado. Se algo saísse dos trilhos e a história se desviasse da rota certa durante minha ausência, não haveria ninguém para corrigir.
Eu vinha monitorando a progressão da história tão de perto que até me perguntava se não estava exagerando… Mas nunca era possível prever quando ou como algo poderia dar errado.
Eu não tinha escolha a não ser pesar cada opção, determinar qual apresentava o risco maior, e então escolher o que faria.
— Seria ótimo se você não resistisse inutilmente. Como não tenho tempo para explicações longas, vou precisar pular essa parte. Confie em mim, não será uma história tão ruim para você também, Ed Rothstaylor.
Saí cuidadosamente de onde estava escondido, afastando-me da mesa e encarando o Professor Glast diretamente.
— Oh, você pretende se opor a mim? Ou teve alguma ideia mirabolante?
Encarando o Professor Glast, permaneci imóvel, olhos bem abertos.
A energia mágica começou a se concentrar, e ele lançou seu feitiço contra mim.
Whoooooooooosh!
Com a magia de telecinese do Professor Glast, todos os documentos e grimórios espalhados foram devolvidos aos seus devidos lugares.
No laboratório pessoal, agora parcialmente reorganizado, havia duas pessoas completamente paralisadas.
Uma era Ayla, caída no chão com o rosto tomado pelo pavor.
A outra era Ed, de pé, encarando de frente a magia do Professor Glast, sem sequer tentar evitá-la.
Glast se sentou à sua mesa de trabalho, abrindo novamente o relatório de investigação sobre Ed.
Pouco a pouco, começou a se lembrar da conversa que teve com a Professora Assistente Cleoh, responsável pela elaboração daquele relatório.
— História da Magia, Introdução aos Estudos Espirituais, Redação em Estudos Elementares, Ecologia de Monstros, Estudos Comuns sobre Poder Mágico, Princípios da Análise de Ressonância, Teoria Mágica, Introdução à Engenharia Mágica, Herbologia, Introdução aos Círculos Mágicos, Estudos Elementares Separados… Ele tirou notas quase perfeitas em todas as matérias teóricas.
— Exato! Assim que entrou no segundo ano, as notas dele dispararam! Nas aulas práticas ele ainda tá um pouco atrás, mas tem melhorado devagar. O poder mágico total ainda é um pouco abaixo da média dos outros do segundo ano, mas o ritmo de crescimento dele é simplesmente absurdo. Pelo que ouvi, ele até fez um contrato com um espírito. Não é de se estranhar que tenha desmaiado de tanto se esforçar!
Cleoh falava com entusiasmo enquanto batia levemente nos papéis com os dedos.
— Quando vi a mudança nas notas pela primeira vez, fiquei desconfiada. Não conseguia acreditar que ele estivesse conseguindo estudar tanto vivendo isolado no meio do mato. É como se ele vivesse 48 horas por dia! De verdade!
Ela estava analisando o boletim de Ed, enviado diretamente da administração da escola.
Na verdade, Cleoh não era responsável pelas notas dele, e o número de alunos com quem lidava diariamente não era pequeno. Por isso, não tinha como saber de todos os detalhes acadêmicos de cada um.
Mas, depois que seu foco se voltou para Ed, resolveu consultar seus dados pessoais. Ao ver o que estava diante de si, ficou completamente pasma.
Apesar do jeito estabanado, a Professora Assistente Cleoh tinha um bom senso de autogestão.
Parecia meio desligada, mas havia um motivo para já ocupar o cargo de professora naquela idade.
Justamente por ser assim, ela conseguia enxergar com clareza o quão absurda era a quantidade de esforço que Ed colocava em sua rotina e modo de vida.
— Isso… Isso aqui é o resultado de alguém que tá se esforçando de verdade, como se a vida dependesse disso. Você também sabe, Professor Glast, que o talento do Ed não é nada fora do comum.
Sem perceber, a voz de Cleoh começou a ficar mais baixa.
— Imagina o quanto ele teve que se dedicar pra chegar até aqui. A ponto de tossir sangue… Eu nem consigo imaginar a dimensão disso.
— Ser ou não o responsável pelos incidentes, e o fato de você estar tão empolgada com ele, são coisas completamente diferentes, Professora Assistente Cleoh.
— S-Sim, é verdade. Mas…! Só não esperava que o histórico dele fosse assim…!
Glast fechou a pasta e a jogou de lado.
Recostando-se na cadeira, encarou silenciosamente Ed, que agora estava completamente imobilizado pela Prisão Temporal.
Mesmo no instante em que a energia mágica o atingiu, ele não piscou. Seu rosto também não demonstrava qualquer sinal de ansiedade. Foi naquele momento, ao vê-lo ser atingido pela magia, que Glast sentiu uma estranha confiança emergir, deixando-o sem palavras.
Até ser expulso da Família Rothstaylor, onde era tratado com toda a nobreza imaginável, Ed levava uma vida que faria até um rei sentir inveja.
Mas, menos de um ano depois, suas mãos estavam cobertas de calos, e seu corpo, marcado por cicatrizes.
Seu corpo, que antes parecia esguio e frágil, agora já estava repleto de músculos definidos. Mesmo a partir da gola da camisa, já era possível ver a forma de seu físico tomando forma.
Além disso, a percepção de combate que Glast viu através da esfera de cristalfotografia era algo que não podia ser ignorado.
Controlar o campo de batalha, analisar completamente seus oponentes e tirar proveito de todos os meios disponíveis para vencer… Essa era uma habilidade que alguém nascido com talento natural, que derrotava tudo e todos com facilidade, jamais desenvolveria.
Era o jeito como os fracos lutavam.
Mesmo que alguém admitisse humildemente ser mais fraco que o adversário, só alcançaria esse nível se jamais desistisse de vencer. A mente precisava ser mais forte que o corpo.
E então… lhe veio à mente alguém que havia perdido.
Uma ferida que ele achava já ter cicatrizado.
A memória de ver sua filha partir, as costas frágeis da única filha, enquanto saía para participar de uma subjugação de monstros, tudo para tentar elevar o nome de seu pai.
— ……
Glast, sentado e completamente imóvel enquanto organizava seus pensamentos, não percebeu o que acontecia ao seu redor.
Uma pequena figura, com forma de morcego, saiu discretamente de dentro da gola da camisa de Ed e voou rapidamente porta afora.
Para o Professor Glast, que mal dominava os fundamentos da ressonância espiritual, aquele instante passou despercebido. Ele estava mergulhado demais em suas reflexões.
Na verdade, o plano era apenas sequestrar Ayla. Mas ele acabou sendo forçado a subjugar Ed também.
Ainda assim, o círculo social de Ed não era muito grande, e sua reputação era um tanto mista, então não causaria comoção se ele desaparecesse por alguns dias. Pelo menos por um tempo, isso não seria um problema.
Não era algo que comprometesse o andamento do plano.
Pensando nisso, o Professor Glast começou a relaxar, afastando de si qualquer tensão remanescente.
◇ ◇ ◇
A fumaça subia da fogueira.
O acampamento ficava na floresta do norte. Sobre o fogo, um ensopado de frango bem preparado borbulhava, aguardando para ser servido.
Uma jovem elementalista cantarolava alegremente enquanto mexia a sopa. Próximo dali, uma pequena maga dormia tranquilamente, roncando no telhado da cabana.
As duas pareciam naturais naquele cenário, como se vivessem ali todos os dias… Ainda que o verdadeiro dono daquele acampamento não estivesse por perto.
Com a época das provas se aproximando, havia muitas tarefas a serem resolvidas com o fim do semestre. Era natural que seu retorno para casa se atrasasse.
Como ele era alguém sempre ocupado, não havia o que fazer. Com esse pensamento em mente, a elementalista olhava distraída para o céu noturno.
Foi então que um morcego em chamas surgiu voando entre os arbustos, pousando no ombro da garota.
Enquanto sussurrava algo em seu ouvido de forma desesperada, pouco a pouco a garota parou de se mover.
O vento soprou, e as árvores da floresta começaram a se agitar.
A noite de outono seguia… silenciosa e interminável.
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