Volume 1 – Arco 3

Capítulo 43: Um Teimoso Corajoso

Gwen estava sentada na reunião com Mília, olhando para o relógio pendurado na parede. Ela apoiou o cotovelo na mesa e encostou o queixo na mão, com os olhos vagando pela sala.

— Hmm… — murmurou ela, enquanto bocejava discretamente.

Mília parou de falar por um momento, observando Gwen com os olhos estreitados. Ela inclinou a cabeça, tentando captar o olhar dela, enquanto cruzava os braços e batia o pé levemente no chão.

— Você está me ouvindo? Ouviu o que acabei de dizer?

Gwen estava olhando para o nada quando ouviu a Tenente perguntar algo. Ela rapidamente levantou a cabeça, forçando um sorriso e tentando parecer envolvida. Cruzou as mãos sobre a mesa, fingindo interesse.

— Sim, claro, concordo com o que disse.

— E o que foi que eu falei? — perguntou Mília, desconfiada, testando-a para ver se tinha prestado atenção mesmo.

Gwen ouviu a pergunta e seus olhos se arregalaram brevemente. Ela mexeu nervosamente no cabelo, piscando rapidamente, e franziu a testa, tentando parecer concentrada.

— Você disse, isso é... — falou ela, fazendo uma pausa longa. Na sua memória, veio a lembrança dela interrompendo a reunião de Mília e Emma dias atrás e, no puro chute, ela tentou. — Você pediu para mim encontrar os Etéreos, já que sou a única sentinela aqui que consegue localizar qualquer coisa em uma grande área.

— Ótimo, Gwen — disse ela, com a voz firme, mas satisfeita. Mília cruzou os braços, relaxando um pouco.

Gwen relaxou e soltou um suspiro de alívio. Um sorriso astuto apareceu em seu rosto, e ela mordeu levemente o lábio inferior. Com os olhos brilhando, sentiu uma onda de triunfo internamente.

"Consegui", pensou ela, se segurando para não rir.

— Se eu pudesse, tentaria localizar o paradeiro daqueles Etéreos. Porém, como pode notar, está tudo um caos nesses dias. Por isso preciso de alguém como você, pois não tenho grande precisão nessa área — comentou a Tenente.

— Ok, vou fazer uma busca agora.

Gwen fechou os olhos e respirou profundamente para acalmar a mente. Uma luz suave começou a emanar de seu coração, pulsando ritmicamente. Sua testa franziu em intensa concentração enquanto mantinha a postura ereta e respirava lentamente.

"Concentre-se", pensou ela para si mesma, focando toda sua energia no sensor interno.

Gwen visualizou a cidade em sua mente, sentindo cada rua e construção. Uma onda de energia mágica se espalhou de seu corpo, percorrendo a cidade inteira como um radar invisível. Seu rosto permaneceu sereno, mas os olhos fechados e os lábios ligeiramente entreabertos mostravam a profundidade de sua concentração enquanto sua mente navegava pelos becos e avenidas da cidade de Fortune Diamond.

— Encontrou alguma coisa? — perguntou Mília.

— Não, nada. Só localizei pessoas normais, animais e cristais rose, mas nada de Etéreos. Acho que, com isso, posso dizer que estamos seguros, por enquanto.

De repente, os olhos de Gwen se contraíram levemente, indicando uma sensação incomum. Sua testa franziu e seus lábios se entreabriram em surpresa. A luz ao seu redor brilhou mais intensamente, reagindo à descoberta.

— O que é isso? — sussurrou ela, a voz cheia de curiosidade e cautela, focando sua mente na anormalidade que havia sentido.

A Tenente Mília observava Gwen com atenção, percebendo a intensificação da luz mágica ao redor dela. Seus olhos se estreitaram em curiosidade quando a sentinela franziu a testa.

— Gwen, o que você encontrou? — perguntou a tenente, levantando-se da cadeira e dando um passo à frente.

Ela inclinou a cabeça, tentando encontrar alguma pista no rosto concentrado de Gwen. Os olhos de Mília brilhavam com interesse enquanto analisava cada reação da sentinela, mordendo o lábio inferior, ansiosa para entender o que estava acontecendo.

— Diga-me logo, o que está acontecendo? Encontrou alguma coisa suspeita? — insistiu ela, com uma voz calma, mas cheia de curiosidade.

O brilho que envolvia Gwen desapareceu abruptamente, como num passe de mágica. Assustada, ela abriu os olhos rapidamente, um pouco ofegante, mas ainda mantendo sua compostura padrão.

A sentinela estava com os olhos arregalados. Ela deu alguns passos para trás e, instintivamente, cobriu a boca com a mão. Por algum motivo, apertou o braço ao redor de si mesma.

— O que foi isso? Antes não parecia nada, mas agora é um verdadeiro monstro. Nunca senti algo tão poderoso quanto isso! — exclamou ela, com a voz trêmula.

Foi notável que Gwen ficou extremamente abalada, mas Mília, que havia pedido para ela localizar, não entendia o motivo de seu abalo. Desde a primeira vez que viu essa sentinela, nunca a tinha visto nesse estado antes.

— Você está bem? Viu alguma coisa perigosa de que precisamos estar alertas? Responda-me.

Gwen estava visivelmente abalada, mas começou a respirar fundo, tentando se acalmar. Ela fechou os olhos por um momento, concentrando-se em cada respiração.

— Respira, Gwen, respira — murmurou para si mesma.

Ela abriu os olhos lentamente e endireitou a postura. Sua respiração gradualmente se estabilizou, e seus ombros relaxaram.

— Desculpe, Tenente. O que eu vi agora me deu um pouco de medo. Não era algo normal e emanava uma energia estranha. Não era mana como a que usamos, nem éter, como os Etéreos. Porém, a quantidade de energia era avassaladora, devia ter a potência de dois capitães ou dez Etéreos nível Alfa.

A Tenente Mília sentiu uma onda de preocupação ao ouvir a notícia, mas manteve o rosto sério. Ela respirou fundo, endireitando os ombros antes de falar.

— Precisamos lidar com essa situação imediatamente — comentou ela, com os lábios pressionados em uma linha fina. — Confio na sua capacidade para isso. Preciso descobrir exatamente de onde vem essa fonte para lidar com ela. Pode me dizer onde está agora?

Gwen ergueu a mão enquanto uma luz suave começou a emanar de seus dedos e, em seguida, cobriu todo o seu corpo. Ela tentou localizar a fonte novamente. Depois de alguns momentos, seus olhos, que haviam se fechado, abriram-se, cheios de frustração.

— Nada! — murmurou ela, com a voz tingida de desapontamento.

Mília respirou fundo, tentando manter a calma, mas seus punhos se fecharam brevemente. Sua expressão era de preocupação enquanto se virava para a sentinela.

— Você foi bem, mas precisamos encontrar uma nova forma de localizar essa coisa. Se for um inimigo, pelo que você disse, parece quase impossível de lidar.

— Bom, eu acho que não deveríamos nos preocupar tanto. Desde que cheguei aqui, sinto essa presença, mas até agora essa coisa não pareceu entrar em cena.

A Tenente Mília sentiu uma onda de preocupação ao receber as más notícias, mas manteve-se firme. Ela cruzou os braços, apertando levemente os cotovelos para se lembrar de permanecer centrada.

— Precisamos manter a calma. Vamos resolver isso; temos que descobrir se essa coisa é aliada ou inimiga. Espero que seja aliada, senão teremos um grande problema.

— Tenente, estou à sua disposição. Se precisar de algo, pode contar comigo.

Gwen deu um passo à frente, endireitando-se e levando a mão à testa em uma saudação precisa, mantendo o olhar fixo na superiora.

 

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Ainda no segundo andar do prédio, Dusk, que havia acabado de assistir ao treino de combate entre Bennet e Kevin, estava extremamente animado e entusiasmado. Embora não estivesse em uma boa situação física, a chama de euforia em seu coração não o deixava descansar.

Ele agora estava em uma sala isolada, no corredor vazio, sem nenhuma alma por perto. A Tenente Mília estava em reunião com Gwen, e Kevin treinava com Bennet em outra região, no lado oposto do andar.

Na sala com ele estava um androide, com um corpo humanoide de altura mediana. A máquina segurava uma espada de madeira usada para treino, a mesma que Dusk também segurava.

— Boa tarde! Sou o instrutor de esgrima, Thomas IV. Você deseja me desafiar para um duelo, é isso mesmo? — perguntou o androide com uma voz robótica. — Qual é o nível de dificuldade que deseja? Iniciante, Aprendiz, Intermediário, Avançado, Veterano ou Especialista?

Por causa dessa pergunta, o clima de pré-combate foi abruptamente interrompido, pois Dusk arregalou os olhos e levantou as sobrancelhas.

— Nossa, tudo isso? — disse ele, surpreso. — Deixa eu ver. Iniciante não, parece muito fácil. Intermediário e Avançado parecem ser de boa, mas o Especialista, poxa, se quiser evoluir mais rápido, esse é o caminho. Então vou com esse, Especialista.

Ao receber essa resposta, o androide se pôs em guarda com a espada, adotando uma postura fechada. Embora não tivesse um rosto real, sua face eletrônica simulada na tela mostrava um foco intenso em Dusk, que percebeu toda a atenção do androide voltada para ele.

— Aviso! Esse modo é extremamente perigoso. Riscos incluem fraturas expostas, remoção de membros e, mais importante, perda da vida — alertou a máquina. — Deseja mesmo continuar?

De forma destemida, Dusk apertou o cabo da espada e, sem pensar duas vezes, se colocou em guarda para lutar. Ele apoiou um pé na frente e encarou seu adversário.

— Sim, pode vir!

A investida do androide foi tão ágil que sua imagem parecia um borrão. Dusk, alerta, conseguiu bloquear. Sem perder o ritmo, a máquina girou o corpo e continuou a pressão com um novo ataque.

O sentinela, completamente encurralado, só conseguiu ficar na defensiva. Não era porque ele queria, mas porque não encontrava uma brecha para atacar.

"Minha nossa!", pensou ele, após se defender de um golpe que o fez recuar bastante. "Esse androide é bom."

Thomas IV foi implacável. Enquanto seu oponente recuava, ele, mantendo a pressão total, não queria dar nem um minuto de pausa, por isso desferiu um novo golpe.

Era quase como uma brincadeira de gato e rato. Dusk era o rato, sendo gradualmente encurralado pelo gato, Thomas IV. No entanto, de repente, um enorme sorriso apareceu no rosto do sentinela.

Ele levantou sua espada e, com o choque das lâminas, faíscas negras voaram. O golpe foi abrupto e forte, tanto que, pela primeira vez, fez o androide perder o ritmo e a postura ofensiva.

— Venha, Alma Malevolente! — chamou Dusk.

Um brilho esférico surgiu diante dele, um efeito mágico, e dessa massa de energia, um fantasma de coloração preta apareceu. No entanto, por estar muito fraco, Dusk sentiu seu corpo ficar pesado.

— Droga, pelo jeito só vou conseguir um ataque carregado. Mas que seja!

Apertando o cabo da espada, Dusk mirou contra seu adversário, balançando a cabeça positivamente. O fantasma que ele criou adentrou na lâmina, fazendo a cor marrom do instrumento mudar para preto. Com os dentes cerrados, ele mantinha os olhos fixos no adversário.

— Você perdeu! — declarou ele.

Mas, naquele momento, o androide veio em sua direção, sem se importar com nada. No entanto, por algum motivo, Dusk via tudo em câmera lenta. De canto de olho, ele viu emergirem de si, inconscientemente, fantasmas brancos e negros, os mesmos que ele costumava usar.

"O que está acontecendo? Por que estou me sentindo estranho? Meu corpo não está respondendo direito."

Ele tentou, mas nada conseguia fazê-lo avançar. Nesse momento, um brilho cinza ofuscou seu olhar, forçando-o a fechar os olhos por um segundo. Quando os abriu, viu Thomas IV prestes a acertá-lo.

— Droga! Vacilei de novo!

Ele tentou fazer algo, movendo sua espada que ainda tinha o efeito do fantasma, mas seus punhos não responderam. No entanto, um par de mechas vermelhas e depois um longo cabelo azul apareceram diante de Dusk.

Foi Alexia. Ela estendeu a mão em direção ao androide, e uma nevasca o atingiu, passando por ele como uma rajada e o congelando no mesmo instante, transformando-o em um picolé de robô.

— Eu estava me perguntando quem estaria no segundo andar, liberando aquela forte onda de energia. E aí, quando chego, vejo que é o Dusk — comentou ela em um tom sério.

Ela se virou graciosamente para Dusk, que mal conseguia se mexer de tão cansado que estava. Alexia, que tinha um olhar sério e parecia brava, mostrou um sorriso ao vê-lo nesse estado.

— Por que está sorrindo? — perguntou ele, curioso com aquela expressão.

— Hum!? — Meio assustada e com as bochechas coradas, ela tentou esconder o rosto atrás das mãos. — Não é nada. É que você me fez lembrar de uma pessoa que conheci há muito tempo.

Porém, nesse instante, o campo de visão de Dusk ficou escuro. Ele cambaleou um pouco, mas conseguiu se manter de pé, usando a espada como bengala para se apoiar.

— Dusk! Você está bem? — perguntou Alexia.

Seus olhos ficaram pesados, e ele sentiu um grande peso atingir seu corpo. O sono era tão forte que fez seus pensamentos ficarem confusos e embaralhados.

Ele sentiu algo quente envolver seu pescoço. Sem sentir mais o corpo e sem orientação espacial, ele não percebeu o impacto do chão, mas sentiu sua cabeça repousar sobre algo macio.

— Tenha bons sonhos! — disse alguém em seu ouvido enquanto acariciava seu cabelo.

Dusk já não tinha mais consciência, mas com o pouco que ainda restava, ele pôde ouvir essas palavras. Elas o fizeram relaxar e soltar a espada. Antes de dormir completamente, ele deu um largo sorriso, pois graças a essa frase, a imagem de uma pessoa passou por sua memória.


Continua no Capítul 39: Outras Pespectivas



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