Volume 1 – Arco 3

Capítulo 41: Preocupações

Dusk, após receber alta do hospital e recuperar a consciência, estava a caminho do hotel com Gwen. Eles estavam retornando de carro para onde os sentinelas estavam alojados e onde Cristina, agora em busca de proteção, havia se refugiado.

— Aqueles monstros... Foram os responsáveis por toda essa destruição? — Dusk disse, indignado e com raiva, apertando seus próprios punhos ao observar o estrago na cidade.

As ruas estavam cobertas por um mar de destroços e escombros. O asfalto estava retorcido, com veículos abandonados e virados de cabeça para baixo. Os prédios, antes cheios de brilho e cor, estavam agora apagados, com estruturas destruídas e queimadas.

— De acordo com Mília, esse lugar está desprotegido após o ataque e parece que levará muito tempo para tudo ser reconstruído — comentou Gwen.

Enquanto Dusk observava a cena devastadora, algo ainda mais incomum chamou sua atenção. Na rua, uma multidão avançava com determinação, unida por uma causa comum. Cartazes e faixas eram erguidos acima das cabeças, exibindo palavras de ordem e reivindicações.

— O que eles estão fazendo? Por que estão protestando? — Dusk perguntou, confuso com a cena.

— Isso está ficando cada vez mais complicado — respondeu Gwen, soltando um suspiro de desânimo. — Essa multidão quer que Cristina resolva rapidamente a situação, já que muitos moradores perderam seus lares devido ao incidente. Não posso culpá-los por isso, mas estão passando dos limites, quebrando e atirando pedras contra o hotel onde ela está.

Dusk, não sabendo o que dizer, decidiu permanecer em silêncio durante o trajeto. Após um tempo, o motorista os deixou na porta do hotel, onde um grupo de guardas estava posicionado para proteger Cristina.

Ao descerem do carro, Dusk e Gwen se dirigiram à entrada do hotel e logo notaram quatro presenças distintas aguardando por eles. Eram Agatha, Sophia, Camilla e Danica, integrantes do terceiro esquadrão de apoio. Dusk não conseguiu esconder sua surpresa ao vê-las ali.

— Por que elas estão aqui? — perguntou, confuso.

Gwen, caminhando ao lado de Dusk com um sorriso sereno, mantinha um passo sincronizado com o dele, demonstrando uma sintonia natural.

— Você está perguntando mesmo? Um companheiro delas, mas também um amigo meu, foi hospitalizado. Claro que elas ficariam preocupadas. Ainda mais depois que Cristina relatou todo o esforço que você fez para derrotar aquela elfa. Ela não se lembrava de muitos detalhes, mas viu o quanto você se empenhou.

Ao ouvir isso, Dusk desviou o olhar para o chão, tentando evitar o contato visual. Suas bochechas coraram e, em um gesto de nervosismo, ele estalou a língua, o que fez Gwen olhá-lo com um misto de curiosidade e preocupação.

— O que foi? Disse algo que te irritou?

— Não é isso — respondeu Dusk, balançando a cabeça. — Só acho que não mereço elogios. Por ter falhado em eliminar o Etéreo de forma rápida e precisa, pessoas morreram.

— Ah, é por isso? — Gwen, tentando entender, olhou para o vazio em busca de uma resposta. — Sabe, é normal falharmos. Falo por experiência própria. Se conseguimos aprender com nossos erros, podemos tirar bons ensinamentos para evitar cometê-los novamente na próxima oportunidade.

Embora fosse difícil aceitar, Dusk reconheceu a verdade nas palavras de sua amiga. Ele, inconscientemente, gravou essas palavras em sua memória, o que trouxe um pouco de calma, algo que ele havia perdido após sua derrota para Shael.

— Seja bem-vindo, Dusk! — disseram as meninas em uníssono.

— Esperamos que tenha se recuperado totalmente — comentou Agatha, a sentinela.

Com um sorriso forçado, Dusk caminhou com firmeza, de queixo erguido, mãos nos bolsos e peito estufado.

— Estou ótimo! Aqueles machucados, o braço que perdi e todo o desgaste foram nada demais. Quero dizer, tirando a parte do braço, aquilo foi demais — brincou ele, batendo no peito.

No entanto, sua parceira, Gwen, teve que interromper a sua tentativa de parecer imbatível. Com as sobrancelhas franzidas, ela colocou as mãos nos quadris, inclinou-se para frente e o encarou com seriedade.

— Para de ser mentiroso! Não foi isso que o médico disse. Ele pediu para você descansar até sua mana se regenerar completamente.

Dusk olhou para Gwen com uma expressão exagerada de choque. Seus olhos se estreitaram, e ele cruzou os braços sobre o peito, dando alguns passinhos para trás.

— Sério, Gwen? Pensei que fossemos amigos. Não tem como deixar eu sair pagando de alguém forte nessa situação?

— Claro que não. Se isso prejudicar de alguma forma sua saúde, estarei aqui para cortar suas asinhas.

Ele olhou para Gwen com os ombros caídos e os olhos cansados. Tentou abrir a boca para responder, mas nenhuma palavra saiu, pois sabia que essa discussão estava perdida.

Tendo saído vitoriosa na discussão, Gwen se virou para as quatro garotas que observavam. Ela olhou em volta, como se esperasse encontrar alguém, mas, ao notar que só havia elas de sentinelas por ali, voltou seu olhar para o prédio com uma expressão preocupada.

— Onde está o resto do pessoal?

— Bom, Mília está em uma reunião fechada com Cristina. Asta está trancada no quarto, e neste momento Alexia está tentando conversar com ela. Olivier está por aí, mas sei que está aqui — respondeu Camilla.

Assim que terminou de falar, Dusk e Gwen notaram que faltavam duas pessoas. Antes que pudessem perguntar algo, todos — sentinelas, guardas na entrada e até os manifestantes segurando cartazes — ouviram um grande baque de madeira colidindo com madeira.

— O que foi isso? Parece que alguém está usando espadas de madeira — comentou Dusk.

— Deve ser Kevin e Bennet — sugeriu Danica.

— Aqueles dois… Alexia pediu e insistiu para que eles descansassem, mas estão o tempo todo treinando. Desse jeito, vão ficar sem energia para quando precisarmos lidar com outros Etéreos — criticou Sophia.

 

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Após ser recepcionado pelas garotas e levar uma bronca de Gwen, Dusk, acompanhado delas, subiu de elevador até o andar onde os sentinelas de Thesena estavam alojados.

Assim que pôs os pés no corredor, Dusk percebeu a elegância moderna e refinada do local. O hotel onde estavam hospedados era de alta classe, destinado a hóspedes com muito dinheiro.

No entanto, em meio a esse cenário luxuoso, Alexia, com seus longos cabelos azuis, se destacava. Com um olhar preocupado, ela respirou fundo e deu algumas batidinhas suaves na porta.

— Asta, sabemos que você está aí. Queremos falar com você. Estamos muito preocupados contigo — disse Alexia, tentando obter uma resposta.

Gwen, que mantinha os braços cruzados enquanto observava a cena, suspirou ao ouvir as palavras de Alexia. Seus olhos suavizaram um pouco, refletindo a preocupação que sentia.

— Como ela consegue se preocupar tanto com os outros? — perguntou Gwen, um pouco desconfortável.

— Acho que isso se deve ao fato de que ela é aprendiz de Íris Victorius. É natural que ela cuide dos amigos dessa maneira — respondeu Agatha.

Dusk, que inconscientemente já tinha uma ideia do motivo pelo qual Asta estava assim, fechou os punhos. Visões de sangue e caos atravessaram sua mente, e seus lábios tremeram levemente quando a imagem de Maurice empalado surgiu em suas memórias.

— Há quanto tempo ela está assim? — questionou ele, com uma expressão de preocupação.

— Desde que o corpo do namorado dela foi cremado, já se passaram quatro dias — respondeu sua amiga.

Dando alguns passos para trás, Alexia olhou para a porta trancada, cheia de preocupação. Ela passou a mão pelos cabelos e encostou a testa na porta, percebendo que não obteve resposta.

Enquanto estava inquieta, aflita e comovida, Alexia notou a presença de outras pessoas no corredor. Seus olhos se arregalaram ao ver Dusk de volta. Seu rosto se iluminou com um sorriso radiante, e lágrimas de alegria encheram seus olhos.

— Dusk! Você está bem! Finalmente! — exclamou ela, a voz cheia de emoção. Ela correu até ele e o abraçou com força.

— O quê? — exclamou Dusk, dando um salto para trás instintivamente. — Me abraçou assim? Do nada?

Quando Alexia percebeu o que havia feito, seu rosto ficou vermelho instantaneamente. A preocupação dela com ele era evidente.

— Oh, desculpa, desculpa. Fiquei muito feliz em vê-lo de volta! — disse ela, a voz trêmula. — Sempre que um amigo próximo está mal, não consigo deixar de tentar ajudar.

Gwen observou a cena com um olhar malicioso, rindo enquanto se aproximava. Ela levantou uma sobrancelha com um brilho travesso nos olhos.

— Então, Alexia, você ficou bem animada ao ver Dusk, hein? — comentou ela, com a voz carregada de insinuações. — Dá para notar o quanto você esteve preocupada, todos os dias e a cada hora perguntando por ele.

Com a provocação de Gwen, o corpo de Alexia congelou como uma estátua. Seus olhos arregalaram de surpresa, e suas bochechas ficaram vermelhas como um tomate, enquanto ela nervosamente mexia no cabelo.

— Fiz isso porque ele é um companheiro importante para nosso grupo, já que conseguiu proteger Cristina — tentou explicar, sua voz falhando em alguns momentos e evitando olhar para Gwen e Dusk.

Enquanto a conversa se desenrolava, Dusk estava com os olhos semicerrados, lutando para acompanhar o que estava acontecendo ao seu redor.

“Parece que vou acabar dormindo aqui mesmo,” pensou ele.

Ele esfregou os olhos, sentindo o peso do cansaço que não conseguia afastar. As vozes ao seu redor soavam distantes, como se ele estivesse submerso em água. Tentou focar, mas suas pálpebras pesadas ameaçavam fechar a qualquer momento. Seus pensamentos estavam desordenados, e ele mal conseguia acompanhar a discussão. As palavras se misturavam, e ele se pegou piscando rapidamente, tentando clarear a mente.

— Você está bem? Parece meio cansado — perguntou Alexia, com preocupação.

— Não, quero dizer, sim! Só estou um pouco exausto, mas nada além disso — respondeu Dusk, tentando manter a aparência de força.

— Tem certeza? Você parece realmente mal — questionou Gwen, com desconfiança, enquanto se aproximava dele.

Dusk, tentando demonstrar que estava bem, cruzou os braços e virou sua atenção, ou melhor, o pouco que tinha, para a porta do quarto onde Alexia estava tentando falar com alguém.

— É ali onde a Asta está ficando?

Retirando toda a timidez e vergonha que tinha instantes atrás, Alexia abaixou a cabeça, e seus olhos também se voltaram para baixo.

— Sim. Já faz bastante tempo que ela não sai de lá de forma alguma. Mília até conseguiu conversar com ela um pouco, mas parece que não surtiu efeito algum. Pelo menos ela está se alimentando, embora precise que alguém leve comida até a porta do quarto.

A imagem de Asta sorridente ao lado de Maurice passou pela mente de Dusk. Ele fixou o olhar na porta, imaginando como ela deve estar magoada e afundada na tristeza.

“Eu sabia que os dois eram próximos, mas não imaginava que ela ficaria tão arrasada. Isso me faz lembrar da época em que fiquei isolado depois que meus pais se foram ", refletiu ele, soltando um suspiro.

Enquanto os três conversavam, o elevador no final do corredor se abriu, revelando as garotas que haviam ido à entrada.

— Oi, voltamos! — disse Danica, animada.

— Acabamos de informar a Mília sobre o retorno de Dusk. Ela ficou feliz em saber disso e pediu para avisar que quer falar com Gwen e Dusk — disse Sophia.

Ao ouvir o chamado da Tenente, o coração de Dusk disparou no peito e ele engoliu em seco. Meio desconfortável, passou a mão na nuca.

— Ela mencionou o motivo? — perguntou ele.

— Não, apenas que precisava falar com vocês dois seriamente.

Caminhando com passos firmes e despreocupados, Gwen cruzou os braços e se dirigiu para o elevador, imperturbável com o chamado da superior.

— Ok! Vamos resolver isso logo — disse ela para Dusk, puxando-o para acompanhar.

Entretanto, uma nova presença se fez notar. Um garoto que veio do elevador junto com as garotas deu um passo à frente. Era Olivier, do grupo 2, que estava com Bennet e Asta.

O queixo de Dusk caiu ao ver Olivier, especialmente porque ele estava segurando a espada de Dusk, que ele não via desde que saiu do hospital.

— Olha, Dusk, desculpe por não ter te dado as boas-vindas na entrada, mas fico feliz em ver você de pé novamente — disse Olivier, segurando a espada com ambas as mãos e estendendo-a para Dusk. — No começo, achei que você era um fracote covarde, mas ao saber que enfrentou um Etéreo sem fugir, mostrou ser alguém de coragem. Tome, pegue sua arma. Cuidei muito bem dela enquanto estava inconsciente.

Olivier insistiu, mas Dusk permaneceu parado, olhando para a espada. Sua mão tremia ligeiramente enquanto esticava os dedos para pegá-la, mas hesitou no meio do caminho. Seus olhos se moviam entre a espada e a mão trêmula, incerto. A imagem da batalha anterior ainda o assombrava.

Alexia percebeu a hesitação. Ela deu um passo à frente, colocou uma mão gentilmente no ombro de Dusk e sorriu.

— Está tudo bem, Dusk, relaxa um pouco — disse ela, com uma voz suave e encorajadora.

“Se fosse tão fácil relaxar depois de ser derrotado e quase morrer, eu já teria feito isso. Mas ela tem razão, se eu continuar deixando isso me perturbar, não terei um momento de paz.”

Dusk respirou fundo e endireitou os ombros. Olhou para Alexia, que ainda sorria e mantinha a mão no seu ombro. Desta vez com firmeza, agarrou a espada, seus dedos fechando-se com força ao redor da bainha.

— Obrigado, Alexia! — respondeu ele com uma voz segura.

— Não foi nada. Só percebi que você ficou tenso do nada — respondeu ela, um pouco corada nas bochechas.

Com a arma em mãos, Dusk acelerou os passos e se dirigiu até Gwen, que o esperava. Juntos, pegaram o elevador para encontrar Mília.


Continua no Capítulo 37: Kevin e Bennet, Espadachins Fervorosos

Data de Lançamento: 16/08/2024



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