Light Novel
Capítulo 52: A Guerra de Subjugação de Glast (1)
Lucy sempre se deitava olhando para as estrelas.
Deitada no telhado do Salão Trix, observando o céu, a noite estrelada cintilando lá no alto e pressionando suavemente como um cobertor confortável...
O calor e o frio não eram fatores particularmente importantes para Lucy, já que ela usava diversas magias de proteção. No entanto, estar sob a luz do sol, ter uma boa vista do céu aberto e ouvir de vez em quando o farfalhar das folhas ou o fluxo de um riacho era mais importante do que se poderia imaginar.
Por outro lado, estar completamente cercada por paredes e tetos não era algo bom.
Por isso ela não gostava do Salão Ophelis, apesar dos quartos bem iluminados, das camas caras e das roupas de cama de alto padrão.
Mesmo com as criadas atoladas de trabalho por causa do Salão Ophelis parcialmente destruído, elas não relaxavam quando o assunto era vigiar Lucy.
Todos os dias, garantiam que ela vestisse corretamente e com capricho o uniforme recém-lavado, enquanto penteavam gentilmente seu cabelo branco, que tendia a ficar completamente desgrenhado. Ainda assim, seu comportamento não era diferente do de um gato de rua.
"A busca pelo conhecimento nunca tem fim, Lucy. Tenho certeza de que o Sr. Silvenia também pensava assim."
Aquele velho...
O chapéu de mago gasto e cheio de dobras, originalmente usado pelo mago Glockt antes de dá-lo a ela, carregava um aroma suave de alecrim. Cheirando as mangas da própria roupa, Lucy conseguia sentir o mesmo cheiro. Enquanto ela dormia, as criadas continuavam lavando suas roupas como bem entendiam.
De repente, ela se lembrou do dia em que Glockt faleceu. Um dia em que a chuva caiu forte.
A lembrança de quando ficou sentada na cabana de Glockt, segurando seu chapéu enquanto afastava todos que tentavam se aproximar dele, parecia tão distante, como o céu estrelado. Ela chegou a atacar aqueles que ousaram tocar no cadáver do arquimago Glockt sem permissão.
Comparado àquela época, teria ela se tornado mais gentil?
Embora, na verdade, ela não se tornara exatamente mais confiável. Era mais adequado dizer que ficou mais preguiçosa. Tirando as criadas, não havia mais ninguém para disciplinar Lucy.
Se alguém perguntasse se a vida dela havia se tornado entediante, ela não pensaria assim.
Mesmo na relativamente confinada Ilha Acken, havia uma quantidade surpreendente de paisagens lindas, comidas deliciosas e eventos malucos.
Na maior parte do tempo, Lucy, que era distante por causa dos sofrimentos que viveu, não achava nada disso interessante. Ainda assim, sua vida não parecia particularmente entediante.
"Você pode ter nascido com o dom natural do talento e a bênção das estrelas, mas isso não é desculpa para deixar de aprender, Lucy. Mesmo que todos na terra do conhecimento estejam abaixo do seu talento, ainda deve haver algo para você aprender. Por isso, deve estar sempre aprendendo. Seja humilde e use seu poder para o bem de todos."
"E… tome cuidado com a solidão que, um dia, vai se aproximar lentamente de você. A força para derrotar todos os outros inevitavelmente será acompanhada por uma solidão amarga... Lucy, me desculpe por estar partindo antes."
A forma como a solidão se manifesta varia de pessoa para pessoa. A lâmina fria da solidão acabaria encontrando todos, de um jeito ou de outro.
Mas Lucy ainda era jovem demais para entender esse fato. Até agora, isso ainda não tinha tocado seu coração.
Aquela sensação que pulsava dentro dela era mais próxima de saudade do que de solidão.
Ele era como um velho ranzinza que ficava reclamando o dia inteiro. Sempre que ela dormia nos arredores da floresta mágica, ele a pegava no colo e a arremessava de lado, sempre se irritando enquanto a repreendia. E agora que ele tinha partido, havia uma estranha sensação de vazio no lugar dele.
Provavelmente, nunca mais se veriam.
Houve um tempo em que uma parte do coração dela sofreu com essa ideia, mas com o passar do tempo a dor daquele ferimento foi desaparecendo aos poucos.
Agora, o simples fato de ter um saquinho de carne seca nos braços já era o suficiente para conter aquela saudade.
‘Isso é tão a sua cara…’
Era engraçado imaginar qual seria a expressão do Glockt se visse o que ela estava fazendo agora.
Mas o que foi perdido, foi perdido. Ela já tinha experiência o bastante para saber que tentar recuperar aquilo só seria um desperdício de energia.
Tudo o que precisava fazer agora era encarar o céu estrelado e ter a sorte de aproveitar o tempo que tinha.
Também não havia muito mais o que fazer. As aulas eram fáceis demais. Ela conseguia memorizar o conteúdo de um livro só de folheá-lo rapidamente. As aulas práticas não exigiam mais do que um estalar de dedos. A Fundação de Bolsas Glockt cobria totalmente seus estudos. E os professores, em geral, não a incomodavam.
Um dia, ela se lembrou das mãos enrugadas daquele velho que costumava afagar sua cabeça.
Em algum momento, a saudade do Glockt havia se tornado tão natural quanto a primeira vez em que ela se sentiu confortável ao lado dele.
Para Lucy, o sentimento de se apoiar em alguém e depois começar a sentir falta vinha de forma tão natural…
Mesmo que fosse irritante e frustrante, ela era alguém que, um dia, acabaria se sentindo vazia de repente, ao perceber que não havia mais ninguém por perto.
Depois de entender o que era de fato a saudade, ela não queria mais criar nenhum outro tipo de laço daquele tipo.
Era um sentimento que a jovem maga prodígio nunca mais queria experimentar. Por isso, acabou se afastando do mundo, e quando voltou a si, já havia se tornado extremamente preguiçosa. De certo modo, estava levando uma vida completamente ridícula.
Ela sabia muito bem que, no dia em que seu destino finalmente a alcançasse, teria que se levantar, mesmo que fosse contra a vontade.
Mas ainda não era esse o momento.
Lucy balançou as pernas para fora da perigosa grade do telhado do Salão Trix. Para não deixar o chapéu voar, segurou-o com uma das mãos, mordeu um pedaço da carne seca e olhou para o céu noturno de outono... Estava bem vasto e agradável.
Por ora, parecia que os céus de outono permaneceriam claros e ensolarados. Pelo menos não cairia uma chuva torrencial.
Satisfeita com isso, Lucy começou a cantarolar, algo raro para ela.
O capítulo final do Ato 2 estava começando.
Quanto aos outros acontecimentos, eu não tive escolha a não ser ouvir sobre eles por meio do Ziggs, da Yennekar e da Lortel.
Eu não queria me aproximar desnecessariamente de tudo, mas não tinha esse tipo de liberdade. Além disso, não havia um bom motivo ou desculpa para me envolver no que estava acontecendo entre os personagens principais do primeiro ano.
Contanto que eu pudesse confirmar que a história estava avançando suavemente até o final, sem grandes problemas, não havia com o que me preocupar.
No entanto, a situação mudou um pouco conforme o capítulo final se aproximava. Isso porque surgiu um motivo para eu me envolver.
Se havia uma fórmula de produção de item de engenharia mágica que seria desperdiçada de qualquer forma, eu com certeza queria colocá-la em minhas mãos. Isso porque não havia opção melhor quando o assunto era construir uma base sólida para meu crescimento. Se tivesse sorte, talvez conseguisse ficar mais forte em um ritmo explosivo.
[Ótimo trabalho, jovem mestre Ed! Agora não há mais problemas com o nível de reserva de comida do acampamento!]
— Ainda tá um pouco escasso se for pra durar o inverno inteiro.
Não demorou para coletar comida suficiente e reforçar a reserva do acampamento por enquanto. Desde o início, eu já estava acostumado com a caça, e depois de melhorar meus atributos, capturar animais selvagens se tornou mais fácil do que eu esperava.
[Mas você não pode se esforçar demais! Se quiser dormir seis horas por dia direitinho, devia começar a encerrar os estudos por hoje. Além disso, você não comeu carne ou vegetais o suficiente hoje, jovem mestre Ed! Precisa compensar isso no jantar! E também não tem bebido água o bastante!]
— Tá, tá...
Mugg começou a relatar cada aspecto da minha rotina diária, um por um. A essa altura, parecia mais uma secretária pessoal do que um espírito de combate ao meu lado.
["Se você desmaiar de novo, eu vou morrer de verdade! Por favor, viva uma vida longa e saudável por mim! Quero muito manter nosso contrato por muito tempo, jovem mestre Ed!"]
Depois que desmaiei aquela vez, Takan parece que deu uma bela bronca no Mugg pelo que ele estava fazendo, já que estava sempre ao meu lado. Mas era sempre assim, em qualquer lugar, os de baixo acabavam levando a culpa.
Desculpa por isso, Mugg!
— No fim das contas, pessoas boas demais também não são tão boas assim. Né, Ed?
— Do que você tá falando do nada?
— Hoje minhas amigas brigaram, e eu não consegui dizer nada pra elas.
Depois de terminar minha rotina diária na escola, voltei para o acampamento com a Yennekar.
Estava se tornando comum a Yennekar voltar comigo pro acampamento ao invés de ir pro Salão Dex. A ponto de isso já nem parecer estranho. Comecei a me perguntar se ela ainda dormia de verdade lá no Salão Dex.
Pensando bem, era compreensível que a Yennekar se sentisse desconfortável no Salão Dex. Afinal, fui eu quem disse que ela podia vir me visitar no acampamento quando quisesse.
Ela voltou para o acampamento, tirou automaticamente sua caneca e preparou um chá de ervas na mesa junto com a minha.
No começo, era desconfortável vê-la usando os espíritos para ajudar a manter meu acampamento às vezes, ou ver ela arregaçar as mangas do uniforme para lavar minhas roupas. Isso porque, do meu ponto de vista, eu não tinha nada com que retribuir.
Ela até tirou um tempo para me ensinar sobre magia espiritual. Quando perguntei como poderia retribuir, já que não tinha nada, ela rapidamente balançou os braços dizendo que estava tudo bem. Cheguei até a ter pensamentos ruins, me perguntando se era assim que um cafetão se sentia.
Tá bom… Melhor parar de pensar esse tipo de coisa.
— Clara e Anise brigaram hoje. Você conhece elas, né? As duas amigas com quem eu sempre ando.
— Conheço, sim.
— Não foi nada demais. A gente tava conversando enquanto ia da aula de estudos elementais pra ecologia de monstros, e de repente começaram a discutir por uma besteira, que virou briga. Mas... como eu tava no meio, elas acabaram ficando com pena de mim.
— Deve ter sido confuso pra você.
— É verdade, mas... eu comecei a me sentir estranha quando pensei em como elas estavam sendo tão cuidadosas comigo antes da briga.
Yennekar segurou sua caneca e olhou para a fogueira com tristeza.
— Pensando bem, sempre foi assim. Todo mundo é sempre tão legal, gentil e atencioso comigo... Mesmo sem precisar ser. Parece até uma obsessão que todos têm.
Eu não negaria o fato de que a Yennekar era conhecida como uma fada neste mundo. Mas era curioso ver que a consideração dos outros por ela estava apenas a cansando.
Não, não era isso. Pensando bem, era uma reação bem típica da Yennekar. Tudo começou a fazer sentido.
— Mas se eu falar alguma coisa, eles vão começar a achar que sou alguém que se incomoda fácil, então não posso dizer. Tenho medo de eles acabarem falando algo tipo: “Por que você se sente desconfortável se a gente só tá sendo atencioso com você?”
— Isso é verdade até certo ponto. Não dá pra ficar bravo com eles se tudo o que estão fazendo é serem legais e atenciosos com você.
— Ugh, Ed, suas palavras são sempre tão secas. Mas não posso negar o que você disse, porque é verdade.
Olhando para a Yennekar brincando com os pés enquanto sorria de forma boba, dava pra ver claramente que seus sentimentos tinham mudado recentemente.
— Quer saber? Eu vou ser má. Já tentei várias vezes, mas dessa vez vai ser pra valer.
Dizendo isso, ela entrou numa pose estranha. Colocou as duas mãos na cintura e começou a agir de um jeito provocante, como se estivesse dizendo “Eu sou má!”. Pra ser sincero, eu não fazia ideia do que ela estava tentando fazer.
— Pensando bem, eu tinha um favor pra te pedir.
— Okay! O que é?! É urgente?! Pode me contar!
— ……
Depois de falar, Yennekar prendeu a respiração e colocou sua caneca sobre a mesa. Pensando sobre o que devia dizer a seguir, ou como dizer, ela começou a falar devagar.
— Se for um pedido... pode ser que eu consiga ajudar, ou talvez não… Mas que tal tentar dizer primeiro…?
— Mas eu me sinto mal em pedir ajuda de graça. Pode ser bem problemático, ou até perigoso. Mas acho que, de algum jeito, vai acabar dando tudo certo.
Falei com a voz mais baixa e cuidadosa, e no instante em que Yennekar percebeu que eu estava falando sério, sua expressão mudou.
— Existem alguns itens que eu perdi e outros que quero encontrar, então tem um lugar onde eu preciso ir… Só que é perigoso demais ir sozinho.
— Onde é?
— Os canais subterrâneos. Tem uma entrada grande nos arredores do distrito dos professores.
— Sério? Aquele lugar é tão perigoso assim? Eu não sei direito, nunca fui lá… Mas se você disse que é, então deve ser mesmo.
Eu já tinha elaborado um plano, até certo ponto.
O capítulo final do Ato 2 começava no Salão Trix, seguia pelos canais subterrâneos, passava pelo laboratório secreto dentro deles e, por fim, chegava à torre de poder mágico.
Enquanto o protagonista Taylee começava a se mover, eu planejava pegar todas as fórmulas de produção e ferramentas mágicas na Biblioteca das Almas, localizada no laboratório secreto, e depois sair de lá.
Mas tentar atravessar o sistema de segurança do laboratório secreto e todos os guardas seria ineficiente. Além disso, poderia interferir na linha do tempo, e nem mesmo havia certeza de que seria possível. Mesmo que fosse, eu não queria assumir esse trabalho difícil por conta própria.
Então, a chave da operação precisaria mudar para "seguir o Taylee".
O plano era: enquanto Taylee limpava o caminho rumo à batalha final, eu o seguiria com cautela, pegaria apenas o que precisava e cairia fora.
‘A Medalha de Honra’ era deixada pela presidente do conselho estudantil Verus na Fase 1. Aquele acessório aumentava bastante a resistência mágica contra todos os elementos… Bem, seria bem útil nas próximas partes da história, então deixaria isso nas mãos do Taylee.
Não havia muito motivo pra pegar os itens de engenharia mágica deixados pela Professora Assistente Cleoh na Fase 2. Apesar de serem úteis pra avançar a história no curto prazo, com o tempo só virariam dor de cabeça.
O foco principal era a Fase 3, no laboratório secreto. Todos os livros mágicos de alto nível em versão réplica e várias fórmulas de produção estavam na Biblioteca das Almas. Eu também teria que coletar o máximo de itens de engenharia mágica que conseguisse enquanto estivesse lá.
A Habilidade do Mestre Espadachim do Taylee parecia já ter alcançado o quinto nível, e eu tinha ouvido que ele era considerado, no mínimo, Classe B quando o assunto era esgrima. Já que os atributos dele não pareciam estar em falta, eu podia ficar tranquilo por um tempo.
Na verdade, o capítulo final do Ato 2 era um tanto complicado e continha alguns eventos desnecessários que podiam levar a finais ruins. Mas, se os atributos estivessem no nível certo, os combates em si eram bem simples. A maioria das condições que levavam a finais ruins eram extremamente específicas, então não havia grandes problemas com isso. Ainda assim, naturalmente, eu não podia baixar a guarda. Precisava ficar de olho nisso também.
Como eu havia decidido seguir o Taylee, também poderia acabar enfrentando alguma situação de crise... Por isso, seria perfeito se eu tivesse um colega ao lado que pudesse me emprestar seu poder de combate.
E, entre as poucas pessoas que conhecia, só havia uma que fosse ao mesmo tempo gentil comigo e disposta a lutar ao meu lado.
— Enquanto eu estava andando por ali, acabei deixando cair uma das minhas coisas nos canais subterrâneos. Por isso preciso descer até lá e encontrá-la.
— Isso parece meio difícil, mas eu vou te ajudar, Ed!
— Obrigado, Yennekar. Os canais subterrâneos são bem escuros e úmidos. Além disso, tem alguns trechos que são bem apertados... Vai ser melhor se você usar roupas que possam sujar. Obrigado. Vou dar um jeito de te recompensar depois.
— Claro, Ed! Mas... você disse que é escuro e apertado...?
A mão que segurava a caneca da Yennekar começou a tremer enquanto ela pigarreava. Os espíritos intermediários que eu não conseguia ver deviam estar cochichando alguma coisa no ouvido dela, já que ela começou a agitar os braços no ar, como se quisesse espantá-los.
— N-Não tem jeito, né! É! Eu só vou ter que ficar bem colada em você pra não me perder!
— Tudo bem, obrigado.
— ……
De repente, depois de dizer isso, Yennekar voltou a pigarrear enquanto agarrava o próprio cabelo.
Parecia que estava organizando os pensamentos.
— Como esperado... eu sou fácil demais...!
— É m-mesmo?
— Mas... se eu não for junto, você vai acabar indo sozinho, né? Você ia sair correndo por aquele lugar escuro tentando achar as coisas sozinho, não ia?
— Eu... não posso negar isso.
— Então, isso não tá certo...!
Eu não conseguia entender por que ela estava se preocupando com pensamentos tão inúteis, mas de todo modo, Yennekar parecia estar refletindo sobre alguma coisa.
Ela era uma garota que viveu a vida toda como uma princesa de conto de fadas. Toda a sua existência sempre girou em torno de receber grandes quantidades de gentileza dos outros e retribuir com o próprio afeto.
Não dava pra chamar isso de algo ruim, nem culpar ela por ser alguém sem senso de realidade.
A natureza da Yennekar não era, em sua essência, algo terrível, e também não era como se ela vivesse completamente desconectada do mundo. Na verdade, quem destoava mais nesse aspecto era a Lucy.
Tudo o que Yennekar fazia era viver alegremente em um jardim florido repleto de boa vontade. E não havia ninguém que pudesse culpá-la por isso.
No entanto, se fosse a própria Yennekar quem dissesse que queria escapar dessa vida de conto de fadas e encarar a realidade, ela teria que assumir muitas responsabilidades.
Às vezes, ela teria que recusar favores. E haveria momentos inevitáveis em que teria que balançar a cabeça e negar pedidos sinceros de outras pessoas.
Se alguém tão bondosa quanto Yennekar quisesse alcançar esse crescimento interior, seria preciso que surgisse uma oportunidade razoável para isso.
Por mais gentil que uma pessoa fosse, se a vida dela se tornasse difícil demais, surgiriam muitos momentos em que ela começaria a aceitar a boa vontade dos outros com desconfiança e mágoa no coração.
Para que uma garota inocente, saída diretamente de um conto de fadas, se tornasse uma adulta de verdade... ela precisaria passar por um momento difícil e desesperador.
Mas não parecia que esse momento chegaria tão cedo... Tudo o que eu podia fazer era torcer por ela.
— Bom, vamos juntos quando a rotina da escola estiver mais tranquila... Talvez a gente consiga um tempo livre enquanto o colégio estiver ocupado com outra coisa... Talvez seja perfeito se formos durante a Transferência de Ressonância do Selo.
As notícias sobre o Selo do Sábio estavam se espalhando, até certo ponto. Claro, não era algo de que a escola se orgulhasse, então o rumor circulava apenas discretamente entre os alunos.
Embora fosse dito que era mais uma espécie de transação de penhor do que uma venda definitiva, na prática não havia dúvidas: era a venda do coração da escola em troca de dinheiro.
De qualquer forma, Yennekar sabia o suficiente sobre a situação para que eu pudesse falar aquilo sem maiores explicações.
— Combinado, Ed. Vou estar na entrada dos canais subterrâneos então. Nossa, já tá ficando tarde.
Depois que o dia de aula terminou e voltamos juntos para o acampamento, eu terminei de fazer alguns tijolos lá no riacho e preparei lenha enquanto a Yennekar limpava o interior da cabana e preparava o jantar.
Sem percebermos, o céu havia escurecido, e uma ou duas estrelas já começavam a aparecer.
— Hoje tem reunião estudantil lá no Salão Dex, então é melhor eu ir logo. Espero que tenha uma boa noite, Ed!
— Certo, Yennekar. Se cuida e olha por onde anda, agora que tá escuro.
De todo modo, a Yennekar tinha um dom natural para deixar as pessoas ao redor mais calmas e gentis. Ironicamente, ela não se orgulhava disso, mesmo tendo nascido com essa natureza abençoada.
Ela riu enquanto acenava para mim, caminhando lentamente para longe. Fiquei sentado sozinho perto da fogueira, esculpindo minhas flechas.
◇ ◇ ◇
— No próximo semestre, o número de alunos na Classe A vai aumentar. Mais dois alunos serão promovidos. Em apenas um ano, mais dois subiram. A turma deste ano realmente tem muitos talentos.
Reunindo alunos do departamento de magia, o Professor Glast era o responsável pela Classe A, que ele próprio havia montado.
Não havia um nome específico para o curso. A aula especial do Professor Glast, que ensinava todos os aspectos da magia, só estava disponível para alguns poucos escolhidos.
Atualmente, apenas três alunos do primeiro ano podiam participar das aulas: Ziggs, Lortel e Lucy.
— Adele da Classe B e Ayla da Classe C são as mais prováveis. Mesmo entrando no meio do semestre, isso não afetará o andamento das aulas, então não há motivo para preocupação.
As salas especiais da Classe A, localizadas no distrito dos professores, eram espaçosas. No entanto, havia apenas três estudantes sentados naquele enorme salão de aula.
Um garoto sincero e dedicado ouvia o Glast atentamente, uma garota tentava ler os inventos do professor com um sorriso insinuante, e a última dormia profundamente.
Não havia necessidade de dizer quem era quem.
— Ora ora, Adele e Ayla... Então elas não eram assim tão fracas ou incertas quando o assunto era magia ou habilidade de combate.
Embora Lortel ousasse provocar o professor sênior, o Professor Glast não demonstrava nenhum sinal de desgosto.
Ele sempre tratava os talentosos com mais generosidade e tolerância. Nesse sentido, sua postura era bastante coerente.
— Elas não foram selecionadas apenas pela quantidade de poder mágico ou nível de ressonância. Contanto que tenham algum tipo de talento mágico, serão aceitas na Classe A.
A escola confiava plenamente no processo de seleção do Professor Glast. Isso significava que ele tinha certa liberdade garantida na escolha dos alunos da sua classe.
E, em troca dessa confiança, os olhos do Professor Glast sempre foram capazes de distinguir com precisão os que tinham talento.
Sempre tocando instrumentos ou cantando, Adele mantinha um sorriso relaxado, sendo famosa entre os alunos como uma espécie de trovadora ou romântica. Seu estranho dom de usar magia para tocar instrumentos era interessante até mesmo para Lortel.
Ayla impressionava menos em termos de poder mágico e ressonância fraca. No entanto, seu conhecimento e habilidade acadêmica estavam no mesmo nível dos próprios professores. Além disso, Lortel já tinha ouvido que Ayla parecia ter uma ressonância anormal com um tipo único de poder mágico, diferente da magia comum. Mas como isso não era do interesse da Lortel, ela nunca buscou saber mais detalhes.
— Mas não surgem reclamações dos outros alunos que também querem entrar na Classe A?
— Isso é algo com que eu terei que lidar.
Havia muitos alunos cheios de reclamações quanto à aula do Professor Glast.
— Hm… Me desculpe dizer isso, mas… Havia alguns outros alunos cujo poder mágico e nível de ressonância não pareciam tão ruins assim… Então, se esses alunos acabarem reclamando…
— Não quero desperdiçar meu tempo com aqueles de talento incerto.
O Professor Glast respondeu de forma cortante ao comentário de Ziggs. No entanto, Ziggs continuou falando, com uma expressão de desconforto no rosto.
— Estou dizendo isso com o máximo de cuidado para não soar desrespeitoso, mas…
— Não há necessidade de medir palavras. Diga exatamente o que está sentindo. Isso não vai me ferir em nada.
Mesmo gaguejando um pouco, Ziggs conseguiu transmitir sua mensagem com clareza.
— Você mencionou os de talento incerto, mas também existem pessoas que estão se esforçando ao máximo para serem reconhecidas. Ninguém sabe de que forma elas podem ou não melhorar, mas tenho certeza de que as habilidades delas não são tão baixas assim. É por isso que, quando parece que o senhor as ignora por causa das limitações atuais, eu fico um pouco incomodado. Dá a impressão de que o senhor está menosprezando o esforço delas de forma injusta.
Enquanto Ziggs falava, lançou um breve olhar em direção ao rosto do Professor Glast.
Sentada algumas cadeiras ao lado, Lortel suspirou. Olhando para Ziggs, parecia que ela realmente não conseguia entender aquele tipo de atitude.
Ziggs parecia achar que questionar diretamente a política do Professor Glast era uma forma de desrespeito. Ainda não havia entendido o tipo de pessoa com quem estava lidando.
Mesmo estando numa situação em que não seria estranho perder a paciência, o Professor Glast continuou respondendo com calma e tom contido.
— Você achou que, ao menosprezar e desprezar os esforços deles, eu estava rebaixando essas crianças e arruinando suas vidas, Ziggs Eiffelstein?
— ……
O silêncio sugeria que sim.
— Me desculpe por isso. Não é o que penso. Na verdade, a forma mais certa de arruinar a vida de alguém é instigar apressadamente um senso de confiança em um talento incerto, forçando-o a seguir adiante.
Lortel parou de prestar atenção no que ele dizia.
Para alguém como ela, que já havia coletado informações sobre os históricos pessoais do corpo docente, as palavras do Professor Glast tinham um significado diferente.
A única filha do Professor Glast, Myuri, havia sido aluna do departamento de magia de Silvenia, e morreu depois de participar de uma subjugação de monstros de forma precipitada.
Assim como uma mãe vê beleza em seu besouro, o Professor Glast tinha expectativas quanto a Myuri, acreditando que ela tinha talento para a magia.
E foi por causa desse excesso de confiança em um talento incerto que ela se jogou naquela missão… e o desfecho não precisava ser explicado.
Sua obsessão com talentos comprovados e o respeito pelo homem que deu início à era do progresso...
O motivo de sua paixão extrema por ver nascer alguém extraordinário, alguém que fizesse a maioria dos sem-talento seguirem atrás, provavelmente era... eliminar de vez esse tipo de sacrifício desnecessário.
Para alguns, aquilo podia parecer uma atitude nobre. Para outros, algo extremamente lamentável. Lortel, por sua parte, não queria sentir nenhuma simpatia por ele, pois, nesse sentido, tudo aquilo era apenas egoísmo disfarçado de idealismo.
— Entendido.
Ziggs abaixou os olhos silenciosamente e assentiu. Insistir mais do que isso seria pura intromissão.
— E Lortel Kehelland… Hmm… Há algo que preciso discutir com você que não está relacionado a esta aula. Chamarei você depois.
Deveria ser sobre a Transferência de Ressonância do Selo do Sábio.
Lortel era a pessoa que havia comprado o Selo do Sábio, e o Professor Glast era o responsável, designado pela escola, pela Transferência de Ressonância do Selo.
Era um assunto que transcendia a relação entre professor e aluna, por isso não era algo que ele pudesse discutir ali, em frente à classe.
[Habilidades Mágicas]
Grau: Mago Proficiente
Especialização: Elementos
Magia Comum:
- Lançamento Rápido Nível 8
- Percepção de Mana Nível 8
Magia de Fogo:
- Ignição Nível 14
Magia de Vento:
- Lâmina de Vento Nível 13
<Agora pode aprender magia intermediária!>
Magia Espiritual:
- Ressonância Espiritual Nível 12
- Compreensão Espiritual Nível 12
- Manifestação Espiritual: Nível 1
- Compartilhamento de Sentidos: Nível 1
〔 Espírito Contratado: Espírito de Fogo de Baixo Escalão - Mugg 〕
- Nível de Ressonância: 2
- Eficiência Espiritual: Boa
Habilidades Inatas:
- Bênção da Fortuna do Fogo (Imunidade temporária ao fogo)
- Explosão (Explosão de baixo nível)
- Aprimoramento da magia de fogo
〔 Espaço para Novo Espírito: Vazio 〕
Já estava na hora de começar a aprender Magia Intermediária.
Para os alunos do departamento de magia, a capacidade de dominar magias de nível médio era um marco extremamente importante.
O domínio da magia intermediária, também chamada de magia de nível médio, era a linha que separava um mago iniciante de um verdadeiramente experiente.
A menos que você tivesse nascido com um talento natural para magia, normalmente começaria a lidar com magias intermediárias no segundo ano do currículo, ou no início do terceiro ano. Mesmo sendo capaz de usar apenas dois ou três feitiços desse nível, já era o suficiente para ser tratado como um mago profissional.
Em outras palavras, a habilidade de um mago era julgada com base em quão diversificadas e poderosas eram suas magias intermediárias. Apenas cerca de 10% dos formandos de Silvenia conseguiam atingir esse nível ou mais.
Mesmo entre magias do mesmo grau, a potência podia variar bastante, dependendo do nível individual ou da proficiência de quem as utilizava. Por exemplo, embora a Lança de Gelo da Lortel fosse uma magia de nível médio, ela certamente superava em poder as outras magias do mesmo nível utilizadas pelos alunos do segundo ano.
Quanto à magia de nível avançado, a menos que você estivesse em um patamar superior ao do corpo docente, só conseguiria usá-la parcialmente. Mesmo entre os alunos do quarto ano prestes a se formar, apenas os que eram considerados elite tinham controle sobre esse tipo de feitiço.
E se estivéssemos falando da magia de nível supremo… Para começar, dentro de Silvenia, mesmo contando os professores, havia apenas uma ou duas pessoas capazes de controlá-la… Exceto por casos fora do comum, como Lucy.
De qualquer forma, meus atributos haviam evoluído a ponto de não haver mais nenhum problema para usar magias intermediárias. Considerando de onde eu parti, cresci tanto que já tinha até esquecido o quão fraco eu costumava ser.
Na próxima aula de estudos elementais, eu já conseguiria cumprir parcialmente meu papel como um verdadeiro mago.
Satisfeito com meu progresso, fechei o livro enquanto estava sentado num canto da sala. A aula de hoje tinha ido mais fundo nos conteúdos, e havia bastante coisa para aprender.
— Ed, você foi chamado. Após sua próxima aula, por favor, vá até o laboratório do Professor Glast, que fica sob as salas de conferência da escola, no distrito dos professores.
Foi quando eu estava recolhendo meus livros, prestes a sair da sala, que ouvi a voz.
Era a assistente da aula de estudos elementais, com quem eu já estava bastante familiarizado.
— Hm? Tá dizendo que fui convocado?
Pensando bem, eu não respondi à convocação do Professor Glast da última vez. Isso porque acabei desmaiando de tanto me forçar.
Eu já tinha esquecido disso, mas agora que ele voltou a me chamar, parecia ser algo realmente importante.
Pelo que eu sabia, o Professor Glast não devia estar podendo se encontrar com ninguém no momento. A Transferência de Ressonância do Selo aconteceria em poucos dias, então ele devia estar atolado de trabalho. Claro, eu também estava ocupado.
Ainda precisava terminar alguns afazeres no acampamento, me preparar para os exames finais, e havia certos pontos da história que eu precisava verificar… Ou seja, meu tempo era bem limitado.
Queria lidar com tudo isso com calma, sem forçar demais meu corpo. Mas estava começando a achar que logo eu voltaria a ficar atolado.
— Hm… Tudo bem. Diga a ele que recebi o recado.
Foi isso que disse à assistente enquanto terminava de recolher meus livros.
Apoie a Novel Mania
Chega de anúncios irritantes, agora a Novel Mania será mantida exclusivamente pelos leitores, ou seja, sem anúncios ou assinaturas pagas. Para continuarmos online e sem interrupções, precisamos do seu apoio! Sua contribuição nos ajuda a manter a qualidade e incentivar a equipe a continuar trazendos mais conteúdos.
Novas traduções
Novels originais
Experiência sem anúncios