Volume 1 – Arco 3
Capítulo 44: Uma Presença Incomum
Seis dias atrás, na grande cidade de Fortune Diamond, uma nova visitante chegou. Sua beleza era inegável, atraindo olhares admirados por onde passava. Seu cabelo rosa claro caía em longas ondas, seus olhos esverdeados brilhavam com uma intensidade misteriosa e seu vestido elegante, que deixava seus ombros à mostra, só acentuava seu charme.
Mesmo sendo uma turista, ela não carregava malas ou bagagens para uma estadia prolongada, e parecia pouco preocupada com isso. Ao invés disso, sua atenção estava voltada para os imponentes prédios, os carros voadores e os drones de patrulhamento que sobrevoavam a cidade. Ela cruzou os braços, a esperança e a determinação estampadas em seu rosto.
— Esse lugar corresponde exatamente ao que vi em minha visão — comentou ela, observando as pessoas ao seu redor que pareciam atônitas com sua beleza incomum. Seus olhos, no entanto, não se distraíam com os olhares curiosos; ela estava concentrada, seus ombros tensos e sua expressão rígida. — Que estranho, pensei que encontraria o mestre aqui, mas nem sequer sinto a presença dele.
Determinada, a moça continuou sua busca pela cidade. O palácio flutuante, onde a governante Emma residia, atraía olhares de muitos, mas não dela. Ela estava focada, seu olhar fixo em sua missão.
— Com licença! — ela abordou um senhor de idade que passava. — Você viu um rapaz alto, usando um grande casaco de capuz, com uma espada longa?
O senhor ponderou por um momento, passando a mão pela vasta barba enquanto tentava recordar. Finalmente, ele balançou a cabeça.
— Desculpa, mas não vi ninguém com essa descrição.
A resposta deixou a moça visivelmente frustrada. Seus ombros caíram, e seus olhos perderam um brilho de esperança que antes estavam lá. Ela soltou um longo suspiro, um som carregado de desagrado e desencanto.
— Certeza? Ninguém com cabelo grisalho e olhos violetas? — insistiu, a voz carregada de uma tristeza crescente.
A negativa persistente do senhor só fez sua decepção aumentar. Ela agradeceu e continuou a vagar pelas ruas, seu semblante agora revelando claramente o desapontamento. A esperança que antes a guiava parecia se desvanecer, substituída por uma tristeza palpável que envolvia seu coração.
Cada passo que dava pelas ruas movimentadas era um lembrete doloroso da ausência de quem ela procurava. A frustração se transformava em tristeza, e a cidade vibrante parecia agora uma vastidão indiferente, ignorando a angústia de sua visitante.
Após não conseguir as respostas que buscava, a moça alugou um quarto em um hotel modesto. O quarto não era luxuoso, mas oferecia o essencial para descansar, incluindo uma cama simples, mas pronta para uso. Ela se dirigiu até a sacada, que oferecia uma visão panorâmica da cidade de Fortune Diamond.
Lá fora, a vastidão da cidade se estendia sob um céu que parecia se perder no horizonte. Sua expressão, no entanto, era um retrato de frustração e desânimo. Ela se inclinou para frente, recostando-se no parapeito do prédio. Seus olhos, que antes brilhavam com esperança, agora estavam opacos e cheios de desespero.
— Pensei que encontraria o mestre Liokhar aqui. Minhas visões sempre me confundem, uma hora mostram uma coisa, depois outra — reclamou ela, a voz carregada de frustração. — Se eu tivesse uma maneira mais eficaz de encontrá-lo, ao invés de depender apenas de seu resíduo de energia, seria muito mais fácil. E se eu ao menos tivesse uma descrição precisa dele, ajudaria bastante. Os outros receptáculos que encontrei eram completamente diferentes.
Enquanto as palavras de desânimo saíam de sua boca, um cansaço avassalador começou a se abater sobre ela. Seus olhos se fecharam momentaneamente antes de se abrirem novamente, com uma expressão de frustração ainda mais evidente.
— Lá se foi minha energia. E agora, e se meu mestre aparecer e eu não estiver aqui para encontrá-lo?
Apesar da profunda frustração, o desgaste físico era inegável. Seus ombros estavam curvados, e a expressão de sua face mostrava uma tristeza esmagadora. A moça, com passos lentos e pesados, se dirigiu até a cama e se atirou sobre ela, sem qualquer esforço para ajeitar o local.
Enquanto sua mente girava em torno de pensamentos de desespero e confusão, dois pequenos feixes de luz emanaram de suas costas, revelando duas asas majestosas, grandes e longas como as de uma ave, que se estenderam lentamente. Seus cabelos rosa claro, agora iluminados por uma aura mística, tinham cinco esferas de luz flutuando entre as mechas. No topo de sua cabeça, uma tiara de princesa surgiu, conferindo-lhe um ar ainda mais imponente e bela.
Deitada na cama, ela se sentia como uma estranha entre mundos, perdida em um tempo que não compreendia completamente. Seus pensamentos se enredavam na perplexidade e na frustração, questionando o propósito de sua missão e o que realmente se esperava dela.
“Por que me mandou para essa época? O que quer que eu faça aqui? Se nem mesmo consegui encontrar você e seu receptáculo?”
A moça, agora imersa em um manto de frustração e cansaço, fechou os olhos e se deixou afundar na cama, a esperança de encontrar o que buscava parecia se esvair, enquanto a aura de sua presença continuava a brilhar em um misto de desespero e majestade.
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Após sua chegada à cidade de Fortune Diamond, a moça passou um total de seis dias mergulhada em um sono profundo e ininterrupto. Seu corpo, exausto das viagens e das preocupações, se entregou a um descanso prolongado, e, durante todo esse tempo, os funcionários do hotel apenas a encontravam repousando em sua cama, sem motivo para perturbar seu sono. Eles a observavam com curiosidade silenciosa, mas respeitavam a tranquilidade do seu descanso.
Finalmente, no sexto dia, ela despertou, renovada por uma onda de energia que parecia restaurar sua motivação com uma intensidade que não sentia há muito tempo. Levantou-se com a determinação de retomar sua busca e explorar a cidade, ainda atorodada pela sensação de ter perdido tanto tempo.
Decidida a aproveitar sua nova vitalidade, a moça foi até uma cafeteria local. O ambiente estava tranquilo, e ela se acomodou em uma mesa, desfrutando de um café da manhã sereno. No entanto, enquanto saboreava sua xícara, não pôde deixar de notar a agitação que tomava conta da cidade. Algo estava claramente errado, uma sensação de pânico e desordem pairava no ar.
A cidade parecia estar em caos, com pessoas andando apressadas e conversas tensas surgindo em cada esquina. O burburinho da agitação geral contrastava fortemente com a calma do ambiente da cafeteria.
“Que aconteceu aqui?” ela se perguntava, os olhos observando a cena com crescente preocupação. “Parece que as criaturas de Fight causaram um grande estrago. É surpreendente que a cidade ainda esteja de pé. Quem foram os heróis dessa vez?”
Enquanto ela ponderava sobre o tumulto, a perplexidade a envolvia. Seu sono prolongado havia a desconectado dos eventos cruciais que ocorreram, e agora ela se sentia perdida no meio de uma cidade que parecia ter mudado drasticamente durante sua ausência. A sensação de confusão e inquietação tomava conta dela, misturando-se com a frustração de não ter conseguido encontrar o que buscava até agora.
"Em todo lugar que vou sempre está acontecendo uma batalha. Lembro de quando os goblins invadiram e tomaram uma cidade, ou quando os dragões atacaram Cradel, isso me faz lembrar daquele casal que morreu para proteger o lugar.”
Tomando mais uma xícara do seu chá, os olhos da moça percorreram por toda a cafeteria. Como era cedo, aquele era o horário de pico, então havia muito barulho em volta. O lugar estava cheio de homens usando uniformes de construção, muitos deles trabalhando na reforma da cidade.
“O que você quer, Fight, forçando o povo de Sellstra a atacar a humanidade? Ainda bem que foi selado. Não sei se este mundo continuaria do jeito que está se você estivesse por aí.”
Nesse momento, todos que estavam na cafeteria pararam de conversar e voltaram suas atenções para a televisão holográfica num canto do estabelecimento. A moça, curiosa sobre o que estava acontecendo, também se virou para aquele ponto. No noticiário, estava passando uma reportagem sobre os acontecimentos dos dias anteriores na cidade.
— Estamos de volta com mais notícias. A atual governante, Cristina Paison, está dedicando todos os seus esforços para a reconstrução de Fortune Diamond, que foi atacada por Etéreos dias atrás. Embora a governante esteja ajudando, um grupo de manifestantes contra seu mandato passa dias e noites em frente ao seu prédio pedindo por mais agilidade na reconstrução, pois muitos deles ficaram sem moradia por causa do incidente.
Aquela informação era importante para 99% das pessoas ali na cafeteria. Entretanto, a moça que bebia seu chá via aquela informação com irrelevância. Ela estava quase perdendo o interesse e desviando o foco, quando a jornalista, no meio da matéria, trocou de assunto.
— Atualizando o estado de saúde do sentinela, Dusk Tedimir. Ele acabou de receber alta do hospital, onde passou os últimos cinco dias inconsciente, e já retornou às suas atividades como caçador de Etéreos.
A imagem do garoto em questão surgiu na tela, com seu cabelo grisalho curto e olhos violetas. Ver essa imagem quase fez a moça se engasgar com o chá. Quase que no mesmo instante que o viu, ela levantou da cadeira instantaneamente.
— Liokhar??? Finalmente encontrei você? — ela disse. Seus olhos, antes cansados por causa do tempo excessivo que passou dormindo, agora brilhavam de alegria e entusiasmo, enquanto um sorriso satisfatório surgiu em sua boca.
Todos ali, sendo pegos de surpresa pela euforia da moça, voltaram suas atenções para ela, sem entender o motivo de tanta excitação. Mas ela não se importou com os olhares, pagou o café da manhã rapidamente e saiu velozmente da cafeteria, deixando todos ali confusos.
Ao deixar aquele ambiente, Aysu olhava para todos os lados nas ruas, em busca de encontrar o garoto da foto que viu. Ela estava apressada e, antes que percebesse, já estava em um ponto movimentado, onde inúmeras pessoas transitavam pelo espaço.
"Como vou encontrar meu mestre desse jeito? Não dá para ficar indo de um em um. Espera... onde aquele garoto está mesmo? Como você é distraída, Aysu, esqueceu de pegar essa informação! Mas como aquele rapaz tem a mesma aparência dele, se localizá-lo por sua energia, o encontro?"
Em meio àquela multidão de pessoas, Aysu fechou os olhos em total concentração. Sua expressão era de completa calma, e aqueles que passavam próximos a ela pensavam que estava dormindo de pé, resultando em algumas risadas discretas por essa cena incomum em público.
Dentro de si, era como se ela tivesse um mapa mental em 3D de toda a cidade. Ela conseguia ver e localizar cada ser vivo ali, desde os ratos espalhados, pombos que sobrevoavam os prédios, até os moradores locais. Em um certo ponto, porém, sua atenção foi atraída para um prédio específico. Não porque havia encontrado Dusk, mas porque havia alguém ali liberando muita energia, aparentemente para localizá-la.
"Por que tem alguém tentando me localizar? Não fiz nada para ninguém aqui."
Ela sentiu a magia de localização se expandir, cobrindo toda a área da cidade. Diferente da sua, que proporcionava uma visão prática e precisa do local, essa magia avançava pouco a pouco pelas ruas, à procura dela.
— Quem está procurando Aysu? Só o mestre podia fazer isso. Se mais alguém tentar, vou fazê-lo pagar.
Sem se importar com quem a procurava, Aysu começou a emitir uma aura densa de energia. Não era visível externamente, mas internamente tinha uma potência acumulada que poderia ser comparada facilmente aos caçadores de Etéreos de alta patente. Assim como a energia de localização que a procurava, essa também desapareceu completamente.
"Isso acontece quando mexem comigo."
Aysu, com seu mapa mental da cidade, continuou sua procura por fontes de energia. Contudo, por estar nesse estado por bastante tempo, um grande cansaço começou a abater sobre ela. Para piorar, a pessoa que tanto procurava não foi localizada pela magia de busca.
"Cadê você, Liokhar? Pensei que estaria aqui para nos encontrarmos de novo. Bom, dessa vez não vou desanimar, pois agora sei que tem alguém parecido contigo por aqui. O difícil agora vai ser achá-lo."
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Gwen, usando o elevador, voltou ao oitavo andar, onde os sentinelas estavam todos alojados. Ela havia acabado de entregar a carta, a Ás de Copas, para Alexia, para ajudar seu amigo Dusk, que estava treinando ao invés de descansar depois de voltar do médico.
Assim que entrou no quarto, Gwen percebeu que estava completamente sozinha; nenhuma garota estava presente. Caminhou até sua cama perfeitamente arrumada, que ficava ao lado da janela. Gwen olhou para o exterior do prédio em direção à cidade, enquanto seu semblante calmo e amigável desaparecia, dando lugar a uma expressão severa, com olhos estreitados que encaravam intensamente o local.
"Quem é você que tinha todo aquele poder? Este já é o segundo que encontro com tanta energia acumulada assim. Espero que seja um aliado, porque se for o contrário, terei que eliminar essa ameaça o mais rápido possível!"