Guerreiro das Almas Brasileira

Autor(a): Lucas Henrique


Volume 1

Capítulo 22: Recupere-se e surpreenda

Oliver permanecia de joelhos para conseguir se recuperar do forte ataque que saiu por impulso.

Nenhum dos três guerreiros tirava os olhos do necromante, que parecia mais curioso em esperar um novo movimento do garoto do que atacar imediatamente para aproveitar a brecha.

Marc girava despretensiosamente o cajado em sua mão esquerda, como um graveto iluminado.

— Ele está querendo antecipar seus golpes? — sussurrou Lucien.

— Talvez — respondeu Oliver, levantando-se. — O que precisamos fazer é manter os ataques constantes.

Ao tentar andar para frente, um formigamento começou a envolver os pés do jovem mago. Seu círculo de magia estava sendo tomado pelo necromante e toda a equipe estava travada no lugar.

— Oliver, faz alguma coisa! — gritou Leanor vendo Marc correr para frente para atingi-los com a parte pontiaguda do cajado.

A velocidade do círculo do necromante era maior e mais poderosa, conseguindo travar o corpo dos companheiros de Oliver quase por inteiro, enquanto o jovem mago ainda conseguia se mover do tronco para cima.

Marc se aproximava segurando o cajado com as duas mãos como uma lança, preparando para dar uma estocada no peito de Leanor, assim como tinha feito no ataque contra Placide.

Oliver juntou as palmas das mãos, depois abriu um pequeno círculo enquanto as afastava. Girando seu corpo, colocou a proteção na frente de Leanor, impedindo o ataque.

Em seguida, Marc girou o cajado na direção do rosto dele para uma pancada na cabeça e foi impedido por uma rápida proteção criada direto na superfície da pele do garoto, que ficou atordoado com o golpe.

Antes que o necromante fosse para o terceiro golpe, recuou com um salto diante de uma luz alaranjada que começou a emanar próxima dos guerreiros.

A luz vinha de Lucien, quase queimando o próprio corpo para fazer afastar o adversário.

O movimento ousado deu tempo para Oliver concentrar-se e destruir o círculo de magia que os segurava.

— O que foi isso?

— Consigo expelir fogo por toda superfície do meu corpo, mesmo parado. É parte do aprendizado de cura para eu sarar todas as minhas feridas.

— Você quase matou a gente junto, mas foi genial. — O jovem mago sorriu.

Oliver tentava pensar em uma estratégia para poder parar Marc, mas era difícil imaginar como seria uma luta física contra um usuário de magia. Os espíritos controlando o corpo de seu avô não tinham tamanha liberdade.

Havia receio em mandar o grupo se separar, ainda mais depois de saber do nível de força que o necromante tinha para prender a alma deles no círculo.

No entanto, a vantagem de terem três contra um precisava ser usada e ele sabia que não haveria perigo caso Marc ficasse impedido de evocar a magia.

— Leanor, para trás! Espere o meu sinal.

— Tá bem! — A garota correu para cima de uma das carroças para ter maior visão.

O jovem mago avançou, novamente concentrando a energia espiritual em seus braços.

Suas sequência de golpes era constantemente repelida pelo cajado de Marc. A cada encontro, as energias opostas criavam um clarão esmeralda que chegava a fazer um som parecido com pequenos espelhos quebrando.

Era difícil competir com a velocidade e astúcia que o necromante tinha para repelir os ataques.

Um soco no alto e a parte de cima bloqueava. Em seguida, Oliver trocava para um ataque com os pés, mas a base da arma de Marc já estava em posição para travá-lo novamente.

— Agora!

Após o sinal, Leanor atirou uma flecha na direção da cabeça do necromante. Ele virou-se para apanhar a flecha ainda no ar com sua mão, deixando a guarda aberta.

O jovem mago abaixou-se para aplicar uma rasteira, mas foi surpreendido quando Marc firmou o cajado no chão para pular, em seguida girando sua arma no ar para acertar um golpe em cheio em Oliver com a lateral dela, abrindo seu supercílio.

Antes que ele pudesse avançar para um golpe fatal no garoto, foi impedido por Lucien, que lançou suas chamas. Foi como um sopro descontrolado de um fole de forja, quase acertando o próprio companheiro.

Oliver apoiou os braços no chão e levantou num pulo. Tendo parte do rosto banhado de sangue pela pancada, ele encarava o necromante por entre as labaredas com um olho só.

— Só sabe distribuir socos e depois usar a magia para se proteger? — Balançando sua arma, Marc facilmente dissipou o fogo. — Seu primeiro ataque foi um alarme falso. Achei que isso seria mais difícil.

— Ainda estamos vivos, babaca! — Oliver cerrou os dentes e limpou o sangue tapando seu olho direito.

— Vamos ver por quanto tempo você ainda vai poder dizer isso.

Marc avançou com ataques mais pesados na direção de Oliver. Toda a energia armazenada no cajado deixava-o mais pesado, como se o garoto estivesse segurando pancadas de um tubo de aço.

Lucien juntou-se a Leanor e passou a incendiar as flechas que a garota atirava para uma combinação mais mortal. Porém, já sem paciência, o necromante apenas criou um círculo de magia nas costas para evitar ataques da dupla.

— Eu imaginaria que um mago teria mais para apresentar do que dois idiotas como esses em uma equipe — riu. — Ou no mínimo lutaria sozinho de forma mais ameaçadora.

— E eu imaginaria que um necromante com tantos anos de prática teria vencido a gente a essa altura.

— Não vai valer a pena só vencer você.

O chão perto de Oliver começou a vibrar e a areia aos poucos se afastava, quase abrindo um buraco. Foi quando um braço surgiu, agarrando a perna do garoto e o desequilibrando.

Após cair no chão, viu mais dois braços surgirem da areia e agarrá-lo pelo pescoço. Enquanto o primeiro não era nada além de um corpo sem cabeça com um único braço, o segundo tinha um semblante de um homem de meia idade com alguns fios de cabelo sobrando e uma barba rala e falha que estendia-se até as costeletas.

Sua pele estava toda apodrecida e com algumas partes sendo puro osso, mas seu rosto era nítido para Oliver, que observava a alma presa naquele corpo. Pele clara e olhos azuis cobertos de desespero.

"Por favor, não quero mais fazer isso", gritava a alma enquanto os braços apertavam com mais força o pescoço do garoto.

— Eu ia só terminar o que comecei na muralha. — Marc avançou com a ponta afiada do cajado na direção de Oliver. — Mas acho que posso fazer pior.

O garoto não conseguia sair do lugar e sentia que a sua energia espiritual machucava o homem que o segurava. Isso deixava o jovem desconsertado e sem reação.

— Oliver, vire o rosto! — gritou Leanor.

Obedecendo à orientação da garota vermelha, o jovem mago sentiu três flechas passarem ao lado dele e acertarem os braços e cabeça do homem.

Após se libertar, Oliver usou sua perna livre para pisar no cajado de Marc e abrir uma oportunidade ideal de contra ataque.

Levando toda a sua energia espiritual para o punho direito, ele preparou-se para desferir um soco de cima para baixo, afundando a cabeça do necromante na areia.

Porém, ao tentar acertá-lo, o garoto foi impedido.

Marc segurou seu punho com a palma da mão, criando uma onda choque que se alastrou pelo ambiente levantando uma cortina de areia e derrubando Leanor e Lucien do alto da carroça.

Quando a areia baixou, Oliver viu um círculo de magia perfeitamente formado na mão de Marc. Ainda tinha uma grande quantidade de energia concentrada após o golpe, chegando a criar pequenas faíscas contra o punho do garoto.

— Pela sua cara dá para ver que nem alguém como você esperaria isso. — Marc começou a rir. — Sua falta de capacidade é vergonhosa.

Absorvendo o círculo, ele devolveu o soco no jovem mago, que conseguiu se proteger, mas foi arremessado para cima e quase não conseguiu cair de pé.

— Sua dupla vista é tão fraca assim? Você consegue enxergar as almas presas nos corpos, não é, moleque? E mesmo assim não conseguiu enxergar meu fluxo de magia?

— Do que você está falando? — Oliver olhava para todos os lados, tentando entender o que era o tal fluxo.

— Esquece. Se você é tão cego a ponto de não perceber, não sou eu que vou te explicar. Em vez disso, quero te contar uma curiosidade.

Marc caminhava devagar na direção dele.

— O babaca em chamas que vocês acertaram ali já está comigo há um tempo. Era para ser mais útil do que isso, porque eu achei ele durante a Noite dos Demônios com uma espada na mão, mas tinha sobrado pouco do corpo.

O necromante olhava para a alma do homem com indiferença e seu punho fortemente fechado mostrava a sua capacidade de torturar as almas de longe.

— Pobre desgraçado. Dezessete anos nesse estado de merda. No começo só falava sobre achar uma mulher que tinha sumido e uma outra que tinha ficado louca por causa do ataque. Um idiota querendo ser herói naquela noite para ganhar um harém. Que ridículo.

— Se não existe mais função para ele, para quê manter a necromancia? — Os machucados de Oliver pulsavam ainda mais com a raiva do garoto.

— Ele tem braços, não tem? Então ainda consigo achar uma utilidade para esse cara em combate. E, por falar nisso, aquele cara que te salvou foi uma boa marionete enquanto durou.

— Você vai se arrepender por me provocar!

— Acho difícil. — Marc tocou suavemente com a parte iluminada do chão, causando um estrondo imenso no chão. — É você que vai se arrepender de não ter deixado eu te matar lá na muralha e resolvido isso.

Logo o chão parecia um mar de cadáveres, com a maioria deles completamente destruídos enquanto os mais completos levantavam-se e caminhavam sobre os corpos dos demais para se aproximar e atacar.

— Se quiser vencer agora, mago, vai ter que me surpreender de verdade.

 

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