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Capítulo 54: A Guerra de Subjugação de Glast (3)
Ayla, que havia ido se encontrar com o Professor Glast, ainda não havia retornado.
Sentado em um canto do campus, Taylee, com um sanduíche enfiado na boca, inclinou a cabeça de repente.
As aulas de Ecologia de Monstros eram bem fáceis, parecidas com disciplinas optativas. Sendo a Ayla, que já dominava esse tipo de matéria, não haveria problema mesmo que perdesse algumas aulas.
No entanto, era estranho que ela não tivesse sido vista o dia todo, considerando que também teria aulas de Estudos Elementares e Magia de Combate no distrito dos professores.
Era a Ayla, afinal, alguém com uma proficiência extremamente baixa em habilidades de combate. Não havia como alguém tão esforçada como ela faltar justamente em uma matéria na qual era fraca.
— … Será que voltou pro dormitório?
Sua longa espada de duas mãos, cravejada de joias, parecia ter o tamanho perfeito.
As joias estavam cheias de poder mágico, sustentando as várias magias imbuídas na lâmina.
Não só isso, todos os outros acessórios que Taylee usava também estavam encantados com diversos efeitos menores. Ele também havia se tornado bastante proficiente em outras habilidades secundárias de suporte. Já não podia mais ser chamado de um aluno fracassado em lugar nenhum.
Ainda faltava muito para ser considerado completo, mas ele já havia feito avanços significativos em seu treinamento ao longo do último ano.
Taylee pegou a espada que havia deixado ao lado enquanto comia, girando o corpo para observar os arredores. À medida que suas habilidades de Espadachim Mestre aumentavam, sua vitalidade também crescia. Mesmo que forçasse um pouco mais seu corpo após as aulas, não haveria problemas.
— Será que surgiu algum imprevisto importante?
Taylee continuou resmungando enquanto começava a caminhar.
Faltavam dois dias para a Transferência de Ressonância do Selo do Sábio.
Era apenas uma questão de tempo até que ele ouvisse os rumores de que o Professor Glast havia sequestrado dois alunos.
◇ ◇ ◇
Sem qualquer aviso, meus olhos se abriram repentinamente.
Acordei de repente, sem nem um traço daquela sensação de descanso após uma boa noite de sono.
Meio atordoado, não consegui focar de imediato. Logo em seguida, lembrei da situação em que estava antes de perder a consciência. Segurei firme minha lucidez.
— Eeeeeek!
Ao recuperar rapidamente minhas memórias e erguer o tronco, ouvi um som estranho.
A primeira coisa que vi foi um teto de pedra. Um pouco abaixo, havia uma parede lisa feita do mesmo material.
Havia uma grade de ferro montada em um dos lados. Observando ao redor, a imagem que veio imediatamente à mente foi a de uma cela. E dentro dela, uma garota estava presa junto comigo.
— N-Não chegue perto!
A garota, encolhida em um canto da parede da cela, gritou comigo com a voz trêmula. De um lado, ela assumia uma posição defensiva, protegendo o corpo. Mas vê-la tão tomada pelo medo só deixava claro que ela não tinha forças para resistir.
De fato… Se eu fosse um criminoso de coração negro, ela seria uma presa perfeita.
Bom, não era crime sentir medo, mas… Também não era nada inteligente da parte dela.
— Ayla Triss… Certo?
Tentei conter a dor de cabeça que aumentava enquanto passava as mãos pelo rosto. Me levantei do chão, observei melhor o ambiente e chequei o que havia do lado de fora das grades.
Acho que entendi o motivo de Ayla estar tão apavorada.
Do outro lado da sala, além das grades… havia um monstro mantido em cativeiro.
A parte inferior do monstro parecia a de um leão ou tigre, mas a parte superior era desproporcionalmente grande, mesmo comparado a outras criaturas. Seu corpo lembrava um ogro robusto, com penas saindo dos antebraços, meia asa demoníaca nas costas e um líquido azulado escorrendo de uma orelha decepada… Além dos dois braços principais, vários outros membros protuberavam da cintura e das costas.
Estava adormecido, então não demonstrava hostilidade. Mas sua aparência por si só já era o suficiente para tirar o fôlego de qualquer um de nervoso.
Era o ‘Demônio dos Esgotos Subterrâneos’, do Capítulo 7 do Ato 2. A equipe de pesquisa do Professor Glast o mantinha ali para estudo e experimentação sobre monstros.
Ayla havia sido convocada ao laboratório de um professor, atacada de surpresa e deixada inconsciente. Quando acordou, deu de cara com aquela monstruosidade adormecida.
E além disso, estava trancada na mesma cela que um nobre caído, alguém que ela considerava um inimigo. A reação dela, por mais dramática que fosse, era compreensível.
— Vejo que recobrou a consciência, Ed Rothstaylor.
Do outro lado das grades, surgiu um homem que parecia ser o responsável por cuidar daquele lugar.
— Peço desculpas pelo tratamento precário, mesmo sendo você um estudante tão valioso.
Seu rosto era coberto por rugas. Usava uma máscara que escondia as cicatrizes de queimaduras adquiridas durante experimentos com estudos elementais. Na borda da máscara, uma marca visível chamava atenção.
A coluna curvada, a estatura baixa, os cabelos ralos… Tudo em sua aparência mostrava o peso do tempo e do estresse , um velho alquebrado. Ainda assim, ele era o mais competente entre os seguidores de Glast.
Koom, pesquisador dos Estudos Celestiais.
No capítulo final do Ato 2, na fase do laboratório de Glast, ele assumia o papel de chefe final.
Era um inimigo com padrões de ataque bem complicados, mas bastava evitar seus golpes e ganhar tempo para que a própria Magia Celestial o corroesse até a autodestruição. Em seguida, o Demônio dos Esgotos escaparia novamente, dando a Glast a oportunidade de fugir.
— Não sei exatamente o que o Professor Glast está planejando, mas recebi instruções para cuidar bem de vocês dois. São talentos necessários.
— É mesmo?
— Você está mais calmo do que eu imaginava.
Abrir os olhos e me ver no laboratório secreto do Professor Glast… era algo que eu já tinha previsto muito antes de perder a consciência. Isso deveria acontecer, então não havia motivo para me surpreender.
— Achei que fosse reagir como a senhorita Ayla e começar a gritar. Mas parece que você entende rápido o que eu digo. Me surpreendeu.
Pelo jeito, Ayla tinha feito um escândalo assim que recobrou os sentidos.
Quando Koom a encarou, ela estremeceu e assumiu uma postura defensiva patética mais uma vez. Já eu, sinceramente, não tinha a menor intenção de agir dessa forma. Meu medo de me machucar seriamente era quase patológico.
— Bem, o Professor Glast deve ter seus motivos pra tudo isso.
Quando respondi de forma tão simples, tanto Ayla quanto Koom inclinaram a cabeça, confusos.
Por mais que eu respeitasse as conquistas acadêmicas do Professor Glast, não era exatamente normal reagir assim depois de ser sequestrado e imobilizado sem qualquer explicação.
Na verdade, não era como se eu confiasse nele. Ele era um personagem fadado a cair até o fim da história. Eu sabia disso.
— De qualquer forma, estarei no final do corredor analisando alguns dados enquanto monitoro tudo. Então, tentem não se preocupar demais.
Dizendo isso, Koom caminhou até o fim do corredor.
Estiquei a cabeça pelas grades para espiar e, como esperado… o layout era exatamente o mesmo do jogo.
Se você atravessasse o corredor, encontraria a sala de Pesquisa de Monstros, basicamente o centro do laboratório secreto do Professor Glast.
Ainda custava a acreditar que eu havia conseguido chegar tão fundo naquele lugar sem nenhum risco real. A rota até ali havia sido encurtada consideravelmente.
Não havia mais nada que eu precisasse fazer. Tudo o que me restava era esperar. E tudo daria certo.
Enquanto eu ficava ali sentado, sem fazer nada, Taylee eventualmente apareceria com sua equipe de subjugação para resgatar a Ayla sequestrada. Eles destruiriam completamente o laboratório. E, naquele momento, eu aproveitaria a oportunidade para fugir direto em direção à Biblioteca das Almas.
Para chegarem até a sala de pesquisa de monstros, eles teriam que passar primeiro pela Biblioteca das Almas e derrotar a bibliotecária. Isso significava que, quando Taylee chegasse, a biblioteca já estaria completamente limpa.
Não importava o que eu fizesse ali, os livros mágicos e as estantes animadas já teriam sido derrotados. Além disso, não haveria bibliotecária furiosa me impedindo de explorar.
Com a área livre de qualquer obstáculo, eu poderia correr livremente e completar meus objetivos, reunir todas as réplicas dos grimórios importantes e fórmulas de produção de engenharia mágica que eu quisesse.
E o que eu teria de fazer até lá? Do que eu teria que cuidar?
Absolutamente nada.
… A ideia de colher tantos benefícios sem fazer esforço algum já começava a incomodar um pouco minha consciência.
— Heeek… Eeek…
Bom, havia um desgaste mental envolvido em dividir o mesmo espaço com Ayla, que tremia de medo a poucos metros.
Professor Glast realmente fez uma escolha infeliz. Por que sequestrar logo a Ayla?
Essa garota era praticamente uma bomba-relógio, fortemente favorecida pelos personagens principais deste mundo. Já que escolheu a pessoa errada, que ao menos esteja preparado para ver seu laboratório virar poeira.
Ainda assim, confesso que senti um pouco de pena de Glast. Ele não tinha o privilégio de enxergar o quadro completo da situação.
— Se você der mais um passo, eu vou gritar! Eu… eu vou morder a língua, então não chegue mais perto! E-Eu tô falando sério! D-Dá pra ver que não tô mentindo, né?! Se eu reagir com tudo, nem você vai sair ileso! Então… não se mexa!
Eu não me mexi.
Não disse uma única palavra. E, pra ser sincero, não me importava nem um pouco se ela mordesse a própria língua.
Eu apenas encarava o vazio, organizando meus pensamentos, enquanto Ayla, com as pernas dormentes, continuava a despejar ameaças frágeis.
Quando a encarei, ela reuniu o pouco de poder mágico que tinha e ergueu uma defesa fraca.
Sua proficiência em Magia Elemental de nível básico havia melhorado um pouco, mas ainda estava longe do ideal para alguém do seu ano. Com uma defesa como aquela, eu poderia quebrá-la com um ‘Lâmina de Vento’ lançado de qualquer jeito, sem nem me esforçar. Ainda assim, considerando que ela estava tremendo de medo, aquela era a melhor barreira que conseguia produzir.
Dado tudo o que havia acontecido, não valia a pena tentar explicar que eu não tinha qualquer intenção hostil.
Se eu tivesse que descrever como me sentia em relação à Ayla… seria algo próximo de simpatia, ou mesmo carinho.
Já joguei O Espadachim Fracassado de Silvenia várias vezes. Em cada rota, em todos os momentos e circunstâncias, eu testemunhei sua honestidade e sinceridade enquanto ela permanecia ao lado do protagonista, sempre firme.
Era algo realmente admirável. Por isso, eu a tinha em alta conta.
Por que motivo eu sentiria qualquer tipo de ódio ou hostilidade por alguém assim?
Dadas as circunstâncias e o que Ayla pensava de mim, era natural que ela continuasse a manter distância… Mas ainda assim, não seria ruim dizer logo tudo o que eu tinha a dizer.
— Não vou te atacar, então não precisa reagir assim.
Decidi me ater apenas aos fatos.
— Não tenho nenhum sentimento ruim em relação a você.
— O… O que você disse…?
Sentado num canto da cela, soltei um suspiro fundo enquanto encarava o teto.
Apesar do meu comportamento completamente desinteressado, Ayla ainda não relaxava. Ela continuou me observando por um bom tempo, ofegante, até que lentamente abaixou os braços, embora seu rosto ainda carregasse uma expressão tensa.
Com o enfraquecimento do fluxo de poder mágico ao longo de seus braços, a barreira que havia erguido também começou a se desfazer. De qualquer forma, Ayla não tinha mana suficiente para manter aquela defesa fraca por muito tempo.
— … Você está mentindo.
— Se eu realmente quisesse te incomodar por algum motivo, faria sentido desperdiçar uma oportunidade de ouro como essa? Concorda comigo?
Estávamos num lugar de onde não dava pra fugir, e a diferença de poder entre nós era tão grande que ela não teria como resistir.
Ayla devia estar completamente apavorada, tremendo de medo porque tinha plena consciência disso.
— Para de gastar sua força com bobagens e fica quieta, Ayla.
Falei com firmeza.
— É só esperar. Taylee vai acabar vindo te resgatar.
— Taylee…? Você… Você tem o direito de dizer o nome dele…?
— E se eu não tiver? Olha, eu sei que o que fiz na prova de admissão foi errado, e me desculpo por aquilo. Mas eu tinha meus motivos. Sem contar que ele foi de grande ajuda durante o Incidente de Glasskan.
— Você… está pedindo desculpas…?
Ayla voltou a me encarar, confusa, com os olhos arregalados.
— Você… se desculpando? Agora mesmo? Você… é mesmo o Ed Rothstaylor?
— Só porque me desculpei, você já acha estranho? Sério, por que não consegue simplesmente confiar em mim?
Essa reação faria sentido se eu fosse o mesmo Ed de antes, antes de entrar no corpo dele. Mas já havia se passado um ano desde então.
Era hora de aceitar. Se acreditasse que Ed havia mudado, enlouquecido após ser excomungado, ou sempre tivera esse lado… pouco importava. O que interessava era entender que eu não estava mais interessado em implicar com ela como fazia antes.
Contanto que a linha principal da história não fosse afetada, não fazia diferença o que ela pensava ou fazia. Não era do meu interesse.
— Mesmo que não confie em mim, você confia no Taylee, não é?
— Uhm… Isso…
— Tenho certeza que ele virá te salvar. Ele vai descobrir que você foi sequestrada e vai dar um jeito de invadir esse laboratório secreto, destruindo tudo pelo caminho. Então não precisa ficar com tanto medo. Apenas confie nele enquanto espera.
Mudando de abordagem, comecei a mencionar mais o nome de Taylee, e aos poucos vi a expressão dela se suavizar. Ainda assim, sua postura defensiva permanecia intacta. Encolhida no canto, tremendo como um filhote diante de uma fera selvagem… Ao ver aquilo, senti pena dela, não raiva.
— Eu confio no Taylee.
— Ótimo. Isso é bom.
— Mas… eu não quero que o Taylee venha me resgatar.
… Que besteira ela estava dizendo agora?
Ayla continuou, com o rosto enterrado entre os joelhos.
— Eu não passo de um peso morto pra ele. Taylee já sofreu demais. Se ele tiver que arriscar a vida pra invadir esse lugar cheio de monstros só porque eu fui sequestrada… então eu preferia…
— Ayla Triss.
Interrompi com um tom direto.
— Você tem observado Taylee todo esse tempo. Então sabe melhor do que ninguém que ele é o tipo de pessoa que só fica mais forte a cada dificuldade.
O protagonista de Silvenia’s Failed Swordmaster, Taylee McLaure.
Um garoto que enfrentou incontáveis dificuldades na vida, mas que ficou mais forte por causa delas.
Se fosse comigo, eu nunca gostaria de viver uma vida assim. Mas… não se tratava de mim. Era sobre ele.
— Encare isso como mais uma dificuldade que vai torná-lo mais forte conforme ele avança. Tudo que você precisa fazer é deixar isso nas mãos dele, certo?
— Isso… Isso não é algo que você pode dizer quando só está recebendo a ajuda dele…
— É claro. Também devemos agradecer a ele. De qualquer forma, o importante é que você pare de tirar conclusões precipitadas, pare de fazer escândalo e pare de ficar tão nervosa. Você só precisa ser honesta como sempre e confiar nele. Ele com certeza virá te resgatar. Entendeu?
Depois de dizer tudo isso, Ayla pareceu relaxar um pouco mais a postura defensiva. Seria ótimo se ela parasse de resmungar também. Pelo menos, eu tinha certeza de que ela estava se sentindo um pouco melhor.
— Ed Rothstaylor… Eu nunca imaginei que você diria algo assim…
— Eu?
— Você… Eu vi você insultando e menosprezando o Taylee.
— Hm… Bem, isso é verdade…
Pelo que eu sabia, o Ed original era exatamente esse tipo de pessoa.
— Bem, eu tinha meus motivos. Não tente entender tudo.
Se explicar fosse incômodo ou se fosse algo que eu simplesmente não podia dizer, o melhor era apenas contornar a situação rapidamente. Não queria contar mais do que o necessário nem me envolver com ela além do indispensável.
‘Por favor, apenas fique quieta e sente-se enquanto esperamos pelo Taylee. Não desperdice sua energia à toa.’
Como não queria dizer nada além do essencial, continuei sentado em silêncio.
Já tinha checado tudo o que podia antes de ser sequestrado. Até o momento, parecia que não havia nenhuma ruptura ou desvio relevante na linha da história. Se eu permanecesse imóvel como estava, isso já deveria ser suficiente.
Depois de ficar um tempo sentado na cela, ouvi um som familiar.
[Jovem mestre Ed! Está tudo bem com você?! Está ferido em algum lugar?! Isso no seu antebraço é um ferimento grave? Sente algum cansaço por causa do uso de magia?! Está enxergando bem?! E o olfato ou audição, tudo certo?! Sente os dedos das mãos e dos pés?! Está cansado?! Sua cor está pálida ou sua frequência cardíaca subiu muito? E os batimentos?!]
Mugg surgiu entre as grades, disparando uma enxurrada de perguntas absurdamente detalhadas sobre meu estado físico.
[Como eu estava apenas acompanhando sua ressonância espiritual, acabei demorando um pouco! O nível de ressonância espiritual do jovem mestre Ed estava normal, então com algum tempo eu consegui detectar! Mesmo que eu não sirva para nada, por favor, aceite minhas desculpas! Me desculpe por não ter estado com você nesse curto período!]
Estendi a mão para Mugg com um sorriso. Onde ele tinha se metido esse tempo todo?
Conversar com a Ayla e suas respostas cortantes era cansativo. Eu estava realmente aliviado por ter alguém mais para conversar antes da chegada da equipe de resgate.
— Mugg, então você conseguiu me encontrar.
[Sim, fiquei bastante surpreso também! Eu não fazia ideia de que havia um laboratório tão profundo nos canais subterrâneos! Nem imaginava que seria tão grande! Aquele professor… eu me perguntava onde ele iria gastar todo o dinheiro, e então ele fez isso!]
Será que ele conseguiu entrar tão fundo no laboratório voando com aquele corpinho? Posso dizer com certeza… A avaliação da Yennekar de que ele era um espírito competente não era exagero.
[Fiquei muito assustado quando você foi subjugado lá no Trix Hall! Estou tão aliviado em ver que você não está machucado em lugar nenhum!]
— É. Valeu por se preocupar comigo, Mugg.
— I-I-Isso é… um espírito…? Isso é mesmo um espírito?
Ayla também era versada em Estudos Espirituais. Com certo nível de ressonância, parecia que ela reagia à presença de Mugg.
Mas parecia que sua ressonância ainda não era suficiente para que pudesse se comunicar com ele. Também parecia não ser capaz de ouvi-lo.
— Ed Rothstaylor, você consegue lidar com espíritos? Mas no semestre passado, você mal conseguia lançar magia elemental básica…
— Isso… Bem, não é da sua conta, né?
— Uhm… É…
Dessa vez, respondi com algo inesperado, e ela ficou meio acuada, reconhecendo que eu estava certo.
No entanto, quando Ayla ficava tímida, ela realmente se encolhia. Isso tornava impossível saber como lidar com ela.
— B-Bem… Se há um espírito… E você consegue usá-lo… então isso significa que você pode pedir ajuda…! Você pode informar os professores da escola ou outros professores que saibam lidar com espíritos sobre o que está acontecendo!
Não havia necessidade de repetir o óbvio: eu jamais faria algo que pudesse aumentar as chances de criar variáveis na história.
Enquanto eu pensava em como responder, Mugg de repente se manifestou.
[Não há motivo para se preocupar, jovem mestre Ed! Já informei toda a situação para a pessoa mais confiável, a senhorita Yennekar! Sou inútil e indigno, então não consegui proteger o jovem mestre Ed sozinho. No entanto... fui mais treinado do que qualquer outro no sistema de relatórios de emergência!]
— O que você disse?
[Haha! Pode ser um pouco vergonhoso dizer isso eu mesmo, mas fico muito calmo em situações como esta. Sei o que fazer e como agir, já decorei as regras para momentos assim, a ponto de se tornar instintivo! Em breve, a senhorita Yennekar virá resgatar você! Seja sozinha ou liderando um grupo, de um jeito ou de outro ela virá até aqui e dará um jeito de salvá-lo... Então não se preocupe tanto! Vamos manter a calma enquanto esperamos aqui!]
‘O que ele está dizendo?’
‘Aquele desgraçado!’
— Você contou pra Yennekar? Quando?
[Levei meio dia para chegar aqui, desviando dos olhos de incontáveis monstros, golems e pesquisadores... Já deve ter feito uns dois dias agora!]
Pensando bem, a história era assim mesmo.
Originalmente, Ayla tinha sido sequestrada e levada ao laboratório, o que significava que a Transferência de Ressonância do Selo do Sábio havia ocorrido conforme o planejado e que a primeira fase da narrativa já havia começado.
Ou seja, de acordo com o enredo, o plano de resgate do Taylee já deveria estar em andamento.
[O rosto da senhorita Yennekar quando ficou brava era tão lindo... até fofo... Embora a frieza da sua raiva fosse real. Por isso... ela com certeza virá até aqui para resgatar você em breve!]
— Ed Rothstaylor... Por que essa expressão no seu rosto...?
[E não só ela! Aquela comerciante-raposa e a pequena maga que usa aquele chapéu enorme e vive visitando o acampamento também pareciam que iriam se juntar... Com aquelas três, é praticamente como ter um exército de um milhão! Então não se preocupe nem um pouco, jovem mestre Ed! Mesmo que eu seja fraco, sou rápido para agir! Hahaha! HAHAHAHA!]
Respirei fundo antes de dar alguns tapas no próprio rosto.
Ahh...
— Mudei de ideia! Eu não posso ficar preso aqui! Preciso sair daqui agora!
[J-Jovem mestre Ed?]
Por que ele foi fazer algo que eu não pedi?!
Como a situação era urgente, deixaria a bronca e as reclamações para depois.
De qualquer forma, eu conhecia bem a estrutura do laboratório e onde estavam todos os itens centrais. Era óbvio onde estavam.
— Preste atenção, Mugg...
Pensei em acertá-lo com um belo peteleco na testa ali mesmo, mas decidi me acalmar primeiro. Não podia me deixar levar pelas emoções.
Sussurrei diversos tipos de instruções para Mugg.
[Ahh, entendi!]
— Ei! Ei, você! O pesquisador no fim do corredor! Koom!
Clang! Clang! Clang!
Depois de recuperar o fôlego por um momento, me levantei e comecei a bater nas grades.
Ao ver minha expressão mudar de repente e me jogar contra as barras, Ayla ficou completamente perplexa.
Não havia tempo para me preocupar com isso. Segurei Mugg com firmeza enquanto continuava a fazer barulho.
— Isso tá errado! Me tira daqui! Eu realmente não posso ficar aqui! Eu não tô brincando!
— Ed Rothstaylor! Você está fazendo barulho demais. Se continuar desse jeito, aquele demônio do outro lado vai acordar.
O demônio que dormia do outro lado foi colocado naquele estado por meio de magia do sono. Mas não era um tipo de magia totalmente confiável, então Koom se aproximou por precaução.
— Você estava tão quieto e centrado antes, e agora de repente está fazendo esse escândalo sobre como está sendo tratado... É porque percebeu agora o quão assustadora é a situação?
— Não é isso! Eu disse que preciso sair daqui!
— Ahhh, sinceramente... No fim das contas, você é só mais um aluno da sua idade mesmo. Não tem o que fazer... Tente não se preocupar demais. Desde que continue fazendo o que é mandado, não vamos machucar você...
— Eu estou falando sério agora. Quem vai estar em apuros se não me soltarem logo são vocês. Não sou eu quem está em perigo, são vocês.
— Acreditar em você agora... Isso não está certo. Haah... Tudo bem. Seria estranho tentar me agarrar apenas à lógica numa situação dessas mesmo.
Ele não sabia o quanto daquilo era mentira e o quanto era verdade.
O significado simbólico de ser o melhor aluno do ano era considerável.
Aqueles que mantinham uma rotina acadêmica árdua, com os resultados adequados para comprovar isso. Aqueles que poderiam se tornar o maior orgulho da Academia Silvenia eram tratados com o mais absoluto cuidado dentro de um ambiente escolar.
Além disso, eles tinham o direito de viver na instalação acadêmica mais luxuosa, o Ophelis Hall. Recebiam prioridade no uso de todas as instalações acadêmicas e, desde que não sofressem nenhuma punição disciplinar grave, todas as suas mensalidades e despesas de vida seriam cobertas.
Eles também possuíam uma influência prática maior do que apenas uma vida confortável. Eram reconhecidos por representantes nas eleições estudantis, e sua única voz contava como dezenas. Podiam até fazer propostas oficiais ao conselho da escola.
Normalmente, eles não exerciam essa autoridade porque estavam ocupados com os estudos. Além disso, havia o fato de que era meio embaraçoso fazer esse tipo de coisa enquanto ainda eram apenas estudantes... De qualquer forma, os melhores alunos de cada ano eram indivíduos talentosos que não podiam ser ignorados facilmente.
Eram pessoas que tinham autoridade, reconhecimento social e poder para ir e fazer o que quisessem em qualquer lugar, sem se sentirem inferiores de forma alguma...
Primeiro ano Lucy Mayreel, segundo ano Yennekar Palerover, terceiro ano Duke Aldogar e quarto ano Amy...
Todos eles eram indivíduos que ultrapassavam o nível médio dos alunos, fiéis ao nome de Silvenia.
Entre eles, os melhores alunos do primeiro e segundo ano tinham um poder de combate muito mais esmagador.
Comigo preso, a força de subjugação ficaria forte demais para o nível da história que deveria estar acontecendo agora.
Bem, independentemente de mim, todos acabariam sendo completamente destruídos de qualquer forma... Então, havia realmente algum sentido em gritar com eles desde o início? Eles seriam destruídos pelo Taylee de qualquer maneira.
— Se continuar fazendo barulho assim, vou ser forçado a usar a força. Fique quieto.
Clang!
Depois de nos ameaçar batendo nas grades, Koom voltou para o seu lugar e se sentou.
— M-Mas o que deu em você de repente?! Ed Rothstaylor! Você disse antes que se eu apenas esperasse em silêncio o Taylee viria nos resgatar com certeza!
— Shhh.
Enquanto eu acenava com os braços e sinalizava para que ela ficasse em silêncio, Ayla se encolheu gritando, com aquele exagero habitual de sempre.
Aos olhos dela, até onde a imagem que ela tinha de mim havia caído...?
Eu não tinha tempo para pensar nisso enquanto voltava para o fundo da cela, com os braços estendidos.
[E-Eu encontrei mesmo! O chaveiro! Eu trouxe ele!]
Como eu já estava familiarizado com os principais objetos e elementos centrais do laboratório secreto do Glast, pude dar instruções precisas ao Mugg. Afinal, eu já havia invadido essa mesma prisão várias vezes.
De qualquer forma, eu podia usar meu conhecimento prévio de Silvenia's Failed Swordmaster de forma eficaz ali.
Peguei o molho de chaves enquanto as inseria com cuidado, uma por uma, para que Koom não ouvisse.
Não demorou muito até que uma das chaves encaixasse e a porta fizesse um rangido ao se abrir.
Inclinei a cabeça para fora e olhei para Koom no fim do corredor. Ele parecia não ter ouvido a porta abrir, já que estava concentrado em revisar todos os dados da pesquisa.
— Certo, vamos escapar, Mugg. Enquanto ele estiver focado na pesquisa, ele não vai se mexer, a menos que aconteça um escândalo como aquele de antes.
[De fato! Como esperado do jovem mestre Ed! Que análise rápida da situação! Eu não sei como você sabia a localização exata da chave, mas aos meus olhos suas instruções foram tão detalhadas e apropriadas...]
Como era óbvio que o Mugg continuaria me enchendo de elogios, o chamei de volta rapidamente. De qualquer forma, ele continuaria me seguindo. Da próxima vez, eu teria que conversar com ele sobre sair fazendo as coisas sem que eu peça.
Depois de sair sorrateiramente pela porta entreaberta, Ayla começou a tremer de novo e a fazer escândalo. Em questão de minutos, eu já estava com a chave e havia escapado.
A porta da prisão estava aberta. A pessoa que a abriu era ninguém menos que Ed Rothstaylor, alguém que ela considerava um inimigo. Deve ter sido confuso.
Squeak.
Fechei a porta da prisão como estava antes.
— V-Você...
— Escute bem, Ayla Triss.
Falei enquanto olhava diretamente para Ayla, que ainda estava dentro da cela.
— Você vai esperar aqui.
Não havia motivo para tirar a Ayla também. Para que a linha principal da história seguisse normalmente, Ayla precisava continuar presa para que Taylee viesse resgatá-la.
Se a narrativa fosse seguir normalmente até o ponto em que estariam no topo da torre de poder mágico, então Ayla precisava permanecer como refém.
Mesmo assim… Me sinto um verdadeiro lixo por ter que deixá-la trancada assim... Não sei que tipo de atitude extrema ela poderia tomar depois que eu a deixasse sozinha. Pelo menos por ora, eu precisava fazer com que ela se sentisse minimamente segura.
— Fora deste laboratório existem todo tipo de monstros experimentais, pesquisadores de magia celestial, livros mágicos com alma, além de golems e guardas andando por aí. É perigoso andar sozinha, e se acabarmos sendo pegos juntos, até você estará em sérios apuros. Entendeu?
— I-Isto...
— Quando você está sendo mantida como refém, a melhor coisa que pode fazer é obedecer. Não fique se machucando tentando se rebelar de forma estúpida. Se o Koom descobrir que eu desapareci enquanto ele está de guarda... apenas me entregue e diga que eu escapei. Ele vai acreditar que você estava só sentada aqui na cela. Ele não vai desconfiar de você... Assim, nada vai te acontecer.
Tranquei a porta e guardei a chave.
— E de qualquer forma, você nem conseguiria correr. Suas pernas não têm forças, certo?
Ayla se encolheu, surpresa, talvez por eu ter percebido que suas pernas estavam tremendo.
— Eu vou assumir a responsabilidade e trazer o grupo de resgate. Só fique aqui respirando, tudo bem? Eu não preciso te explicar o óbvio, mas essa cela é o lugar mais seguro de todo o laboratório secreto. Tentar fugir sem motivo é como andar na corda bamba com a própria vida em risco. Entendido?
— Mas... Ed, você...
Só responda com um sim ou um não, sem enrolação. Entendido? Foi tudo o que pedi.
Como a pressionei um pouco, Ayla continuou tremendo, mas assentiu com a cabeça. Tudo bem, ao menos estava sendo mais obediente.
— Certo. Apenas segure o fôlego e fique em silêncio. Vou fazer o meu melhor.
Saí discretamente, baixando o corpo e me escondendo atrás dos armários no corredor.
No final do corredor, Koom continuava revisando os dados da pesquisa. Decidi que não havia outra opção senão acertar o momento. Eu teria que sair perto da mesa dele na próxima patrulha.
Pode até parecer que eu estava literalmente colocando minha vida em risco, mas havia uma razão para agir.
Sim, para ser franco, eu meio que já esperava alguma mudança no fluxo da história.
Olhando para todos os episódios anteriores em que me envolvi, não havia como honestamente achar que tudo iria correr bem e sem incidentes.
Estava aliviado que a situação estivesse progredindo de forma relativamente tranquila. Mas sem dúvidas, algo havia se desviado.
Se fosse só uma leve mudança, de alguma forma eu conseguiria lidar com isso.
Minhas especificações haviam aumentado bastante, então, contanto que eu usasse bem o conhecimento do futuro, deveria conseguir lidar com a maioria dos problemas que surgissem.
Quanto ao envolvimento da Yennekar e da Lortel... Eu deveria conseguir resolver, desde que conseguisse encontrá-las e explicar a situação corretamente.
No entanto, sempre haveria variáveis que eu não conseguiria lidar com as próprias mãos.
Respirei fundo.
Silvenia's Failed Swordmaster, capítulo final do Ato 2. A Subjugação de Glast.
Dentro daquela história, se você caísse por determinada rota, não haveria como escapar de um final ruim.
‘Aquela pequena maga que usa um chapéu enorme e sempre visita o acampamento parecia estar se juntando...’
A melhor aluna do primeiro ano, e chefe final do Ato 3. A extraordinária genial, Lucy Mayreel.
A participação dela na batalha não era, de forma alguma, uma boa notícia.
O problema não estava nos chefes que ela varreria casualmente com seu poder absurdo.
Se surgisse uma mudança repentina ou algum tipo de variável que não existia na história principal, talvez até pudesse ser resolvida de algum jeito.
Afinal, a maioria dos "finais ruins" que já existiam eram coisas que eu conseguia contornar, de uma forma ou de outra.
No entanto, definitivamente havia algumas rotas de final ruim que eram difíceis de resolver com a minha posição, não importava o que eu fizesse.
Final Ruim número 27, “Lazy Lucy.”
As condições para ele eram que o Professor Glast e Lucy Mayreel se encontrassem de alguma forma após o incidente.
Uma rota em que o Professor Glast, já encurralado, acabava convencendo Lucy a ficar do seu lado, fazendo com que ela se tornasse uma inimiga... Uma vez que isso acontecesse, um final ruim ocorreria após a batalha contra Lucy.
Você não devia vencer em um confronto contra Lucy Mayreel no Ato 2.
Quanto a uma maneira de derrotá-la durante o Ato 2... Mesmo após incontáveis jogadores experientes e dedicados quebrarem a cabeça por centenas de horas tentando encontrar um meio, ninguém teve sucesso.
De qualquer forma... Eu preciso impedir o Professor Glast de encontrar Lucy Mayreel.
—
— Usando o Mugg, consegui senti-los lá nas passagens subterrâneas. A reação que recebi do corpo docente e dos outros professores foi meio indiferente... Acho que vou ter que ir verificar com meus próprios olhos. Você vai me ajudar também, né, Lucy? Eu ficaria muito mais aliviada se soubesse que você está vindo.
Lucy começou a se perguntar se sua ajuda era realmente necessária. Yennekar Palerover já era forte o bastante, e Lucy era uma pessoa extremamente preguiçosa.
Mas havia algo estranhamente poderoso nas palavras que Yennekar Palerover havia dito.
Ao ouvir aquele tom de voz animado e exagerado dela, com aquela expressão estranhamente séria, até mesmo Lucy, que não tinha interesse nenhum no mundo, sentiu-se tocada.
Ela já vinha sentindo um vazio dentro de si há algum tempo.
— Eughaham.
Deitada no telhado da cabana, mal construída e de estrutura frágil, ela se espreguiçou e soltou um som parecido com o de uma galinha.
Segurando seu chapéu de bruxa nos braços, balançou a cabeça com os olhos ainda sonolentos. Lucy virou de cabeça para baixo enquanto encarava, sem pensar em nada, a fogueira do acampamento.
A fogueira que não era acesa fazia alguns dias.
Ela não sabia se era algo importante ou não, mas gostava de ouvir o estalo da lenha enquanto tirava suas sonecas.
Também gostava do cheiro forte e gosto amargo do beef jerky, e da forma como ele a pegava e carregava quando ela estava dormindo jogada em algum lugar, mesmo que depois a jogasse na cama... Bem, era um pouco irritante, mas no geral era bem confortável.
Lucy, que olhou para o céu estrelado por um tempo antes de rolar seu pequeno corpo, de repente se lembrou dos velhos tempos. As costas de um velho com os dedos enrugados.
Uma lua cheia, grande e brilhante, pairava no alto do céu. A garota, que balançava os pés no ar enquanto encarava a lua, já havia se tornado parte da paisagem.
Logo, uma voz suave se infiltrou na noite como tinta se espalhando no ar.
— Estou com saudade dele.
O que foi perdido é perdido.
Mesmo sabendo que a solidão, algo que apareceria de tempos em tempos, era algo que não podia ser apagado do coração, não importava o quão forte alguém fosse...
Ele já havia partido.
O tempo de ficar de coração partido por essa realidade já havia passado.
No entanto, a solidão que aquela pessoa deixou para trás deixou uma marca em seu pequeno coração.
Mesmo que ela soubesse que nunca mais poderia vê-lo... era algo completamente diferente.
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